– Oi, amor! - Bruno falou de forma alegre enquanto irrompia pela sala e se jogava no sofá ao meu lado. Como sempre fazia, me deu um beijo carinhoso e, seguindo sua mais recente mania, levantou meu casaco e beijou minha barriga, falando com ela como um louco fala com qualquer objeto inanimado - Oi, lindinha.
– Você demorou hoje. - Falei, esquecendo do filme que passava na tv, torcendo para que minha voz não tivesse mostrado toda a hostilidade e a ansiedade dentro de mim.
– Tive várias reuniões de emergência - Ele falou, desanimado - Ela te deu muito trabalho hoje?
Toda vez que Bruno falava sobre “ela” comigo, estava se referindo à nossa filha. Eu havia aprendido isso nas últimas semanas.
– Não. Hoje foi um dia tranquilo. Não vomitei nenhuma vez. - Respondi, observando-o se agarrar a mim e esfregar o rosto mais uma vez no meu umbigo. Sua barba um pouco rala fez cócegas nada inocentes em mim, por isso tremi involuntariamente. Meu arrepio, no entanto, não passou desapercebido por ele.
– Que bom. - Ouvi-o dizer, enquanto se afastava repentinamente. Senti a rejeição outra vez, e outra vez segurei a vontade de chorar e agredi-lo. - Vou tomar um banho. O dia hoje foi cansativo…
– Como todos os outros. - Falei de forma amargurada. Ele notou meu mau humor, mas não falou nada, se virando e indo para o banheiro do seu quarto.
Foi o banho mais demorado que Bruno já tomou na vida. Ou talvez tivesse durado o que seus banhos costumavam durar, mas dado meu estado de ansiedade, ele parecia estar trancado no banheiro havia algumas semanas. Estava a ponto de socar a porta, fingindo estar passando mal, mas me contive. Esperei pacientemente - ou quase -, apenas querendo que ele saísse logo e diminuísse minha ansiedade. Eu precisava conversar com ele.
Caminhei pelo quarto, tentando me conter. Fiquei assim por alguns minutos, até que ele finalmente teve a bondade de se juntar a mim outra vez.
– Está tudo bem? - Ele perguntou, me observando no canto do quarto, de braços cruzados.
– Quero que você sente. - Falei, sem rodeios.
– Por quê? - Ele rebateu, sua voz soando um pouco preocupada.
– Porque quero conversar com você.
Ele me encarou ansioso, e, tomado pela curiosidade, foi se sentar na ponta da cama, só para que eu falasse logo.
– O que foi? É alguma coisa com ela?
– Não. Ela está muito bem. - Respondi, sentindo meu sangue começar a ferver.
– Então o que foi? Você quer alguma coisa?
Encarei-o por algum tempo, tentando achar as palavras certas para começar aquela conversa.
– Quero. Quero uma coisa.
– O que é? - Ele se apressou em falar - Seja o que for, você sabe que pode pedir…
– Quero sexo.
Aquilo pode ter parecido um pouco inapropriado, mas eu não estava me importando muito com isso. O importante era passar o recado, da forma mais limpa e cristalina o possível.
Como Bruno não respondeu, finalizei meu pequeno discurso.
– Agora, se for possível.
– Ahm… - Ele falou, se mexendo na ponta da cama e olhando para a parede oposta. Mas eu já estava preparada para a desculpa que viria a seguir, fosse ela qual fosse - É que… Minha cabeça, ela está me matando…
– E desde quando você virou mulher pra negar uma trepada por causa de uma dor de cabeça? - Falei, agora completamente hostil. Ele me encarou surpreso.
– Eu… Você sabe que meu dia foi cheio… - Ele começou, mas o interrompi sem a menor educação.
– Bruno, não seja mentiroso! Se eu dissesse que estava passando mal, você não mediria esforços pra me levar pro primeiro hospital. Mas como tudo que eu quero é transar, depois de SEMANAS na seca, você parece indisposto?
