Capítulo 26

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◇◇◇◇
Oi, espero que estejam ansiosos pra ler. Passei um dia todo na aula de campo e acabei ficando enrolada.
Espero que gostem da família Coolin. Boa leitura!!!
◇◇◇◇

Tentei não reparar em nada ao meu redor, porque isso faria com que eu tivesse alguma noção de tempo. Pensei em tomar algum calmante para relaxar, mas lembrei que não tinha nenhum na bolsa, e estava fora de questão pedir um comprimido a ele. 
De fato, eu havia me desligado, utilizando o já conhecido piloto automático. Entrei em algum estado de coma, e no que parecia o minuto seguinte, já estávamos em um campo aberto e pouco iluminado, um avião de pequeno porte parado à nossa frente e nossas malas sendo levadas por dois homens que eu nunca havia visto na vida. 
– Boa noite, senhor Coolin. Boa noite, senhorita. 
Levantei a cabeça e sorri um sorriso nervoso para o homem. 
– Boa noite, Fernando. Estamos prontos? 
– Quando o senhor quiser. 
A noite estava fria. O vento era gelado, sendo mais intenso naquela área de campo aberto e vasto. Cruzei os braços no peito, apertando mais o nó que fechava meu sobretudo, e abaixei a cabeça. Senti um braço passando pelas minhas costas e uma mão firme em minha cintura. Como eu bem sabia a quem ela pertencia, deixei que me guiasse. 
Subi as escadas que ligava o asfalto à porta do avião, sentindo meu nervosismo aumentar a cada degrau pisado. Finalmente meus ouvidos deixaram de ouvir o ruído alto que o vento forte fazia, me indicando que agora eu já me encontrava dentro do nosso meio de transporte. 
Levantei a cabeça e notei que estava em um ambiente pequeno mas bastante luxuoso e iluminado, onde tudo, do chão até os móveis, parecia derivar de tons de marfim, bege e caramelo.
Virei-me para trás, tentando me certificar de que não estava sozinha. 
Encontrei Bruno perto da entrada conversando com o homem que, ao que tudo indicava, seria o nosso piloto, e o que parecia ser um tipo de co-piloto. Eles tagarelavam coisas nas quais eu não prestei atenção. 
Voltei os olhos para o ambiente claro, com oito poltronas distribuídas em quatro pares (que pareciam ser mais confortáveis do que todas as camas que eu já tive na vida), um pequeno bar aos fundos rodeado de espelhos e uma porta aberta que, até onde eu podia ver, dava para um corredor que nos ligava com o resto do avião. 
Fiquei encarando aquilo com uma expressão que eu sabia ser de incredulidade. Nesse momento, senti duas mãos cheias de dedos se fecharem em minha cintura e um corpo grande e quente encostrar no meu por trás, enquanto uma voz rouca e linda falava ao pé do meu ouvido. 
– Você nunca andou de avião, né? 
Fiz que não com a cabeça, ainda um pouco impressionada com tudo aquilo. 
– É possível que o vôo seja um pouquinho conturbado por causa do vento forte. Mas turbulência é algo normal, não precisa ficar com medo. Fernando é um piloto extremamente competente. 
Eu me preocuparia em ter medo depois. No momento, ainda estava deslumbrada com tudo aquilo. 
– Vem, nós vamos levantar vôo.
Bruno me puxou para uma das cadeiras enormes e fofas cor de marfim, então me sentei ao lado da minúscula janela, enquanto ele sentava imediatamente ao meu lado. Observei-o colocar o cinto e repeti seu ato mecanicamente, então esperei. 
– É muito bonito aqui. 
– Assim que pudermos levantar, vou mostrar o resto do lugar pra você. - Ele falou, sorrindo de forma simples para mim, enquanto trazia sua mão esquerda até minha perna direita e a deixava lá. Sem pensar, fechei os olhos e cobri sua pele com a minha recostando na poltrona, apenas deixando-me sentir o contato entre nós.
O avião começou a andar. Pouco tempo depois passou a correr, e então, sem nenhum aviso, simplesmente levantou, cessando o contato das rodas com o asfalto áspero. Senti uma pequena pressão na cabeça me puxar para trás, mas não me incomodei. 
Olhei pela janela, observando as luzes da noite se distanciarem cada vez mais. Bruno não deixou de me tocar nem por um segundo, por vezes fazendo carinho como um tipo de conforto na minha coxa. 
– Pronto. - Ele começou depois de algum tempo, me fazendo despertar do meu momento autista - Vem comigo. 
Soltei o cinto de segurança que ainda me prendia à poltrona e segurei a mão que ele oferecia para mim, deixando que me guiasse e me mostrasse o que quisesse. 
Fui apresentada no próximo aposento a uma sala com poltronas, cadeiras e sofás dispostos em volta de uma grande televisão. Era uma pequena sala de estar elegante. Passamos por um banheiro estreito que dividia a última sala com a próxima, um tipo de cozinha com bancadas finas e armários compridos, com compartimento para bebidas geladas e uma prateleira de biscoitos e enlatados. Finalmente no último cômodo, o corredor se dividia em quatro portas, duas de cada lado. 
– Os quartos. Infelizmente, todos são de solteiro. 
