Olhei novamente para a mão dele, agora cobrindo a minha de forma delicada mas firme, e por mais simples que aquele ato fosse, eu queria memorizar cada pequeno detalhe dele.
– Não precisa se preocupar. Eu vou ficar por perto o tempo todo.
Fitei seus olhos rapidamente, minha reação sendo mais rápida do que a capacidade de bloquear o pensamento que surgiu em minha mente como um raio. Eu não queria pensar naquilo, não queria ter lembrado, mas Deus estava sendo cruel comigo outra vez.
Foi o que você disse da última vez.
Eu sabia que não tinha falado em voz alta. Sabia que havia conseguido guardar aquela demonstração de rancor para mim mesma, e agradeci em silêncio por conseguir fazê-lo. Eu não queria jogar aquilo na cara dele, como se lembrá-lo do que ele fez fosse me fazer sentir melhor.
Ainda assim, pela simples mudança em sua expressão e seus olhos, eu pude notar que, mesmo sem a minha ajuda, Bruno pensou exatamente na mesma coisa que eu.
– Eu prometo… - Sua voz saiu fraca.
Seus olhos vacilaram, como se ele estivesse profundamente envergonhado pela lembrança, e no segundo seguinte senti sua mão se afastar da minha.
Eu queria dizer que acreditava nele. Queria dizer que sabia que ele cuidaria de mim, e que não deixaria que ninguém soubesse do nosso segredo. Queria dizer que sabia que ele se empenharia em me deixar à vontade com sua família, talvez até me fazendo sentir parte dela, mas, acima de tudo, queria que ele voltasse a me tocar.
Sem pensar, me inclinei um pouco para frente e alcancei sua mão, com um pouco mais de força do que desejava.
Envolvi meus dedos nela, apertando com vontade sua pele e me acalmando um pouco ao sentir, novamente, o contato entre nós dois.
Era curioso como o toque dele me acalmava em certos momentos, e em outros me acendia. Mas eu não queria filosofar sobre aquilo.
Bruno pareceu se iluminar um pouco com meu ato, e eu sabia o porquê.
Era a primeira vez que a atitude de procurá-lo, de diminuir a distância entre nós, havia partido de mim e não dele.
Era a primeira vez que eu não esperava passivamente pelas suas decisões, e principalmente, era a primeira vez que eu demonstrava o que sentia por ele.
– Me fale sobre a sua família.
Os papéis haviam se invertido. Agora, era eu quem tentava passar confiança a ele. Era eu quem tentava conseguir dele alguma reação, alguma interação, mas ele, diferentemente de mim, me deu o que eu pedia.
Bruno falou das pessoas que eu conheceria.
Contou que cada um deles estavam espalhados pelo mundo, representando e tomando conta, em diferentes países, das empresas de seu pai. Pelo que ele deu a entender, passaríamos o Natal em uma festa pequena que incluía seus pais, uma irmã e seu marido, um irmão solteiro e nós dois, o que me fez ficar animada com o fato de que não haveria uma enorme quantidade de pessoas para me julgar como a mais nova biscate caça-fortunas da família.
Enquanto ele falava, seus dedos voltaram a passear de forma suave pela minha mão, correndo pelas costas dela em pontos especificamente agradáveis, pela palma em círculos perfeitos, chegando ao pulso e parte interna do meu antebraço. Eu estava atenta a tudo que ele dizia, mas seu toque começou a tirar minha concentração assim que aceitei tomar uma (e só uma!) taça de algum vinho escolhido por ele.
Não entendia o motivo daquilo, porque seus movimentos não eram fortes ou insinuantes. Era óbvio que grande parte daquelas sensações me assolavam por causa do pouco de vinho ingerido, suficiente para fazer com que eu me “soltasse”, mas era como se Bruno remetesse ao ato de fazer amor através de simples toques, estimulando cada nó dos meus dedos, cada fio desencapado por baixo da minha pele, desenhando metodicamente em mim formas estranhas mas, ao mesmo tempo, incrivelmente sensuais.
Comecei a sentir uma excitação crescente, e me dei conta de que tudo o que ele havia feito se resumia a tocar na porra da minha mão.
Cheguei à conclusão de que estava mais perdida do que imaginava.
