Capítulo 19

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Entrei debaixo do chuveiro, sentindo a água gelada machucar minha pele, e me permiti demorar mais do que o normal ali. Ao contrário do que imaginei, eu não estava ansiosa para sair logo e me certificar de que ele ainda estava no meu apartamento. Eu estava calma de alguma forma, talvez porque tivesse aceitado a situação. Isso não significava que a dor no meu peito tivesse diminuído em nada, mas era a hora de lidar com ela, afinal de contas.
Lavei os cabelos e me ensaboei várias vezes, sentindo com isso dores em alguns lugares do meu corpo. Então lembrei do creme que eu usava em situações assim, que ainda estava guardado dentro do armário com espelho em cima da pia, e imaginei qual seria a reação dele se eu decidisse usá-lo. 
Pelo que me lembrava, aquele perfume fazia coisas estranhas com ele, mas meu objetivo não era tornar as coisas mais difíceis para ninguém. 
Muito pelo contrário.
Me sequei e vesti as roupas limpas. Penteei os cabelos molhados e peguei as roupas que usava antes, emboladas agora em meus braços, então destranquei a porta e saí. 
Minha razão tentava me convencer que ele não estaria mais ali. Meu lado sentimental torcia para que ele estivesse me esperando debruçado no pequeno balcão que separava a sala da quase-cozinha. 
O fato era que essas eram as duas únicas opções que eu pensava ter, mas ao entrar novamente na pequena sala, fui, mais uma vez, pega de surpresa pelas mudanças no ambiente. 
Ele estava lá, sentado no sofá. Minhas malas, roupas e sapatos, não. 
Além dele, as únicas coisas que ainda permaneciam na sala eram minha mochila, agora aberta e vazia ao lado dele, e meu par de tênis verde ao lado da porta, que passaria desapercebido se não fosse um verde-limão tão pouco discreto. 
Fiquei imóvel, dando tempo ao meu cérebro para encontrar uma explicação para aquilo. 
Antes que isso pudesse acontecer, Bruno se levantou e veio em minha direção, tirando das minhas mãos a bola de roupas sujas e enfiando na mochila.
Calmamente, passou por mim e entrou no banheiro, então pude ouvir o barulho de muitas outras coisas sendo jogadas dentro da mochila, o que eu tinha certeza serem os poucos produtos que estavam guardados no armário.
Quando ele voltou para a sala, tentava empacotar junto com as outras coisas a toalha úmida que eu acabara de usar. Quando meu cérebro finalmente conseguiu processar uma possível explicação para tudo aquilo, meu corpo começou a tremer de uma forma violenta e involuntária, enquanto ele agora me olhava e tentava fechar o zíper da mochila em suas mãos. 
– Tem alguma coisa na geladeira? 
Não consegui responder, mas fiz que não com a cabeça.
Meu corpo estava completamente tomado por uma descarga elétrica muito forte para que eu conseguisse me acalmar. Aquilo que eu estava pensando era uma explicação, e embora fosse aceitável e até plausível, eu lutava comigo mesma para desacreditar nela, enquanto me mantinha na mesma posição desde que havia entrado naquele cômodo. Não era aquilo, simplesmente não podia ser aquilo. 
Ele veio para minha frente e novamente me olhou nos olhos, sem nunca deixar de lado sua postura rígida. 
– Vem. 
Senti sua mão segurar com firmeza a minha, a firmeza que meu corpo agora não tinha. Meus tremores ficaram ainda mais óbvios depois de sentir seu toque quase despreocupado em mim, como se fosse algo tão banal, e eu quase poderia estar envergonhada da minha patética falta de controle se estivesse me importando minimamente com isso. 
Não podia ser aquilo.
Sua mão me puxou para a porta, onde meus tênis me esperavam, então senti meu corpo no tão conhecido piloto automático segui-lo para onde ele me guiava. 
Calcei os tênis sem esforço e saí, completamente atordoada, enquanto esperava que ele trancasse a porta com minhas chaves. Vários lances de escadas depois, eu estava na porta do prédio, me preparando para descer as escadas, enquanto Bruno continuava me guiando com uma mão espalmada em minhas costas.
– Fica aqui. - Ele começou, depois de fechar a porta do carona comigo já sentada - Onde mora a dona do seu apartamento? 
Fiz um pouco de esforço para raciocinar e lembrar o número do apartamento dela. Depois de algum tempo, consegui dar a informação a ele, ainda muito atordoada para fingir que estava tudo bem. 