Havia uma cama fina encostada na parede. O quarto era pequeno e apertado, mas extremamente confortável, limpo e de bom gosto. Ao levar em consideração que estávamos dentro de um avião, aquilo era o equivalente a uma suíte presidencial de qualquer hotel cinco estrelas. 
– Você vai dormir no quarto da frente?
– Vou.
Senti uma pontada de decepção, mas Bruno não notou, dizendo que iria falar com o piloto e que já voltava. 
Fiquei ali, me acostumando àquele lugar e aceitando o fato de que nós dormiríamos separados aquela noite. Era uma noite em que eu realmente precisava dele comigo, porque minha ansiedade crescia a cada minuto. Não que ele pudesse fazer muita coisa, mas só sua presença já ajudava a acalmar meus nervos. 
Algumas horas depois Bruno me entregou um pijama fofo de moletom, e me perguntei quando ele havia pegado aquilo das minhas coisas sem eu me dar conta. 
Finalmente me desejou boa noite, perguntando se eu ficaria bem. Respondi que sim, sabendo que ele achava que meu nervosismo estava relacionado com a turbulência, e não com a expectativa de conhecer sua família. Deixei que ele acreditasse nisso, desejando-lhe boa noite e finalmente indo me deitar. 
Uma hora se passou e eu não conseguia dormir. Duas horas se passaram e meus olhos ainda estavam abertos, encarando o teto enquanto minha cabeça não parava de trabalhar em inúmeras situações hipotéticas onde alguma coisa sempre dava errado quando eu me imaginava conhecendo a família de Bruno. Três horas se passaram e ouvi a porta do meu quarto ser aberta.
Ele entrou sem pedir licença, com os olhos inchados, a camisa amarrotada e os cabelos completamente em pé.
Lindo, obviamente.
Sem dar qualquer explicação, Bruno deitou em cima de mim, repousando o rosto na curvatura do meu pescoço, enquanto puxava o edredom para criar um casulo em volta de nós dois. 
– Não reclame. A culpa é sua. Não consigo dormir sem sentir você perto de mim. 
Sorri com vontade de sua espontaneidade. Eu amava aquela espontaneidade. 
Abracei-o apaixonadamente, apertando-o um pouco mais contra mim. 
Cinco minutos se passaram, e eu já havia adormecido.
Londres era frio. Mais frio que Los Angeles. 
Foi a primeira coisa que notei ao pisar fora do avião, observando em volta e reparando que o lugar em que estávamos se assemelhava bastante ao pátio de asfalto aberto em que o avião esperava por nós para levantar vôo. Bruno parecia satisfeito, olhando em volta com um ar de nostalgia que beirava a um “nada como estar em casa”. Mas ele não era natural da Inglaterra, pelo menos até onde eu sabia. Seu rosto parecia saudável, descansado da noite turbulenta no avião, e só pude perguntar se ele realmente tinha dormido bem havia poucos minutos, quando o encontrei sentado nas poltronas de viagem, já que, ao acordar, ele não estava ao meu lado. 
A paisagem era branca, gelada e nublada, mas ainda assim bonita. Havia um tipo de névoa natural que deixava tudo um pouco mais parecido com um sonho. Fiquei feliz por estar usando uma roupa que me protegesse do frio, porque havia neve ali. Minhas mãos, desprotegidas de luvas, estavam enfiadas nos bolsos do sobretudo quente, e Bruno estava quase grudado em mim, ou porque queria me aquecer, ou porque estava perdendo a noção de espaço.
Mas obviamente, não reclamei. 
– Que horas são? - Ele perguntou ao piloto. 
– Faltam alguns minutos para as 17h. 
– 17h? - Bruno pareceu se espantar - Não foram menos de onze horas de vôo? 
– Deve ter a ver com o fuso horário. - Falei sem pensar, me metendo na conversa dos dois. 
– Ah… É óbvio. - Ele pareceu envergonhado por não considerar a diferença de oito horas entre Los Angeles e Londres. 
Eram coisas desse tipo que o deixavam sem graça? Bruno definitivamente não fazia sentido. 
Um táxi já estava à nossa espera. Depois de organizar as malas no porta-malas, nos despedimos dos dois homens que nos acompanharam na viagem e sentamos no banco traseiro do carro. Bruno ditou o endereço e assim partimos para o meu pesadelo. 

Eu esperava um castelo antigo de pedra, com mais de trinta janelas e árvores altas por toda a extensão do território. Por algum motivo besta, sempre relacionei a Inglaterra à Idade Média, construções medievais e coisas que lembravam cavaleiros e masmorras. 
Assim, fiquei surpresa quando chegamos à casa dos pais de Bruno, que não parecia em nada com a imagem que eu tinha na cabeça.
Embora não fosse tão grande quanto as construções que esperava encontrar, a casa era grande. Enorme. Certo, era uma mansão, mas não algo escandaloso, de vinte quartos e quatro andares, piscina, quadra de vôlei e pôneis passeando por aí. 
A casa era larga. Tinha dois andares e um jardim lindo e enorme, sem flores por causa da estação do ano. A construção era no estilo clássico, em um tom pêssego extremamente agradável e limpo e detalhes brancos. O céu já começava a dar sinais da noite que chegava, por isso era possível ver através das janelas grandes que algumas luzes já se encontravam acesas lá dentro.
