◇◇◇◇
Oi amores, tudo bem? O que estão achando da história? Tem mais coisa boa vindo por aí. Podem comentar comigo sobre qualquer coisa, respondo até perguntas pessoais. No que precisarem eu to aqui. Boa leitura!!!
◇◇◇◇O que seria uma visita rápida, apenas para dar um “alô”, se estendeu por algumas horas. Talvez porque Jhulie estivesse lá, tagarelando sobre sua gravidez e tudo que já havia aprendido com ela. Ou talvez porque Hérica insistisse para que ficássemos para o lanche da tarde, como um pretexto para manter ali a família reunida. Ou então porque não queríamos ir embora mesmo, como se uma força invisível nos prendesse ali e fizesse com que não quiséssemos ir a nenhum outro lugar ou estar na companhia de mais ninguém além daquelas pessoas. Mas como Bruno precisava saber o que havia sido feito da nossa bagagem (já que eu não sabia sequer sob a responsabilidade de quem elas estavam), saímos de lá às 19h em ponto, mesmo que Hérica insistisse para que dormíssemos por ali.
– Amanhã nos vemos outra vez, mãe. Estamos realmente a dois quarteirões de distância. São menos de cem passos.
Mas como, na cabeça doentia de Bruno, caminhar era uma tarefa excepcionalmente perigosa para uma grávida, ele não abriu mão de mais um táxi até a nossa casa. Resolvi não contrariá-lo, talvez porque estivesse cansada e com dor nas costas.
Chegamos um minuto depois. Já estava quase escurecendo. Paramos em frente a um portão de ferro cheio de detalhes, que foi aberto imediatamente por Bruno. Ao passar por ele, entramos em um jardim, e mesmo que fosse difícil enxergar bem, eu sabia que era grande - embora modesto, se comparado à casa dos Coolin.
– Pode esperar um minutinho aqui? Tenho que fazer uma coisa. - Bruno apertou minha mão com carinho, falando ao pé do meu ouvido.
– Depende. Você vai voltar? - Perguntei de maneira retórica, sentindo o cheiro maravilhoso da grama me tomar por todos os lados e me fazer quase entrar em algum tipo de transe. Ele riu.
– Um minuto.
E dizendo isso, caminhou para frente. Segui sua silhueta com os olhos, e foi só quando Bruno sumiu atrás de uma parede que me dei conta de que havia uma casa logo à nossa frente. Mas era difícil descrevê-la, já que a noite começava a cair aos poucos. O barulho de grilos estava alto. Outra vez, inspirei com força para sentir o cheiro do mato fresco. Junto com ele, pude sentir também o perfume de algumas flores noturnas. Eram doces. De um doce intenso, quase místico. Outra vez me senti bem. Foi de repente, e quando me dei conta, as imagens à minha volta iam tomando forma diante dos meus olhos. Muitos postes de luz baixos se acenderam ao mesmo tempo, alguns com luz branca e outros com luz verde. O lugar havia se materializado à minha volta, e me vi no meio do jardim mais lindo que já havia visto na vida.
Era de um verde tão vivo e intenso que parecia recém pintado. Aqui e ali, tufos de flores incrivelmente coloridas prendiam a atenção dos olhos, como se estivessem ali unicamente para dar mais vida a algo que já era belo. Alguns dos postes, agora acesos, dispunham-se em todos os lugares, distribuídos de uma forma que desse para visualizar cada canto daquele lugar.
Alguns outros alinhavam-se com uma trilha perfeita e caprichada que formava o caminho de pedras planas, pelo qual devíamos passar para que a grama se mantivesse linda e nova daquele jeito. Era mais ou menos como estar em um jardim encantado, e eu não me surpreenderia, de forma alguma, se encontrasse uma fada passeando por ali.
Olhei para frente, agora encarando a casa a poucos metros de nós, iluminada também em muitos pontos por pequenas lâmpadas presas à extensão das paredes. Como Bruno havia me dito, era mesmo menor que a casa de seus pais. Mas isso não significava, de forma alguma, que fosse pequena. Havia uma varanda com bancos clássicos e cercada por um muro baixo, que parecia, quase em sua totalidade, coberto por algum tipo de trepadeira. Dela, pendiam flores brancas muito pequenas e delicadas, fazendo um lindo contraste com o verde vivo do mato. Os bancos combinavam com o branco perfeito da casa inteira, em um estilo clássico muito parecido com o da casa de Hérica e Robert. Aqui também havia dois andares, o segundo mostrando duas janelas muito grandes e posicionadas exatamente acima do telhado que cobria a varanda, me fazendo concluir que naquela casa havia, pelo menos, dois quartos.
