Capítulo 24

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◇◇◇◇
Oi gente, chegou o fim semana, e como fim de semana passado vou postar dois capítulos por dia. Vocês estão gostando da história? Comentem e votem amores.
Boa leitura!!!
◇◇◇◇

A manhã seguinte começou chuvosa. Só fui capaz de despertar às 9:50h da manhã pelo barulho que algumas gotas faziam contra a janela do meu quarto. 
Meu corpo ainda se assemelhava um pouco a gelatina mole, fazendo com que minha vontade de levantar da cama fosse nula.
Antes mesmo de checar, eu sabia que estava sozinha. O peso, o cheiro e o calor do corpo dele não estavam ali, eu podia sentir ainda de olhos fechados. 
Talvez porque eu começava a me acostumar com essas coisas, mas a ausência dele era imediatamente captada por algumas terminações nervosas no meu corpo, e então, inconscientemente, eu sabia que estava sozinha. 
Me virei na cama, ainda com preguiça, e encontrei ao meu lado um papel com algumas palavras e uma chave. A curiosidade me despertou imediatamente, então peguei o papel e li a caligrafia perfeita de Bruno:

Fui trabalhar. Não quis acordá-la. 
Essa chave abre a porta da sala. Ela é sua. 
Quer jantar comigo hoje à noite? 
Te amo. 
Bruno

Meus olhos pararam na última frase, como se ali existisse algum significado oculto, como se quisesse entender o que exatamente ele quis dizer com aquilo. 
“Te amo”. 
“Amo”. 
Reli aquelas duas palavras, imaginando as diferentes formas e entonações que ele daria à frase ao dizê-la. Imaginando as palavras saindo da boca dele, enquanto seus olhos me mostravam que aquilo era verdade.
Derreti como uma boba em cima do travesseiro, trazendo o papel perto do rosto e tentando sentir ali o perfume dele, parecendo uma pré-adolescente romântica e apaixonada pelo mais perfeito dos príncipes encantados. 
– Eu também te amo. - Falei em voz baixa - Amo muito.
Me perguntei se teria coragem de dizer aquilo em voz alta se estivéssemos cara a cara, como uma resposta à declaração dele ao vivo e a cores. Confessar para mim mesma a mais óbvia das verdades era fácil, até porque não havia mais como tentar me convencer do contrário, mas confessar minha alma a ele era um pouco mais perigoso.
Mas não confessar o quanto eu o amava estava pesando. 
Não porque ele precisava saber, mas porque uma parte de mim queria gritar isso em plenos pulmões, como se de alguma forma eu pudesse me libertar da minha própria prisão. Infelizmente, a outra parte em mim me mantinha presa aos meus medos e incertezas, acreditando que a “revelação” - não tão surpreendente assim - seria demais para a boa vontade dele.
Eu ainda não era capaz de dizer a ele aquilo. E esse fato era desesperante. E o fato de que eu precisava deixar isso claro era ainda pior.
Me levantei ainda cambaleante, sentindo meu coração ferver com as palavras escritas por Bruno e pelo seu voto de confiança. 
Eu sabia que ele estava receoso com minhas atitudes, e imaginava o quão difícil devia ter sido para ele me dar, de bandeja, a opção de deixá-lo ou não. Me perguntei se, caso eu fosse embora, ele iria atrás de mim.
Imaginei que sim.
As palavras do dia em que ele me disse toda a verdade ainda estavam frescas na minha memória, e embora ele parecesse um pouco descompensado naquela ocasião, me pareceu estar sendo bastante verdadeiro e decidido. 
Então, se eu realmente fosse embora, não ficaria surpresa em tê-lo me perseguindo como algum tipo de predador. 
Tomei um banho quente e revigorante. Como sempre, lembrei da noite anterior, mas dessa vez, tive que me ater um pouco mais aos detalhes. 
Da mesma forma que Bruno havia sido o primeiro homem com o qual eu realmente havia sentido prazer, ele agora se tornara o primeiro a me tocar de uma forma tão íntima, e me dar conta disso era maravilhoso.
Me perguntei então no que mais ele seria o primeiro a partir de agora.
Preparei um café da manhã modesto, sem querer tirar muitas coisas do lugar. 
Como já eram 11:30h, comi pouco para que meu almoço não fosse prejudicado. Me perguntei então onde exatamente eu almoçaria, mas sabia que o resto daquele dia dependia do que eu estava prestes a fazer.
Mais nervosa do que eu gostaria de estar, peguei meu telefone e, com uma anotação na outra mão, disquei o número ali escrito. 
– Alô? 
No exato momento em que a voz de Bruno atendeu no outro lado da linha, senti meu rosto ferver de repente, então eu sabia que devia estar vermelha como um tomate maduro. Tentei não pensar que minha vergonha tinha alguma coisa a ver com as lembranças da nossa noite íntima, porque isso, além de não fazer o menor sentido - já que eu não era nenhuma inocente virgem - fazia com que eu parecesse uma idiota. 