Era um pouco antes das 23h quando finalmente chegamos ao apartamento dele. Durante todo o percurso do restaurante até o prédio, não deixei de pensar um segundo sequer em como diabos Bruno havia conseguido, com um carinho inocente na mão, me deixar completamente acesa de uma forma que ele mesmo parecia não saber.
Fitei-o pelo canto do olho cada vez que parávamos em um cruzamento, encontrando-o descansando a cabeça no encosto de seu assento com os olhos fechados, então me dei conta de que ele devia estar realmente exausto e nem um pouco interessado em sexo aquela noite.
Merda.
– Primeiro as damas.
Entrei no apartamento escuro, tateando em busca do interruptor. Bruno o encontrou primeiro, acendendo as luzes e evitando que eu desse com o nariz na parede.
Caminhei para o quarto onde estavam minhas coisas e ele me seguiu.
– Você não tem outras malas, né? - Ele perguntou, olhando para as várias bolsas e sacolas deixadas no canto do quarto.
– Não.
– Te empresto algumas minhas.
Ele disse isso enquanto tirava o sobretudo despreocupadamente, bocejando sem perceber e ficando, ao mesmo tempo, fofo e gostoso, algo que eu jamais achei ser possível. Continuei encarando-o como uma ninfomaníaca no cio, desejando mais do que tudo que aqueles dedos estivessem me tocando agora em lugares muito mais íntimos do que antes.
– Banho. - Ele disse enquanto apontava com o dedo para seu quarto, aparentemente muito cansado para formular uma frase completa.
Assisti o pedaço de mau caminho sair do meu quarto e caminhar pelo corredor enquanto tentava manter os olhos abertos. Como, Deus, ele conseguia ser tão… tão… ele?
E o que estava acontecendo comigo, afinal de contas? Desde quando eu era dada a explodir em hormônios perto de um homem? Está certo, não era “um homem”, era ele.
Mas mesmo assim, aquele simples toque, da forma polida e educada como foi, não devia ser o suficiente para ter me deixado em chamas.
Eu estava com muito calor.
– Ei! - Falei, alcançando-o em seu quarto antes que ele entrasse no banho - Posso usar aquela camisa?
– Ela é sua. Fica mesmo muito melhor em você.
Ele estava sem camisa, apenas de calça social, recolhendo uma calça e um casaco de moletom para vestir depois.
Gostoso.
Ele entrou no banheiro, encostando a porta atrás de si. Voltei ao meu quarto e tirei todos os agasalhos, vestindo a camisa que era minha agora. Escovei os dentes e me olhei no espelho por algum tempo, na dúvida se tentaria seduzir Bruno ou se o deixaria descansar.
Sem chegar à conclusão alguma, joguei um pouco de água no rosto e voltei para o quarto dele. As paredes e objetos rodavam um pouco à minha volta, o que constatei ser o efeito do álcool no meu organismo desacostumado, mas não me importei.
A porta do banheiro ainda estava encostada. Fui tomada por uma mistura de sensações - um pouco de curiosidade e muito de promiscuidade - então sem nem me dar conta, já estava dentro do enorme banheiro de azulejos brancos e pretos.
Bruno não notou minha presença. Eu lembrava que o box era espelhado por dentro, fazendo com que quem estivesse dentro dele não enxergasse nada além de seu próprio reflexo, por isso só tive que tomar cuidado em não fazer nenhum tipo de ruído.
Sentei muito quieta na tampa fechada do vaso sanitário, abraçando minhas pernas enquanto me encolhia em cima dele e apoiava o queixo nos joelhos, pela primeira vez admirando Bruno de verdade.
Ele era lindo. Não lindo do tipo “claro que dormiria com ele”, mas sim do tipo “por favor, por favor, me coma”.
Tudo nele - cada músculo, cada sinal, cada pelo - era milimetricamente perfeito, e o efeito da água e do vapor naquela cena, juntamente com a percentagem de álcool que passeava pela minha corrente sanguínea, fazia com que ele parecesse um sonho.
Um sonho erótico.
Gostoso!
Observei cada movimento, como se quisesse decorá-los.
Seus dedos passeando em seus cabelos, suas mãos ensaboando seu peito, costas, barriga… Descendo… Descendo mais…
Deus!