A porta era de madeira escura, contrastando com o tom claro da pintura. Havia uma árvore muito grande e cheia ao lado da casa, iluminada por um poste particularmente alto e forte, que se mantinha embrulhado entre os galhos tortos. Via-se, por isso, que a árvore era totalmente preenchida por flores de um rosa incrivelmente vivo. Varri os olhos outra vez pelo lugar, tentando colocar todos os pequenos detalhes juntos e vivos em minha memória. Tudo, absolutamente tudo ali era perfeito. E eu sequer havia entrado na casa.
– E então? - Ouvi uma voz outra vez ao pé do meu ouvido e senti braços me abraçando por trás. Ele chegou perto demais. O perfume de Bruno havia se misturado com todos aqueles perfumes que pesavam no ar, e tive a sensação de que, se existisse um paraíso, ele devia ser exatamente daquela forma.
– É… Eu não sei como dizer isso… - Tentei organizar os pensamentos e falhei vergonhosamente.
– Gostou?
Soltei um riso debochado. Era uma pergunta boba, para dizer o mínimo. A pergunta chegava a ser idiota.
– É humanamente impossível não gostar daqui… E “inumanamente” também. - Respondi em um tom baixo proposital, querendo que os sons do jardim continuassem mais altos que a minha voz. Era como se eu estivesse imersa em uma atmosfera de magia, e eu sabia que não estava sonhando. Nenhum sonho poderia ser tão perfeito.
– Vamos. - Bruno falou, me puxando delicadamente com uma das mãos.
Assim que passamos pela porta escura, em tom de mogno, senti o clima acolhedor, diferente do refrescante do jardim. Não era, no entanto, desagradável. As noites da Inglaterra costumavam ser frias, e ter uma casa quente para se aquecer era ideal. Olhei em volta e por um momento tudo de que tive ciência foi uma total escuridão, já que todas as luzes do interior da casa se mantinham apagadas. Mas no segundo seguinte, Bruno alcançou o interruptor e, com um clique, cinco ou seis lâmpadas se acenderam, mostrando que estávamos os dois agora em pé diante de um hall, com as escadas imediatamente à esquerda e, à direita, uma grande sala de estar.
Sem esperar, entrei no cômodo. O lugar era completamente diferente do apartamento de Bruno nos Estados Unidos. Se lá o interior dava uma impressão minimalista e completamente moderna, com toda a mobília seguindo um padrão reto e muito seco, limitando-se ao branco e preto, aqui a aparência era mais clássica, com cadeiras e poltronas fofas e acolchoadas, muito cheias de curvas, e tudo em vários tons de creme e marrom. O chão era coberto por um carpete bege fofo, o que não impedia a existência de vários tapetes menores e coloridos, embora todos puxassem para o mesmo tom. As mesas, cadeiras e móveis eram detalhadamente trabalhados, dando ao ambiente um aspecto da era vitoriana. A um canto, um enorme piano clássico de cauda se mostrava imponente em meio a tantos detalhes, na frente de uma das cortinas grandes que cobriam as janelas do mesmo tamanho. Um lustre que aparentava ser feito de minúsculos pedaços de cristais pendia do teto e iluminava tudo em volta. Havia almofadas por toda a parte, uma lareira grande e com entalhes dourados ficava à frente das poltronas e sofás. Entre eles, se estendia um tapete felpudo e de aparência confortável. Do outro lado, mais cadeiras e sofás se dispunham à frente de um móvel gigantesco, quase uma estante, apresentando, além de vários objetos de decoração antigos, uma televisão moderna e fina. E eu tinha certeza, embora não soubesse como, que aquela era a mesma tv que ficava na sala do apartamento de Bruno.
– Tudo certo. - Ouvi alguém falar, e como se tivesse sido trazida de volta, olhei para ele. Como minha expressão devia estar um pouco confusa, ele explicou - As malas. Estão todas aqui. Encarei toda a bagagem, agora disposta de forma caprichada no chão, próxima ao pé da escada. Me dei conta de que talvez demorasse alguns dias para notar a ausência dela. Ignorei-o.
