Capítulo 45

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Minha mãe disse que ligaria outra vez, deixando claro seu desejo de viajar para a França na próxima semana para conhecer o neto pessoalmente. Eu sabia que aquele era o tipo de coisa que faria com que meu pai desse um jeito de se ausentar na empresa para acompanhá-la. E também sabia que isso era uma ótima ideia, mas mesmo assim fiquei um pouco preocupado. E não tinha nada a ver com o fato de que eu passaria uma semana cuidando dos negócios do meu pai na ausência dele, mas sim com o fato de que Anne não poderia contar com a companhia da minha mãe. Eu sabia que ela não ficaria completamente sozinha, mas ainda assim, era um pouco preocupante. Mas assim eles fizeram. 
Na semana seguinte eu me despedia dos dois, pedindo a eles que tirassem o maior número possível de fotos do meu sobrinho, e que transmitissem meus desejos de felicidades a Diego, Jhulie e ao pimpolho deles. 
… 
– E o nome dele é Juan. 
– Juan? - Repeti, sendo um pouco irônico - Isso é nome de amante latino. 
– Bem, ele é argentino. 
Larguei os talheres no prato e encarei minha mãe. Ela e meu pai já haviam voltado da França havia uma semana.
– Deixe ver se eu entendi: O professor de hidroginástica da minha mulher é um amante latino, provavelmente musculoso e artificialmente bronzeado, que vai ficar roçando nela dentro de uma piscina durante o dia todo? E de sunga? 
Meu pai e Anne riram juntos, mas eu não achei graça. Aliás, não estava gostando nada daquilo. 
– “Roçando nela”? Querido, é uma aula de hidroginástica, não de tango subaquático. 
– Dá no mesmo.
– Filho, ele foi indicado por duas amigas minhas de confiança, que tiveram filhos recentemente. Ele é um excelente profissional, é experiente e especializado em aulas pra gestantes. Ah: E nenhuma delas se queixou de abuso sexual.
– E por que não escolhemos uma outra professora? Ou então um professor mais… normal? 
– Não consigo entender por que o Juan não é normal nos seus padrões, mas acho que o motivo pra sua pergunta é simples: Porque ele é o único disponível. 
– Mãe, tem certeza? - Perguntei cautelosamente, tentando não parecer rude ou mal agradecido pelo esforço dela - Podemos procurar melhor… Eu posso procurar… 
Anne tossiu fracamente, apenas para chamar a atenção para si. 
– Desculpem me meter, mas… Eu vou entrar no oitavo mês de gravidez. Já não estamos atrasados com isso? 
– Exatamente. - Minha mãe concluiu, me encarando com uma expressão neutra e falando de forma doce - Querido, você não é nenhuma criança. Todos aqui somos maduros para encarar a situação como ela é. Não arranje problemas onde não tem, ok?
Derrotado. 
Eu havia sido derrotado pela minha mãe e pela minha mulher. Elas estavam se unindo contra mim, fazendo com que minhas inseguranças deixassem de ser pesadelos e se tornassem realidade.
Por que mulheres são tão cruéis?
OITAVO MÊS

– Amanhã ele vai dar a primeira aula pra Ninha. Eu vou estar lá. Assim nós decidimos melhor as coisas. - Minha mãe falou animada.
Estávamos no primeiro dia do oitavo mês de gravidez, jogando papo fora na sala da nossa casa. Era domingo. 
– Ótimo. Que horas ele vai? - Perguntei. 
– O horário livre dele vai de 18h às 20h. 
– Eu saio às 20h do trabalho. - Argumentei - Chego em casa por volta das 20:30h. 
– E o que tem? - Anne perguntou, um pouco confusa. 
O que tinha? Nada. Eu não veria como o cara era. Não veria se ele tinha pinta de estuprador ou de assassino. Mas é claro que elas não estavam preocupadas com isso. Contanto que o professor gostosão-latino-sedutor se apresentasse em trajes de banho com aquela merda de sorriso latino-irritante (que eu nunca tinha visto mas que já odiava), estava tudo bem. 
