Capítulo 27

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Depois de alguns minutos de muita bagunça, os ânimos se acalmaram na sala de estar. Robert estava radiante, seu sorriso maravilhoso iluminando a casa toda. Hérica estava com o rosto inchado pelas lágrimas de emoção, e Arthur estava feliz feito uma criança. Bruno ainda parecia um pouco chocado, mas não conseguia para de rir. 
– Até que enfim um pirralho nessa família! - Arthur disse, rindo do próprio senso de humor. 
– Não chame meu filho de pirralho, seu idiota! - Jhulie falou, o socando com força no braço, mas sem conseguir machucá-lo. 
– Viu só, Bruno! Nossa irmãzinha mandando ver! É muito mais rápida que você! - E olhando para mim, concluiu - Ninha, tem certeza que ele não é bicha? 
– Você é o mais velho, seu cretino. - Bruno se defendeu. 
– Eu não tenho uma namorada, seu lerdo. 
– Calem a boca! - Gritou Jhulie - Não estraguem meu momento! 
– Parabéns, querida! Você vai ser uma mãe excelente. - Hérica falou, ainda emocionada. - E você um ótimo pai, Diego! 
– Acho que isso merece uma comemoração. - Robert falou, sobrepondo sua voz às dos outros. - Whisky! 
Em menos de um minuto, estava sobre a pequena mesa uma garrafa bonita com um líquido um pouco escuro dentro, além de alguns copos largos e baixos. Notei que Hérica havia deixado a sala para, logo em seguida, voltar com uma caixa de suco de laranja em uma das mão e, na outra, uma garrafa de vinho tinto. No final, brindamos com quatro copos cheios de whisky, um de vinho para Hérica e dois de suco, um para Jhulie que não podia beber e outro para mim, que não podia me deixar embebedar. 
– Ei… - Ele chegou perto de mim, tentando falar baixo para que só eu ouvisse - Se importa se eu beber essa noite?
Arthur ouviu a pergunta do irmão e imitou o barulho de um chicote com a boca. Ignorei-o. 
– Claro que não! Você tem que comemorar! - Falei, um pouco mais animada do que pensei que ficaria com aquela notícia. 
E ele bebeu. Não só ele, como Robert, Arthur e Diego. Hérica lembrou a todos da troca de presentes, já que, afinal de contas, era Natal. 
Ainda assim, ninguém estava interessado nessa parte da noite. Toda a atenção estava voltada para Jhulie, Diego e a novidade deles. Por isso, me senti mais confortável quando a família se presenteou rapidamente e logo o assunto voltou a ser o novo herdeiro Coolin. 
– Está com quantos meses, Jhulie? - Bruno perguntou, e eu já começava a perceber as palavras mais arrastadas saindo de sua boca. 
– Dois. Daqui a pouco posso até saber o sexo do bebê.
– Tem que ser homem! - Arthur falou, animado - De mulher nessa família já basta a mamãe, você e o Bruno. 
Uma almofada voou a distância entre um sofá e outro, atingindo Arthur em cheio no rosto. 
– Já tem ideia de nomes? - Perguntei, ignorando as duas crianças que se agrediam com travesseiros e cobertores. 
– Ashley se for mulher, Jackson se for homem. - Diego anunciou. 
– Foi planejado? Como você ficou sabendo? Como contou a Diego? 
Hérica estava tagarela, talvez por causa do vinho. Todos se divertiam fazendo perguntas aleatórias a Jhulie, às vezes repetidas. Toda vez que olhava para Bruno, ele estava com uma nova dose de whisky na mão, e aquilo começou a me preocupar. Ainda assim, não falei nada, porque não queria estragar a comemoração de ninguém. E ele seria tio. Isso era grande.
A conversa passava de um assunto a outro, mas sempre acabava voltando à gravidez. Robert ficava brincando com a ideia de ser avô, Arthur ironicamente estava mais sério a medida que ia ficando mais bêbado, e Bruno não parava de me tocar. 
Graças a Deus, seus toques não eram inapropriados. 
– Então, Anninha… - Começou Jhulie, um pouco de saco cheio com as infindáveis perguntas que faziam a ela - O que você faz?
Senti um solavanco dentro de mim, imaginando que talvez meu coração tivesse despencado. Prendi a respiração, tentando raciocinar e dar uma resposta a tempo de fazer com que ninguém ali notasse meu pânico. 
– Ela é bibliotecária. 
Bruno estava bêbado, isso estava claro. Ainda assim, ele conseguia ser mais rápido e inteligente do que eu, até mesmo nas mentiras que contava. 
– Gosta de ler? - Diego perguntou, enquanto se servia de mais uma dose de whisky.
– S-sim. 
Eu ainda estava abalada por ter sido pega desprevenida. Me perguntei por que Bruno e eu não treinamos alguns desses diálogos antes da viagem. Era óbvio que sua família iria querer saber mais de mim, até mesmo para se certificarem de que eu não ia arruinar com a vida de um dos membros.
– E como se conheceram? - Foi a vez de Hérica perguntar, e então eu estava oficialmente começando a ter uma crise de pânico.
– Hahahahaha, querem mesmo saber como nos conhecemos? - Bruno perguntou em uma voz muito alta, e isso fez com que eu estremecesse ainda mais. Ele estava bêbado, e eu não sabia até onde sua noção iria. - Bom, eu vou contar.