– Eu já volto.
Ao dizer isso, ele acionou o segredo de trancas no carro, me prendendo, literalmente, dentro dele. Como meus pensamentos pareciam correr em câmera lenta, momentos depois ele já estava de volta sem que eu conseguisse pensar em um motivo para aquilo.
Tudo estava estranho demais.
Por que nenhuma das ações dele faziam o menor sentido para mim? O que ele queria com aquilo? Não, minhas suposições NÃO estavam certas, e eu queria me convencer disso. Mas então, o que diabos estava acontecendo?
O caminho de volta - outra vez - havia sido rápido, e tudo o que eu pude processar do passeio era o rumo que tomávamos a cada quilômetro percorrido, enquanto tentava tomar partido na guerra declarada entre meu lado racional, que insistia em querer me fazer desacreditar no rumo que as coisas tomavam, e meu lado emocional, que me mostrava pouco a pouco que sim, era exatamente aquilo.
Mas não podia ser, porque não fazia sentido. 
E enquanto eu ficava correndo atrás do próprio rabo com essas divagações, Bruno parecia agora com uma postura ainda mais forte e decidida, sem trocar uma só palavra comigo durante o percurso todo. 
Finalmente, depois de sabe-se lá quanto tempo, chegamos no lugar fechado no qual eu já estivera há pouco menos de uma hora atrás. Bruno parou o carro e saiu, pegando a mochila do banco traseiro e dando instruções a um empregado do prédio, oferecendo-lhe as chaves do veículo. 
Permaneci imóvel, sentada e pensando o que eu deveria fazer agora. Meu corpo não havia parado de tremer um segundo sequer até então, e eu rezava para que ele não tivesse notado meu estado de nervos, embora achasse difícil isso não ter acontecido.
A porta ao meu lado abriu repentinamente, me pegando de surpresa e fazendo com que eu pulasse discretamente no assento. 
– Vamos. 
Automaticamente, segui suas palavras e me levantei, saindo do carro e indo com ele rumo ao elevador, que nos esperava porque o empregado segurava a porta para nós. 
– Toque a campainha quando trouxer tudo, por favor. 
– Sim senhor. - Respondeu o homem, enquanto fechava cordialmente a porta do elevador, nos trancando lá dentro. 
Silêncio.
Eu já estava me acostumando a ficar sempre em silêncio perto dele, a ter sempre medo de ser a primeira a falar, ter medo de a ser hostilizada caso o fizesse. Mas eu nunca havia tido tantas dúvidas na vida, e nunca havia sido privada de tantas explicações. Era como se ele me deixasse cheia de dúvidas propositalmente, e gostasse de me ver completamente confusa e perdida.
– O que está acontecendo? 
Era o que eu queria perguntar, e era no que eu vinha pensando durante todo aquele tempo, desde o momento em que não vi minhas coisas no lugar onde elas deveriam estar. Mas foi novamente minha incrível capacidade de falar em voz alta o que eu pensava que me fez elaborar a frase em alto e bom som, quebrando de uma só vez o silêncio do elevador.
Ele me encarou, e no mesmo momento o cubículo em que estávamos parou de subir, enquanto as portas se abriam, indicando que havíamos chegado ao nosso destino. 
– Você sabe o que está acontecendo. - Ele disse, ainda de forma fria, enquanto pisava no corredor e segurava a porta para que eu também o fizesse.
Não respondi. Caminhei para seu lado e esperei que ele abrisse a porta. 
Segundos depois, entrávamos outra vez em seu apartamento. Sem sequer se preocupar em olhar para mim, Bruno seguiu para o corredor estreito e escuro, entrando no quarto ao final, e eu automaticamente fui atrás dele. 
Estava odiando o fato de parecer uma cachorrinha atrás do dono, mas eu simplesmente não fazia a menor ideia de como agir.
Ele finalmente jogou a mochila em cima da cama e, sem dizer mais nada, saiu.
Eu ainda podia ouvi-lo andando de um lado para o outro enquanto permanecia no quarto, sentada na cama baixa, esperando para que meu cérebro conseguisse pensar em alguma coisa para fazer. Olhei em volta e reparei que esse quarto era menor e mais simples que o dele, mas não deixava de ser charmoso. 
Um quarto de hóspedes. 