Bruno pressionou levemente uma das mãos em minhas costas, com o objetivo de me fazer andar. As malas foram deixadas pelo taxista na varanda, e a corrida já estava paga. 
Estremeci. 
Não pelo frio, mas pela ansiedade.
Subimos os degraus que davam até a grande porta branca de madeira entalhada. Eu rezava silenciosamente para não ter uma recepção cheia de olhos em mim, mas a aparência imponente daquela porta me fazia pensar que a campainha seria, no mínimo, algo semelhante a um sino de igreja. E então teríamos uma recepção digna de um príncipe: O príncipe Bruno e sua acompanhantezinha intrometida. 
O vi mexer no bolso do sobretudo e tirar de lá alguma coisa. 
– Vamos ver se eles trocaram a fechadura. 
Ele tem a chave! Graças a Deus!
Entramos no salão de recepção largo e quente, Bruno confortável e eu nas pontas dos pés. Ele pareceu notar meu desconforto, então bateu a porta com delicadeza, sem fazer barulho, e finalmente caminhou para a direita. 
Segui-o sem dizer nada, temendo que, junto com a primeira palavra, meu coração fosse cuspido também.
Bruno caminhava na direção de uma porta mais ao fundo, mas antes que pudesse alcançá-la, uma voz alegre e bela soou de lá de dentro. 
– Alguém chegou! 
Antes mesmo que nós pudéssemos alcançá-la, ela saiu da cozinha com uma expressão esperançosa. Ao olhá-lo, seu rosto se iluminou de uma forma que fez com que eu mesma me sentisse feliz. Calmamente, ela ficou nas pontas dos pés para envolver seus braços no pescoço dele, que retribuiu o abraço.
Eu não acreditaria que aquela mulher fosse a mãe de Bruno, simplesmente porque parecia ser jovem demais. Mas ao olhar para suas feições incrivelmente belas, não havia como restar dúvidas: Eram quase que exatamente as mesmas feições perfeitas do homem que eu amava. Os olhos, tanto no formato quanto na cor, eram absolutamente os mesmos. 
– Querido! Que saudade! 
– Oi, mãe. Como tem andado? 
– Como sempre. - Ela sorriu, mas sua expressão de repente se tornou um pouco mais séria, embora discreta. Suas mãos ainda estavam em volta do pescoço dele. - Como você está? 
– Estou bem. 
– Mesmo? - Ela perguntou, sua expressão agora mostrando uma inconfundível preocupação materna. 
– Mesmo. - Ele respondeu de forma simples, e então apontou com a cabeça para onde eu estava.
A mulher pareceu se dar conta do resto da casa pela primeira vez desde que o havia visto ali. Seus olhos fitaram diretamente os meus, e então senti os músculos do meu rosto relaxarem, voltando para uma expressão séria e ansiosa. Só aí percebi que estivera sorrindo o tempo todo. 
Ela me olhou por algum tempo, provavelmente menos do que pareceu na minha cabeça, sem fazer ou dizer nada. Quando finalmente se deu conta de que havia uma estranha dentro de sua casa, seu rosto se alargou vagarosamente em um sorriso lindo. 
Tão genuíno que tive vontade de retribuí-lo.
As reações dela me faziam bem. 
– Mãe, essa é Anne. Ninha, minha mãe, Hérica. 
Ela se soltou do abraço do filho, vindo ao meu encontro. Então era dali que Bruno tinha tirado tanta beleza. 
– Seja bem-vinda, Anne. 
Hérica me deu um beijo no rosto, um beijo carinhoso, e um abraço apertado. Retribuí o ato mais por reflexo, porque ela tinha me pegado de surpresa. 
– Anne. Seu nome é lindo. 
– Obrigada. - Sorri, olhando rapidamente para Bruno, e pela expressão de contentamento em seu rosto, eu sabia que estava vermelho-camarão outra vez. 
– Filho, por que não avisou que viria acompanhado? 
Olhei para ele com um olhar assassino. Bruno não havia informado aos seus pais que me levaria junto? Ele tinha merda na cabeça? 
– Me desculpe, eu não sabia que ele não… - Comecei, um pouco desesperada, mas Hérica tentou me tranquilizar com seu jeito naturalmente gentil. 
– Não se preocupe, querida. Acredite, eu estou muito feliz que você esteja aqui. Só disse isso porque poderia ter preparado uma ceia melhor. 
– É mentira. Não tem como melhorar. - Bruno interrompeu de forma divertida, usando aquele sorriso torto que resultava com frequência na minha morte, mas eu ainda queria socá-lo.
– Eu concordo. - Disse uma voz ao nosso lado, e então vi um homem moreno tão alto quanto Bruno ir ao encontro dele, apertando-o em um típico “abraço de macho”, com socos e tapas nas costas. A beleza dele também não passava desapercebida: Ele tinha olhos negros, costas largas e uma postura muito rígida. 
Me perguntei por que todas as pessoas que o rodeavam tinham que ser parecidos com deuses ou anjos. Isso só fazia com que eu me sentisse cada vez menos interessante.
– Como tem passado, filho? 
– Firme e forte, chefe. 
– É o que parece. 