Ele se ajeitou no sofá, e Hérica pareceu se interessar pela história que viria. Agarrei seu braço em pânico. Eu sabia que estava vermelha, não de vergonha, mas de desespero. 
– Bruno… - Falei baixo, minha boca muito próxima a ele - Você está um pouco alterado… 
– Não quer que eu conte a história? - Ele falou alto, e todos ouviram - Ora, não precisa ficar com vergonha, minha linda! É tão bonita… 
Ele tocou no meu rosto, e eu entendi que não adiantava: Ele ia contar sua história. O que exatamente ele diria, eu não sabia. 
Respirei fundo uma vez. Duas vezes. Olhei para Jhulie, tentando segurar o pânico que me consumia lentamente. Me surpreendi ao vê-la me encarando com uma expressão estranha. Ela havia notado que tinha algo de muito errado ali.
– Eu conheci a Ninha que vocês conhecem há alguns meses. Ela estava sentada numa praça perto da minha casa, lendo. Estava chovendo muito, e eu corri pra lá pra me proteger. A vi compenetrada na leitura, e como a simples imagem dela chamou minha atenção, fui ao seu encontro. Sentei ao lado dela e ficamos conversando. Fiquei feliz por ela não ter me dispensado tão fácil. E então, eu me apaixonei por ela naquele dia. 
Eu não estava respirando, prestando atenção em cada palavra que ele dizia. Quando ele se calou, notei que absolutamente nada do que havia falado era mentira. Aquele foi o dia em que ele realmente me conheceu, que realmente conversou sobre a minha vida e passou a saber que já fazia parte dela. 
A Anne que ele havia conhecido antes desse dia não era a mesma Ninha de agora.
E só a Ninha de agora importava. 
Mas então, havia sido naquele dia que ele… 
– E então você pediu ela em namoro? - Hérica perguntou, ainda sorrindo pela história e me tirando de meus devaneios. 
– Não. Depois ficamos amigos, mas eu já não conseguia deixar de pensar nela. Então minha vida virou um inferno porque eu tentei me afastar… - E aqui, Bruno parou, olhando envergonhado para o copo em suas mãos e suspirando - E descobri que não tinha como ficar sem ela. 
Todo mundo ficou em silêncio. Jhulie continuava olhando de mim para Bruno de forma um pouco esquisita. Eu, pelo menos, já conseguia respirar. Diego não olhava para ninguém em particular, e Hérica encarava Bruno com uma expressão de pena. 
– Bom. - A voz de Arthur cortou o silêncio - No final das contas, vocês se pegaram. O saldo foi positivo então. 
Robert riu, fazendo com que Hérica relaxasse um pouco também. Jhulie desviou o olhar de mim, e eu começava a ter medo dela. 
– Então você é a nova interesseira da família, Anninha.
Olhei espantada para Diego. Por que ele havia dito aquilo? 
– Eu não… Não estou com ele por causa disso… 
– Diego - Jhulie olhou-o um pouco irritada - Faça suas piadas com quem já conhece você. 
– Querida, Diego tem um senso de humor um pouco gélido. Ele só estava brincando. Às vezes é difícil notar. - Hérica apressou-se em dizer, enquanto eu sentia meu rosto ferver.
Só então ele pareceu entender que sua “piada” não havia saído como o planejado. 
– É, é brincadeira! Eu só disse isso porque, até então, o interesseiro era eu. Mas eu estava brincando, sei que você não é. 
– Uau, ela está um tomate gigante. - Ouvi Arthur dizer. 
– Desculpa, era só brincadeira! - Diego repetiu, já parecendo um pouco desesperado.
– Tudo bem… - Falei numa voz baixa, e rezei para que eles parassem de olhar para mim.
Bruno levantou-se, cambaleando um pouco quando o fez.
– Vamos dormir. - Ele falou, me estendendo a mão, que agarrei sem pensar. Eu queria sair dali, queria sair da vista de todo mundo. - Mãe, por acaso sobrou alguma coisa daquele doce que a Ninha fez? 
Lembrei de ideia que ele tivera com relação àquela sobremesa quando estávamos em seu apartamento em Los Angeles, e me perguntei se seria possível ficar mais vermelha do que estava agora. Talvez eu tivesse me camuflado com a cor do meu próprio vestido. 
– Não, filho. Comi o último pedaço, se eu soubesse que você queria… 
– Não se preocupe, mãe. - Jhulie falou, com um sorriso sarcástico no rosto, se levantando também e olhando para Bruno, como se mantivessem uma conversa por telepatia - Ele só queria lambuzar a Anninha com aquela calda. Seu pervertido. 
– Jhulie, não seja esquisita. - Diego falou.
Mas Jhulie não estava sendo esquisita.
Como diabos ela sabia daquilo?
Bruno gargalhou e pronunciou um “boa noite” em voz alta, me puxando atrás de si. Me despedi olhando cada uma das pessoas que permaneceram na sala, e então já estávamos ao pé da escada.
Pensei que ele teria problemas com aquele obstáculo, mas me enganei.
Embora Bruno estivesse claramente alcoolizado, não chegava a estar assim tão mal. Ele abriu a porta do quarto e me deixou entrar primeiro, trancando-a em seguida. 
Eram 01:45h da manhã.