Depois de algum tempo, ouvi a campainha ser tocada e passos firmes indo para a porta da sala. Dois homens trocaram duas ou três palavras, e momentos depois a porta era fechada novamente. 
Bruno entrou no quarto que eu estava outra vez, então vi minhas malas e bolsas antes desaparecidas. Ele as depositou no chão com um baque surdo, no canto mais distante, e novamente sem me encarar, saiu do quarto, me deixando sozinha outra vez.
Não me movi por um bom tempo, mas quando meu corpo cansou da mesma posição, me deixei cair de costas no colchão, encarando agora o teto e pensando.
Os fatos eram simples. 
Bruno havia me levado para sua casa sem nem me comunicar a respeito. 
Eu não sabia qual havia sido o momento exato que ele tivera essa brilhante ideia mas agora, sozinha naquele quarto sem sua presença para tirar minha concentração, eu tentava imaginar o motivo daquilo.
Se ele estava se sentindo sozinho, um animal de estimação seria uma boa saída, além de ser uma opção mais fácil e menos trabalhosa. Por que ele havia decidido trazer para sua própria casa uma garota de programa que acabara de assumir seus sentimentos totalmente inapropriados por ele? 
Talvez, depois de tudo que eu havia dito, o peso da culpa o tivesse atingido de uma forma mais intensa do que eu esperava. 
Se fosse dessa forma, era apenas uma questão de tempo até que esse sentimento fosse se esvaindo aos poucos, fazendo com que, ao final de um mês, no máximo, ele se arrependesse.
E no final das contas, eu acabaria na merda outra vez.
Bem, talvez fosse melhor se eu resolvesse me impor e simplesmente sair dali. Ele não iria ficar sozinho por muito tempo, porque eu tinha certeza que não era a única opção de companhia para um homem lindo, rico e solteiro.
Na verdade, eu era a pior de todas as opções. 
Então por que diabos ele havia me escolhido?
Não fazia sentido.
De repente, me peguei desejando que ele não tivesse feito aquilo. Era claro que sua companhia ainda surtia um efeito impressionante em mim, mas eu não queria morar de favor na casa dele. 
Ele não era responsável por mim, e seria extremamente desconfortável viver dia a dia com a pessoa que aparentemente havia resolvido começar a me ignorar.
E se o simples fato de ser ignorada por alguém não fosse o suficiente, talvez eu devesse considerar o fato de que ser ignorada pela pessoa que eu amava era. 
Mais que suficiente, era um pouco além do que eu poderia suportar.
Ele poderia me ignorar longe de mim, então por que escolheu me trancar perto dele para fazê-lo? O que infernos ele queria com isso? Me machucar ainda mais? Me fazer ter sua companhia e, ao mesmo tempo, me sentir sozinha e descartável?
Não fazia sentido, porque ele nunca havia sido cruel.
Mas, fosse como fosse, eu não poderia aguentar aquilo. Se tudo pelo que eu passei até aquele momento não havia sido o suficiente para me derrubar de vez, aquilo certamente seria. 
O relógio do criado mudo marcava agora 21:30h, e me espantei por não ter visto as horas passarem. Reunindo toda a força de vontade e coragem que me restavam, levantei da cama e rumei para seu quarto.
Todas as luzes da casa pareciam estar apagadas. Talvez ele já estivesse dormindo.
Caminhei devagar pelo corredor, testando meu controle a cada passo. Fui silenciosa, porque não queria que ele pensasse que eu estava perambulando pela casa que não era minha. 
Cheguei em seu quarto e empurrei lentamente a porta encostada. Bruno estava outra vez de pé, em frente à grande parede de vidro, encarando os carros que passavam muito abaixo de nós. Ele trajava um pijama branco, e parecia pensativo. Ao constatar que eu estava agora dentro do seu quarto, ele virou-se para mim, me encarando com uma expressão satisfeita, e não acusatória por estar invadindo seu espaço como pensei que seria. 
– Está com fome? 
– Não. - Respondi depois de testar minha respiração algumas vezes. 
– Você precisa comer alguma coisa. 
– Não preciso de nada. 
Ele continuou me encarando, pronunciando cada palavra em um tom de voz tão calmo que chegava a ser invejável.
– Eu posso preparar alguma coisa pra você. 
– Por que está me tratando como a sua boneca? 
Ele me encarou surpreso. 
– Eu não estou… 
– Por que me trouxe pra cá? 
– Não é óbvio? 
– Não, não é. 