Caminhei um pouco aturdida, passando por um espelho muito grande e dando dois passos para a cozinha. O chão era coberto por tábuas corridas em tom de madeira clara, tão polidas que refletiam todos os pequenos e fortes pontos de luz no teto. No centro, uma bancada muito grande com mármore mais escura era decorada em volta por seis bancos altos, fazendo dela um tipo de mesa, mas que ainda cedia lugar a uma pia grande e brilhante e um fogão de seis bocas. Havia uma fruteira enorme bem no centro, além de pequenos enfeites. As quatro paredes eram totalmente cobertas por armários e bancadas em tom de mogno.
– Gostou? Ignorei-o outra vez. Bruno tinha que parar de perguntar aquilo. O simples fato dele não ter certeza quanto à minha resposta me irritava.
Caminhei mais um pouco pelo corredor com ele atrás de mim. As lado esquerdo, uma porta se abria para o que parecia uma biblioteca-escritório, coberto de cima a baixo e de um canto a outro por estantes de madeira vazias. A grande janela na parede oposta, à mostra pelas cortinas recolhidas, mostravam uma parte do jardim que eu não havia chegado a ver. Ficava na lateral da casa. Mais adiante, outra porta mostrava uma grande sala de jantar, com uma mesa de dez lugares. Dois lustres penduravam-se do teto e, na parede ao fundo, mais uma janela mostrava o resto do jardim deixado na sala anterior. No final do hall, havia uma divisão que deixava, à direita, a ampla área de serviço. Do outro lado, era preciso ainda fazer uma curva à esquerda para entrar no recinto. Havia um tipo de bar pequeno, com algumas bebidas à mostra. Luzes amarelas em pontos muito pequenos no teto davam um tom âmbar ao lugar. Logo mais a frente, algumas cadeiras de piscina estavam dispostas em ângulos perfeitos, e depois delas, a piscina em si. Não era reta, mas sim cheia de bordas, e de um azul tão vivo que chegava a ser escuro. A escada era submersa, formada pelos mesmos azulejos do fundo. O lugar era fechado. A parede mais à esquerda era formada por portas de vidro, de correr, que mostravam o resto do jardim ainda iluminado lá fora e mais um lugar de lazer, com churrasqueira e, ao que parecia, uma mesa de sinuca. As outras paredes eram maciças e claras. O chão era formado por tábuas de madeira escura, com pequenas frestas entre elas. Pelos cantos, surgiam vasos grandes de plantas, dando um tom mais natural ao lugar. À frente da porta de vidro, uma escada dava para o andar de cima.
Não consegui raciocinar por algum tempo.
– Vamos ver o resto. - Ouvi outra vez sua voz atrás de mim, muito perto do meu ouvido. Tremi um pouco, caminhando de maneira mecânica para a escada. Chegamos ao andar de cima em um tipo de varanda para a área da piscina. Imaginei como seria uma festa naquele lugar.
Mais à frente, entramos em um corredor amplo e comprido. Havia três portas à direita. A primeira pertencia a uma suíte de casal bastante confortável e já toda mobiliada. A segunda pertencia a um banheiro social, todo em mármore claro, com absolutamente tudo que um banheiro poderia ter. A última escondia um tipo de sala de vídeo, onde uma das paredes consistia, inteiramente, em um tipo de rack com um home theater e a maior TV que eu já havia visto em toda a minha vida. A outra parede era, de um lado ao outro, ocupado por um largo e gigantesco sofá preto, de aparência incrivelmente fofa, com travesseiros por todos os lados, inclusive jogados no tapete felpudo. Era praticamente um cinema particular. Ao final do corredor ficava a escada que daria para o andar de baixo, no hall de entrada, onde nossa bagagem continuava esperando.
Exatamente em frente à sala de cinema, um corredor perpendicular mostrava mais três portas: duas do lado direito (com as janelas visíveis à frente da casa) e uma do esquerdo. Abri a primeira porta à direita e encontrei uma suíte de solteiro, neutra. Também totalmente mobiliada.