Hérica pigarreou ao meu lado, e então lembrei que ela estava ali. Não só isso, mas agora se mantinha em uma postura muito reta, com o braço esquerdo entrelaçado ao meu direito.
Quando ela havia feito aquilo?
– Ora, temos visitas!
O senhor Coolin olhou para mim pela primeira vez, certamente se perguntando quem seria a menina magricela ao lado de sua bela esposa. Seus olhos eram muito intensos, mas foi quando ele sorriu, um sorriso esplêndido, que eu perdi o fio do pensamento.
Era o mesmo sorriso torto de Bruno. O meu sorriso torto. 
– E quem estou tendo o prazer de conhecer? - Ele falou de forma muito gentil, segurando delicadamente minha mão entre as suas.
– Anne. - Bruno falou às suas costas. 
– Ou Ninha. - Informei.
– Encantado, Ninha. - Ouvi Bruno bufar. - Eu me chamo Robert. Sou pai desse rabugento aqui atrás. Espero que você goste do nosso Natal.
– Já estou gostando. - Falei abertamente.
– Acho que vocês querem um banho e algum descanso da viagem. - Hérica falou, desfazendo o nó em nossos braços enquanto caminhava para a porta da entrada. 
– Não estamos cansados. Viemos no meu avião, dormimos de noite. 
– Por quê? Você não costuma fazer isso… - Robert começou, mas Bruno foi rápido na mentira. 
– Os aeroportos nos Estados Unidos estão fechando toda hora por causa do mau tempo. Achei melhor não arriscar. 
Olhei para trás, procurando Hérica, que dava instruções a um empregado para levar nossas malas até algum lugar no segundo andar. 
– Mas gostei da ideia do banho. Quais quartos ainda estão vagos? - Ouvi-o conversar com o pai. 
– Todos. Você foi o primeiro a chegar. 
– Vamos. - Hérica chamou nossa atenção ao pé da escada. 
Segui Bruno quando ele foi se juntar à mãe, e nós três subimos os degraus juntos enquanto Robert ficava pela cozinha. 
– A cama já está feita. - Ela falou, enquanto empurrava a porta de um dos quartos e a mantinha aberta para que nós entrássemos.
O quarto era grande e escuro, todo ele em um tom de madeira. As paredes eram cor vinho, as luminárias emitiam uma luz amarelada, dando um ar mais quente ao local, os armários na cor mogno. A cama era gigantesca, maior ainda do que a que Bruno tinha em seu apartamento, e os cobertores pareciam incrivelmente macios. A janela era grande, mas estava coberta por persianas. O chão também era escuro, e de repente me senti incrivelmente aquecida - com calor até. 
– Gostou? - Bruno me perguntou, me tirando dos meus devaneios. 
– Eu vou ficar aqui? 
– Sim. Comigo. Essa é a ideia. 
Olhei para ele, pedindo silenciosamente que me entendesse. Ele não entendeu. 
Me voltei para Hérica, que ainda sorria atrás de nós. 
– Sra. Coolin… 
– Por favor, me chame de Hérica. Me sinto menos velha assim. - Ela riu. 
– Hérica, eu posso ficar em outro quarto.
– Quê? - Ouvi Bruno exclamar atrás de mim.
– Não quero desrespeitá-la, já foi horrível vir até a sua casa sem ser anunciada… 
Eu não sabia até onde os costumes morais da família de Bruno iam, mas eu sabia que não queria passar dos limites em nada. Era claro que Hérica não acreditava que seu filho fosse virgem, mas uma coisa era saber que ele fazia o que quisesse na casa dele. Outra coisa era forçar a barra debaixo de seu próprio teto.
– Do que você está falando? - Bruno se intrometeu, indignado - Você vai dormir comigo! 
Fuzilei-o com os olhos. 
– Querida, não se preocupe. Não há problema algum nisso.
– Eu realmente não quero parecer… - Comecei. 
– Por que não quer dormir comigo? 
– Bruno, não é isso! - Falei, um pouco irritada.
– Crianças, acalmem-se. 
Olhei-a novamente, ignorando Bruno e sua incrível incapacidade de me entender. 
– Ninha, dou-lhe minha palavra de que está tudo bem. É melhor que você durma aqui, mesmo porque o outro quarto vago teria que ter as roupas de cama trocadas. Além disso, acho que Bruno teria uma síncope. 
Ambas olhamos para ele, que parecia um pouco magoado. 
– Ok… - Falei, um pouco a contragosto. 
– Bom, vou descer para ver como estão os pratos para a ceia. Ninha, sinta-se em casa. 
Hérica sorriu cordialmente, fechando a porta atrás de si e deixando Bruno e eu sozinhos no quarto enorme. 
Me sentei na cama, tirando o sobretudo e dando um profundo suspiro. 
– O que foi aquilo? - Ele começou. 
– Você realmente não consegue entender? 
– Você acha que minha mãe é uma freira? 
– Eu só não queria parecer… 
– Não queria parecer minha namorada? 
Fiquei calada por alguns segundos. Era isso que eu era? Nunca havia pensado em títulos quanto à nossa relação, mas aquela não era a questão no momento.
– Não queria desrespeitar seus pais. 
– E como exatamente você faria isso? Tirando minha virtude? 
– Não seja irônico. 