O pescoço, a linha do maxilar, ombros, braços, mãos… Barriga, costas, coxas… Que inferno, os joelhos dele conseguiam ser bonitos!
E durante todo esse tempo, eu permaneci quieta, imóvel, apenas admirando-o.
Senti uma dor no joelho esquerdo, então me dei conta de que estava me mordendo.
Ignorei.
O chuveiro foi desligado. Esse era o momento de me levantar às pressas e dar uma de Anne, pisando no azulejo molhado pelo vapor e dar com os dentes na bancada. Mas por algum motivo obscuro, me mantive ali, ainda imóvel, ainda mordendo meu joelho, que começaria a sangrar em algum momento.
Bruno abriu o box para puxar a toalha do segurador, se deparando com uma voyeur de joelho esfolado sentada no seu vaso sanitário feito uma imbecil.
– Opa!
Ele pareceu surpreso, mas não desesperado em se cobrir. Aliás, ele não se cobriu, simplesmente alcançando a toalha e se secando como se estivesse perfeitamente sozinho. Isso significava que eu ainda estava vendo - e encarando - tudo: Cada lindo e glorioso centímetro.
Gostoso! GOSTOSO!
– Sabia que isso dá cadeia em alguns lugares do mundo? - Ele começou.
– Estamos quites agora.
Ele demorou um pouco, mas finalmente pareceu lembrar da ocasião a qual eu me referia.
– Eu não entrei no seu banheiro. - Falou, abrindo um sorriso simples e dando dois passos em minha direção - Você que saiu nua toda serelepe pro quarto sem prestar atenção.
– Mesmo assim… - Respondi, vendo-o dar mais alguns passos lentos.
– Não. O que você fez foi muito pior. Agora eu estou em desvantagem.
Ele deixou a frase solta no ar, como se não tivesse intenção em explicar o que queria dizer. Eu também não fazia questão de entrar em explicações, porque ele estava parado à minha frente, deliciosamente nu - que Deus o abençoe - ainda úmido e quente do banho escaldante recém tomado, e na altura perfeita…
Ou ele estava muito cansado e lento, ou eu fui rápida demais.
Por impulso, segurei com firmeza seu membro, já não muito relaxado, e coloquei-o por inteiro dentro da boca, sentindo o perfume do sabonete caro e a maciez da pele dele, ainda não enrijecida completamente.
Mas não levou muito tempo até que já não conseguisse acomodá-lo completamente lá dentro. Ele havia crescido bastante, então tive que relaxar a garganta para fazê-lo entrar um pouco mais.
A toalha caiu no chão ao seu lado, então senti suas mãos pousarem na minha cabeça delicadamente.
Puxei-o mais para perto de mim, agarrando-o por trás, e em pouco tempo pude sentir suas pernas tremerem mais do que eu estava acostumada a sentir. Lembrei que isso devia ser consequência de seu cansaço, mas só pude torcer para que ele se mantivesse de pé, porque eu não ia parar.
Eu não queria parar.
Mesmo lutando para se controlar, os movimentos de Bruno foram ficando cada vez mais bruscos, agora investindo ele mesmo contra minha boca. Seus dedos ainda seguravam meus cabelos de forma gentil, deixando claro que ele não queria me machucar.
Levantei o rosto, olhando-o pela primeira vez. Ele me encarava com mais intensidade do que nunca, e no momento em que seus olhos encontraram os meus, senti uma vontade insana de beijá-lo.
– Você vai tirar essa blusa ou quer que eu rasgue?
Na verdade, eu queria que ele rasgasse.
É claro que me arrependeria depois, porque estava começando a amar aquela camisa, mas adorei o pensamento de Bruno tirando minha roupa de forma selvagem e me possuindo com toda a fúria animalesca que existia dentro dele.
Álcool realmente fazia com que eu virasse uma depravada.
Ignorei o fogo que me consumia agora com mais força, e tentando acelerar as coisas antes que ele mudasse de ideia me afastei um pouco e comecei a desabotoar minha camisa. Queria fazer aquilo rápido, mas como estava um pouco tonta e nervosa, meus dedos só conseguiram se livrar do primeiro botão depois de algum tempo.