Eu fazia força para que os tremores no meu corpo não afetassem minha voz, já que eu queria passar um mínimo de segurança.
– Eu quero que você fique aqui. 
– Por quê? Pra tornar a brincadeira de me ignorar mais divertida? 
– Não. 
– Então por quê? 
– Porque você tem que ficar aqui. 
– Por que você não me dá motivos? 
Ele suspirou. 
– Eu preciso falar com você. 
– Sobre o quê? 
– Sobre mim.
Não, eu não fazia ideia do que ele tinha para dizer, mas o que quer que fosse, devia ser algo importante. Só pelo fato de Bruno se prestar a manter uma conversa comigo, coisa que ele parecia tentar evitar a qualquer custo nas últimas horas, eu poderia dizer que suas palavras deviam ser dignas de atenção. 
– Troque de roupa. Jeans não são confortáveis para dormir. 
– Eu não estou com sono. Você me deixou dormir demais. 
Outra vez, ele suspirou. 
– Por favor? 
Continuei encarando-o por algum tempo, mas finalmente tomei a iniciativa de atender ao seu pedido. Virei-me pronta para ir até meu quarto e pegar alguma peça de roupa, mas ele interrompeu meus movimentos quando se dirigiu novamente a mim. 
– Não, não quero que você use aquelas roupas. 
Encarei-o outra vez. 
– Então o que quer que eu use?
Como resposta, ele tirou a parte de cima do seu conjunto e me estendeu o casaco, tão grande quanto o que eu havia vestido na noite anterior. O perfume era o mesmo, o que fez com que meu coração desse um discreto pulo fora de compasso.
Sem mais delongas, entrei no banheiro do quarto e fiz a troca de roupas mais rápido do que o normal. 
Pendurei minha blusa e minhas calças atrás da porta e saí, encontrando-o novamente virado para a janela, e a semelhança da cena me trouxe a lembrança fresca da noite passada na memória. Fui me sentar na cama e esperei que ele se aproximasse. Quando finalmente se sentou ao meu lado e de frente para mim, mais próximo do que meu auto-controle poderia lidar, as palavras que eu vinha tentando formular saíram de minha boca sem que eu pudesse tentar segurá-las. 
– Eu não vou ficar aqui. - Comecei - Não sei o que você pretende com esse jogo, mas é melhor eu ir embora antes que… 
– Você não vai a lugar nenhum.
Sua postura ficou imediatamente tensa, e tanto seus olhos quanto seu tom de voz acusavam que aquilo não era um pedido, mas sim uma ordem. Olhei-o espantada, pensando na resposta que daria a ele. 
– Se eu for embora, o que você vai fazer? - Instiguei-o. 
– Eu vou atrás de você outra vez, e juro que te acho. 
Me calei. Ele iria atrás de mim outra vez? Outra vez? Quando havia sido a primeira vez, para início de conversa?
Depois de um longo silêncio, ele começou. 
– Eu devia ter deixado isso claro ontem a noite, mas eu não vou mais pagar pra ter você. Sempre que eu quiser estar com você outra vez, não vai haver dinheiro algum envolvido nisso. Negue-me se quiser, você tem o direito, mas não ouse cobrar um centavo. Eu não me importo se isso vai contra a sua vontade. Se a vida que você pretendia seguir era essa, tenho que informá-la de que isso não vai acontecer. A partir de agora, você vai ficar nessa casa, vai dormir nesse quarto, mas não tem o direito de ir embora. Se você tentar qualquer coisa desse tipo, eu vou atrás de você e… Te prendo aqui! Juro por Deus que faço isso!
Suas palavras saíam em um jorro, como se ele estivesse confessando pecados íntimos e dolorosos demais. Como se toda a dor que ele sentisse desse a ele o direito de se impor e de dar ordens, de ter seus desejos obrigatoriamente atendidos.
Eu poderia me sentir ofendida de estar recebendo ordens, se não fosse pelo claro e quase gritante desespero que havia em cada sílaba que saía de sua boca. Seu tom de voz tornava-se mais histérico e descontrolado a cada segundo, e talvez ele estivesse enlouquecendo ou simplesmente deixando-se ruir. O que quer que estivesse acontecendo, eu podia dizer que aquele não era Bruno em suas perfeitas condições. Ele estava deixando-se levar por algum tipo de medo ou desespero para se impor daquela forma, e sua respiração parecia tão difícil e pesada que eu podia jurar que era uma questão de segundos até que ele caísse aos prantos nos meus braços.