Fui trabalhar no dia seguinte muito puto da vida, e talvez fosse mesmo imaturidade, mas o fato era que eu não gostava de deixar a minha mulher grávida, linda e com os hormônios em fúria em uma piscina com um cara que provavelmente tinha aquele sotaque próprio de filmes eróticos. Ela era toda pequena e frágil, e ele provavelmente era o dobro de mim. Se ele tentasse alguma coisa… Aquele fogo que esse tipo de homem tinha… Aquele sangue borbulhando de vontade de… 
– Quer calar a merda da boca, caralho? - Falei alto comigo mesmo, e a sra. Parker, minha secretária, uma senhora viúva com 60 anos de idade, se assustou com os palavrões e saiu da minha sala imediatamente, parecendo horrorizada. Ótimo. Ser taxado de louco era tudo que eu precisava. 
Consegui o brilhante feito de não me concentrar durante o dia todo por causa daquilo. Quando fui correndo para casa, com o objetivo de talvez conseguir ver a cara do sujeito, ele já tinha ido embora. Ao invés dele, encontrei Anne dentro da piscina e minha mãe sentada em um banco fora dela, as duas tagarelando e rindo como garotinhas. A empregada já havia ido embora. 
– Boa noite, querido. - Minha mãe começou, se levantando - Por pouco você não chega antes do Juan ir embora. 
– Tudo bem. - Menti, fingindo não dar importância ao que, no fundo, era o meu objetivo - Como foi a aula?
– Excelente. - Anne respondeu sorrindo, encostada em uma das bordas. 
– Não está cansada, né? Lembre do que o médico falou. Você não pode exagerar nos exercícios. 
– Não estou cansada. É mais difícil se cansar na água. 
Virei para minha mãe, que já estava de pé ao meu lado. 
– O que achou? - Perguntei. 
– Ótimo. Ele é muito responsável, e traz todo o equipamento. Aquelas pranchas de isopor e coisas de espuma… É muito cuidadoso. A cada novo exercício ele pergunta como ela está se sentindo. 
– Quantos anos ele tem? 
Ela me encarou como quem encara uma criança fazendo manha. 
– Não sei, não perguntei. 
– Aproximadamente? 
– Talvez uns 27. 
Que ótimo. Um professor de hidroginástica latino, musculoso, sedutor e JOVEM.
– Mãe, você disse que ele era experiente. - Falei pausadamente, fechando os olhos - Como ele pode ser experiente tendo 27 anos?
– Bruno - Ouvi a voz de Anne repentinamente ao meu lado e abri os olhos - você precisa parar com esse preconceito com profissionais jovens. 
Ela estava molhada, rosinha, linda, seminua, fofa, grávida e me encarando com aquelas duas bolinhas de chocolate enquanto se secava inocentemente com uma toalha branca. Minhas vontades, por sua vez, de inocentes não tinham nada. Mas minha mãe estava a dez centímetros de mim. Eu tinha que me controlar.
– Você fez aula com esse biquíni? - Perguntei, reparando, obviamente, na pouquíssima roupa que cobria apenas o essencial. 
– Sim. É o mesmo biquíni que eu usava nas aulas com a outra professora… 
– Não tem um maiô? 
– Não. 
Sorri, mas ela notou que era um sorriso debochado. 
– Vamos comprar um maiô amanhã. - Concluí. Ela cruzou os braços, e eu fiquei um pouco hipnotizado com a gota que escorreu pela sua barriga redonda. 
– Você vai comprar uma roupa de mergulho pra mim. 
Não respondi. Talvez não fosse uma má ideia.
– Ele é bonito? - Lancei sem pensar, e minha mãe riu ao meu lado.
– Você é mais bonito, querido. - Ela falou, me dando um beijo no rosto.
Ótimo. A minha mãe me achava mais bonito. Isso significava muita coisa. Tanto quanto porra nenhuma. 
Encarei Anne e notei que ela estava fazendo força para não rir, escondendo a boca com a toalha. 
– Você é mais bonito. - Ela repetiu as palavras já pronunciadas.
– Você está mentindo. - Rebati. Ela arqueou as sobrancelhas.
– Crianças, esse papo está ficando muito narcisista pra mim. - Minha mãe falou divertida, chamando nossa atenção - Vou embora. 
– Quer que eu te leve de carro, mãe?
– Não precisa, querido. Caminhar faz bem. 