Fui socorrida por Bruno em questão de segundos. Obviamente vendo meu estado deplorável, ele me levantou e trabalhou nos botões com uma rapidez fantástica, me desnorteando com um beijo intenso e molhado. Fechei os olhos, deixando que ele terminasse o serviço e simplesmente acabasse comigo.
– Devo levar em consideração seu estado alterado e parar por aqui? - Ele perguntou ofegante em meu ouvido, e tudo o que podia sentir eram suas mãos passeando pelo meu corpo de forma faminta.
– Se você não me comer agora, juro que te capo com os dentes enquanto você dorme!
Ele soltou uma gargalhada sonora e forçou minhas pernas a se enlaçarem em seus quadris.
No segundo seguinte, já estávamos dentro do box.
Bruno me sentou no banco de mármore que havia ali, seguindo todo o comprimento da parede lateral, e se ajoelhou à minha frente enquanto deixava suas mãos deslizarem pelas minhas coxas.
– Quer saber como foi meu dia hoje?
Eu não queria saber. Por mais que adorasse ouvi-lo conversando banalidades comigo, por mais que me importasse com ele, naquele momento eu só queria que ele calasse a boca e se enfiasse dentro de mim com tudo.
Mas eu não respondi, então ele continuou.
– Meu dia foi difícil. - Ele falou, e então me beijou novamente - Tive que fazer muita força pra não ir com Duda ver você. - Outro beijo - E acabei saindo mais cedo da empresa do que queria, porque estava ansioso pra te ver, então tive que ficar esperando até que você resolvesse descer. - Lambidas no meu pescoço - E tudo porque eu não consegui parar de pensar nessa coisa linda que você tem entre as pernas. - Ele parou nos meus seios - E no seu gosto. - Mordidas na minha barriga.
Eu já ofegava como se estivesse me afogando no meu próprio desejo, agarrada aos cabelos molhados de Bruno e escorregando pelo azulejo molhado como mel.
– Sabe o que eu acho? - Ele falou, finalmente sentando em seus calcanhares e abrindo com força minhas pernas - Acho que vou precisar fazer isso todo dia, pra que você não sinta mais vergonha de mim.
Isso, Bruno Coolin. Acaba comigo de uma vez.
Senti sua língua quente me invadir de repente, e soltei um gemido de prazer que se tornou ainda mais alto pelo eco do banheiro.
Ele me pegou pelos quadris com força e me puxou mais para perto de si, posicionando estrategicamente meus pés em seus ombros.
Estava tentando me controlar, porque sabia que no momento em que baixasse a guarda, meu orgasmo chegaria. Por isso, a ideia de olhar para Bruno não foi nada inteligente.
A cada lambida que ele dava, se demorava um pouco parado me olhando como um leão olha para um javali fresco temperado com barbecue, um sorriso torto assassino nos lábios e o contentamento de uma criança de dez anos ao se dar conta de que podia voar.
Ele estava tão compenetrado que não notou quando mordeu meu clitóris com mais força do que devia, me provocando uma pequena e momentânea dor.
– Ai! - Eu pulei para longe dele, dando um puxão rápido e violento em seus cabelos para afastar seu rosto de mim - Não faz isso!
Só então notei que havia sido rude, e de novo culpei o álcool pelo meu comportamento não habitual.
Bruno pareceu um pouco chocado com a forma como eu falei e com a agressão física, mas seus olhos pareciam brilhar com alguma coisa.
– Desculpa… - Ele deu um beijo simples e fofo no lugar onde havia me machucado, ainda me fitando nos olhos - O que quer que eu faça?
– Que me chupe direito.
A resposta saiu objetiva, outra vez rude e ditadora. Os olhos dele brilharam mais, seu semblante quase se transformando em um sorriso.
No segundo seguinte, ele me tocou novamente com a ponta de sua língua, testando com cuidado os pontos onde eu reagia mais aos seus estímulos.
– Assim está bom?
Eu havia perdido algum detalhe ou Bruno realmente parecia gostar que eu mandasse nele?
– Mais forte.
Ele obedeceu imediatamente, pressionando com mais força sua língua contra minha entrada e arrancando gemidos engasgados da minha garganta.
Por algum tempo, me deixei aproveitar aquela sensação - provavelmente a melhor sensação do mundo - mas assim que senti meu orgasmo se aproximar, o interrompi.
– Pára!