– Oi… - Foi tudo que consegui responder. 
– Ninha? 
– É, sou eu. 
– O que aconteceu? - Ele perguntou, em um tom de voz preocupado. 
– Nada. Está tudo bem… - Enquanto eu falava, sentia meu rosto ferver cada vez mais, e então senti ódio de mim mesma por ser tão incrivelmente imatura - Desculpa te atrapalhar… 
– Não está atrapalhando. 
– Eu só queria falar com Duda. 
Bruno ficou em silêncio, ponderando minhas palavras. 
– Duda? 
– É… 
– Quer falar com ela? Sobre o quê? 
– Bom… É um assunto de mulher… - Respondi, já sentindo a tensão contrair os músculos do meu pescoço. 
– Ah… - Ele parecia pensativo, talvez se perguntando qual tipo de assunto feminino eu teria com sua secretária e melhor amiga que, aliás, não gostava de mim - Só um minuto. 
Não precisei esperar tanto. Quase imediatamente, do outro lado da linha, uma voz feminina me respondeu. 
– Alô? 
– Oi Duda. É a Anne. Desculpe te incomodar, sinto muito, mas eu preciso da sua ajuda. Pensei que talvez nós pudéssemos almoçar juntas, se você não tiver alguma coisa melhor pra fazer, é claro.
Então era assim? Quando eu ficava nervosa com Duda, agia como uma perfeita tagarela. 
Quando era Bruno quem me deixava nervosa, eu ficava muda.
Minha total falta de sentido começava a me irritar profundamente.
– Ahm…
– É sobre Bruno. Preciso de uma opinião sua. 
Ela pareceu ponderar. 
– Bom, não sei se posso ir. Eu tenho só uma hora de almoço… 
Ouvi a voz de Bruno ao fundo interrompê-la, dizendo algo incompreensível. 
– Tudo bem, posso ir. Meu chefe é muito generoso, você sabe. 
Sorri discretamente com a brincadeira dela, principalmente porque ela havia feito uma brincadeira comigo, algo que jamais pensei que fosse acontecer. 
– Que ótimo… Podemos nos encontrar em algum restaurante perto da casa de Bruno? Eu não conheço nada aqui… - Falei, tentando parecer descontraída e à vontade ao mesmo tempo, mas com as mãos fechadas em punho com tanta força que os nós em meus dedos já estavam dormentes. 
– Anote o endereço. 
Alcancei rapidamente o papel dobrado em cima do criado mudo e uma caneta, anotando o número e a rua que Duda me passava. 
– Fica a quinze minutos daí. Às 13:30h está bom pra você? 
– Está ótimo. 
– Certo. Vou anotar seu número dessa ligação. Até lá então. 
– Até. 
Ouvi quase que imediatamente a voz de Bruno na linha, dizendo um “alô” um pouco apressado. 
– Ainda estou aqui. - Falei, sorrindo. 
– Bom, agora que você e minha secretária andam de segredos pelas minhas costas, tenho motivos pra me preocupar? 
– Não. Você ficaria grisalho à toa. 
– Tudo bem, vou tentar esquecer a curiosidade mórbida que está me corroendo agora. - Ele falou, dando uma risada discreta, mas suficientemente alta para que eu me sentisse mais aquecida e feliz - Leu meu bilhete?
Senti meu coração acelerar repentinamente. 
– Li… 
– Então… Janta comigo? 
– Ah, sim… Claro. 
– Que bom! - Ele falou, parecendo genuinamente feliz com minha resposta - Passo em casa às 20:30h pra te pegar, vou ficar esperando no carro. Tudo bem? 
– Tudo bem. Devo vestir um vestido longo pra ocasião? 
Outra vez, ele riu. Outra vez, sorri me sentindo aquecida, e de repente senti um desejo idiota de beijar o telefone. 
– Pode se vestir como achar melhor. Acho que um sobretudo quente é o suficiente. 
– Ok… 
– Até mais então. Um beijo. 
– Um… beijo. - A frase saiu mais como um suspiro, e outra vez desejei não agir como idiota quando estivesse falando com ele.
Felizmente, ele não pareceu perceber que minha sanidade estava se desfazendo como algodão doce. 
No segundo seguinte, o telefone ficou mudo, me informando de que Bruno tinha coisas mais importantes a fazer além de me esperar resolver desligar. 
Desdobrei distraidamente o papel usado para anotar o endereço do restaurante sugerido por Duda, e me dei conta de que aquele era o bilhete daquela manhã. Passei o olho mais uma vez pela última frase do papel, e como se não estivesse sozinha, falei em uma voz muito baixa, apenas para sentir a sensação boa das palavras se desprendendo da garganta. 
– A propósito: Eu também te amo.
Eu pegaria um ônibus se soubesse qual linha me deixaria mais próxima ao endereço anotado. 
Como esse não era o caso, pedi para que o porteiro chamasse um táxi para mim, e então eu já esperava Duda em uma mesa para duas pessoas. Embora o lugar fosse ainda bastante elegante - o que eu vinha aceitando com mais frequência, já que nada naquelas redondezas poderia ser barato - parecia ser menos caro do que os dois restaurantes em que já estivera com Bruno antes. 
Ela chegou pontualmente no horário marcado. Me sentindo mais intimidada do que desejava, tentei parecer o mais alheia possível à sua presença, mas pareci mais um pinto acuado do que qualquer outra coisa. 
– Oi… - Comecei, me levantando assim que ela me alcançou. - Obrigada por fazer isso. 
– Tudo bem. 
– Acho que temos que almoçar logo, já que você tem que voltar… 
– Bruno me deixou demorar o tempo necessário. 
Encarei-a espantada por nunca ter imaginado um chefe tão compreensivo nele.
Como se pudesse ler meus pensamentos, ela se apressou em falar: 
– Não pense que ele é sempre assim. É claro que sair com você teve algo a ver com o surto de bondade. Ou isso, ou então é o espírito do Natal. 
Ri outra vez, o que pareceu surpreendê-la um pouco, mas ela não foi rude em momento algum. Era claro que não deixaria de lado as formalidades entre nós, já que sequer nos conhecíamos - além do fato de ela não ir com a minha cara - mas eu podia jurar que Duda estava se esforçando para ser o mais cordial possível comigo. 
O restaurante em que nós estávamos era especializado em massas, onde todos os pratos pareciam deliciosos. Como não conhecia o tempero da casa, segui a sugestão dada por ela. 
Enquanto esperávamos os pratos, me senti obrigada a iniciar o assunto, já que podia notar sua preocupação disfarçada. Então lembrei de que, embora tivesse falado que o assunto era sobre Bruno, eu não havia dado mais detalhe algum. Talvez ela estivesse achando que eu planejava matá-lo ou coisa assim. 
– É algo simples, acho que eu nem precisava ter tirado você do trabalho… - Comecei, me dando conta pela primeira vez de que havia a atrapalhado à toa e imediatamente corando por isso - Eu só preciso de uma opinião sua sobre o que dar de Natal pra ele. 
Ela sorriu despreocupadamente, enquanto olhava para cima.
– Você me tirou de lá pra me perguntar isso? Realmente, não precisava. 
Senti meu rosto ferver de vergonha. 
– Não, não quis dizer dessa forma! - Ela se apressou em dizer, vendo que eu provavelmente parecia agora um morango gigante - O que eu quis dizer foi que você não precisava ter pedido a minha opinião nisso. Compre qualquer coisa, ele vai adorar. 
– Ele gosta de tudo que dão a ele? - Perguntei, me sentindo um pouco menos mal. 
– Não. Ele odeia tudo que dão a ele. Nunca acertei um presente sequer. Mas se você der um dvd sobre técnicas de meditação hindu, ele vai adorar. 
Me perguntei se era exagero o fato de Duda frisar meu nome toda vez que se referia a Bruno, mas achei melhor não verbalizar a dúvida. 
– Ahm… Eu queria dar algo que ele realmente gostasse. 
– Como disse, não posso ajudá-la nisso. Eu mesma nunca acertei. 
– Ele não está precisando de nada? 
Me senti idiota antes mesmo de terminar a frase. Era óbvio que Bruno não precisava de nada, porque se precisasse, providenciaria. Ele era o tipo de pessoa que podia se dar a esse luxo. 
– Não. - Ela respondeu minha pergunta quase retórica, e agradeci em silêncio por Duda não rir da minha cara.
– Não sei… O que você vai dar pro seu marido?
Outra vez o arrependimento chegou em mim como um soco mal dado, então imediatamente me odiei por pronunciar aquelas palavras. Duda me fitou nos olhos, e desejei profundamente que ela não pensasse que eu estava comparando, de alguma maneira, a relação que eu tinha com Bruno com a que ela tinha com seu marido. 
– Eu não quis dizer… - Comecei, desesperada, mas Duda me interrompeu.
– Posso te pedir uma coisa? - E sem esperar uma resposta minha, ela continuou - Tente relaxar perto de mim. Seu desconforto está me dando agonia. Eu não mordo, e não estou aqui pra julgar cada palavra que sair da sua boca. Como você vai entender algum dia, eu não sou uma pessoa dada a pré-conceitos.
Não era como se eu pudesse escolher entre ficar ou não nervosa perto dela. Eu simplesmente ficava. 
Como não consegui fazer o que ela pediu e me acalmar, só me restou continuar encarando-a, esperando que fôssemos interrompidas por qualquer coisa, fosse pelo garçom ou por uma chuva de meteoros em chamas.
Felizmente, fui presenteada com a primeira opção, então ficamos em silêncio por algum tempo, ambas compenetradas em seus próprios pratos. 
Vez ou outra, Duda sugeria alguma coisa, mas logo em seguida refutava sua própria ideia dizendo que “não, talvez outra coisa”. 
Me senti um pouco mais calma com a rapidez que ela parecia ter esquecido do assunto em questão.
Não chegamos a conclusão alguma. Mesmo que estivesse esperando alguma ajuda por parte dela, não fiquei irritada ou decepcionada. Já que agora eu sabia que agradar Bruno era uma tarefa difícil, não poderia culpá-la por isso. 
Depois de algum tempo debatendo opções - mais um monólogo de Duda do que um diálogo dela comigo - saímos do restaurante e caminhamos um pouco por algumas ruas. Embora não tivéssemos muitos assuntos a serem discutidos, fiquei feliz por notar que ambas estavam se esforçando para que aquilo não se tornasse algo desagradável. Como imaginei que grande parte do tempo que passaria com Duda seria preenchida com um silêncio desagradável, as poucas palavras trocadas entre nós conseguiram me deixar mais animada do que pensei que ficaria. 
Chegamos a um edifício imponente, e quando olhei para Duda notei que ela havia nos guiado para lá. 
– Onde estamos? 
– Em um shopping. 
Não parecia um shopping do lado de fora, mas foi ao entrar que notei a grande variedade de lojas. A diferença desse lugar para o que eu estivera com Bruno havia poucos dias era que, aqui, eu não me surpreenderia se visse algum tipo de faixa na entrada com os dizeres “Só entre se tiver muito dinheiro”. 
– Bruno me disse que você prometeu a ele que algum dia compraria as roupas que ele queria. 
Aquele calculista! 
– Ele te mandou me trazer aqui? 
– Não. Mas me pediu pra que te ajudasse. Só, pelo amor de Deus, não me diga que vou ter que escolher lingeries ou coisas do tipo.
Ela fechou os olhos tentando afastar o pensamento, e eu tive que rir com sua reação. 
– Não… Ele só quer comprar roupas caras. Queria entender essa tara por gastar… 
– Não é tara, acredite. Ele não é consumista, e nem um pouco materialista. Bruno só tem a mania de querer cuidar em excesso das mulheres que ele gosta. Por isso parece um pouco obcecado às vezes. 
– Ele fazia isso com ela?
Duda me olhou surpresa. 
– “Ela”? 
– Lauren. 
– Você sabe dela? 
– Sei. Ele me contou, há algum tempo atrás. 
Ela suspirou. 
– Sim, ele fazia isso com ela. 
Ela desviou o olhar, e eu fiz o mesmo. Estava claro que Duda também não gostava de Lauren, e estava claro que tinha motivos para isso.
– Bom… - Comecei, querendo mudar o assunto - Não posso comprar nada aqui, nem que eu quisesse. Acho que vou acabar gastando quase tudo o que tenho no presente dele. 
– Ah, sim… - Ela falou, se lembrando de alguma coisa e mexendo em sua bolsa. Quando tirou sua carteira e a abriu, me entregou um cartão e um papel pequeno. - Bruno pediu para que eu entregasse isso a você. A senha está anotada nesse papel. 
– Eu ganhei um cartão de crédito? 
– Ele pediu pra que tudo que você comprasse fosse pago nesse cartão. 
– Não vou usar isso. Eu só quero comprar um presente pra ele. 
– Se você voltar sem nada eu corro o risco de ser demitida. 
Olhei-a espantada. 
– Isso é sério? 
– Bom, não. Mas ele vai mesmo ficar irritado. 
Suspirei. 
Como não tinha nada em mente, aceitei olhar algumas lojas de roupas femininas enquanto tentava ter alguma ideia do que dar a Bruno. Era bastante difícil pensar em alguma coisa, já que o presente em questão deveria ser dado a alguém que realmente já tinha de tudo.
Duda parecia me manipular a comprar coisas, dizendo que ela mesma precisava de roupas, mas só não saindo das lojas de mãos vazias porque carregava algumas das minhas sacolas. 
Comprei vestidos mais elegantes - me perguntando qual seria a maldita ocasião em que iria usá-los - além de alguns pares de sapatos, duas bolsas e mais casacos para o inverno. 
Jurei para mim mesma que xingaria Bruno até a morte quando o encontrasse. 
– Isso é ridículo. - Concluí. 
– Isso é exatamente como Bruno é. - Disse Duda, pagando ela mesma as compras com o cartão que agora era meu - Qualquer uma na sua posição aproveitaria a situação com um sorriso de orelha a orelha. Pelo menos eu aproveitaria. 
Eu sabia disso, mas não deixaria claro a ela que o motivo pelo qual eu não aproveitava a situação se dava pelo meu desconforto em, mais uma vez, parecer uma usurpadora ao lado de Bruno. 
Além disso, tínhamos todo um passado que envolvia gastos dele comigo, e talvez por algum trauma ou fosse o que fosse, vê-lo gastar rios de dinheiro por minha causa como se eu fosse seu fardo era um pouco humilhante. 
– Isso já é o suficiente. Se ele disser que eu deveria ter comprado mais coisas, vou fazê-lo engolir um desses sapatos. 
Duda riu despreocupada, e sempre que ela fazia isso eu me sentia automaticamente mais leve. 
– Você age de uma forma diferente da que eu pensei que agiria. 
Achei melhor não tentar entender o que ela quis dizer com aquilo. Como parecia não ser algo ruim, deixei para lá, me focando agora na primeira loja que vi à minha frente.
Era uma relojoaria exclusiva para homens. Olhei interrogativamente para Duda, como se pedisse um consentimento. 
– Já disse que pode comprar qualquer coisa. E não estou exagerando quando digo isso. 
Entramos no lugar, analisando cada um dos relógios nas prateleiras de vidro. A variedade de modelos era tão grande que dificultou o processo de seleção. Me foquei então em apenas uma parte da prateleira lateral, decidida a sair dali com alguma coisa. 
Quando finalmente nós duas chegamos a um consenso sobre qual daqueles modelos era o mais interessante (mesmo não sendo o presente ideal), me dirigi à vendedora lhe informando da escolha. Quando fui pagar, Duda me estendeu o maldito cartão para que eu o pegasse. 
– Não vou pagar com o cartão dele. - Falei, olhando debilmente para suas mãos. 
– O cartão é seu. E Bruno disse… 
– Eu falo com ele depois. Vou deixar claro que a culpa disso foi minha. Desculpe, mas não tem o menor cabimento pagar o presente dele com esse cartão. 
Ela parecia concordar, mesmo calada.
Finalmente, paguei o presente - com o meu dinheiro, não o dele - e me vi perto da falência. Duda tentou me animar, dizendo que havia sido uma ótima escolha e que ele adoraria, mas ainda assim me sentia um pouco insegura quanto àquilo.
– Vamos ver se agora ele chega na hora certa ao trabalho. - Ela falou, bem humorada, então notei na gradual e discreta mudança de atitude dela quanto a mim.
Se no dia em que nos conhecemos Duda parecia duvidosa a meu respeito, hoje sua simplicidade em falar comigo e me acompanhar me diziam que, talvez, ela não me odiasse como eu pensava. 
Sorri de volta, e queria que ela entendesse a gratidão que eu sentia naquele momento.
– Acho que você precisa ir embora agora. - Ela disse, olhando no relógio - Se bem me lembro, você tem um encontro hoje. 
– Que horas são? 
– 19:30h 
– Merda! - Falei, ajeitando as sacolas que caíam dos meus ombros e já fazendo sinal para um táxi que passava e que não parou. 
– Eu estou de carro. Te dou uma carona. 
– Ah… Obrigada. Não vou atrapalhar? 
– Não. É caminho pra onde eu vou. 
Seguimos andando para o lugar onde o carro dela estava estacionado - Duda caminhando e eu quase correndo. 
Joguei tudo no banco traseiro, com exceção do relógio que se mantinha bem embrulhado e protegido no meu colo, e sentei no banco do carona.
O percurso de volta à casa de Bruno foi mais silencioso do que qualquer momento que passei com Duda aquela tarde. Ela parecia pensar muito, e eu não quis interromper, nem para agradecer pela companhia. Assim que deixei de prestar atenção, nós chegamos ao meu destino. 
Ela saltou do carro, me ajudando com as compras e com as várias combinações de posições das alças. Quando finalmente consegui ficar de pé, sem o cabelo nos olhos e com as sacolas temporariamente firmes, me voltei para ela. 
– Muito obrigada por fazer isso comigo. E desculpe se atrapalhei seu trabalho. 
– Bom, na verdade você atrapalhou o trabalho de Bruno. Ele teve que se virar sem mim. - Ela falou, com um sorriso maléfico no canto da boca - Não se surpreenda se ele estiver com dor de cabeça ou de mau humor. 
– Tudo bem. - Falei, retribuindo o sorriso, mesmo sabendo que não era para mim - Vou me desculpar com ele depois. Obrigada mais uma vez. 
Ela continuou me olhando, e notei que sua expressão começou a tomar um ar extremamente sério aos poucos. Inconscientemente, me senti ameaçada, então virei-me para entrar no prédio rápido demais, mas a fuga não seria fácil.
– Anne? 