Quando minha mãe nos deixou, puxei Anne para o quarto pela mão, tirei o biquini dela e a devorei.
Eu pensei que minha “neura” com relação ao professor latino-filho-da-puta passaria com o tempo, mas estava enganado. A cada dia eu ia trabalhar odiando-o e imaginando de quantas maneiras diferentes ele poderia tentar seduzir a minha esposa. Era um ciúme doentio, imaturo e um pouco preocupante, eu admitia, mas estar longe enquanto o alvo do meu ciúme estava encochando Anne dentro da piscina da NOSSA casa ajudava a tornar tudo um pouco pior. Talvez o tempo pudesse ter ajudado a melhorar esse meu problema, mas isso não aconteceu. Não aconteceu porque eu não esperei. 
Na semana seguinte à sua primeira aula, cheguei uma hora mais cedo no trabalho propositalmente. Porque naquela segunda-feira, propositalmente, eu sairia uma hora mais cedo. Haviam se passado apenas três aulas. Eu chegaria de surpresa na quarta aula, imaginando encontrá-lo se esfregando na minha mulher enquanto a seduzia no seu maldito sotaque espanhol, e, por isso, já imaginando as várias formas de matá-lo no caminho para casa. Naquele dia minha mãe não estaria lá fazendo companhia para Anne. Aquele dia seria perfeito para um flagrante. Não que eu não confiasse nela. Era NELE que eu não confiava. Ela estava emocionalmente abalada - e “hormonalmente” também -, e homens sãos uns filhos da puta oportunistas e espertos. Principalmente homens latinos, musculosos e professores de hidroginástica. 
Ao chegar na frente do portão de casa, mais ou menos às 19:30h, não entrei com o carro na garagem. Estacionei na calçada para não fazer barulho e alertá-lo da minha presença. Caminhei rapidamente, sem entretanto correr. Era uma forma que meu cérebro tinha achado para me fazer acreditar que eu não estava ansioso. Havia um carro na garagem. Provavelmente do sujeito. Entrei em casa, joguei minha pasta em qualquer lugar junto com a gravata e com o paletó, e rumei diretamente para a piscina. Estava pensando em uma entrada teatral, com um pé na porta e ameaças de morte, mas talvez eu estivesse exagerando. Talvez fosse melhor esperar para ver a cena com a qual eu me depararia. 
– Senhor Coolin! 
A empregada me recepcionou com surpresa, já com sua bolsa no ombro, pronta para ir embora. Talvez porque estivesse acobertando aquele safado, ou talvez porque eu nunca chegava em casa a tempo de encontrá-la ali mesmo.
– Boa noite, Emma. Anne está na piscina?
– Sim senhor.
Não dei explicações, simplesmente seguindo para lá. Ela veio atrás de mim, calada, parecendo calma demais para quem estava sendo cúmplice de uma safadeza daquelas. E então, ao entrar no aposento, encontrei Anne dentro da piscina com as mãos em um tipo de boia de espuma e o sujeito logo atrás dela. Muito próximo. Quase colado. Quase estuprando-a. Ok, eu estava exagerando. 
– Boa noite! - Gritei com minha voz mais máscula e grossa, e quase engasguei com a força que fiz. Ambos tiveram que se virar para me encarar, porque estavam de costas para mim. Ao me ver, Anne abriu um sorriso largo e inocente.
– Você chegou cedo! - Ela falou como uma menina feliz, mas pela primeira vez eu não estava olhando para ela. Estava olhando para o maldito latino. 
Ele era loiro. Loiro e mais bronzeado que eu. E tinha olhos verdes. E tinha uma argola de cigano, ou qualquer porra assim, em uma das orelhas. Era também mais alto que eu, e mais musculoso. E tinha, no máximo, 30 anos. E parecia um modelo saído da capa de uma revista de boa forma. Ah, sim: E estava grudado na MINHA mulher. Ela se virou para ele e informou-lhe que eu era o marido dela. Eu gostei daquilo. 
– Boa noite! - Ele falou, todo educado e sorridente. O desgraçado. 
– Então finalmente nos conhecemos. - Respondi, tentando parecer durão. 
– Pois é. A Anninha fala muito em você. 
Anninha? ANNINHA? QUE PORRA ERA AQUELA DE ANNINHA? 