– Eu sou irônico quando estou puto. 
– E por que exatamente você está puto? 
– Porque você queria dormir longe de mim! 
– Eu só queria que seus pais não me achassem uma vadia! 
Bruno congelou ao ouvir minhas palavras. Eu imaginei que ele fosse responder alguma coisa, mas tudo que fez por um bom tempo foi ficar ali, me encarando com uma expressão indecifrável.
Só depois de muito tempo ele voltou a falar outra vez. 
– Sua ideia de moralidade é muito deturpada.
Talvez ele estivesse certo. Mas se fosse esse o caso, nós dois sabíamos o motivo. 
– Não importa o que eu acho. Importa o que a sua família… 
– Minha mãe ficou grávida de Arthur com quinze anos. Ela e meu pai tiveram que antecipar o casamento por causa disso. Você acha que ela é uma vadia? 
– Meus Deus, é claro que não! 
– E você ainda acha que alguém aqui te acharia uma vadia?
– Eu… Não. 
– Ótimo. 
Me calei, olhando tristemente para as próprias mãos. Pensei em pedir desculpas, mas me dei conta de que não havia feito nada de errado além de ser boba.
Talvez eu estivesse mesmo exagerando.
– Estou chegando! Parem com a promiscuidade! 
Antes que eu pudesse entender de onde vinha a voz desconhecida, a porta do quarto se escancarou e mostrou um homem que eu não conhecia. Ele era alto como Bruno, mas muito mais musculoso. E moreno.
E, é claro, bonito. 
– Ora se não é a bicha do meu irmão! - Ele gritou, com um sorriso de orelha a orelha, abrindo os braços para Bruno e esmagando-o em um abraço efusivo. 
– Ora se não é o gênio da família! 
– Vá à merda, pequeno andrógino. - Ele respondeu, dando um soco no braço de Bruno e gargalhando. 
Finalmente, o brutamontes olhou para mim, e então eu temi pela minha vida. 
– Não acreditei quando mamãe disse que você estava acompanhado. Quem nesse mundo te aguentaria? 
– Ninha, esse é Arthur. Meu irmão mais velho. Arthur… 
– Ninha, sua azarada! - Ele concluiu. 
– O nome dela é Anne. 
Arthur pareceu ignorá-lo, andando até mim com um olhar assassino, e então desejei por tudo no mundo que ele não me abraçasse da mesma forma que havia abraçado Bruno. 
Felizmente, ele parecia ter noção, então apenas me cumprimentou com dois beijos no rosto. 
– Então. Qual foi o crime que você cometeu pra ter que aturá-lo? 
– Na verdade, nenhum. - Respondi, rindo de seu bom humor - O escolhi por livre e espontânea vontade. 
– Bruno, pare de drogá-la. 
– Arthur, deixe seu irmão em paz! 
Ouvi a voz de Hérica ecoar no andar de baixo.
– Por que mamãe acha que você me odeia? - Arthur perguntou, olhando para o irmão. 
– Porque eu disse a ela. 
Ambos riram da piada, e então senti uma enorme cumplicidade entre eles. 
– Vou tomar um banho e descer pra ajudar os Coolin. Ninha, prazer em conhecer você. 
– Igualmente. - Respondi com sinceridade. 
Novamente, estávamos sozinhos no quarto. 
– Acho que devíamos descer e ajudar seus pais também. - Falei, tentando empregar um tom casual na voz e fazer com que nossa pequena discussão fosse esquecida. - Você vai tomar banho agora? 
– Pode ir na frente. 
Concordei, me levantando e indo até minha mala, escolher uma roupa apropriada para passar a véspera de Natal. 
– Eu tenho uma coisa pra te dar. Gostaria que você vestisse hoje a noite. 
Ele já estava abrindo sua própria mala e tirando de lá uma sacola. Me senti discretamente animada ao ganhar um presente de Natal dele, sem nem ao menos me importar com o que exatamente ele havia me dado. Peguei o embrulho de suas mãos e abri-o com cuidado. 
Ao desdobrar o tecido, pendia de minhas mãos um vestido vermelho sangue de mangas compridas e gola em V um pouco aberta. O vestido era justo, mas estava longe de ser vulgar. Também não era chique em excesso, mas sim elegante, e fique feliz por Bruno não me pedir para usar algo que fizesse com que eu me sentisse desconfortável na frente de sua família.
Mais tarde eu retribuiria o presente.
– É lindo. - Concluí, olhando para ele. 
Ele sorriu, um pouco triste. Imaginei que ainda estivesse chateado pela recente discussão, e desejei que isso passasse logo. Eu não gostava de vê-lo daquela forma. 
Tentando agir naturalmente, me aproximei dele com a peça nas mãos e, ficando nas pontas dos pés, depositei delicadamente um selinho no canto de seus lábios. 
– Obrigada. 
Ele fechou os olhos, parecendo querer saborear o momento que já havia passado. 
– De nada.
Vi sua boca se curvar em um sorriso discreto, então tive a certeza de que estávamos bem outra vez.
Saí do banheiro já vestida, pronta para ver a reação de Bruno, mas ele já não estava lá. As roupas em sua mala pareciam um pouco remexidas, então imaginei que ele tivesse ido tomar banho em um dos vários de banheiros espalhados por aquela casa. 