Parei no quarto degrau e olhei de volta para Duda, ao lado do carro estacionado. 
O tom sério que vi em seus olhos misturado com uma insegurança inédita foi o suficiente para me fazer ter certeza de que suas próximas palavras, fossem elas quais fossem, mostrariam que ela não estava brincando. 
– Não o magoe. Ele não aguentaria. 
Não era uma ameaça. Era um pedido, e por mais que sua voz soasse firme, isso ficou bastante claro.
Duda não estava dando um aviso, mas sim mostrando, sem máscara alguma, um medo que eu não vira antes. Medo de ver seu melhor amigo sangrar outra vez. 
– Não vou fazer isso.
Minha voz saiu séria, firme, como há algum tempo eu não ouvia. Mas não me surpreendi, porque essa era uma certeza tão absoluta que não havia como hesitar. 
Ainda assim, me perguntei se Duda podia sentir isso.
Ela continuou me olhando com aqueles olhos azuis sérios, mas ao mesmo tempo inseguros, fazendo uma análise completa do meu caráter. Eu não ficaria surpresa se soubesse que ela tinha poderes psíquicos ou coisa parecida. Era impressionante a intensidade que seus olhos transmitiam, e se eu tivesse alguma dúvida do que sentia, poderia até ficar intimidada.
Mas eu não estava. 
– Por algum motivo, eu acredito em você. 
Nossos olhos ainda mantinham contato, mas Duda pareceu se dar conta de que não havia qualquer traço de mentira em mim. 
Então pela primeira vez desde que a conheci, pude sentir nela algum tipo de cumplicidade. E, para piorar, eu não sabia explicar como ou por que sentia isso, mas sabia que era uma sensação suficientemente forte para não conseguir ignorá-la.
Quando me dei conta, Duda já havia entrado no carro e dado a partida, sumindo pela rua comprida e gelada à minha frente.
Demorei algum tempo para conseguir parar de pensar na atitude de Duda, mas tive que fazê-lo porque já estava atrasada. 
O relógio agora marcava 20:10, e não só eu ainda não tinha tomado banho, como também não sabia qual roupa usaria ou como me prepararia para aquela noite. 
Embora Bruno e eu estivéssemos nos entendendo aos poucos, a convivência entre nós dois ainda não tinha se tornado tão simples como acontecia com a maioria dos casais. E pensar nele e em mim como um casal, embora me deixasse radiante, ainda me fazia ficar nervosa. 
Tomei um banho rápido, indo contra minha vontade de demorar debaixo da água quente e me perfumar bastante para ele. Mas, como meu tempo era curto e a última coisa que eu queria era mostrá-lo que eu não era pontual, me apressei em fazer tudo.
Assim, em menos de vinte minutos eu já estava de banho tomado, cabelos penteados, uma maquiagem tão discreta que poderia passar desapercebida e vestida propriamente para a temperatura invernal do lado de fora. 
Queria ter me produzido mais, mas isso significaria fazê-lo esperar. 
Por isso, desci às 20:34h, já esbaforida, usando um guarda-roupas todo novo: calça jeans skinny simples, botas pretas de cano longo por cima dela, uma blusa vermelha fina de lã com gola em “v” e um sobretudo preto bastante quente e fofo. 
Antes de descer, contudo, me certifiquei de tirar todas as etiquetas das roupas que eu nunca havia usado, além de dar uma rápida olhada no espelho grande que ficava dentro do closet do quarto de Bruno. 
Me surpreendi comigo mesma. Eu não estava um espetáculo aos olhos masculinos, mas estava bonita. 
Não linda, mas bela, de uma forma simples. 
Minha expressão parecia mais viva, meus olhos não estavam tão tristes. Meus lábios, sem batom, estavam até mais cheios de cor, e então me perguntei se aquilo tudo tinha a ver com meu novo estado de espírito.
Era óbvio que tinha. 
Segui para a garagem procurando por ele, mas sua vaga estava vazia. Caminhei depressa para o enorme saguão de entrada do prédio, tanto para chegar rápido quanto para me aquecer. Alcancei as escadas que davam para a calçada e fui quase nocauteada por um vento estupidamente gelado, mas antes que pudesse pensar, avistei um Volvo prata apagado e parado um pouco a direita.
Quando me virei para encará-lo, os faróis piscaram para mim, avisando que aquele era o carro certo. 
Minha pulsação, para variar, começou a acelerar. Antes, eu não estava acostumada a sentir isso toda vez que me via prestes a me aproximar de alguém, mas ultimamente me sentir mais adolescente estava se tornando um hábito. 
Eu não podia evitar, era involuntário: Sempre que me dava conta de que Bruno estava a menos de dez metros de mim, meu coração insistia em querer sair pela boca. Era assim mesmo. 
Cruzei os braços no peito para me proteger do frio e corri até ele. A porta do carona se abriu para mim, então no segundo seguinte eu já estava sentada e trancada no interior do carro junto com ele.
Fiquei encarando o painel luminoso do Volvo à minha frente como uma imbecil. Eu sabia que ele me olhava sem nem tentar disfarçar, o que estava fazendo com que meu rosto ficasse mais e mais quente a cada segundo decorrido. 
– Você está vermelha. - Sua voz saiu em um tom divertido. 
– Estou? - Me fiz de burra, ainda sem tirar os olhos do painel. 
– Está com vergonha? 
Bruno estava prestes a gargalhar na minha cara, eu podia sentir sem nem mesmo precisar olhá-lo. Me convenci de que, se ele o fizesse, teria toda a razão: Eu era patética, e ficar sem jeito de encará-lo só porque nossa noite juntos havia sido um pouco “diferente” era tão lamentável que me envergonhava até de sentir vergonha. 
E o pior de tudo era que eu tinha quase certeza de que ele sabia que esse era o motivo.
– Já disse que você fica linda envergonhada? - Ele falou ainda se divertindo com minha falta de resposta, então deu a partida no carro e nos colocou em movimento na estrada. 
– Obrigada. - Foi o que consegui dizer. 
Tê-lo frisando o fato de que eu estava sem graça só fazia com que eu sentisse mais vergonha, mas eu bem sabia que ele adorava fazer isso.
O trajeto foi curto e silencioso. Não perguntei a Bruno para onde iríamos ou como havia sido seu dia, mas ele pareceu não se importar, embora eu tivesse certeza de que se desse a ele uma oportunidade de conversar comigo, ele falaria durante todo o percurso. 
Depois de algum tempo, chegamos em um restaurante bem iluminado e pequeno, com uma decoração discreta e clara. O garçom nos guiou até uma pequena mesa para duas pessoas, nos entregando o cardápio e se retirando assim que pedimos bebidas, para que ficássemos à vontade. Retirei o sobretudo e deixei-o no meu colo. 
Bruno parecia acompanhar cada movimento que eu fazia, o que me deixava cada vez mais nervosa e me fazia corar violentamente sem nenhum motivo. Ele pareceu prestar ainda mais atenção na minha blusa, então lembrei de como ele gostava de ver essa cor em mim.
– Está com fome? 
– Na verdade, não. Desculpa. Eu não costumo jantar, você sabe… 
– Eu sei. Também não estou com fome. 
Ele me olhava com ternura e cansaço, e a cada segundo eu me sentia mais derretida por aquele olhar. 
– Então… - Ele começou - Vai me dizer o que você e minha secretária estão tramando? 
Sorri com a ideia de um Bruno curioso. 
– Você vai saber em poucos dias. - Assegurei-o - Mas não precisa se preocupar, não vou mais tirá-la de perto de você. 
– Bom, contanto que ela não comece a tirar você de perto de mim… 
Eu poderia informá-lo de que nada nem ninguém eram importantes o suficiente para conseguir me tirar dele, mas preferi ser objetiva. 
– Ela não vai fazer isso. 
– Promete? Nem se ela te chamar pra um fondue e eu estiver doente e com febre na cama? - Ele falou, inventando qualquer situação mirabolante e fazendo cara de cachorro abandonado.
Bruno, meu querido. Tudo o que eu mais quero é ficar sozinha agarrada com você em uma cama. 
– Prometo. 
Ele sorriu. Um sorriso lindo, lindo, mas cansado. 
– Não devíamos ter vindo. Eu poderia preparar alguma coisa na sua casa… 
– Na nossa casa.
– … pro jantar. Você parece precisar descansar. - Tentei não pensar no que ele disse.
– O dia foi longo. Duda realmente me salva todos os dias. Eu percebo isso quando tenho que lidar com as coisas sem ela por um dia só.
– Devíamos ter deixado pra outro dia. 
– Não, eu preciso falar com você hoje. 
Então era disso que se tratava o “jantar”? 
– Poderíamos ter conversado em casa. 
– Não, não poderíamos. - Ele parou aí, então me perguntei se não poderíamos porque ele dormiria assim que chegasse em casa ou porque, até hoje, não conseguimos fazer nada além de sexo em praticamente todo o tempo que estivemos sozinhos.
Dada sua aparência de exaustão, eu acreditava na primeira opção, mas o jeito como ele me encarava teimava em me fazer pensar o contrário.
– Ok… O que foi? 
Ele suspirou, se endireitando na cadeira e entrelaçando as mãos em cima da mesa. 
– Bom… Você sabe que dia é hoje? 
– Sei. 
– Então sabe que estamos perto do Natal. 
Ah. O Natal. 
Um arrepio percorreu minha espinha, mas não estremeci. 
– Você sabe que o Natal é, tradicionalmente, uma festa em família. 