– Podemos terminar um pouco mais cedo hoje, não é? - Ela perguntou para ele. 
– Claro! Nos vemos na quarta. A aula de hoje foi ótima. 
Eu ainda estava digerindo o apelido fofo e íntimo que ele havia dado à minha esposa em uma semana de convivência. Mesmo assim, não desgrudei os olhos da piscina. Ele caminhou calmamente até a escada debaixo d’água e eu senti a empregada ao meu lado um pouco ofegante, como se aquilo fosse um comercial erótico. Revirei os olhos, bufando de mau humor. Estava esperando ele emergir da água e mostrar sua ereção evidente por estar encochando a minha mulher como um cachorro no cio. E aí eu apertaria o pescoço dele e o asfixiaria até a morte. Mas ele não estava excitado. A sunga estava com um volume normal. E então eu passei do estágio de odiá-lo ao estágio de estranhá-lo: Qual era o problema dele afinal? Porra, ele estava encochando a minha mulher! Como isso não o deixava duro feito uma pedra?
– Ei, posso deixar as boias aqui? - Ele perguntou, se virando para Anne. - Não tenho nenhuma aula até quarta-feira. Não vou precisar delas. 
– Claro. - Ela respondeu, ainda no meio da piscina - Eu guardo aqui pra você. 
– Obrigado. - Ele respondeu, todo sorridente. 
Tive vontade de socá-lo. Quando ele entrou no pequeno vestiário em um dos cantos do aposento para se trocar, eu ia perguntar que porra de “inha” era aquela que ele havia colocado no final do apelido dela, mas nesse momento a empregada pareceu voltar do transe e falou com ela primeiro. Ela falou pra caralho. Falou sobre o que fez, sobre o que deixou de fazer, sobre a lista de compras, sobre algum enfeite de louça que ela tinha quebrado acidentalmente, se desculpou pelo menos três vezes por isso e falou sobre o seu horário. Ela falou tanto que o maldito latino teve tempo de se trocar e sair do vestiário já completamente vestido. 
Ao vê-lo caminhar, a empregada parou de falar outra vez para admirá-lo. 
– Até quarta então. - Ele soltou, passando pela piscina e acenando todo feliz para Anne. Quando chegou perto de mim, pareceu mais simpático e casual do que nunca - Prazer em conhecê-lo. E parabéns pela mulher e pela filha. 
– Obrigado…
– Está indo também? - Ele perguntou de forma gentil para Emma, que permanecia ao meu lado babando pelo sujeito como cachorro assistindo frango assar na porta da padaria. 
– S-sim… Claro, estou sim…
– Quer uma carona? 
Ela respondeu um “sim, obrigada” em meio a suspiros e risinhos idiotas. Revirei os olhos outra vez, com vontade de sacudi-la e falar para ela parar de fazer aquilo. 
Levei-os até a garagem, já que o controle do portão estava comigo. Quando aquele carro gigantesco havia saído, trouxe o meu para dentro e fechei as portas, indo rapidamente ao encontro de Anne outra vez.
– Por que não está usando o maiô que eu comprei pra você? - Perguntei, entrando no aposento novamente enquanto tentava disfarçar o tom de mágoa na voz. Ela ainda estava dentro da piscina, perto da borda, ao lado da escada.
– Como você sabe o que eu estou usando? Eu estou debaixo d’água.
– Porque o maiô é verde fluorescente. Eu conseguiria vê-lo daqui de fora. 
– Ah, sim. Ele é verde fluorescente. Talvez seja por ISSO que eu não estou usando. 
Bufei, claramente contrariado. 
– E aí você fica com esse biquíni indecente mostrando o seu corpo todo pra esse cara… 
– Indecente? O que tem de indecente nele? 
– Ele mostra muito da sua pele. 
– É claro que mostra, Bruno. É um biquíni. Mas esconde tudo que tem que ser escondido. 
– Nem tudo. 
– O que falta esconder? 
– As suas pernas. E a sua barriga. E a região do seu peito… 
– Então você está me dizendo que eu deveria fazer hidroginástica de burca? 
Eu odiava discutir com ela. Não porque conseguia tirá-la do sério - nem isso eu conseguia mais - mas sim porque ela sempre tinha argumentos que me deixavam sem respostas. E quando eu não tinha mais respostas boas para dar, eu resolvia ser sincero. 