Penteei meus cabelos e mexi um pouco nos fios aleatoriamente com os dedos, tentando deixá-los mais rebeldes, cheios e ondulados. Peguei minha antiga caixa de maquiagem e escolhi algumas cores claras e apropriadas para a ocasião.
Terminei a produção esguichando um pouco de spray fixador no cabelo, um tipo de laquê. No rosto, optei por uma linha fina preta com um delineador escuro, uma sombra levemente prateada muito discreta, blush rosado que parecia combinar com meu tom de pele e gloss incolor, não exagerando na cor dos meus lábios que já eram naturalmente corados. 
Olhei para meu pescoço e notei algumas marcas claras que permaneciam ali, embora antigas. Passei camadas finas do creme para hematomas e, logo em seguida, um pouco de maquiagem para apagá-los. 
Calcei um par de sapatos altos fechados e me olhei no espelho. Constatei que estava bonita. Realmente bonita, e até um pouco sedutora. Pela primeira vez, não me senti deslocada em estar no meio da família de Bruno e toda aquela beleza irritante. Pela primeira vez, me senti a altura dele. 
Joguei tudo de volta na mala e me virei, pronta para ir à procura do desaparecido, mas levei um susto ao vê-lo ali, parado ao lado da porta aberta como um fantasma, vestindo uma calça jeans escura, camisa social em um tom que derivava de amarelo mostarda e que, coincidentemente ou não, combinava lindamente com seus olhos, as mangas dobradas de qualquer jeito até seus cotovelos, além de um sapato preto comum. Os cabelos estavam rebeldes, perfeitos. 
– Pelo amor de Deus, faça algum barulho quando chegar. 
Ele continuou olhando para mim, sua expressão lembrando um lêmure, e então, passado um susto, tive vontade de rir. 
– O vestido ficou perfeito. Obrigada. - Falei, tentando tirá-lo de seu estado catatônico. 
– Estou vendo. 
Eu estava bela, e me sentia muito bem com isso. Mas ver aquela expressão em Bruno era algo que não tinha preço. 
– Como acertou nas medidas? Pediu ajuda à Duda? 
Eu sabia que mulheres eram melhores nesse tipo de detalhes do que homens, então imaginei que ele pudesse ter recorrido à amiga nessa tarefa. 
– Não. Eu conheço o seu corpo. 
Ah, sim, ele conhecia muito bem. Eu lembrava das noites de “estudo”, e me arrepiava toda vez que elas surgiam na minha cabeça. Mas eu não sabia que ele conhecia tão bem assim.
– Seu puto, quer vir logo e ajud… Nossa, Ninha! 
Aquilo de aparecer como mágica era coisa de família. Assim como Bruno, Arthur também tinha essa mania. 
– Arthur, você está manjando a minha namorada? 
– Claro que não. Só estou deixando claro que ela está muito bonita. 
– Obrigada, Arthur. - Agradeci, lisonjeada.
– Sabe, você é grande, mas eu tenho um taco de baseball. - Bruno falava de forma calma e psicopata, mas notei que ele estava brincando. 
– Ok, senhor Síndrome de Otelo. Deixa de ser um filho inútil e vem ajudar seus pais com a ceia. 
Arthur saiu do quarto, descendo as escadas e nos deixando nas mesmas posições.
Bruno continuou olhando para mim, com uma expressão perigosa no rosto, e então imaginei que um de nós dois teria que falar primeiro. 
– Bom, vamos? 
Caminhei em direção à saída, mas no momento em que eu cruzaria a soleira para o corredor, Bruno empurrou a porta à minha frente, nos prendendo dentro do quarto.
Olhei para ele sentindo um certo frio na barriga. 
– Posso fazer uma coisa?
Depende do que você quer fazer. 
– Pode.
Ele me agarrou de forma possessiva, quase desesperada, encostando minhas costas na porta agora fechada e me beijando furiosamente. Senti sua língua forçar a entrada de meus lábios, então tudo o que pude fazer foi abri-los para dar passagem a ele. Suas mãos me puxavam mais para perto, meus dedos já despenteavam ainda mais os fios rebeldes de seus cabelos. Ele me agarrou por trás, sem pudor algum, me levantando do chão e forçando minhas costas ainda mais contra a porta. Enlacei minhas pernas em sua cintura, já sentindo a barra do vestido ir parar na altura do meu umbigo. Senti uma saliência rígida contra minha calcinha, e eu sabia que aquilo vinha de dentro das calças de Bruno.
Beijei-o com desespero, me agarrando ao seu pescoço e deixando um calor alucinante tomar conta do meu corpo, que tremia descontroladamente. 
– BRUNO, SEU INÚTIL! 
– Juro por Deus que vou matar Arthur… - Ele começou, separando nossas línguas e ofegando contra meus lábios. 
Sorri contra sua boca, já sentindo minha roupa íntima encharcada e a vontade de ser possuída ali mesmo, naquele momento. Mas o irmão brutamontes estava certo: O mínimo que podíamos fazer era ajudar com os preparativos para o Natal. 
Suspirei contra seu rosto, desfazendo o laço que prendia minhas pernas aos seus quadris e pisando novamente no chão. 