Ele parou, encostando o rosto em uma de minhas coxas e me encarando com curiosidade, como se esperasse pela próxima instrução. Trabalhei um pouco minha respiração, tornando-a menos inconstante, então falei outra vez.
– Sobe aqui.
Ele se levantou rapidamente em seus joelhos assim que tirou minhas pernas de seus ombros e as colocou com delicadeza no chão.
Seu rosto ficou quase da mesma altura que o meu agora, seu corpo inclinado para mim e sua boca muito próxima a minha enquanto seus olhos me olhavam com submissão e amor, seu membro incrivelmente rígido para quem não estava sendo estimulado de forma alguma.
Ora, ora. Então o poderoso Bruno também gostava de ser dominado.
Tudo bem, meu querido. Eu posso passar minha vida inteira te dominando.
Suspirei, sentindo todo o poder do vinho na minha cabeça enquanto olhava dentro de seus olhos dourados, um pouco mais escuros do que o normal agora. Esperei, não por falta de coragem em dizer o que ia dizer, mas porque queria esperar o momento certo. Quando ele finalmente chegou, ordenei em um tom de voz macio e baixo.
– Me fode de uma vez.
No segundo seguinte, eu estava no colo de Bruno, de joelhos no banco molhado, ele sentado onde eu estava antes.
Me agarrei em seu pescoço para não cair, porque o movimento rápido fez com que eu ficasse mais tonta, mas não tinha o que temer, porque seus braços me prenderam na conhecida gaiola que ele fazia ao meu redor quando estávamos naquela posição.
Fui atingida por um beijo invasivo, violento, e mesmo ficando um pouco perdida, correspondi. Me senti ser minimamente erguida para, logo em seguida, encaixar no corpo dele, centímetro por centímetro, de forma perfeita, e de repente minha noite se tornou um pequeno paraíso.
Eu precisava inventar novas palavras para poder expressar a forma como me sentia com ele, como o queria.
Ou não, não precisava explicar nada. O fato era que eu o queria tanto, tão mais do que jamais pensei querer alguém, que minha sanidade mental cedo ou tarde seria afetada de alguma forma.
Eu não podia perdê-lo. Era mais sério do que parecia ser.
Consegue sentir o quanto eu te amo? Consegue sentir o quanto eu preciso de você? Não suma da minha vida de novo, por favor.
Por favor…
– Ninha…
Abri os olhos outra vez e encontrei seu nariz encostado no meu. Ele me encarava como se quisesse me fazer sentir, pedaço por pedaço, todo o carinho e paixão que tinha por mim.
Levei minha mão direita ao seu rosto, seguindo a linha do maxilar e tentando conter os saltos que as investidas dele dentro de mim faziam. Ele fechou os olhos com meu toque e me beijou outra vez, um beijo lento e apaixonado, sem ser interrompido nem mesmo quando ele voltou a falar.
– Minha.
Eu era dele. De quem mais seria? Não tinha como contestar aquilo, e também não havia necessidade. Embora tivesse praticamente saído em um sussurro, o tom de voz acusava que aquilo não havia sido uma pergunta ou um pedido de confirmação. Era uma verdade, um fato já aceitado tanto por ele quanto por mim.
Estávamos de acordo, e isso bastava.
Bruno começou um terremoto onde nossos corpos estavam ligados, metendo em mim com tanta força que alguma coisa lá dentro acabaria machucada. Então me senti ser apertada por seus braços com tanta força que cheguei a temer pelas minhas costelas. Mas não senti dor porque ele havia, mais uma vez, tocado em um lugarzinho mágico próximo ao meu útero.
Gemi alto, sem medo de ser feliz, provavelmente reproduzindo com perfeição o áudio de um filme pornô amador.
Surpreendentemente, ele pareceu se excitar com o que, para mim, pareciam ser engasgos agudos, e embora não conseguisse entender, fiquei feliz em saber que todas as minhas esquisitices o agradavam.
O orgasmo chegou logo, porque Bruno havia conseguido a proeza de tocar com exatidão e de forma repetida o pequeno ponto-paraíso que deixava meu corpo em ebulição. Meu desejo era gritar palavras promíscuas, mas não o fiz porque pareceria vulgar. Assim, quando a onda de calor percorreu meu corpo em uma explosão de sensações, suspirei a única coisa que me parecia caber no momento.