Sentei na cama, tentando me recompor de tudo que havia acontecido nos últimos minutos. Suspirei profundamente, sentindo a vida voltar às minhas veias agora que estava sozinha ali com Bruno.
Olhei-o e ele parecia concentrado em alguma batalha interna. Seus olhos estavam fechados, seu rosto sério e austero. Poderia até dizer que ele estava prestes a fazer um comunicado de vital importância para a Inglaterra inteira. Assim, quando ele abriu a boca, tive que rir. 
– Preciso mijar. 
Bruno rumou para o banheiro, um pouco trôpego, bastante alcoolizado, enquanto tirava seus sapatos no caminho e desabotoava os primeiros botões de sua camisa amarrotada.
Continuei olhando para o lugar onde ele estava. Sorri outra vez. 
Lembrei do que estava guardado e escondido dentro de minha bolsa, então me levantei indo de encontro a ela e tirando de lá o presente dele.
Ele voltou ao quarto com a camisa já completamente desabotoada, os olhos fora de foco e os cabelos, como sempre, desgrenhados.
Suspirei. 
– Eu tenho uma coisa pra você. - Comecei, sem saber direito como fazer aquilo.
Ele me encarou, curioso. 
– Pra mim? 
– É. Um presente de Natal. - E dizendo isso, estendi o embrulho para ele.
A expressão de Bruno foi se transformando lentamente em um sorriso de compreensão. 
Ao final de sua metamorfose, ele estava tão lindo e parecia tão feliz que por muito pouco não me atirei no colo dele e o enchi de beijos. Era como se ele fosse uma criança e eu tivesse acabado de lhe dar uma loja de doces. 
– Você comprou um presente pra mim? Uau! 
Ele parecia realmente surpreso, abrindo de qualquer jeito a embalagem e tirando de lá a caixa com o relógio dentro. Ao ver do que se tratava, seu sorriso conseguiu ficar ainda mais largo. 
– Uau! - Ele repetia muito isso - É demais! 
– Gostou? - Analisei sua expressão na esperança de encontrar traços de mentira ali. Mas todas as reações dele pareciam ser genuínas.
– Muito! - Ele falou, e de forma inocente puxou a manga esquerda da camisa para cima, revelando naquele pulso um relógio maravilhoso, muito mais interessante e, aparentemente, muito mais caro do que aquele que eu havia comprado para ele. Inclusive, lembrei de uma vez ter visto as horas naquele mesmo relógio: no dia em que eu havia acordado no quarto dele pela primeira vez. 
Murchei na hora. Como infernos eu nunca havia reparado que ele já usava uma porra de um relógio de pulso? Como eu não havia lembrado? Como eu não vi isso aquela mesma noite? 
Eu era uma ameba, e me sentia como uma criança de sete anos dando de “presente” um desenho idiota feito de giz de cera.
- Uau. - Aquela expressão, antes me fazendo sentir bem, agora já estava me irritando. Ele não tinha motivos para ficar daquela forma. Foi uma ideia idiota. - Como ficou? 
Ele deixou o pulso amostra, agora com o relógio que eu havia dado. 
– O outro ficava melhor. - Falei, amargurada e puta. 
– Claro que não! Esse é muito mais interessante! 
– Não é. Não minta. 
– Não estou mentindo! Eu gostei muito! 
– Que seja… - Falei baixo, pegando a embalagem rasgada, amassando tudo com raiva e formando uma bola de papéis nas mãos. 
Me virei para jogar tudo aquilo no lixo, mas fui surpreendida por um abraço, e então a próxima coisa da qual eu estava ciente era o rosto de Bruno enfiado em meu pescoço enquanto seus braços me prendiam perto de seu corpo, cruzados em minhas costas e não me permitindo sair dali.
– Obrigado. Você não faz ideia do quanto eu gostei. 
Retribuí o abraço, sentindo sua respiração pesada no meu pescoço. Lembrei de Duda me dizendo que independente do que eu desse a ele, ele gostaria. Quase que imediatamente, lembrei do meu aniversário, quando meros marca-páginas tinham me proporcionado uma alegria inexplicável, e então entendi que, se Bruno estivesse sentindo a mesma coisa que eu naquele dia, aquele momento provavelmente estaria sendo de fato precioso.
– De nada. - Respondi baixo, retribuindo o abraço e sentindo as já conhecidas ondas de eletricidade entre meu corpo e o dele. 
Ficamos daquela forma por algum tempo, então me dei conta de que, se demorasse um pouco mais, Bruno acabaria dormindo no meu ombro, dado seu estado alcoolizado. Me afastei dele e puxei o edredom que cobria a cama. 
– Você vai acordar com um pouco de dor de cabeça amanhã, então aproveite enquanto consegue dormir. - Falei, afofando o travesseiro e apontando para os lençóis. - Vem. 
Ele caminhou até sua mala sem me dar atenção e tirou de lá de dentro alguma coisa pequena, que cabia na palma fechada de sua mão. Sem dizer nada, me guiou pela cintura até a beirada da cama, me fazendo sentar ali. 
– É a vez do meu presente. 
– Você já me deu o seu presente. - Lembrei-o, imaginando sobre mais o que ele esquecia quando bebia. 
– Não dei. 
– Eu estou vestindo ele. - Levantei o pulso, mostrando pacientemente o tecido do vestido vermelho sangue.