– Vamos descer. Só lave o rosto antes. Tem gloss espalhado pelo seu rosto todo. 
Bruno suspirou frustrado, então caminhou para o banheiro. 
Alguns minutos depois, tempo suficiente para que ele estivesse mais “calmo”, entramos na cozinha gigantesca, com um balcão em “U” enorme e vários armários pelas paredes. 
Encontramos Hérica e Robert curvados sobre algum prato no forno. Arthur mexia no celular, sentado à mesa. 
– Por que ficou berrando pra que eu descesse e ajudasse se você mesmo não está fazendo porra nenhuma? - Bruno começou, dando um tapa na cabeça do irmão. 
– Você sabe que eu sou uma merda nessas coisas. Você que é a moça que cozinha. 
– Vocês poderiam falar menos palavrões, por favor? - Hérica pediu, revirando os olhos. 
– Mãe, a culpa é sua por ter parido essa bicha. - Arthur concluiu. 
– Ele não é bicha! - Falei, entrando na brincadeira. 
– Há! - Bruno exclamou, triunfante. 
– Os dois são mocinhas, e vou quebrar vocês na porrada se não respeitarem as damas presentes aqui!
Viramos todos juntos para a porta da cozinha, e então tive a visão de uma fadinha minúscula e linda, os cabelos escuros, os olhos do mesmo dourado brilhante dos de Bruno e um sorriso de orelha a orelha.
– Filha! - Hérica exclamou em um gritinho agudo. A borboletinha saltitou até ela e Robert, toda feliz, e os abraçou com vontade.
– Desculpem a demora! Perdemos o vôo. Weeeeeeee! - Voltou-se para Bruno, abraçando-o na altura da barriga com seus braços minúsculos e espremendo-o com uma força que não condizia com seu tamanho. Ele retribuiu o abraço, dando um beijo demorado e carinhoso no topo de sua cabeça. 
– Minha anã preferida! - Arthur abriu os braços e a fadinha foi dançando de forma serelepe ao seu encontro. Eles se abraçaram e então ela olhou para mim, me dirigindo a palavra. 
– Você é nova! Meu nome é Jhulie, sou irmã dos dois ogros aqui! 
– Jhulie, essa é Anne. - Bruno falou. 
– Encantada, Anninha. - Ela me apertou em um abraço, e constatei que ela conseguia ser ainda menor do que eu - Posso te chamar assim, né? 
– Claro. - Sorri. 
– É sua namorada, Bruno? Ela é muito bonita pra você. - Falou em um tom de brincadeira, e eu pude ver que embora ela quisesse provocar o irmão, parecia verdadeiramente feliz ao encará-lo.
– Eu também acho. - O irmão musculoso comentou. 
– Arthur, eu vou te enfiar a porrada! 
– DIEGO, CADÊ VOCÊ? 
Jhulie gritou de repente, me dando um susto, e eu ri. 
– Tentando trazer pra dentro as suas quatro malas, amor. - Um moreno com olhos acinzentados e ar de mistério se juntou a nós na cozinha, olhando para Jhulie como se quisesse fuzilá-la. 
– Como eu estava dizendo, Bruno - Arthur aumentou sua voz para que ela ficasse clara - Eu acho que todo francês é meio boiola. 
– Arthur, qual é a dessa sua tara por homossexuais? - Jhulie alfinetou. 
– Caro cunhado, não responderei à altura porque sua massa muscular é muito maior que a minha. 
Depois de falar com todos os Coolin, Diego veio até mim. 
– Amor, essa é a Anninha. Ela é namorada do Bruno. - A fadinha se apressou em dizer. 
– Muito prazer, Anninha. Meu nome é Diego, e apesar das calúnias que você ouviu sobre minha sexualidade, sou marido de Jhulie. 
Apertei sua mão de forma cordial, tentando buscar algum sotaque em sua fala, mas não encontrando nada. 
– Mãe, vamos tomar um banho e nos arrumar. Descemos logo pra ajudar vocês. 
O casal saiu das nossas vistas - Diego duro feito uma pedra sendo carregado pela mão por Jhulie que saltitava feito uma gazela - e me apressei em me aproximar de Hérica e Robert.
– Posso ajudar em alguma coisa? 
– Não precisa, meu bem. Está tudo praticamente pronto. 
– Tem certeza? Nenhum detalhe… 
– Mãe, Ninha sabe fazer uma sobremesa espetacular. - Bruno me interrompeu, e eu corei. 
– Realmente, não precisa ter trabalho à toa, querida. 
– Não é trabalho! - Falei de uma vez - Eu gosto de cozinhar. 
– Porra, vocês se merecem. - Arthur disse, levantando da cadeira e indo para a sala. 
Hérica pegou os ingredientes que eu precisava e então repeti a receita preparada no dia anterior, no apartamento de Bruno.
Robert pediu licença para se retirar, indo se juntar a Arthur na grande sala de estar. Hérica parecia muito interessada no modo de preparo da minha sobremesa, então expliquei tudo nos mínimos detalhes para que ela decorasse. Quando o forno apitou com um dos pratos da ceia dentro, ela se afastou de mim. 
Eu estava esfarelando os suspiros quando senti a respiração leve no meu pescoço.