– Estou dizendo que você de biquíni em uma piscina grudada em um cara musculoso que eu não conheço está me deixando com ciúme. É só isso que estou dizendo. 
Ela suspirou, ainda me encarando como se estivesse tentando me explicar uma coisa óbvia que eu não conseguia entender. 
– Eu já tenho um marido que dá conta do recado. Não preciso de mais ninguém. Esqueça esse ciúme bobo. 
Eu gostava quando ela se referia a mim usando a palavra “marido”. Também gostava quando ela mencionava, de alguma forma, que eu a satisfazia. Gostava mais ainda quando eu estava com ciúmes e ela fazia isso. Mas era difícil não me sentir ameaçado, e mais difícil ainda não demonstrar isso. Tudo bem, eu tinha concordado em contratar o professor gostosão, mas isso não queria dizer que eu tinha feito de boa vontade. Já era ruim ter uma empregada e a minha mãe fazendo companhia a ela quando eu não podia. Ter um cara tocando-a, por mais que não a tocasse com a intensidade que eu sabia que o puto queria, era o dobro de ruim. Ele estava quase desempenhando meu papel de marido, e eu não queria que o maior contato com um homem que ela tivesse naquela gravidez fosse com o professor de hidroginástica. 
– No que está pensando? - Ela perguntou, estranhando meu longo silêncio.
– Em como eu odeio não conseguir acompanhar essa gravidez mais de perto. - Respondi de maneira objetiva enquanto tirava a camisa de qualquer jeito e começava a desabotoar a calça. Anne apoiou a cabeça em uma das bordas da piscina e ficou me olhando. Pela primeira vez na vida, me senti um pouco envergonhado. Quando tirei de uma vez a calça e a cueca, ela voltou a falar: 
– Você não tem uma sunga? 
– Não… 
– E vai entrar assim mesmo? - Ela perguntou, parecendo tímida - Eu estou um pouco constrangida… 
Peguei de volta a boxer que havia deixado no chão e vesti, pulando dentro da piscina logo em seguida e nadando ao encontro dela. Quando me aproximei, fui recebido com um longo beijo - embora a enorme barriga entre nós atrapalhasse um pouco -, e dedos puxando de qualquer jeito a boxer que eu tinha acabado de vestir. 
– Você realmente levou a sério o que eu disse? - Ela perguntou com uma expressão de incredulidade, jogando minha cueca molhada para fora da piscina outra vez. 
– Você pareceu sincera! - Me defendi, abraçando-a como pude. 
– Você é muito ingênuo. - Ela concluiu com um olhar promíscuo, voltando a me beijar com um fogo impressionante. Anne estava bastante animadinha. Ela estava grávida, é verdade, mas eu fazia força para não associar aquele tesão reprimido ao professor excessivamente musculoso que tinha ido embora havia pouco tempo, e sim à minha patéticastriptease. Eu ainda estava com ciúmes, até mesmo naquele momento, e isso estava começando a me aborrecer.
Virei-a de costas para mim, de frente para a borda da piscina, e fiz com que ela repousasse ao menos uma das mãos ali, tomando cuidado para dar espaço suficiente à sua barriga. Sua outra mão insistia em estimular o meu membro já completamente acordado, como se eu realmente precisasse de algum estímulo. 
Beijei seu pescoço de forma provocante, sentindo o quão fresca sua pele estava, consequência de tanto tempo dentro daquela piscina. Deslizei as mãos pela lateral do seu corpo, me certificando de que aquele era o biquíni que eu já havia visto nela, com lacinhos como fechos.
Puxei as duas cordas e a parte de baixo do seu traje de banho se soltou, tão facilmente que me fez querer ainda com mais força que ela não o usasse mais para as aulas. Se eu podia fazer aquilo, o puto poderia também. E quando Anne se desse conta, ele já estaria molestando-a. 
– Essa porra tinha que estar com dois nós cegos… - Comecei contra o seu ouvido em um tom de bronca, mas aquilo pareceu animá-la ainda mais. Deslizei as mãos entre as suas pernas e comecei a brincar com meus dedos ali. 
– Por quê? - Ela perguntou se jogando mais contra mim e fechando os dedos com mais força em volta do meu membro - Pra dificultar o seu trabalho? 
– Pra dificultar o trabalho de alguém. 
Ela gargalhou baixo, ainda de olhos fechados, parecendo aproveitar o meu toque. 
– Bruno, ninguém além de você quer me comer. Eu estou um hipopótamo. 
Claro. E depois o ingênuo era eu. 
No momento seguinte, sem o menor aviso, ela colocou a cabeça do meu pau alinhada à sua entrada e se inclinou para trás, fazendo com que eu entrasse ali com uma facilidade incrível. Gemi contra seu ombro enquanto forçava o corpo para frente, incapaz de pensar em alguma posição melhor. Apoiei as mãos na barriga dela e a trouxe mais para perto de mim, me certificando de que meu membro não a penetrasse muito fundo e resultasse em um desconforto por causa da gravidez, já que aquela posição debaixo d’água fazia com que nos encaixássemos bastante bem.
Suas duas mãos foram parar na borda da piscina, facilitando ainda mais o acesso que eu tinha a ela. O empuxo que a água exercia sobre nós fazia com que Anne não pesasse quase nada, e era tão fácil e interessante fazer aquilo daquela forma que eu me perguntava por que nunca havíamos pensado naquilo. Com uma das mãos, puxei o laço que mantinha nela a parte de cima do biquíni, e o tomara-que-caia caiu na água de uma única vez. 
Passeei as mãos pelo corpo dela como sempre fazia, porque sabia que ela gostava e porque eu gostava de reconhecê-la com o tato também. Segurei seus cabelos e a puxei delicadamente, virando sua cabeça de forma que conseguisse beijá-la. Ela suspirou, retribuindo meu beijo e rebolando como podia em mim. Entendi que aquilo era um claro sinal de “me coma com força”, mas ela sabia que eu não faria aquilo. Não com força. 
Voltei minhas mãos à sua barriga e a imobilizei na água, ditando o nosso ritmo eu mesmo. Anne parecia estar gostando muito daquilo, bem mais do que nos outros dias. Ela estava mais ofegante e mais corada que o normal, e comecei a me preocupar se ela estava com tesão ou se estava sentindo alguma coisa estranha. 
– Gosta de trepar na piscina, amor? - Perguntei ao pé do seu ouvido. Ela balançou a cabeça com um “sim”, ainda de olhos fechados, sem falar nada. - Por que não me disse? 
– Porque… Eu não.. Sabia… 
– Nunca fez isso em uma piscina? 
– Não…
Intensifiquei os movimentos que eu fazia dentro dela, tomando sempre cuidado em não machucá-la e em dar conforto à barriga. Ela começou a ofegar com mais força, e conforme o tempo passava, mas ofegante ela ficava. 
– É gostoso, não é? - Falei sedutoramente perto da sua orelha outra vez, e ela soltou um gemido delicioso em resposta. 
Nota mental: Comê-la na piscina com mais frequência. 
Quando voltei a beijá-la, Anne soltou as mãos da borda e jogou os braços para trás, me envolvendo pelo pescoço e prendendo os dedos nos cabelos da minha nuca com desespero. Acelerei meus movimentos dentro dela por reflexo, sentindo meu controle me deixando aos poucos. Quando a senti começar a se fechar em volta de mim em ondas, levei meus dedos até o meio de suas pernas outra vez, decidido a fazê-la perder o controle com estilo.
Enfiei minha língua dentro da sua boca simplesmente porque a vontade veio, mas era impossível mantê-la ali. Àquela altura ela gemia tanto que respirar lhe parecia uma tarefa difícil. Quando afastei meu rosto do dela e comecei a dar mordidas leves no seu pescoço, sem nunca deixar de penetrá-la no ponto certo ou de estimulá-la com os dedos, Anne começou a tremer toda. E eu sabia que não era de frio. 
– Diz… Diz aquilo… - Ela começou, visivelmente com dificuldade - Me chama… Daquele jeito! 
Eu sabia ao que ela estava se referindo. Nós tínhamos trabalhado nisso nos últimos meses, e não era segredo nenhum que ela adorava me ouvir dizer aquilo da forma mais possessiva possível. 