– Esse não é o meu presente. 
Ele suspirou.
Seus dedos passearam um pouco trêmulos pelos cabelos acobreados, me encarando de forma misteriosa. Bruno parecia nervoso, e eu podia ver isso até mesmo com as várias doses de whisky que o faziam parecer com sono.
– Tudo bem? - Perguntei, ficando um pouco mais incomodada a cada segundo que ele permanecia em silêncio. 
– Tudo bem. - Ele respondeu, se ajoelhando à minha frente em cima do tapete felpudo ao lado da cama, e me olhando com algum tipo de veneração. Eu não sabia o motivo, mas a forma como ele agia estava me deixando ansiosa.
– Eu queria saber fazer isso sóbrio… - Ele começou - Mas acho que exigiria uma coragem que eu não tenho. Me desculpa se isso não sair do jeito que eu queria, ou do jeito que você queria, mas eu preciso dizer que te amo. 
O som daquelas palavras fizeram com que qualquer ruído desaparecesse. Era como se a única pessoa que existisse fosse ele, como se os únicos sons que importassem fossem sua respiração e sua voz, como se as únicas sensações do mundo fosse sua pele na minha e as ondas que se chocavam no curto espaço entre nós dois. Seus olhos não estavam desfocados, o que provava que ele sabia o que estava dizendo. E eu só podia ouvir. 
– Eu sei que estamos juntos há poucos dias, mas foi o tempo suficiente pra que você notasse que eu sou um idiota e que eu notasse que você é perfeita. 
Bruno abriu a mão que escondia uma caixa azul-marinho pequena. Fiquei encarando aquilo, tentando não pensar no que poderia ser antes que ele a abrisse. 
– Eu não sei quais são os termos que definem a nossa relação, mas sei que preciso de você. Acho que não tenho o direito de dar títulos ao que existe entre nós, mas… 
A caixa se abriu, mostrando um anel dourado e fino encaixado na diagonal.
– Uma coisa pra você… Lembrar de mim. Fica à sua escolha chamar isso de pedido de namoro, noivado, casamento, não importa. Contanto que você aceite. 
Ele segurou a aliança pequena entre seus dedos e envolveu minha mão direita suavemente, trazendo-a de encontro ao aro. 
– Mas o que eu realmente estou pedindo aqui é… Fica comigo pra sempre? 
A aliança deslizou pelo anelar e se encaixou perfeitamente na espessura daquele dedo. Ele afastou suas mãos da minha, e nós dois ficamos olhando para meu mais novo adereço. 
– Eu prometo… - Ele olhou nos meus olhos outra vez, e eu o encarei de volta - Prometo tentar todos os dias te fazer tão bem quanto você me faz. E prometo tentar fazer com que você não se arrependa de ser minha. 
Alguma coisa quente escorreu pelas minhas duas bochechas, mas não me importei. 
– Embora você mereça alguém melhor… - Ele adicionou, secando meu rosto - Mas ninguém vai te admirar tanto quanto eu. Ninguém vai te querer tanto quanto eu quero, e tenho quase certeza que você não vai fazer tão bem a outro homem quanto faz a mim. 
Era provável que ele tivesse mais algo para dizer. Infelizmente, meu corpo agiu por vontade própria, e então eu havia me atirado nele sem o menor cuidado, indo parar no chão em cima do tapete felpudo e beijando-o inconscientemente. 
Meu anelar estava quente. Talvez fosse psicológico. Não importava. Eu era dele, com ou sem aliança, mas tê-la ali era uma prova. 
Provava que eu era importante. Provava que ele queria que eu fosse dele, e da mesma forma, provava que ele também era meu.
Meu.
Agora eu sabia que chorava compulsivamente. Tanto que chegava a soluçar. 
Bruno, embora bêbado, pareceu entender que aquilo era um “sim, sou sua e sempre fui”, e então me senti completamente entregue às suas mãos que já trabalhavam em meu vestido, não de forma desesperada, mas cuidadosa. 
Não lembrei da cama. O tapete parecia suficiente para amenizar o atrito de nossos corpos com o chão. Não estava frio nem quente.
Estava perfeito. 
Ele me beijava de forma apaixonada enquanto me possuía, deixando de lado a cautela e me apertando contra seu corpo de forma possessiva. Eu era dele, e ele sabia disso.
Não sabia dizer se meus gemidos foram altos. 
Deixaria para me preocupar no dia seguinte, assim como as mordidas e chupões que Bruno aplicava aleatoriamente pela extensão do meu corpo. Imaginei que precisaria de mais maquiagem do que nunca, mas já que isso não mudaria de qualquer forma, me permiti aproveitar todas as sensações daquele momento. 
O cansaço veio, mas não fez com que o desejo que me consumia fosse embora de imediato. Ele parecia arder da mesma forma, então passamos uma boa parte da noite enrolados e encaixados, tentando ao mesmo tempo sentir e proporcionar prazer um ao outro. Quando ambos parecíamos satisfeitos, deixei que o sono me embalasse, sentindo o calor da pele dele me aquecer.
Em algum momento daquela noite acordei de repente e constatei que estava deitada confortavelmente na grande cama ao lado de um anjo.