Sua postura fria estava desmoronando, até o ponto em que tudo o que parecia restar à minha frente era um homem tão inseguro e perdido que eu pude sentir algo que jamais pensei poder sentir quando se tratava dele: Pena. 
– Br… 
Ele me olhou diretamente nos olhos, e eu vi um medo tão profundo que podia beirar à insanidade. 
– Você vai ficar comigo, porque não há outra maneira. Eu já fiquei tempo suficiente sem você pra saber o quanto dói. Eu já passei por muitos infernos pra tentar me afastar de você, mas você me marcou de um jeito tão fundo que eu não consigo… Simplesmente não consigo viver sem você. Mesmo que eu quisesse não sentir por você tudo aquilo, mesmo sendo covarde a ponto de fugir de você pra não acabar iludido outra vez… Eu tentei te esquecer e quase morri. De saudade, de desespero, de preocupação, de um vazio tão intenso que eu nem sabia que podia existir.
Eu tentei me afastar pra tentar esquecer o fato de estar nas suas mãos, porque isso estava me matando. Saber que você controlava tudo em mim me fez ter tanto medo que eu fugi, mas estar longe de você só fez com que eu sangrasse mais rápido. E foi tentando afastar a sua lembrança que ela se tornava mais forte. Eu quase enlouqueci, e sei que merecia. Por tudo o que eu fiz e falei, eu sei que mereço sofrer mil vezes mais. Tudo isso foi porque você era uma garota de programa, eu admito. Admito que entrei em pânico quando me dei conta de que estava apaixonado por você, e fui tão estúpido que não notei que não adiantava mais correr. Eu admito que fui um covarde, um fraco, um imbecil, mas eu preciso que você fique comigo… Eu… Eu exijo que você fique comigo! Não dá pra te esquecer, e eu ainda não sei lidar com isso, mas não pense que eu te ignoro. Eu não poderia te ignorar, nunca. Você é importante demais pra isso.
Quando te vi naquela esquina imunda, daquele jeito, fiquei com tanta raiva que não consegui raciocinar. Eu sei que foi por minha culpa, mas ainda assim, te ver se oferecendo por míseros $100,00… Você vale tão mais do que isso, tão mais do que qualquer quantia. E eu preciso te mostrar o quanto você vale, o quanto é importante. Eu queria ter sabido mostrar o quanto me importava com você, queria saber mostrar o quanto lamento por tudo o que eu fiz. Mas eu não consigo, e tudo o que eu posso fazer é te dizer que você é essencial, que você é única.
Não me importo se você me acha louco ou idiota, contanto que fique comigo. Que prometa que não vai me deixar. Eu preciso de você… Tanto que chega a doer. Porque nada na merda da minha vida faz sentido se você não está nela. Você me pediu pra te deixar em paz, mas eu simplesmente não consigo. Porque eu posso tentar te esquecer mil vezes, mas mil vezes eu vou falhar.
Vi uma única e solitária lágrima cair de um dos seus olhos, então ele pigarreou e respirou algumas vezes repetidas para retomar o controle que havia deixado escapar, enquanto olhava agora para suas mãos. 
Continuei encarando-o sem dar o menor sinal de que estava viva, porque a essa altura, minha respiração já estava suspensa há muito tempo, meus olhos estavam ressecados já que eu não piscava, e meu coração… Bom, meu coração não devia estar mais funcionando, de qualquer forma. 
Esse era o momento que eu poderia dizer qualquer coisa, xingá-lo pela dor que ele me fez sentir, pela sua fraqueza ou pelo seu preconceito. Era o momento que eu poderia agredi-lo por manter a verdade tão longe de mim por tanto tempo, me fazendo pensar que eu era praticamente nada para ele. Era o momento que eu poderia deixar as lágrimas presas na garganta rolarem livremente, fazendo-me sentir mais livre.
Mas eu simplesmente não reagi. 
Apaixonado por mim… Eu era importante… Ele precisava de mim…
Aquilo era impossível. Simplesmente impossível. Era muito bom, muito perfeito, um final muito feliz para ser verdade. Finais felizes não aconteciam assim tão facilmente. 
Mas por que ele mentiria? E se fosse mesmo verdade? E se eu realmente não fosse só uma puta pra ele? E se ele… Se ele…

De repente, Amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora