◇◇◇◇
O casamento chegou!!!
Hoje tem dobradinha de capítulos. Postei esse e mais tarde posto outro.
Boa leitura!!!
◇◇◇◇Acordei estranhamente ansiosa na quarta-feira, começando a lembrar com mais frequência do tempo que ainda restava para sábado. De alguma forma, me acalmei um pouco assim que Hérica nos informou que tudo o que faríamos aquele dia se resumia a provar o buffet. Tudo já havia sido organizado por ela e Jhulie. Por isso, Bruno e eu só tivemos que ir até o local marcado - um tipo de salão de festas um pouco longe dali - para decidir o que entraria ou não no cardápio. Elas foram conosco, apenas para ajudar em alguma eventualidade.
Passamos horas provando doces, chocolates, salgadinhos, canapés, frios de diversos tipos, porções de massas, pratos de sopas e mais outras coisas. Jhulie ajudou na tarefa, talvez porque quisesse parecer útil ou talvez porque sua gravidez a estava deixando com fome. Bruno parecia interessado nesse assunto, e me lembrei por seu gosto pela culinária. Como minhas costas começavam a doer agora com mais rapidez, sentei em uma das cadeiras e permiti que ele resolvesse aquele assunto, escolhendo o que quisesse. Eu realmente não me importava com nada, contanto que ele não faltasse ao casamento.
Naquela noite, Bruno e eu tivemos uma pequena discussão. Ao pedir meu documento de identidade e minha certidão de nascimento para finalizar os últimos documentos que faltavam para tornar o casamento possível, descobri que ele havia decidido, sozinho, que nos casaríamos em comunhão total de bens. Eu não entendia absolutamente nada sobre assuntos jurídicos de matrimônios, mas sabia o suficiente para ter certeza de que casar com Bruno, assinando um papel que dizia que toda a fortuna dele era minha também, era, no mínimo, injusto.
– E o que você sugeriria? Separação total de bens? - Ele debochou.
– Seria mais plausível, não?
– Não!
– Me explique então de que maneira eu tenho alguma influência sobre a SUA fortuna.
– Se estou me casando com você, quer dizer que quero que as nossas vidas se unam. O que é meu é seu, e essa é a minha ideia de união.
– E por que eu não posso me unir a você sem precisar tomar as suas coisas…
– Você não está tomando nada. Eu estou dividindo…
– É injusto e claramente vantajoso unicamente pra mim! Só eu ganho com isso!
– E eu não perco nada! Por que você é tão teimosa?
– E por que você sempre decide as coisas sozinho?
– Mas você concordou em deixar os assuntos jurídicos sob minha responsabilidade!
– Mas eu não lembrava que tínhamos que decidir o tipo de regime de bens!
Discutimos por algum tempo, até que minha cabeça começou a doer e Bruno pareceu profundamente arrependido de ter começado uma discussão, preocupado demais com o meu estado de nervos e como aquilo poderia afetar a gravidez. Quando eu já estava deitada e sendo devidamente paparicada, ele tentou me convencer em um tom mais calmo de que não havia porquê optarmos por outro tipo de regime de bens, e que, caso eu continuasse com a mesma opinião, poderíamos mudá-lo depois do casamento.
Para tornar as coisas mais fáceis, eu aceitei. Sabia que se continuasse com a minha ideia o casamento provavelmente acabaria não acontecendo dali a três dias. Além do mais, Bruno estava certo: Ele não tinha muito a perder, porque se dependesse só de mim, divórcio não era uma opção. Na quinta-feira eu já não conseguia esconder minha ansiedade, que foi agravada quando Bruno comunicou que iria fazer a prova do terno e que eu não poderia ir junto.
– Por que não? - Perguntei com cara de choro.
– Também quero ser uma surpresa pra você no dia. - Ele falou com um sorriso no rosto enquanto me abraçava.
– Mas… Eu não quero ficar sozinha! - Falei, sentindo o choro chegar bem devagar.
– Você não vai ficar sozinha. Vai ficar com a minha mãe e a minha irmã.
– E quem vai com você? Arthur e Diego não contam, precisa de uma opinião feminina…
– E vou ter uma opinião feminina.
Encarei-o cheia de dúvidas. Ele ainda sorria de forma gentil, beijando minha testa como se eu fosse uma criança.
– Quem vai com você? - Repeti, um pouco desconfiada, embora não soubesse realmente com o quê. Mas se não era a mãe ou a irmã dele, era alguma mulher aleatória. E qualquer mulher aleatória me incomodava.
Quando Bruno se preparou para responder, a campainha tocou ruidosamente.
– Ah, acho que ela chegou. - Ele disse, segurando minha mão e me levando para o hall de entrada.
Quando Duda entrou na casa junto com Michael, Julia e Emily, me perguntei como eu não havia me dado conta da ausência deles para o casamento. Talvez eu estivesse um pouco alheia a tudo, fosse pela correria ou pelo estado letárgico em que eu ainda me encontrava desde que Bruno havia pedido a minha mão.
– Sabe há quanto tempo essas malas já estão feitas? - Duda perguntou, se soltando do abraço de Bruno e apontando para a porta.
– Relaxa, Du. - Arthur disse, surgindo do nada e indo falar com ela - Os convites não vão chegar a tempo pra nenhum dos convidados, então temos mais um motivo pra zoar com a cara dele pelo resto da vida.
Todos se cumprimentaram entre si e eu permaneci ali feito uma pamonha, assistindo a tudo sem me mexer.
– A noiva! - Duda falou, me tirando daquele estado catatônico. Abracei-a e agradeci aos parabéns, tanto dela quanto de Michael.
Dei um beijo em cada uma das meninas, me sentindo repentinamente mais alegre pela presença delas ali.
– Você está mais gorda… - Julia falou calmamente, já que era muito nova para entender coisas como sutileza. Ela soou tão sincera que não tive como não rir, mesmo com os pedidos de desculpas envergonhados da mãe.
– Julia, ela está grávida. - Michael falou, rindo também.
– Ah! Tem um bebê aí dentro? - Ela perguntou, encostando a mão na minha barriga. Emily imitou seu gesto, mesmo sem saber o motivo.
– Tem. Uma menina. - Respondi.
– Mas essa casa fica a cada dia mais linda! - Hérica falou, aparecendo tão de repente quanto Arthur e indo abraçar Duda e Michael. Julia parecia um pouco vidrada na minha barriga, e Bruno começou a ficar com medo dela. Ele foi grato à Jhulie por aparecer com sua barriga ainda maior e fazê-la momentaneamente se esquecer de mim.
Depois de um grande almoço, incluindo Robert que fizera questão de dar uma escapada do trabalho para a reunião familiar, Bruno pediu para Duda e Arthur que o acompanhassem na prova do terno. Me senti deixada de lado, mas não quis confessar isso a ninguém, tentando parecer mais madura do que eu realmente era.
Aquela tarde teria demorado mais caso eu não tivesse me preocupado em ajudar todo mundo nas finalizações para a cerimônia. Jhulie tagarelava animadamente no telefone com floristas, enquanto Hérica se virava para conseguir enviar, com urgência, os últimos convites que faltavam. Michael, por algum milagre, havia conseguido fazer com que Julia e Emily dormissem de tarde, em um dos quartos de hóspedes, e Diego coordenava o trabalho dos jardineiros, que precisavam deixar o jardim “impecável”, segundo Jhulie, até o dia seguinte.
Agora que as pessoas começavam a correr, literalmente, para finalizar as últimas pendências da festa, meu coração e meus nervos pareciam entender a realidade aos poucos, deixando claro que dali a dois dias eu me casaria com Bruno.
Aquilo era real.
Aquilo estava acontecendo.
Tentei ficar quieta, escondendo de qualquer um meu nervosismo e minha ansiedade, e pedindo silenciosamente aos deuses que nada desse errado. Que nada que pudesse adiar aquele casamento, de qualquer forma, em qualquer sentido, viesse a acontecer.
Sexta-feira chegou sem a quinta ter realmente ido embora. Quando o relógio marcava 6h da manhã, resolvi me levantar, já que cair no sono parecia uma tarefa impossível para o meu estado de nervos.
Eu sabia que não havia muitos motivos para ficar ansiosa daquela forma, mas não podia evitar. Não era algo que eu controlasse, e o martelar incessante daquele mesmo pensamento dentro da minha cabeça só fazia com que eu não conseguisse me distrair de forma alguma: “Amanhã eu me caso com ele. Amanhã eu me caso com ele.”
Bruno se levantou trinta minutos depois de mim, alegando que seu sono havia sido interrompido unicamente pela minha ausência na cama. Invejei-o pela sua calma, como se o dia seguinte fosse ser apenas só mais um sábado qualquer.
– Você dormiu bem? - Ele perguntou, me encarando com uma expressão preocupada.
– Sim. - Menti. Ele não precisava saber que meus olhos não haviam sido pregados nem mesmo por dez minutos, mas eu tinha certeza que o tom de roxo nas minhas pálpebras deixavam esse fato bastante óbvio.
Durante o resto daquele dia, Bruno insistiu em me perguntar se estava tudo bem, e conforme as horas passavam, me aproximando mais do grande dia, mais difícil era mentir sobre aquela pergunta. Em determinado ponto, acabei perdendo a paciência e comecei a ser grosseira - mas não era por mal. Tudo que eu queria, realmente, era que ele me deixasse quieta.
O jardim da casa de Hérica e Robert estava uma loucura. Um caminhão havia trazido várias cadeiras de madeira, mesas, bancadas e algumas tábuas que já estavam sendo unidas a pregadas por alguns homens desconhecidos. Tudo estava mais ou menos empilhado em um canto, e do outro lado podia-se ver mais homens montando ferros e desdobrando forros brancos, como toldos, fazendo força em todas as direções.
Diego, Arthur, Bruno, Michael e até Robert, que havia faltado propositalmente ao trabalho, estavam ajudando na arrumação. Havia tanta gente ali, dentro e fora da casa, fazendo tantas coisas diferentes e falando tantas coisas confusas que eu comecei a me sentir realmente agitada.
– Ei… Tudo bem aí? - Ouvi uma voz atrás de mim e me virei, encontrando Duda com um sorriso simples no rosto vindo parar ao meu lado.
– Nervosa… - Consegui pronunciar, encostada em uma pilastra enquanto assistia a toda aquela preparação.
– Por quê?
– Não sei. - Admiti.
– Bom, é normal ficar nervosa perto do casamento, mesmo sem motivo. É mesmo um dia muito importante.
– É… Importante… - Balbuciei, tentando afrouxar os nós dos dedos - Só espero que eu não acorde agora.
Duda me olhou de forma divertida.
– Você não está dormindo.
– Eu não tenho essa certeza…
Continuamos em silêncio por algum tempo, assistindo aos homens trabalharem. Bruno olhava para a nossa direção sempre que podia, de longe, me dando espaço. Talvez estivesse com medo de mim depois da última resposta que dei a ele.
– Tenho que admitir uma coisa. - Duda falou outra vez, chamando minha atenção. Ela olhava para longe, sem me encarar - Quando soube o que ele sentia… Eu tentei fazer com que ele esquecesse de você.
Embora eu não soubesse daquilo, não foi um choque ouvir suas palavras. Na verdade, seria estranho caso ela NÃO tivesse tentado, já que qualquer uma na posição dela faria a mesma coisa pelo melhor amigo que, de repente, resolveu se apaixonar por uma puta.
– Tudo bem… - Respondi, sem realmente me ofender - Mas fico feliz que você não tenha conseguido.
– Eu também. - Ela pontuou, dessa vez se virando para mim - Você sabe o poder que tem sobre ele, não sabe? Sabe que ele come na sua mão, e é por isso que é tão fácil fazê-lo sofrer.
Sorri, voltando a encarar as pessoas que trabalhavam no fundo do jardim.
– Ele também tem um poder um pouco estranho sobre mim… Então acho que estamos quites.
– Talvez… - Ela finalizou, um pouco distraída, seguindo meu olhar.
Bruno surgiu à nossa frente, e eu me perguntei quanto tempo ele havia demorado para cruzar aquele enorme campo e vir em nossa direção sem que nenhuma das duas tivesse realmente notado isso.
– Ei, está tudo bem?
– Bruno, sabe quantas vezes você já me perguntou isso hoje? - Respondi calmamente.
– Eu vi Duda falando com você… Achei…
Interrompi-o, segurando seu pescoço e dando um selinho gentil em seus lábios.
– Vamos fazer assim: Se eu sentir alguma coisa, eu te digo. Prometo. Ok?
– Ok… - Ele respondeu, ainda não muito convencido.
– Só estou um pouco nervosa. Se ao menos eu pudesse me ocupar com alguma coisa pra ajudar na arrumação…
– Nem pensar. Você não vai fazer esforço nenhum.
Bruno era adorável na maior parte do tempo, mas às vezes ele era simplesmente teimoso como uma mula.
Antes que eu começasse a gritar com ele, ou o que era pior, começasse a chorar feito uma criança contrariada, virei as costas e entrei, batendo o pé e deixando clara minha indignação por estar sendo tratada como uma inválida.
Ao final da tarde, tudo parecia estar pronto, ou pelo menos era o que haviam me dito. Bruno queria que a arrumação da festa também fosse uma surpresa para mim, e talvez eu tivesse conseguido escapar e dar uma espiada nos fundos do jardim caso Arthur não estivesse ajudando o irmão naquele plano. Mas, de qualquer forma, não era exatamente por aquilo que meu coração disparava o tempo todo.
– É amanhã-ã-ã! - Arthur falou em uma voz dramática, me sacudindo pelo ombro e conseguindo exatamente o que queria: Me deixar um pouquinho mais desesperada.
– Pára com isso, idiota. Não está vendo que ela está nervosa? - Jhulie falou em um tom de reprovação.
– Qualquer noiva fica nervosa na véspera do casamento, anã.
– Ela está grávida. - Hérica lembrou - Não a deixe mais ansiosa, Arthur. Não é bom.
– Amor… - Bruno começou, perto da minha orelha - Quer que a gente vá pra casa?
– Quê? - Arthur se meteu outra vez - Casa? Bruno seu retardado, amanhã você vai estar casado! Temos que sair pra sua despedida de solteiro!
Eu continuava muda, apenas escutando todo mundo à minha volta. Era mais saudável ficar quieta, porque talvez, no momento em que eu abrisse a boca, acabaria me descontrolando de verdade.
– Não acha que talvez seja melhor Bruno ficar fazendo companhia pra Ninha filho? - Robert perguntou, provavelmente notando o quão esquisita eu estava.
– Ele vai sufocá-la pelo resto da vida! Só temos que comemorar, já que hoje é o último dia! - Ele falou animado, virando-se para mim e fazendo uma cara de intelectual - Ninha, não se preocupe. Só vamos encher a cara e passar a noite com algumas garotas de programa.
Por algum motivo, aquilo me fez rir e falar pela primeira vez em muito tempo:
– Ele pode beber, mas não vai passar a noite com uma garota de programa.
– E como a senhorita tem tanta certeza disso? - Arthur provocou, levantando uma sobrancelha.
– Eu só sei. - Falei, encarando Bruno e rindo sem querer.
– Ok. - Ele falou, ainda tentando fazer drama - Bruno, Diego… Vamos nos arrumar e botar pra foder.
– Cara… Eu sou casado. - Diego concluiu calmamente.
– Foda-se! Vamos logo!
– Ok. - Jhulie falou, sorridente - Ninha, vamos nos divertir também.
– QUÊ? PORRA NENHUMA!
Me assustei com o berro agudo de Bruno. Eu nem sabia que ele podia fazer aquilo com a voz.
– Ah, e só os bonitões podem aproveitar a noite? - Ela provocou com ar de autoridade.
– Se deixar a minha noiva com você, eu não caso amanhã!
– Não seja tão dramático.
– Isso é injusto! Diego está com a gente, é o suficiente pra vocês saberem que não vai acontecer nada demais!
– Nossa, estou me sentindo muito pouco divertido agora. - Diego falou baixinho, e eu ri.
– E eu estou com a Ninha! - Jhulie falou, como se fosse um ótimo argumento.
– Porra! É exatamente por isso que eu não quero…
– Bruno, respire. - Duda se meteu, falando pela primeira vez - Eu fico com elas.
Ele encarou a irmã, como se a desafiasse a me convencer de fazer alguma merda na presença de Duda. Demorou um bom tempo até que todo mundo ali convencesse Bruno de que, “pelo amor de Deus”, nós não faríamos nada que pudesse se aproximar da palavra “ousado”. Tanto Jhulie quanto eu estávamos em estágios de gestação relativamente avançadas, e se ele realmente achava que aquele papo de beber vodka e ir parar em um clube de mulheres era verdade, Bruno precisava de tratamento psiquiátrico urgentemente.
Quando Arthur, Diego e ele estavam prontos para sair, fui me despedir.
– Ei… - Agarrei-o pela gola, trazendo-o propositalmente para perto e falando em um tom divertido.
– Ei. - Ele respondeu, se encostando em mim e me abraçando com força - Se chegar mais perto, eu fico.
Sorri, beijando-o de forma simples mas provocante, falando contra seus lábios:
– Lembre-se que você casa amanhã.
– Não tem como esquecer.
– Ah, tem sim. Não sei quantas doses de qualquer coisa o seu irmão vai fazer você beber, e não sei onde vocês vão. Mas só quero que você se lembre de mim.
– Não se preocupe. Vamos acabar bebendo em uma boate qualquer. E, de qualquer forma, eu estou sempre pensando em você, então não tem perigo.
Ele disse isso com sua voz sedutora e carinhosa, como um gato manso, e eu me senti um pouco instável.
– Certo. - Falei, ainda contra sua boca - Vou fingir que você não está tão cheiroso e lindo, e que não vai servir de isca pra vadias solteiras.
– Eu já tenho a minha vadia particular. - Ele falou perto da minha orelha, ainda com aquela voz “vou-te-chupar-toda”- E duvido que alguém chegue aos pés dela. Em qualquer coisa.
Não adiantava quantas vezes ele usaria essa arma. Aquela voz mansa ronronando perto do meu pescoço falando coisas inapropriadas sempre fazia com que meu corpo virasse uma gelatina gigante.
– Você não vai fazer nada demais, né? - Ele perguntou de repente - Não ouça a minha irmã. Ela é maluca, e tenho certeza que nenhuma ideia que ela der vai ser boa…
– Confie em mim. - Falei de maneira simples, beijando-o outra vez - Dependendo da hora que você voltar, eu vou estar na nossa cama te esperando.
Os olhos dele brilharam com aquilo.
– Você acabou de me fazer não querer ir pra lugar nenhum.
– Caralho, vocês vão ter que se aturar pelo resto da vida! - Ouvimos Arthur gritar do carro - Alguém joga um balde de água fria neles?
– Não quero que seu irmão me odeie. Vai logo.
Ele espalmou a mão na minha barriga e me beijou antes de se afastar, dessa vez com uma intensidade que talvez dissesse algo como “se você não estiver acordada quando eu voltar, eu vou te acordar à força”.
No fim das contas, tudo que Duda, Jhulie e eu acabamos fazendo se resumiu a conversar sobre nossas gestações e tomar vitamina de pera durante a noite toda, ouvindo música no sofá da casa de Bruno, que eu ainda me obrigava a pensar como “nossa”. Ao menos aquilo havia funcionado: Canalizar meus pensamentos para outra coisa que não fosse o dia seguinte me deixou mais tranquila, ouvindo com atenção toda a experiência de Duda e o que Jhulie já tinha para contar também. Era bom ter algo para falar com elas que servisse como distração. Mas a minha “despedida de solteira” passou rápido demais. Antes da meia-noite, Duda e Jhulie já tinham ido embora - não sem antes se certificarem de que eu estava bem.
Felizmente, toda aquela vitamina de pera com leite conseguiu me acalmar de alguma forma. Tomei um banho e fui me deitar imediatamente, desejando que Bruno não estivesse longe. Agora, sozinha ali, eu começava a me agitar de novo, e outra vez fui bombardeada de pensamentos relacionados ao casamento e tudo que poderia dar errado até ele. Felizmente, o cansaço que meu corpo sentia foi maior que meu nervosismo, então eu dormi.
O cheiro de álcool me puxou para a realidade outra vez, e me perguntei quanto tempo eu havia conseguido dormir. Abri os olhos um pouco desnorteada, e embora estivesse escuro, a pouca iluminação do lado de fora no jardim permitiu que eu identificasse Bruno ali, meio em cima de mim, me beijando tão sutilmente que nossos lábios mal se tocavam.
– Hmmm…
– Merda… Não queria te acordar… - Ele falou, e imediatamente identifiquei sua voz arrastada.
– Que horas são?
– Duas, eu acho…
– Você está bêbado. - Falei contra sua boca, passando um braço em volta do seu pescoço.
– Eu sei… - Ele respondeu em um tom de desculpas - Posso acender a luz?
Abri meus olhos de uma vez no escuro, agora realmente atenta.
– Ai, meu Deus… O que foi? - Perguntei, lembrando que Bruno bêbado sempre resultava em revelações bombásticas. Ele se esticou, alcançando a luminária do criado mudo. Eu me sentei, encostada à cabeceira da cama, começando a ficar nervosa outra vez. Encarei-o como se pudesse prever o que ele falaria, notando em seus cabelos completamente bagunçados e no cheiro forte de álcool.
– Desembucha. - Falei de uma vez, sem me preocupar se estava sendo rude ou não. Ele me encarou surpreso, tentando sentar reto na cama.
– Eu… Quero te dar uma coisa…
Pela primeira vez, olhei para suas mãos e notei que elas não estavam vazias. Nelas, havia uma caixa branca de veludo aberta, mostrando um par de brincos em forma de gotas. Pareciam feitos de vidro. Eram belíssimos, delicados e de aparência incrivelmente valiosa. Olhei outra vez para ele.
– Só isso?
Ele se surpreendeu com a minha resposta, se mexendo na cama e parecendo um pouco sem graça.
– Eu… Você queria mais alguma coisa? Podemos comprar…
– Não, não é isso! - Interrompi-o, tentando me explicar - Era só isso que você tinha pra me mostrar? Não queria falar nada?
– Não… Era só isso…
Suspirei aliviada, agora me permitindo analisar direito a joia que ele me oferecia.
– São lindos…
– Você pode usar amanhã?
– Claro. - Respondi, fechando a caixa e dando um beijo nele. Felizmente, os brincos combinavam perfeitamente com a gargantilha que fazia parte do meu vestido. Ele sorriu, embora seus olhos estivessem fora de foco.
– Você está muito bêbado! - Provoquei, rindo da cara dele - Vai acordar de ressaca amanhã e vai dar essa desculpa pra desistir de casar…
– Caso com você até em coma alcoólico. - Ele respondeu, me beijando de forma apaixonada.
– Seria um desafio na hora de responder o “sim”. - Brinquei baixinho, fazendo-o deitar e tirando dele os sapatos e a calça jeans.
– Uau, você está tirando a minha roupa… Que legal.
– Você está muito bêbado pra transar, bonitão.
– Nunca estou muito bêbado pra transar com você. - Bruno concluiu, me puxando para cima dele.
– Você tem que dormir! - Falei, já rindo da situação enquanto tentava desabotoar sua camisa - Ou realmente esqueceu que vai se casar amanhã?
– Por isso mesmo! Essa é minha última noite como um homem livre… Nada mais apropriado do que transar, não?
Como ele conseguia raciocinar estando tão bêbado?
– Transar com a sua futura esposa? Não tem nada de realmente interessante nisso.
– Ei! - Ele começou, em um tom falsamente irritado - Eu escolho com quem vou transar na minha despedida de solteiro! Nem nos casamos e você já quer mandar em mim!
Me aproximei de seu rosto e me esfreguei nele de propósito.
– Você adora quando eu mando em você. Eu sei que isso te excita.
– E é por isso que eu quero transar com você. - Ele concluiu, com um sorriso sonso e meio bêbado nos lábios.
Ri outra vez, não achando falhas em sua lógica.
– Foda-se. - Falei para mim mesma, afundando em seus braços e deixando que ele fizesse o que realmente quisesse comigo.
Quando a equipe de maquiadores e cabeleireiros chegou, às 13h, continuei praticamente em silêncio, falando apenas o necessário, mesmo que meu coração agora batesse realmente rápido. Eram três pessoas, aparentemente de muito bom humor, distribuindo elogios aos quais eu não conseguia prestar atenção. A agitação dentro da casa me trouxe mais próxima à realidade que eu insistia em afastar: As horas estavam passando, e rápido, me fazendo pouco a pouco caminhar para o momento do casamento. Do meu casamento. Com ele
– Ok, então vamos clarear os seus olhos, como fizemos há alguns dias, e dar destaque às formas do seu rosto…
– …Seu cabelo já é liso por si só, mas vamos passar uma escova e…
– …O que você acha desses pontos de luz? Acho que vão combinar com…
– …Unhas em tom claro, certo? Não acho que combine outra cor aqui, porque…
– …Essa base é da tonalidade da sua pele. Vai esconder a sua “pequena diversão” no pescoço, não vai ser difícil…
– Claro.
Eu respondia completamente alheia ao que realmente estava acontecendo. Era automático. Se alguém fizesse alguma besteira, Jhulie naturalmente gritaria e mandaria consertarem o que quer que estivesse errado.
Me pediram para olhar para cima, olhar para baixo, fazer bico, inclinar o pescoço, abaixar a cabeça, fechar e abrir os olhos, estender as mãos e separar os dedos. Falaram comigo durante toda aquela tarde, e tudo que fiz, além de obedecer, foi responder coisas como “sim”, “aham” e “é”. Jhulie aparecia de dez em dez minutos, cada vez mais produzida e maquiada, fazendo cara de “está ficando bonita” para mim, e eu sorria para ela puramente por reflexo.
Eu vou me casar em algumas horas. Em algumas horas…
– E então? O que achou?
Pisquei algumas vezes, reparando no espelho à minha frente. Ele mostrava uma pessoa muito parecida comigo, mas infinitamente mais bonita. As maçãs do rosto estavam coradas, os olhos pareciam brilhantes e delineados, a boca parecia até mais sensual. A trança desfiada com cada fio milimetricamente bagunçado me dava uma aparência delicada, mas ao mesmo tempo, elegante. Eu estava muito mais bonita do que no dia da prova da maquiagem.
– Não gostou? - Jhulie falou outra vez, me tirando do transe.
– Gostei! Está perfeito. - Falei, olhando para às pessoas à minha volta - Muito obrigada!
Jhulie e as três pessoas desconhecias riram após um breve suspiro, talvez de alívio ao notarem que eu não daria um escândalo e mandaria refazerem todo o trabalho. Me encarei no espelho outra vez, me certificando de que o descuido de Bruno deixado no meu pescoço estava devidamente camuflado. - Eu esqueci de uma coisa… Vocês podem repetir a maquiagem no meu hematoma? Eu tenho que passar uma coisa aqui…
Alcancei meu creme de amêndoas e passei uma camada fina ali, me desculpando por não ter lembrado daquele detalhe antes. Eles não pareceram se importar, e refizeram o trabalho na área do meu pescoço como se fosse algo fácil.
Quando meu look estava oficialmente terminado, olhei em volta procurando por Jhulie exatamente no momento que ela e a manicure entravam pela porta outra vez, trazendo nas mãos meu vestido com todo o cuidado.
– Hora de se arrumar, noiva. - Ela falou de bom humor, e meu coração deu um salto. Não sei se por causa do que ela trazia, pela forma como me chamou, ou ainda por me fazer notar que estávamos nos aproximando das 17h da tarde.
– Me arrumar… - Balbuciei, entre um suspiro e outro. Minha respiração estava claramente afetada, e como se fosse mágica, um copo de água surgiu na minha frente.
– Ei, você tem que se focar aqui. Se ficar muito nervosa vamos ter que parar pra cuidar de você. - Ela começou de maneira muito séria, e desejei não ser uma grávida frouxa e inútil.
– Eu sei…
– Ok. Um passo de cada vez, e quando você notar, já vai estar entrando no casamento.
– Certo. - Falei, tentando parecer durona.
– Certo. O primeiro passo é se enfiar dentro do vestido. Nós vamos ajudar você.
O maquiador se retirou do quarto, deixando apenas Jhulie, a cabeleireira e a manicure me ajudando com o vestido e toda a tarefa incrivelmente difícil de me colocar dentro dele sem que meu penteado ou minha maquiagem fossem comprometidos.
No final, por algum milagre, todas as acrobacias pareceram dar certo. Calcei as sapatilhas e quando Jhulie colocou em mim a gargantilha me lembrei dos brincos que Bruno havia me dado na noite anterior. Assim que os coloquei, outra vez como mágica, um buquê recheado de camélias surgiu à minha frente, com fios dourados e folhas soltas e trançadas. Eu não havia visto muitos buquês de noiva na vida, mas eu tinha certeza que aquele era um dos mais lindos que podiam existir.
Fui guiada para dentro do closet, e quando me vi encarando o espelho enorme lá dentro, suspirei. Eu não era a noiva mais interessante do mundo. Também não era a mais chique, tampouco a mais elegante. Mas eu estava, definitivamente, bonita. Como nunca estivera antes. Tão bonita que, pela primeira vez na vida, tive uma vontade idiota de tirar uma foto de mim mesma apenas para guardar de recordação e lembrar que, um dia, eu estive com aquela aparência.
– Se você quer saber a minha opinião - Jhulie começou, tentando se esquivar do espelho para que só a minha imagem fosse refletida -, eu acho que você é a noiva mais linda que eu já vi.
Era óbvio que existiam noivas muitos mais bonitas do que eu, mas mesmo assim o elogio de Jhulie surtiu efeito, trazendo algo dentro de mim que eu não lembrava existir: Eu senti amor próprio, senti minha auto-estima ser tocada de alguma forma, mesmo que discretamente.
– Brigada… - Falei, sorrindo e tentando não chorar - Mesmo que você esteja exagerando…
– Não está não.
Virei para a saída do closet e encontrei Diego encostado na moldura da porta, vestindo um terno preto muito elegante enquanto me encarava com um sorriso no rosto. Vê-lo vestido daquela forma fez com que meu coração acelerasse outra vez.
– Bom, na verdade… - Ele recomeçou, parecendo divertido - Você é a segunda noiva mais bonita que eu já vi. A primeira se casou comigo. Espero que não se chateie pela sinceridade.
– Tudo bem, estou feliz com o segundo lugar. - Respondi, tentando sorrir de forma tranquila pela gentileza.
– Só acho um pouco perigoso. Bruno pode cair morto e gelado quando te vir assim tão bonita.
– Eu espero, do fundo do coração, que isso não aconteça…
– Porra, tenho que me arrumar! - Jhulie interrompeu batendo na própria testa, se lembrando de repente de que ainda vestia as mesmas roupas de antes, e saiu do closet correndo.
Voltei a me encarar no espelho, testando minha respiração e mentalizando qualquer coisa feliz. Não tive coragem de perguntar a Diego que horas eram, me concentrando principalmente em ficar calma. Jhulie estava certa, eu não podia ficar nervosa daquele jeito. Não seria nada bom para o bebê. Mas quanto mais eu pensava nisso, mais nervosa eu ficava. Além de estar prestes a me casar, tinha que controlar meus nervos por causa da minha filha, mas era difícil ficar calma.
Não era da natureza de uma noiva ficar tranquila alguns minutos antes do próprio casamento, por isso eu sabia que ninguém podia exigir isso de mim.
Mas eu tinha que me controlar.
– Tudo bem aí? - Diego perguntou, como se pudesse ler meus pensamentos.
– Nervosa. - Foi tudo que falei. Ele entenderia.
– Não fique. Nada vai dar errado.
– Acredite, muita coisa pode dar errado. - Falei, de repente pensando em realmente tudo que podia estragar aquele momento, mas resolvendo verbalizar o menor dos meus medos - Eu posso tropeçar no vestido e dar com o nariz no chão. Eu sou bem assim.
– Peça pro seu condutor te segurar.
Estaquei, ainda encarando Diego como se ele não tivesse dito nada. Quem iria me levar até o altar? Por que eu não havia pensado naquilo antes? Aliás, por que eu nunca pensava em nada antes de me dar conta de que era tarde demais para solucionar o problema?
– Diego… Quem…
– Não se preocupe. Você não vai entrar sozinha.
De repente, senti uma vontade quase incontrolável de chorar. Senti saudade dos meus pais, e desejei, com toda a força da alma, que eles estivessem ali. Nem que fosse para me dizer, com a certeza que eles sempre pareciam ter, que eu seria feliz. Apesar disso, tentei controlar as lágrimas e parecer forte, mesmo que só por fora. Aquele era um momento muito grande para acumular tristezas e incertezas, e eu sabia que precisava estar inteira para o que estava por vir. E com o pensamento nos meus pais, desejando que eles estivessem presente até mesmo em espírito, engoli o choro e respirei fundo, saindo do closet de cabeça erguida, sentindo uma coragem que há poucos segundos não estava em mim.
…
Cheguei à frente do jardim da casa de Hérica e Robert no carro que Diego dirigia. A cerimônia seria nos fundos, perto do chafariz, por isso não havia perigo em ser vista por ninguém: Todos já estavam em seus lugares.
Caminhei para o lado da casa, sempre encarando o chão, e os batimentos do meu coração pareciam acelerar a cada passo dado. Jhulie caminhava ao meu lado, tão linda em um vestido longo e vermelho que, por um momento, meu brilho de noiva enfraqueceu. Mas eu não me importava.
– Vejam se não é a noiva. - Ouvi alguém dizer, e ao levantar o rosto, vi Arthur em um terno incrivelmente elegante, me encarando com os olhos brilhantes e sorrindo de orelha a orelha.
– Oi… - Falei, e minha voz falhou. Talvez eu não tivesse empregado a força suficiente para emitir algum som.
Arthur e Diego simplesmente desapareceram, e quando me dei conta, estava sozinha com Arthur.
– Cara dama, aceita minha companhia ao longo do percurso? - Ele perguntou em um tom pomposo, estendendo o braço e piscando divertido.
– Você vai me levar? - Consegui pronunciar, engolindo e sentindo minha garganta se fechar de cinco em cinco segundos.
– Só se você quiser.
Entrelacei meu braço no seu, ainda sendo oferecido, e suspirei. Magicamente, uma música começou a tocar, e mesmo que meu coração estivesse quase saindo pela boca e não conseguisse prestar atenção em nada direito, eu podia dizer que não era a marcha nupcial. Era algo mais suave, menos pesado. Era um som maravilhoso.
– Arthur… Não me deixe cair.
– Não se preocupe, cunhadinha. Consigo te segurar com dois dedos. - Ele falou, rindo de novo e olhando para frente. - A propósito: Você está maravilhosa.
Não consegui responder, já que minha garganta parecia se apertar mais a cada segundo passado, mas ele não parecia estar esperando por alguma palavra minha. Quando ele começou a caminhar, fiz tudo que podia fazer naquele momento: O segui, rumo ao que estava me esperando.
Conforme Arthur ia me guiando, as coisas iam vagamente entrando em foco, mas não muito. Eu não estava realmente prestando atenção à minha volta, e tudo de que tinha noção eram algumas mesas um pouco longe de nós, fileiras de bancos brancos e compridos que se aproximavam enquanto caminhávamos e algumas pessoas, provavelmente olhando para mim. À frente daqueles bancos e daquelas pessoas, no centro, de pé como um sonho perfeito e lindo de uma forma perturbadora, Bruno nos encarava com as mãos nos bolsos da calça do terno preto que usava. Ele esbanjava classe e beleza, e mesmo que meus olhos não funcionassem direito de longe, eu sabia que ele estava sorrindo. Simplesmente sabia.
Apertei o pano no braço de Arthur, respirando com um pouco mais de dificuldade. Ele me encarou de forma disfarçada, sem deixar que nossa entrada fosse abalada.
– Tudo bem? - Ele falou, se curvando um pouco para baixo e falando perto de mim. Não paramos de caminhar em momento algum.
Fiz que sim com a cabeça, incapaz de falar. Talvez o que estivesse me deixando naquele estado fosse a expectativa, a antecipação, a demora em chegar logo até o lado de Bruno e ouvir o “vocês estão casados”. Talvez fosse o meu medo de que alguma coisa desse errado, ou, quem sabe, meu medo em acordar com um sorriso idiota no rosto e dar de cara com as paredes sujas do meu apartamento, voltando à realidade de que nada daquilo podia ser real.
Fechei os olhos e continuei meu percurso, pensando e pedindo fervorosamente em silêncio:
Que eu não acorde agora… Não agora… Não ainda.
Senti Arthur parar de andar ao meu lado e meu coração deu mais um salto. Quando consegui reunir coragem para abrir os olhos, Bruno já estava exatamente à minha frente, com um sorriso de tirar o fôlego, os cabelos bagunçados de uma forma hipnótica, me encarando com aqueles olhos desesperadoramente lindos.
– Tome conta da minha filha, ou eu vou atrás de você e te mato. - Arthur falou de palhaçada, e Bruno soltou uma gargalhada baixa.
Desfiz o nó que unia nossos braços e segurei a mão dele, estendida para mim. Eu não sabia exatamente o motivo, mas estava sendo tomada por uma vontade súbita de rir, chorar, gritar e agarrá-lo, tudo ao mesmo tempo. A mão dele estava quente perto da minha, embora parecesse tremer um pouco. Fechei meus dedos nos seus com força demais, e ele fingiu sentir dor em uma careta sutil. Bruno se virou para frente ainda me encarando, e de repente notei que tinha mais alguém ali perto.
O homem de meia idade, separado de nós por uma pequena mesa de vidro, sorria de maneira simpática, e quando simplesmente começou a falar em voz alta, notei que ele seria a pessoa a realizar o casamento. Ele falou um monte de coisas, e eu desejava poder prestar atenção nelas. Bruno permanecia ali, esquentando o lado direito do meu corpo, e me perguntei se ele estaria ouvindo uma palavra que fosse. Não sei se tudo não passou de uma impressão, mas a cerimônia pareceu muito rápida.
Talvez porque alguém tivesse mesmo pedido isso, alegando que toda aquela expectativa até o “aceito” provavelmente não faria muito bem aos nervos de uma gestante. Entretanto, o tempo pareceu se alongar - ou melhor, parar - em determinado momento.
– Se alguém for contra esse matrimônio, que se manifeste e exponha os motivos.
Minha respiração ficou suspensa por alguns segundos, esperando e rezando para que aquele tenebroso silêncio passasse logo. Eu sempre achei que essa parte do “fale agora ou se cale para sempre” não se usava mais. Aparentemente, tudo o que fizeram se resumiu a mudar um pouco as palavras, mas manter aquele momento angustiante presente. Talvez eu estivesse paranoica, mas não pude evitar que minha imaginação fértil trabalhasse: Um homem chamando a atenção dos convidados, gritando a plenos pulmões que eu não poderia entrar para aquela família porque meu passado era sujo demais. Lauren, surgindo ao longe e dizendo para quem quisesse ouvir que estava esperando um filho do meu noivo. E que ainda o amava. Estava a ponto de pular no pescoço do juiz de paz e gritar para que ele continuasse, mas no segundo seguinte, ele voltou a falar. E eu me senti muitas toneladas mais leve, sentindo a mão de Bruno apertar com cuidado a minha. Ele estava de frente para mim, e, instintivamente, fiz o mesmo.
Com a mão livre, ele tirou do bolso da calça uma caixa vermelha de veludo e a abriu, revelando lá dentro duas alianças que seriam perfeitamente iguais se fossem do mesmo tamanho. Bruno pegou a menor aliança e olhou profundamente nos meus olhos, me prometendo que seria fiel, que me amaria e que me faria feliz nas palavras formais repetidas do juiz de paz. Quando ele encaixou delicadamente o aro no meu dedo, senti um formigamento bom e meio quente começando da ponta do anelar e subindo pelo resto do meu braço. Ele me encarou outra vez e deu aquela porra de sorriso torto, me fazendo ficar na ponta dos pés, quase perdendo o controle e o agarrando ali mesmo. Repeti as mesmas palavras que Bruno havia acabado de dizer sem realmente prestar atenção nelas, porque tudo que elas juravam já estava prometido, há muito tempo, pelo meu coração. Quando deslizei a aliança maior em seu dedo, contemplei por um momento o aro ali, como se fosse uma prova de que tudo que estava acontecendo era mesmo real.
O juiz de paz disse alguma coisa que resultou em Arthur e Duda indo até ali para assinar alguns papéis. Imaginei que eles deviam ser as testemunhas do casamento. Foi então a vez de nós dois assinarmos alguns papéis também, e depois das assinaturas, quando tanto Arthur quando Duda já haviam voltado para seus lugares, o homem falou mais meia dúzia de palavras curtas e ficou em silêncio. Senti a mão quente de Bruno segurar com firmeza minha nuca e me virei.
Ele estava de frente para mim, e naquele momento, tudo o que eu mais queria era me afogar naqueles olhos hipnotizantes. Eu queria me perder nele, de todos os jeitos possíveis, e nem sabia o que aqueles pensamentos queriam dizer no final das contas. Ele sorriu de novo, e de novo me senti mais fraca, mais entregue, mais feliz. Bruno se inclinou para mim com muita classe, e aquelas frações de segundos foram, sem sombra de dúvidas, as frações de segundos mais preciosas de toda a minha vida até então.
Ainda não… Que eu não acorde agora, ainda não… Por favor…
Ele me beijou, e o beijo era tão igual a tantos outros que já tínhamos trocado, e, ao mesmo tempo, tão diferente… Era um ato que selava qualquer dúvida, qualquer problema no qual minha cabeça problemática insistia em pensar. E mesmo que eu não tivesse o direito de tomar posse de alguém, aquela verdade agora piscava em luzes neon dentro da minha cabeça. Ele é meu. É realmente meu.
– Eu amo você. - Falei em um sussurro, ainda de olhos fechados, assim que ele se afastou minimamente dos meus lábios.
– Eu também te amo. - Ele respondeu de forma simples, rindo baixinho contra a minha boca.
Foi só então que o som dos aplausos chegou aos poucos aos meus ouvidos, me tirando da nossa bolha e me fazendo ficar completamente consciente, pela primeira vez, de todas as pessoas que nos assistiam ali.
É verdade. Não estávamos sozinhos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
De repente, Amor.
Romance"Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como havia de ser, os do...