– Minha. - Voltei ao seu ouvido - Minha puta linda. Só minha. Toda minha. 
Àquela altura eu mesmo já estava quase explodindo de tesão. Foi ótimo então que ela não tenha conseguido segurar o orgasmo por muito mais tempo depois disso: Tudo que precisei foram de alguns segundos para tê-la completamente entregue, tremendo e se contorcendo nos meus braços. 
Só então deixei que meu rosto caísse em um dos ombros dela e me permiti chegar ao orgasmo também. Fui trazido de volta pelos vários movimentos bruscos que a barriga dela fazia contra a minha mão. Isso teria me aterrorizado se eu não estivesse acostumado com esse fato durante as últimas semanas: Nossa filha sempre se manifestava quando Anne chegava ao clímax. Ela parecia se agitar, talvez pela aceleração do coração da mãe. Mas nenhuma vez foi tão óbvia quanto essa. 
– Temos que fazer isso mais vezes aqui. - Falei em uma voz baixa. Ela sorriu, se virando para mim de uma vez. 
– Acho que posso ficar te esperando um pouco mais até você chegar do trabalho. Abracei-a da melhor maneira que pude, tentando disfarçar o ciúme na voz. 
– Contanto que você me espere pra fazer isso… 
Ela suspirou, nadando para longe de mim. 
– Você é impossível quando cisma com alguma coisa. 
– Eu não cismei! - Falei um pouco desesperado, arrependido de ter dito aquilo e a afastando de mim - Mas ele é muito íntimo! Ele te chama de Anninha! 
– Ele é carinhoso. - Ela falou de forma simples, saindo da piscina e se secando com uma toalha que estava ali. 
– Exato. O seu professor de hidroginástica é carinhoso com você. E vocês só se conhecem há uma semana! Isso é estranho! E eu vi o jeito que ele olha pra você.
Ela levantou uma sobrancelha. 
– O que tem o jeito que ele olha pra mim? 
– Ele está interessado em você. 
– De onde você tirou isso? 
– Eu só sei que ele está.
– Eu duvido muito. 
– Por quê? 
– Por que ele é comprometido.
Revirei os olhos. 
– Isso não é o suficiente para impedi-lo de dar em cima de você enquanto eu não estou aqui! 
– Ok, Bruno. Você quer saber de um motivo suficiente para impedi-lo de fazer isso? 
– Quero. - Falei de maneira cética, cruzando os braços no peito. 
– Eu não tenho um pinto. 
– Bom… - Comecei mecanicamente, mas me calei logo em seguida - Quê?
– Eu não tenho um pinto. - Ela repetiu de maneira muito calma - E acho que ele não escolheria ninguém que não tivesse um pinto maior do que o do namorado dele.
Continuei mudo por algum tempo, encarando-a enquanto tentava entender o que ela estava me dizendo. 
– Namorado? 
– Precisamente. 
Mais silêncio. 
– Como você sabe que ele não está mentindo… 
– O nome dele é Pablo, e ele é professor de violino. Tem 30 anos e também é argentino. Os dois se mudaram pra cá há três anos e vivem juntos desde então. 
Ok, era muita informação para ser inventada à toa. Mas mesmo assim…
– Ele não tinha jeito de homossexual. 
– E você acha que todo homossexual precisa ser uma drag queen? 
– Não, mas… Eu não notei nenhum trejeito quando ele falou comigo. 
– Ele é homossexual. Não é uma gazela. - Ela falou, rindo de repente - Aliás, o Juan já tinha visto uma foto sua antes, e vou te dizer uma coisa: Acho que quem tem que tomar cuidado com ele é você. Quanto exagero, chega a ser sufocante.
Cobri meu pênis com as mãos por instinto a encarando em seguida. Ela riu mais ainda, parecendo se divertir com aquilo tudo. 
– Vai parar com a implicância com ele agora? - Ela perguntou, enrolada em uma toalha enquanto reunia tanto as minhas roupas quanto as dela nos braços. 
– Por que você não me disse antes? - Perguntei um pouco mordido, saindo da piscina e alcançando uma outra toalha limpa.
– Porque eu queria que você parasse com essa sua cisma de uma forma normal. Mas já que você não consegue ser normal… 
– Ei, eu sou normal! Sinto ciúmes de vez em quando… 
– Você é exagerado.