– Sua.
Eu não saberia dizer se ele havia escutado, porque podia sentir seu estado de torpor, voltando de seu próprio orgasmo.
Alisei os cabelos dele com os dedos, massageando levemente seu couro cabeludo que provavelmente doía pelos puxões que eu dava.
Enfiei o rosto no pescoço dele e por ali fiquei, sentindo as batidas do coração dele desacelerarem lentamente de encontro ao meu peito e sua respiração se tornar mais calma.
O silêncio era bom, principalmente quando ele estava perto de mim. Principalmente quando ele estava me abraçando, acariciando com as mãos espalmadas minhas costas, respirando na pele sensível do meu pescoço.
Estava tão tranquila que um sonho começava a se formar dentro da minha cabeça, quando o senti levantar comigo ainda em seu colo.
Bruno ligou o chuveiro, mas não me mexi. Agarrada a ele como ímã de geladeira, deixei que a água morna escorresse pelas minhas costas, me acordando um pouco. Quando finalmente tomar banho se tornou uma tarefa muito complicada na posição em que nos encontrávamos, fui obrigada a me soltar dele.
Nenhum de nós dois falou. O silêncio ainda era agradável, como se a primeira palavra que fosse dita quebrasse a sensação de romance e magia que flutuava sobre as nossas cabeças. Ele me secou outra vez, então me perguntei se aparentava ser incapaz de fazer isso por mim mesma. Mas não reclamei, porque tê-lo me tratando cheia de mimos era algo pelo qual eu sabia que muitas mulheres morreriam.
Nos vestimos rapidamente. Eu tentava não encará-lo, então não sabia se ele estava me observando ou não. Saí sem avisá-lo, rumo ao meu quarto para pegar uma calcinha e uma calça de pano fofa para a noite fria.
Quando voltei, encontrei-o esparramado na cama de barriga para cima, entre almofadas e várias camadas de lençol, edredom e cobertor. Me senti imediatamente culpada, odiando meu egoísmo e falta de cuidado em não pensar no cansaço que ele sentia.
Escalei a montanha de panos e almofadas, tentando não fazer com que o colchão se movesse muito, o que foi uma tarefa difícil já que dormir na cama de Bruno era quase como dormir em cima de uma gelatina gigante.
Sentei com cuidado ao seu lado e fiquei observando por algum tempo sua expressão serena, de olhos fechados e respiração calma.
Como se não fosse suficientemente cara-de-pau, ele abriu um dos olhos, mantendo o outro fechado, espiando para verificar se eu ainda estava viva, e fechando-o no momento em que me viu.
– Eu ainda estou dormindo. Pode me beijar. Eu sei que você ia fazer isso.
Sorri com sinceridade e, como uma debiloide tive vontade de apertá-lo até seus olhos saltarem das órbitas por ser tão incrivelmente fofo.
Sem responder, me inclinei para mais perto dele e o beijei de forma suave no canto da boca.
– Eu esperava línguas e arranhões, mas posso me contentar com isso.
Bobo.
Mas gostoso.
– Durma. Eu já tomei muito do seu descanso.
– Não foi nenhum sacrifício. Se quiser, pode abusar sexualmente de mim enquanto eu durmo.
– Vou pensar nisso.
– Não vai me capar, não é?
Sorri outra vez.
– Não.
– Que bom.
Ao dizer isso, Bruno me virou na cama e me abraçou na nossa conhecida - e preferida - posição de concha. Meu sono agora já me tomava rapidamente, então me deixei levar mais uma vez pela sensação de tê-lo ali comigo, e me permiti relaxar.
Antes de começar a sonhar, porém, pude ouvir uma voz distante e conhecida, com o característico tom brincalhão, mas que tinha lá seu fundo de verdade.
– Vou me lembrar de oferecer vinho mais vezes a você.
Eu praticamente não havia dormido aquela noite, ansiosa pela iminente viagem surpresa a qual não só me faria viajar de avião pela primeira vez - o que tinha que admitir, não era o principal motivo do meu pânico - mas também conheceria a família de Bruno, esse sim o fato que me preocupava.
Eles devem ser legais.