Ele não dormia, mas me observava com mais paixão do que jamais havia visto em alguém. Levantei a mão direita para checar se meu presente ainda estava ali. Como se precisasse me certificar de que aquilo não havia sido um sonho. 
Relaxei. O aro dourado estava lá.
E se dependesse de mim, ficaria ali para sempre.
Luz. 
Estava bem mais claro do que eu podia esperar do meio da noite. Era possível notar isso ainda de olhos fechados. Abri-os preguiçosamente, apenas para constatar, para minha total surpresa, que já havia amanhecido, embora minha percepção julgasse não haver passado nem uma hora desde o momento em que adormeci ao lado de Bruno.
Pisquei algumas vezes. Um mormaço tímido penetrava o quarto pela fresta da cortina aberta, diretamente no meu olho esquerdo. Virei de lado de forma brusca, sem pensar onde estava ou que horas deviam ser.
Ao meu lado dormia um homem de bruços, com o rosto virado para o outro lado, aparentemente nu até onde o lençol o cobria. 
Era um corpo bonito, em forma, mas algo me incomodou ali. Algo que eu não havia notado no início.
Eu não conhecia aquelas costas. Eram diferentes das costas que eu esperava encontrar aquela manhã. Não tinham os sinais que eu havia tentado decorar um dia, ao vê-lo tomar banho. O cabelo também não era o mesmo. Era ondulado, mas negro. 
A razão veio me tomando aos poucos, e foi junto com ela que o homem começou a se mexer. Foi quando finalmente ele se virou para mim que levantei de imediato, quase caindo da cama. Reparei que eu também estava nua. 
– Que porra… 
Meu coração batia descompassadamente. Eu não estava entendendo nada, e olhei em volta tentando me localizar.
Aquele quarto também não era o quarto que eu esperava encontrar naquela manhã, simplesmente porque não era o mesmo quarto em que eu havia dormido. Não era a suite da casa dos Coolin. 
Mas eu conhecia aquele lugar.
Era um lugar com paredes encardidas, sujas. Precisavam de uma pintura. Ao meu lado, uma tv quebrada, algumas roupas em cima dela. O “quarto” em questão dividia o espaço com uma cozinha através de uma bancada. Havia apenas uma lâmpada que pendia do teto, sem lustre. Minhas malas estavam espalhadas pelo chão, na parede à direita, e como um estalo dentro de mim, consegui me localizar.
O apartamento. 
O apartamento que eu morava. Não era a casa de Bruno, nem de seus pais. Também não era a casa de Rayana. Era o lugar para o qual eu havia ido entre esses dois momentos. 
Desespero. 
Cocei os olhos, tentando enxergar melhor. Tudo parecia muito embaçado. O homem desconhecido ainda estava de bruços no sofá-cama, olhando para mim como quem olha para qualquer animal de circo. 
– Não. 
Falei em voz alta. Uma vez, duas vezes, repetidas vezes. 
– Não, não… Isso não… 
Senti falta de ar. Uma dor angustiante comprimiu meu peito como se quisesse esmagá-lo.
– NÃO! NÃO FOI UM SONHO, PORRA! 
Mais falta de ar. Meu corpo começou a tremer descontroladamente, de forma ridícula, tentando se manter de pé.
Alcancei o celular e busquei ali o número dele, tentando lutar contra o tremor e apertar as teclas certas.
Não estava lá. 
– Por favor, não… 
Chorei de desespero. Olhei para os lados, sem saber o que fazer.
Aquilo não podia estar acontecendo. 
– Uma puta escandalosa. Escolheu a dedo, Roy. 
O homem falou consigo mesmo, e senti um baque no estômago. Encostei na parede tentando respirar. Minha garganta parecia fechada. Ao lado do sofá, duas garrafas de alguma coisa alcoólica e notas de dinheiro. 
– Pelo amor de… - Eu falava sozinha. 
Não sabia se gritava ou implorava. A luta contra o pânico que já me dominava estava chegando ao fim.
Olhei para minha mão direita.
Não havia anel algum ali.
Como um surto de loucura, me belisquei. Bati, arranhei e soquei cada pedaço de pele que podia lembrar, desesperada para provar a mim mesma que aquilo era um pesadelo. 
Meu Deus, só podia ser um pesadelo! 
– Vai ficar quieta ou quer que eu te amordace? 
O homem me encarava de forma divertida, me mostrando e enrolando com as mãos um pedaço de pano.
Solucei, me deixando escorregar pela parede e cair no chão. Sem forças, sem vida.
Sem nada.
Engasguei. Algo me trouxe de volta, me tirando daquele lugar e daquele desespero torturante. Tossi com força, tentando respirar outra vez. Confusão. Não conseguia assimilar nenhuma informação ao certo. 
Estava claro. O quarto ainda era invadido timidamente pelo mormaço do lado de fora, mas dessa vez a realidade que chegava aos poucos começava a fazer mais sentido. 
– Calma…
Tentei me desvencilhar de braços.
Eram braços fortes, e embora a sensação de tê-los ali parecesse conhecida e até reconfortante, lutei contra eles, muito perdida para entender.
Mas eles eram fortes demais até mesmo para o meu pânico. 
Tossi mais vezes, e uma náusea súbita me tomou com uma força muito grande para tentar controlá-la.