– Só cuido do que é meu. 
– Você sufoca o que é seu. 
Parei de me secar e a encarei um pouco surpreso. Ela não pareceu ter notado o que disse, separando as roupas molhadas das secas que estavam nas suas mãos. 
– Eu te sufoco? - Perguntei de maneira triste. Eu não sabia que a estava sufocando. Não era a minha intenção. Sempre ouvi, tanto dela quanto de outras pessoas, que meu exagero às vezes era preocupante, mas nunca cheguei a pensar que estava no ponto de ser considerado um sufocador.
Talvez Anne tenha notado um pouco do receio na minha voz. Quando ela me olhou, já parecia mais ciente do significado da minha pergunta.
– Eu estou te sufocando? - Repeti, esperando que ela me respondesse a verdade, mas que a verdade fosse “não”. Ela caminhou até mim com uma expressão neutra, como se estivesse tendo uma conversa casual. 
– Você não me sufoca. Mas às vezes exagera. De verdade. 
– Você disse que eu sufoco o que é meu… 
– Eu sei o que eu disse. Mas estou te dizendo agora a verdade. Você não me sufoca. Eu amo o jeito como você se preocupa comigo. Acho que não conseguiria viver sem isso. Já me acostumei com as suas neuras. Se tirassem isso de mim agora, eu enlouqueceria. 
Continuei encarando-a enquanto procurava algum traço de mentira no seu discurso. 
– Mas estou falando isso pro seu bem. Você tem que relaxar. Tem que confiar mais em mim. E tem que saber lidar com a possibilidade de me perder, de um jeito ou de outro. Mesmo que eu te garanta que isso não vai acontecer pela minha vontade. Mas todo mundo pode perder alguém. 
– Eu não posso te perder. 
– Se depender só de mim, você não vai precisar se preocupar com isso. 
– Depende só de você. 
Ela continuou me olhando profundamente, pensando em alguma coisa que eu não conseguia entender. Anne estava muito séria, e eu não estava acostumado a vê-la daquela forma. Ela parecia estar querendo dizer algo importante ao falar sobre perdas, mas, por algum motivo, eu sentia que o que ela falava não era exatamente sobre uma perda “para outra pessoa”. Era estranho. E eu senti um pouco de medo. 
Então ela piscou e suspirou de forma leve, e sua expressão mudou. Era como se agora ela estivesse apenas divagando sobre as estações do ano. E o que quer que estivesse passando pela cabeça dela tinha simplesmente ido embora. E eu sabia que aquele assunto, por hora, havia morrido. Quando um leve sorriso voltou a brincar no canto dos seus lábios, ela puxou a toalha das minhas mãos e sorriu, varrendo com os olhos meu corpo nu de cima a baixo, a menos de um metro de mim. 
– Melhor. - Ela concluiu, caminhando para fora de costas, ainda me encarando - Bem melhor.
Nossas visitas ao obstetra começaram a ser quinzenais. E assim como nas outras visitas o médico seguia sempre o mesmo roteiro: Media a pressão de Anne, checava seu peso e escutava o coração da nossa filha. Perguntava sobre os sintomas, dores, exercícios e alimentação. E sempre no final da consulta, para a minha tranquilidade, ele repetia a mesma coisa: Tudo estava correndo como o esperado. 
Ela continuou com as aulas de hidroginástica. Por algum motivo, elas já não me incomodavam mais. Depois de saber da orientação sexual do professor, meus dias de trabalho se tornaram consideravelmente mais produtivos, já que agora eu podia me concentrar nos meus deveres sem imaginar minha mulher sendo agarrada à força na piscina e morrendo afogada no final do dia. 
Nossa filha continuava chutando sempre que sentia minha mão ali, embora ela se movesse também quando outras pessoas tentavam senti-la - mas a diferença estava no fato de que eu não precisava correr para encontrá-la se contorcendo dentro da barriga de Anne como todos faziam. No meu caso, ela chutava depois que eu me aproximava dela. Os enjoos da gravidez continuavam marcados para as primeiras horas do dia, como de costume. A libido da minha mulher continuava firme e forte. As coisas continuavam normais. E os dias passaram.
NONO MÊS

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