Ao abrir a segunda porta, meu coração deu um salto. As paredes do quarto eram, na sua metade superior, brancas, e na inferior, de um amarelo muito suave. Os móveis incrivelmente delicados eram tão brancos e pequenos que pareciam sujáveis e quebráveis ao menor toque. No canto mais iluminado e suspenso por dois degraus havia um berço claro coberto por um mosquiteiro elegante e branco. Em volta, vários ursos de pelúcia e bonecas de todos os tipos davam ao ambiente uma aparência de conto de fadas. Aquele quarto pertencia, definitivamente, a uma princesa.
– Amarelo é neutro. Não vamos precisar pintar de outra cor se das próximas vezes vierem meninos.
Continuei pregada ali, encarando tudo de boca aberta. Já não me importava parecer uma idiota. Eu estava deslumbrada com aquilo, e não pretendia fingir naturalidade.
– Ahn… - Ele recomeçou, já que eu continuei na mesma posição por algum tempo, talvez sem respirar - Quer ver o nosso quarto?
Não me mexi. Eu ainda analisava cada detalhe, por menor que ele fosse. O sofá com babados, a mesinha e cadeiras no estilo vitoriano, os cristais que pendiam do teto. O armário entalhado com minúcias, o tapete fofo redondo e até, meu Deus, um unicórnio colorido de balanço!
– Amor? - Bruno insistiu, talvez com medo de que eu estivesse morta. Encarei-o um pouco aturdida. - Falta o nosso quarto…
Me mexi por impulso, caminhando até a porta do outro lado da parede e abrindo-a sem esperar por ele.
Era um quarto grande. Gigantesco. Seria fácil brincar de pique-pega ali dentro. Na parede oposta, de frente para a porta, ficava a cama de casal com lençóis em tons de bege e marrom. Ela era elevada em dois degraus, dando àquela peça um efeito superior ao resto do quarto. Havia muitos travesseiros arrumados de forma reta sobre o colchão, combinando com o edredom fofo. Atrás da cabeceira, apenas uma linha fina de luz dava um ar mais iluminado e claro à parede onde a cama ficava. Duas poltronas e uma luminária grande se dispunham a um canto para leitura. A tv fina, fixada à parede à frente da cama, era maior que a da sala. A parede à esquerda era lisa, com uma porta apenas, dando para o closet quase três vezes maior que o do apartamento antigo de Bruno. Na parede à direita, uma outra porta abria-se para um banheiro igualmente grande e espaçoso, com louças e mármores que se misturavam entre tons de preto, tabaco, bege e branco. A banheira era grande e redonda e ficava em um dos cantos. O box, imediatamente ao seu lado, era espaçoso e podia comportar facilmente dez pessoas ali dentro. Havia duas pias de mármore escuro separadas, uma para cada um dos ocupantes do quarto. O vaso sanitário era da mesma mármore. Havia ainda um banco de três lugares, duas bancadas e, como se não fosse suficiente, um minúsculo jardim. Voltei para o meio do quarto, e esse processo exigiu dez passos contados. E então, parei. Eu não sabia como agir. Não sabia o que fazer ou o que dizer. Não sabia sequer para onde olhar.
– Você gostou? - Bruno repetiu. Encarei-o, agora completamente ciente da sua presença ali. Aquilo me soava como uma pergunta retórica, mas ele a fazia como quem realmente não sabia a resposta.
– Eu… - Não consegui continuar. Era necessário deixar claro o que eu estava sentindo, mas não sabia se existia uma combinação certa de palavras que me permitisse isso. Aquilo era, para dizer o mínimo, perfeito. Simplesmente perfeito. Aliás, era mais do que perfeito. Chegava a ser exagerado. Mas Bruno, com sua incrível capacidade de não entender minhas reações, se apressou em falar:
– Nós podemos mudar algumas coisas, se você quiser, claro. Só não te deixei participar porque queria fazer uma surpresa, mas podemos…
Me movi para frente sem pensar, e quando notei que o movimento me faria beijá-lo, parei a menos de um centímetro da boca dele, encarando-o nos olhos.