Estiquei o pescoço para o lado, sem conseguir ver direito, e tudo que estava dentro de mim saiu em um jorro de muitas coisas misturadas e nojentas. Minha garganta ardeu como se pegasse fogo, e pude sentir os braços ao meu redor afrouxarem o aperto e dedos segurarem meus cabelos em um tipo de rabo-de-cavalo improvisado, tentando separar os fios do suor que cobria meu rosto e pescoço.
A náusea vinha em ondas, e cada onda resultava em um novo jorro de algo ruim. Minha cabeça começou a doer instantaneamente, mas aos poucos fui retomando o controle da situação, vomitando cada vez menos, enxergando cada vez mais.
Um chão de madeira escura. Graças a Deus não era carpete. 
– Calma, princesa… - A voz atrás de mim saiu hesitante, trêmula. 
Meu corpo todo tremia. Vomitei mais. Sem pensar em nada, descolei a mão direita do peito e a estiquei, olhando fixamente para a aliança fina no anelar, pedindo silenciosamente para que ela simplesmente não sumisse diante dos meus olhos. Toquei-a com o polegar, tentando conter o tremor quase epiléptico, querendo senti-la e me certificar de que aquilo - aquilo sim - era real. 
Alívio.
Cuspi uma última vez no chão e me deixei cair sem forças no colchão macio. Estava suada de uma forma que não combinava com o clima invernal de Londres. Já não sabia se tremia de frio ou de nervoso. Minha cabeça doía e latejava, e consegui notar que estava chorando assim que abri os olhos.
Eu estava em estado de choque, descabelada e me sentindo imunda. E Bruno, como um anjo perfeito e ridiculamente lindo até ao acordar, estava olhando para mim daquela forma, ao meu lado. 
Eu sabia que devia pedir para que ele parasse e se afastasse, mas estava me sentindo excepcionalmente exausta e fraca naquele momento.
Num ímpeto, me atirei em seu peito, tomando cuidado para não encostar minha boca em sua pele, e me agarrei nele com desespero, querendo senti-lo, querendo ter certeza de que ele também era real. 
– Foi só um pesadelo. - Ele falou em uma voz aveludada, enquanto penteava os fios rebeldes que teimavam em grudar no suor da minha testa. - Mas você me assustou.
Ele tocou minhas costas com um dos dedos e eu estremeci. Senti o cobertor ser puxado e nos cobrir, então tudo o que queria era me deixar relaxar grudada nele. Tudo estava bem agora, e o alívio que enchia meu peito como um balão era tão reconfortante que eu poderia até meditar. 
– Quer conversar sobre o seu sonho? 
– Não. - Minha voz saiu fraca, mas decidida, mesmo se escondendo em seu peito. Imediatamente notei que havia deixado óbvio para Bruno que o sonho era, de certa forma, sobre ele.
Fechei os olhos e o ouvi suspirar.
– Foi só um pesadelo… - Ele repetiu. - Um pesadelo idiota. 
Fiquei em silêncio, lembrando do desespero daquele sonho, lembrando que aquele não havia sido um pesadelo “idiota”, mas sim o pesadelo mais real que eu já havia tido. 
Dentre tantos outros que me atormentavam.
E sempre eram relacionados a ele, de uma forma ou de outra.
– Você deve ter comido alguma coisa ontem que não fez bem. Vai se sentir melhor depois de um banho quente. 
Meu estado deplorável não tinha nada a ver com má digestão, eu sabia disso. 
– Preciso limpar isso. 
– Você não vai limpar nada. Não está bem pra isso. 
– Bruno, tem um líquido nojento espalhado no chão do quarto dos seus pais. 
– Alguém limpa depois. 
– Eu vomitei, eu limpo. 
– Por que está insistindo? Você sabe que eu não vou te deixar fazer isso. 
Não discuti. Era mesmo inútil insistir em algo que eu sabia que não ia acontecer, mas de qualquer forma, estava feliz por estar tendo uma discussão boba daquelas. Ele estava ali, aquilo era real, e isso era tudo o que importava. 
Bruno se levantou pelo outro lado da cama e me puxou para poder me pegar nos braços.
– Como está a sua cabeça? - Perguntei, enquanto era carregada nos braços até o banheiro. 
– Doendo um pouco. Mas eu estou acostumado com ressaca. 
Era uma pena que eu não poderia dizer o mesmo da minha, que agora latejava incomodamente, como se quisesse me lembrar de que aquele dia não havia começado muito bem. 
– Espera. Preciso escovar os dentes antes de mais nada. - Falei, enquanto ele me guiava para o box.
Bruno aceitou meu pedido, me colocando de pé na frente da pia e me olhando como se eu estivesse prestes a ter um ataque fulminante do coração. Tentei ignorar o fato de que estava completamente nua. 
Quando terminei de escovar os dentes, vi que o chuveiro já estava ligado à minha espera.
Ele lançava um jato incrivelmente forte de água morna. Deixei a força da ducha massagear meu couro cabeludo, fechando os olhos e aproveitando a sensação boa ali por algum tempo. Instintivamente, agarrei meu anel com a outra mão e, como se isso fosse suficiente, permaneci imóvel. 
– Você não parece bem. - Ele falou, se juntando a mim dentro do box e me trazendo de volta à realidade. 
– Eu estou ótima. - Concluí. Depois de acordar daquele pesadelo, tudo estava ótimo. Mais do que ótimo. 
Notei que ele me olhava um pouco contrariado. 