Eu repetia isso como um mantra dentro de minha própria cabeça, enquanto assistia Bruno dormir. Ele estava mergulhado em um sono profundo, mas notei em alguns momentos que ele sonhava. Na maioria das vezes, dizia coisas incompreensíveis, mas quando seu rosto se contorcia em uma expressão de tristeza ou desagrado, ele instintivamente me trazia mais para perto de seu corpo, me apertando com tanta força que eu chegava a duvidar se ele estava mesmo inconsciente.
Me perguntei se ele estaria tendo algum tipo de pesadelo comigo.
Lembrei de todos os que eu havia tido com ele. Felizmente, a insônia trabalhou nisso, me deixando alerta quase a noite toda e impedindo que meus medos viessem me atormentar na forma de sonhos outra vez.
Eram 5h da manhã quando vi o relógio pela última vez e consegui relaxar nos braços de Bruno.
…
Acordei às 10:15h sentindo um pouco de frio. Estava sozinha e com dor de cabeça, por isso tentei dormir mais um pouco, tarefa que se mostrou impossível, já que minha ansiedade não me deixava relaxar.
Tomei um banho quente e demorado, enquanto traçava planos para o resto do meu dia, pelo menos até Bruno voltar do trabalho.
Me vesti com um conjunto de moletom e meias fofas, peguei uma maçã na cozinha e fui para meu quarto, com o intuito de começar a separar algumas roupas para nossa viagem de Natal. Encontrei três malas grandes e discretas enfileiradas perto da parede, então me perguntei se Bruno realmente achava que eu levaria tanta coisa assim. Ignorando as restantes, separei uma única mala para a viagem.
Escolhi as roupas mais novas por uma série de motivos. Primeiro, eram mais bonitas. Segundo, não havia riscos em fazer com que ele ou eu lembrássemos de coisas desagradáveis. Terceiro, eram muito mais elegantes do que minhas antigas peças, e provavelmente seria mais apropriado me vestir dessa forma perto da família de Bruno. Mesmo assim, não deixei de colocar alguns casacos velhos e calças de moletom confortáveis, já que não fazia ideia do quão frias as noites de Londres eram.
Me perguntei se seria de bom tom arrumar as malas de Bruno também, já que não sabia a que horas ele voltaria para casa, mas logo desisti da ideia porque, além de poder deixá-lo desconfortável comigo tentando mexer em coisas que eram de sua responsabilidade, eu não fazia ideia de que tipos de roupas ele queria levar.
Peguei o presente ainda embrulhado e guardei na bolsa, com medo de que, se deixasse para depois, esquecesse de levá-lo comigo. Coloquei na mala alguns sapatos, meias, peças para inverno como luvas, cachecol e touca, além de roupas íntimas. Lembrei que tinha dois vidros de perfume, mas ambos eram fortes demais. Um, inclusive, era o mesmo perfume que havia usado na noite em que nós nos reencontramos, então imaginei que Bruno simplesmente o odiasse. Como única saída, empacotei junto com o restante das coisas meu creme para hematomas - que eu sabia que não o desagradaria - e fechei o zíper.
Demorei mais do que imaginava.
Olhei para o relógio, que marcava 12:30h, então pensei no que fazer para o almoço. Como estava sozinha, qualquer coisa congelada estaria de bom tamanho. Preparei no microondas uma lasanha de legumes e comi, tentando não pensar em nada relacionado à viagem e em tudo que poderia dar errado nela.
Terminei de almoçar por volta das 13:15h.
Sem muito o que fazer, rumei para o quarto de Bruno e liguei a tv. Passei por mais de duzentos canais três vezes, demorando em alguns filmes apenas para ver se me chamavam a atenção, mas não havia algo que me interessasse ou que conseguisse me fazer parar de pensar.
Eles vão me odiar. Vão pensar que eu sou uma interesseira. Vão pensar que eu não presto.
– E por que eles pensariam isso? - Perguntei a mim mesma.
Porque eu não presto.
Não respondi. O pior de tudo não era ter que viver com Bruno e fingir que a vida era simples. Era o fato de ter minha própria consciência contra mim que estava me enlouquecendo, e eu tinha certeza que se não revertesse essa situação, por bem ou por mal, acabaria na merda.
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De repente, Amor.
Romance"Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como havia de ser, os do...