Ele não respondeu, e pelo menos fiquei mais satisfeita por ele não ter insistido na mentira.
– O que diabos está acontecendo? Por que você não encosta um dedo em mim? - Falei, já não conseguindo mais disfarçar minha completa indignação.
– Amor…
– É porque eu vou ser mãe? Porque se for isso, tenho que te informar que continuo sendo mulher. - Falei, de forma amarga e irônica.
– Eu sei…
– Então é isso? - Insisti, já com vontade de chorar outra vez.
– Não! Não é isso!
– O que é então? Você não se sente mais atraído por mim? - Perguntei, sentindo uma leve dor no peito pela possível rejeição.
– Claro que sinto atração por você! - Ele respondeu, parecendo incrédulo.
– É porque eu estou ficando gorda? É a minha barriga? Meu corpo não está como você queria?
Bruno suspirou, e por um segundo imaginei que ele estivesse começando a perder a paciência.
– Ninha, por favor, não fale besteiras…
– Você tem se aliviado com outras mulheres? - Perguntei antes que pudesse pensar se aquela era uma pergunta adequada.
Ele arregalou os olhos, talvez por surpresa ou talvez por indignação.
– Do que caralhos você está falando? - Ele cuspiu, agora realmente puto.
– Como você está lidando com isso tão bem durante todo esse tempo? - Falei, já tremendo.
– “Tão bem”? Você não sabe o que está dizendo!
– Sei sim! Você não me toca!
– E sabe como é difícil não te tocar quando, toda noite, você tem seus sonhos e fica se esfregando em mim como uma ninfomaníaca?
Olhei-o com um misto de vergonha e indignação.
– E por que diabos você se recusa a me tocar? Porque não me pega de uma vez? Você sabe que eu quero!
– Por que você está grávida!
Fiquei em silêncio, tentando fingir que não tinha acabado de escutar aquilo. Tentei conter minha respiração, mas não adiantava. Se Bruno queria me tirar do sério, ele havia conseguido. Aquilo era para ser uma pergunta, mas saiu como um berro.
– E QUAL É A PORRA DO PROBLEMA?
– Eu não vou meter em você com a minha filha aí dentro! Se eu machucá-la…
Eu não estava mais ouvindo. Aquilo era tão absurdo, tão incrivelmente idiota, que meu cérebro simplesmente parou de processar o que quer que ele estivesse falando naquele momento. Minha ira se multiplicou por vinte ao saber que minha abstinência forçada se dava unicamente pelo fato de Bruno ser tão burro a ponto de achar que algo completamente absurdo como aquilo pudesse vir a acontecer.
– Você… Você… - Comecei, sem saber ao certo se gritava ou partia pra cima dele com uma faca - Você não pode estar falando sério…
– Se eu fizer mal a ela…
– VOCÊ NÃO PODE TOCAR NA PORRA DO BEBÊ! NEM QUE O SEU PAU TIVESSE MEIO METRO! - Berrei, querendo socar cada parte visível do corpo de Bruno.
– Não chame nossa filha de “porra”! - Ele respondeu, com um tom de voz indignado e puto, mas se forçando a não gritar no mesmo tom, porque viu que eu estava começando a perder o controle. E aquilo obviamente o deixava preocupado, por causa da nossa filha. Como sempre.
Sem pensar, e só porque não havia nada mais pesado por perto, agarrei um dos travesseiros espalhados pelo chão, ao lado da cama, e joguei com toda força na cara dele. Era óbvio que aquilo não tinha o machucado, mas de qualquer forma, fiquei feliz por poder agredi-lo de algum jeito. Nem que o resultado fosse patético,
– Idiota! - Gritei, saindo do quarto o mais rápido possível, antes que a lágrima de raiva que eu tentava conter escorresse pelo meu rosto - Você é um idiota!
Bati a porta com força, deixando-o sozinho ali.
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De repente, Amor.
Romance"Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como havia de ser, os do...