– Que foi? 
– Eu deixei algumas marcas ontem. 
Olhei para mim mesma pela primeira vez e vi algumas manchas escuras e arroxeadas na minha cintura, na parte interna das minhas coxas (exatamente onde os quadris dele batiam), nos meus pulsos e uma mancha vermelha como sangue pisado em um dos meus seios. 
– Ah… - Comecei, ainda olhando para os braços - Tudo bem, as roupas cobrem. 
– Você tem alguma coisa de gola alta? - Ele perguntou, tocando em alguns pontos do meu pescoço como se quisesse me mostrar que ali a coisa estava feia. 
– Tenho cachecol. 
Bruno suspirou um pouco triste, me encarando por algum tempo, apenas para depois se aproximar de forma perigosa. 
– Eu tenho que lembrar de ir com calma com você. - Ele disse, percorrendo a distância segura entre nós dois e me abraçando.
Me dei conta de que o calor do corpo dele era muito melhor do que o calor da água aquecida da ducha que agora batia em suas costas. Sua boca, antes apenas próxima ao meu pescoço, agora dava beijos calmos mas molhados pelos prováveis hematomas que se encontravam ali.
Tremi, retribuindo o abraço. 
Tentei não me agarrar nos cabelos da sua nuca outra vez, mas era involuntário. Eles pareciam estar ali única e exclusivamente para isso. Senti sua boca passear de um lado ao outro do meu pescoço, de forma tranquila e torturante, traçando um caminho de fogo por onde passava. Sua língua descia e subia, perto da minha orelha e nos limites do meu ombro. Eu ia explodir em algum momento, e a culpa seria toda dele.
Lembrei do sonho outra vez, ainda fresco na minha imaginação, o que fez com que aquele momento fosse ainda melhor. O pensamento em perdê-lo, em ter que me afastar dele outra vez, ou o que era pior: ser abandonada por ele, estava me apavorando cada vez mais, justamente porque cada vez mais eu me acostumava em estar perto dele e depender de sua presença. 
Era possível que eu estivesse desenvolvendo algum tipo de fobia ou síndrome, e talvez eu temesse que ele descobrisse e me achasse estranha demais.
Mas isso não me impedia de alimentar um crescente sentimento possessivo que se tornava preocupante. 
– Não precisa ir com calma. Não precisa mudar nada. 
Não precisa porque eu amo tudo em você. Amo até as marcas que você deixa no meu corpo, porque são suas. Porque não há nada melhor do que sentir que você é meu, e não há nada melhor do que pertencer só a você.
Não precisa mudar nada. Contanto que você fique comigo.
Senti seu braço se estender e no segundo seguinte a água quente parou de cair. O frio foi completamente esquecido, porque ele ainda brincava com meu pescoço de uma forma tão natural que me dava arrepios, que não tinham nada a ver com o inverno.
Senti algo gelado nas minhas costas e pulei de surpresa. Notei que Bruno havia me prensado contra uma das paredes molhadas do box, me prendendo entre os azulejos e seu corpo. Se afastando de meu pescoço, ele agora me olhava com um certo contentamento, como se estivesse começando a se divertir.
– Se você me disser que não preciso ir com calma, vou pegar pesado de verdade. - Ele disse, olhando diretamente dentro dos meus olhos propositalmente. Ele se divertia com esse tipo de coisa, como se me desafiasse a desviar o olhar. 
Bruno apertou seu corpo contra o meu com força, me fazendo sentir a pressão de algo duro contra minha barriga. Sorri com a sensação.
Deslizei minhas mãos pelo seu corpo, saindo dos cabelos e passeando pelos ombros largos, moldando as palmas aos músculos de seu peito e descendo mais, sentindo cada pequeno detalhe e dobra em sua pele. Tateando e acompanhando com os olhos cada caminho, cada centímetro. 
Ele era real. 
Passeei meu dedos pelas costas firmes, parando na parte inferior e fazendo um pouco mais de pressão ali, tanto para apalpar aquela parte quanto para trazê-lo mais contra meu corpo. Não lembrava se já tinha alguma vez tocado na bunda dele, mas tinha que lembrar de fazer aquilo mais vezes. 
Beijei seu peito molhado delicadamente. Era onde meus lábios alcançavam sem precisar levantar a cabeça. Senti as pontas dos meus dedos doendo, e me dei conta de que estava apertando-o com força demais. Inconscientemente. Como se não quisesse largá-lo, como se pretendesse fundi-lo a mim, na esperança de que, nós dois sendo um só, não poderíamos nos separar mais. 
Os cabelos da minha nuca foram puxados delicadamente, me fazendo levantar a cabeça por reação, e no segundo seguinte senti sua língua deslizar na minha de forma calma, sensual, intensa. Havia um gosto forte de menta, e me perguntei em que momento ele tinha escovado os dentes. Não me aprofundei na tentativa de descobrir a resposta, porque ele já intensificava um pouco mais o beijo, deslizando suas mãos pelas minhas costas como se quisesse memorizá-las. Ele parou na curva da minha lombar fazendo círculos, como se estivesse me provocando, como se dissesse “eu vou descer, mas só quando eu quiser”. E eu queria tanto que aquelas mãos descessem… 
Me equilibrei nas pontas dos pés, tentando forçá-lo a me tocar. Ele entendeu e apenas riu. Trouxe uma de suas mãos à minha nuca outra vez e, com força, me puxou contra ele, pela cabeça e pelos quadris.