– Vou conversar com meu pai sobre alguns assuntos relacionados à empresa. Vai ficar bem aqui? 
– Vou. - Suspirei, já sentindo a pele de meu pescoço arrepiada pela aproximação.
Ele também sentiu, e no momento seguinte beijou suavemente o lugar arrepiado, se afastando em seguida e me deixando sozinha na cozinha com Hérica.
Não demorou muito até que Jhulie chegasse outra vez, agora vestindo um vestido azul curto e com babados combinando com sandálias muito delicadas. Ela toda lembrava uma borboleta. 
– Jhulie, você tem algo pra dizer? - Hérica perguntou de forma simples, enquanto regava o pernil com molho de abacaxi.
– Mãe, essa sua percepção exagerada estraga com todas as minhas surpresas. 
– Bom, não precisa falar agora. Só queria saber se realmente tinha alguma coisa. 
– Você sabe que tem. 
Observei as duas conversarem, e me perguntei se Hérica e Jhulie tinham algum tipo de comunicação por telepatia. 
Minha sobremesa foi levada à geladeira, e então fui ajudar Jhulie com os talheres, copos e pratos. Ela foi organizando a grande mesa da sala de jantar de um lado enquanto eu a imitava do outro. Depois que todos os magníficos pratos enfeitavam toda a extensão da mesa, Hérica foi informar ao resto dos Coolin que a ceia de Natal estava pronta, e segundos depois todos já estavam se sentando em seus lugares.
Me sentei na frente de Bruno, nos assentos posicionados no meio da mesa. O jantar foi tranquilo e divertido, sendo recheado por vários contos de Arthur sobre assuntos aleatórios. A cada palavrão, Hérica o repreendia. Jhulie o chamava de troglodita e Bruno só ria. Todos pareceram gostar da minha sobremesa, e no final tive que recitar a receita também para Jhulie. A família conversava entre si, então fiquei sabendo um pouco sobre cada um dos membros Coolin. 
Robert era o poderoso chefão. As empresas espalhadas pelo mundo eram dele, e talvez fosse isso que ajudava a dar aquele ar de poder a ele. Construiu sua família com Hérica nos Estados Unidos, e quando todos já estavam criados e bem de vida, decidiu se mudar para a Inglaterra. Arthur se mudou para a Alemanha, ficando responsável pela principal filial da empresa de seu pai por lá. Jhulie havia conhecido Diego ainda nos Estados Unidos quando tinha dezoito anos, e dois anos depois, ao se casar com ele, se mudou para o país de origem do marido, desempenhando na França o mesmo papel que Arthur. Bruno, como eu já sabia, havia ficado por Los Angeles. Hérica era a dona de casa que tinha que lidar com a pressão de ser a sra. Coolin, mesmo sem entender absolutamente nada de publicidade. 
Eles eram uma família normal, feliz e bela. 
De repente, mesmo me sentindo um pouco deslocada por estar ali, desbalanceando o equilíbrio perfeito que todos tinham entre si, parecia que fazer parte daquela família era fácil.
Eu gostava de todos eles. Sem exceção. 
Quando todos estavam satisfeitos, a sala de jantar ficou vazia, enquanto a sala de estar enchia de Coolins. Me candidatei para tirar a mesa e lavar a louça, mas Bruno praticamente me carregou nos ombros e me fez sentar no sofá ao seu lado no outro aposento. 
Robert enchia pequenos copos com um licor de menta, mas Jhulie e eu fomos veementes em negar a oferta. 
– Temos vinho. Quer? - Bruno perguntou propositalmente, rindo da minha cara e me fazendo corar com a lembrança da última vez que aceitei a bebida.
– Não. - Olhei-o, querendo beliscá-lo - Estou bem, obrigada.
– Então… - Falou alto Arthur, querendo chamar a atenção de todos - Descobri coisas muito fodas relacionadas aos campos fora do espectro eletromagnético… 
– Não é possível. - Interrompeu Jhulie - Fala a verdade, você fica fazendo pesquisas nas páginas aleatórias da Wikipedia, né? 
Arthur olhou-a como se ela fosse um filhote de gambá subnutrido. 
– Pequena ignorante, eu estou estudando isso. 
– Você estuda eletromagnetismo em alemão? - Não me contive, e quando me dei conta já os tinha interrompido.
– Legal, né? - Arthur concluiu, com um sorriso gigante nos lábios. 
– Não é legal. - Jhulie falou, se divertindo em contrariá-lo - Ninguém entende o que você diz. 
Arthur a xingou, e Hérica reprimiu-o outra vez. Bruno chegou perto do meu ouvido enquanto seus dois irmãos se agrediam verbalmente.
– Arthur tem o QI consideravelmente acima da média. Se quiser vê-lo puto, chame-o de gênio. É engraçado, nós fazemos isso quando queremos tirá-lo do sério.
– Querida irmã pigméia, eu te desafio a falar algo mais interessante. 
– Ah, desafia, é? 
Jhulie de repente ganhou uma inconfundível expressão de vitória, levantando-se da poltrona e arrumando o vestido, como se estivesse prestes a fazer um pronunciamento.
E estava mesmo. 
– Tenho um comunicado a fazer. - Ela pausou, um sorriso sincero tomando seu rosto aos poucos - Eu estou grávida.

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