– Sei… - Não foi uma pergunta, mas ainda assim eu respondi. 
– E você entende que… Bem, eu tenho que passar o Natal com a minha. Já não os vejo durante o ano todo… 
Bruno me fitava com olhos cautelosos, como se estivesse abordando um assunto muito delicado.
Mas eu entendia. 
– Eles devem sentir a sua falta. Sim, você tem que ir. 
Ele continuou me olhando, agora um pouco em dúvida. 
– Então… Tudo bem por você? 
– Claro. - Eu disse, aparentando mais segurança do que realmente havia em mim, e sentindo minhas palavras de compreensão distanciando-o ainda mais. 
Mesmo assim, não era uma opção pedir para que ele ficasse. Eu não era a pessoa mais altruísta do mundo, mas também não era tão egoísta a ponto de tentar fazê-lo ficar só porque eu precisava dele. 
Bruno sorriu abertamente, ainda me encarando, e então, como se fizesse isso todo dia, ele estendeu sua mão e tocou a minha, também em cima da mesa.
O ato havia sido instintivo, eu podia imaginar, mas seu toque ainda tinha aquele cuidado que mantínhamos entre nós. Seus dedos tocavam com muita delicadeza as costas da minha mão, e o caminho trilhado era seguido por um certo formigamento um pouco quente.
Fiquei imóvel, apreciando o toque.
– Eu pensei que você não fosse aceitar. Obrigado. 
Eu não tinha o que aceitar ou deixar de aceitar. Era a vida dele, e eu não tinha o direito de me meter nisso. 
– Não me agradeça por isso. - Falei, sem graça, acompanhando com o olhar os caminhos que o dedo dele ainda fazia na minha pele. 
– Eu te agradeço por tudo. - Voltei meus olhos para os seus e vi que ele estava sério - Eu sei que você ainda tem mágoas comigo… 
Eu não queria falar sobre aquilo. Era verdade, eu tinha mágoas, muitas mágoas guardadas. 
Mas aquele não era o momento de voltar ao passado e lembrar do que me machucou ou deixou de me machucar. Não quando eu tinha decidido deixar de lado minhas dúvidas. Não quando ele estava me tocando. 
– Você vai amanhã? - Perguntei, querendo desviar a conversa para outro caminho. Um caminho menos difícil de lidar. 
Ele continuou me olhando por algum tempo, sem dizer nada. Me perguntei se ele tinha ouvido, ou se tinha entendido a pergunta. 
– Por que você insiste em se excluir de todas as sentenças que me incluem? 
– Como? - Perguntei, confusa. 
– Nós vamos amanhã. 
Permaneci encarando-o, sem realmente processar a informação.
Nesse momento, o garçom voltou trazendo nossas bebidas e o couvert.
Bruno agradeceu e o dispensou, voltando-se para mim outra vez, ainda na mesma posição.
– Você entendeu que você viria junto quando disse que visitaria minha família, não é? 
Eu não havia exatamente considerado essa possibilidade. Embora já tivesse pensado nela, aquilo foi mais um desejo do que qualquer outra coisa. Estava fora de questão Bruno querer me levar para conhecer sua família.
Para começar, porque só estávamos juntos havia alguns dias - menos de uma semana para ser exata.
Tossi de forma suave para limpar a garganta, tentando parecer normal. 
– Eu não tinha entendido… 
– Bom, você entendeu agora, certo? Eu vou, e você vai comigo. 
Eu queria que ele me convidasse a acompanhá-lo. Na verdade, queria muito, porque isso significava muitas coisas. 
Primeiro, que eu não teria que me afastar dele, temendo pela minha própria saúde. 
Segundo, que eu conheceria mais sobre a vida de Bruno e as pessoas que fazem parte dela. 
Terceiro, porque vê-lo querer minha companhia fazia com que eu pensasse que era importante.
E esse pensamento crescia a cada dia. 
E, junto com ele, crescia também meu ânimo, minha alegria, e muitas outras coisas boas escondidas tão fundo dentro de mim que pareciam não existir mais. 
– Vou tentar comprar as passagens amanhã de manhã pro vôo das 23h. Creio que seja um pouco mais de dez horas de viagem, então às 9h da manhã, mais ou menos, chegamos a Londres. 
– Lon… dres? 
– Londres. Meus pais moram lá. 
Ok. Eu passaria o Natal com Bruno. Em Londres. Com a família dele.
Tinha como ficar mais apavorada e feliz? 
– Eu não… Eu… 
Eu não sabia o que dizer. Mas sabia que tinha que dizer alguma coisa, porque da forma que Bruno me olhava, eu provavelmente parecia estar muito perto de uma crise de pânico. 
Seus dedos, antes trilhando suavemente as costas da minha mão, agora se fecharam nela como se me pedissem confiança.

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