Permiti que meus lábios deslizassem contra os dele de forma violenta, dando à sua língua passagem para invadir minha boca cada vez mais, sempre tocando em pontos novos e deslizando por ali de formas diferentes. Bruno conseguia aplicar tanta pressão ali que meus lábios já doíam um pouco, mas a dor era boa. 
Voltei meus dedos para seus cabelos, porque no final das contas, agarrá-lo daquela forma era a maneira de permitir às suas mãos um melhor acesso ao meu próprio corpo. Nossos movimentos não eram mais calmos como no início, mas sim violentos e um pouco rudes. Suas mãos finalmente deslizaram e apertaram minha bunda. Vibrei em silêncio.
Talvez a pele da minha barriga ficasse com marcas também, já que Bruno e sua nada discreta excitação estavam me machucando. 
– Não sei como você consegue fazer isso… - Ele disse, interrompendo levemente o beijo e tomando fôlego, mas não me permitindo responder ou perguntar “Fazer o quê?”, porque no segundo seguinte sua língua estava deslizando na minha outra vez. Suas mãos criaram um gancho e me levantaram sem dificuldade alguma. 
Entrelacei instintivamente minhas pernas em seus quadris, ainda prensada entre a parede e o corpo quente dele, agarrada com desespero ao seu pescoço e deixando que ele fizesse o que quisesse comigo.
A coisa dura e incômoda que machucava a pele da minha barriga deixou de ser incômoda e deslizou para dentro de mim sem qualquer problema, arrancando um suspiro involuntário da minha boca. Senti um arrepio forte com a penetração, enrolando os dedos dos pés e das mãos com força, fechando os olhos violentamente. 
Ele era meu.
Apertei o laço que minhas pernas faziam em torno dele, enquanto o sentia se mover dentro de mim. Repeti o ato com os braços, quase sufocando-o. Lembrei do sonho, lembrei da sensação de perdê-lo, de estar sem ele. Me arrepiei outra vez. 
Ele tinha que ser meu pra sempre.
Os nós em meus dedos provavelmente doíam, mas eu não sentia. Entre eles, estavam chumaços de cabelo de Bruno, então era óbvio que eu o estava machucando também. Mas não conseguia estar ciente disso. Sem a menor explicação, estava sendo tomada outra vez por um pânico irracional de perdê-lo. Era um péssimo momento, mas não estava nas minhas mãos detê-lo ou não. 
Aquilo era real. Mas não havia certezas se aquela realidade duraria para sempre. 
Os arrepios foram ficando mais fortes. Desde quando eu havia me tornado completamente dependente dele? Bom, talvez a resposta fosse “desde sempre”, e pensar no fato de que Bruno era tão importante para mim a ponto de ser indispensável era apavorante. 
Era apavorante depender de uma pessoa para ser feliz. 
Meu rosto estava enfiado em seu pescoço. Eu estava imóvel, tentando lidar com os sentimentos diametralmente opostos de pânico e prazer. Por isso, fui pega de surpresa ao sentir, mais uma vez, meu cabelos serem puxados. Mas dessa vez, o puxão veio com força, de forma violenta, sem cuidado algum. Senti dor, mas fui calada pela proximidade dos nossos rostos. Sua testa estava encostada na minha, e seu olhar carregava aquela intensidade que existia sempre que ele queria dizer algo muito, muito importante. 
– Eu não vou te deixar. - Ele me olhava como se estivesse pontuando a frase com um “Entendeu bem, sua estúpida?” - Que se fodam esses seus pesadelos, são só sonhos idiotas! 
Encarei-o espantada, sem mover um músculo. Ele puxou minha mão direita de seus cabelos, trazendo-a para o pequeno espaço entre nós, e sem dizer mais nada, chupou meu anelar, querendo fazer com que eu lembrasse da presença de alguma coisa ali.
Fiquei olhando um pouco abobalhada para aquilo. O aro dourado cintilava diante de meus olhos, como que para provar cada palavra que ele havia dito. Mas eu acreditava na sinceridade dos seus olhos. Não era desconfiança, era apenas medo. Porque era razoável temer pelo inferno quando já se teve uma prova do paraíso. 
– Tudo bem… - Falei, mas nem eu mesma ouvi minha voz. Sem pensar em mais nada, fechei os olhos e fui de encontro à sua boca. Eu queria aceitar aquela verdade de forma absoluta, sem pensar em “e se”s e “mas pode ser que”s. 
Bruno estava parado à minha frente, com aqueles olhos dourados tristes tão lindos, confessando suas intenções e quase implorando para que eu acreditasse nelas. E se isso não era o suficiente, nada mais seria.
Ele me prensou com mais força contra a parede, mas ignorei os azulejos frios e duros. Relaxei o corpo e a mente para recebê-lo outra vez. Seus braços em volta de mim me davam uma sensação de proteção assustadora. Ainda assim, não consegui deixar de lembrar que essa mesma sensação de proteção era antiga, e existia mesmo antes do momento em que ele havia resolvido me abandonar.
E a lembrança do abandono, a dependência dele e o pavor em perdê-lo insistiam em estar ali.
Por que eu estava tão sensível?

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