– Cale-se. - Falei - E não ouse mudar um único travesseiro de lugar. Eu amo, amo absolutamente tudo aqui. Cada cor, cada tecido, cada centímetro. Amo o clima, amo o estilo, amo o cheiro daqui. Amo tudo que esse lugar me faz sentir, amo o fato de você estar aqui comigo. Amo você. Amo muito você. E ainda acho que é tudo muito perfeito pra não ser um sonho. Então posso te pedir uma coisa? - Falei, olhando-o nos olhos e tomando suas duas mãos nas minhas, como se elas coubessem ali - Por favor, prometa que se eu acordar você vai estar do meu lado.
Ele sorriu diante das minhas palavras, provavelmente porque elas não faziam sentido nenhum. Mas não me importei, encarando-o como quem espera por uma resposta.
– Prometo. - Ele finalmente falou, encostando sua testa na minha.
Beijei-o uma vez, e outra vez, e repetidas vezes. Seus braços deram uma volta completa na minha cintura, me puxando mais para perto de si. Fiquei nas pontas dos pés, me esticando ao máximo para alcançar sua boca. Ele se abaixou para aprofundar o beijo. Prendi seus cabelos entre meus dedos e não o permiti que se afastasse nenhum centímetro, e foi quando todos os pelos do meu corpo já estavam eriçados que Bruno, em um movimento muito rápido, agarrou minhas pernas e fez com que elas se prendessem à sua cintura. Não ousei abrir os olhos, forçando meus sapatos com cada um dos pés e deixando-os caírem em qualquer lugar. No segundo seguinte, me senti afundar completamente no colchão macio, me perdendo no meio dos edredons. Ele se deitou sobre mim, passeando a boca pelo meu pescoço, e me senti de alguma forma protegida ali. Quando sua boca voltou à minha, me agarrei a ele com força, tentando tirar seu casaco e sua calça com um pouco de pressa.
– Já vamos estrear a cama? - Ele perguntou, rindo baixinho no meu ouvido enquanto se afastava um pouco, me dando espaço para finalmente desafivelar o maldito cinto.
– Não se você continuar com essa lerdeza…
Abri os botões e o zíper da sua calça, puxando-a de qualquer jeito para baixo, junto com a boxer. Eu sequer conseguia ver o que estava fazendo, mas sabia que se continuasse empurrando para longe todo o tecido que meus dedos tocassem, conseguiria tê-lo como eu queria: Nu. Comecei a me contorcer, tentando sair das minhas próprias roupas.
Bruno me ajudou, puxando minha calça para baixo e, ao mesmo tempo, abrindo os botões da minha camisa. Quando senti minha calcinha ser jogada em algum lugar, abri as pernas e deixei que ele se colocasse entre elas de joelhos na cama. Senti meu quadril ser suspenso por uma de suas mãos, e um segundo depois o senti entrando em mim. Durou alguns minutos. Minhas unhas e dentes pareciam ter vontade própria contra a pele dele. Pedi desculpas algumas vezes, mas desisti assim que me dei conta de que ele parecia não se importar, embora seus ombros e costas provavelmente estivessem em carne viva.
Bruno já estava se acostumando com minha libido, mas naquele momento ela estava um pouco maior: O perfume dele, misturado com o cheiro daqueles travesseiros, estava me entorpecendo de uma tal maneira que eu queria simplesmente devorá-lo. Talvez literalmente. E quanto menos eu me importava em feri-lo, mais cuidado ele tinha comigo. Embora eu desejasse profundamente que Bruno me pegasse com mais força, comecei a aceitar que sexo selvagem teria mesmo que ficar para depois da gravidez. Ao final, acabamos os dois cansados demais para levantar. Me agarrei a ele e deixei que seus dedos brincassem no meu cabelo.
– Gostou mesmo? - Ele perguntou baixinho, quebrando um longo silêncio e retomando o assunto de antes.
– Não. Não tem sauna a vapor nem quadra de tênis. - Respondi irônica, ainda de olhos fechados.
– Posso providenciar isso. Tem espaço…
– Faça isso e eu te mato. - Respondi, beliscando com vontade seu braço - Já não foi o suficiente tudo que gastou pra comprar essa mansão?
– Não gastei um centavo com a casa. Ela sempre foi minha.
Encarei-o curiosa.
– Sério?
– Sério. Jhulie e Arthur têm casas por aqui também. Eu só tive que mobiliar…
Gemi, escondendo o rosto no peito dele. Eu tinha total convicção de que a mobília, por si só, devia ter custado uma fortuna. Mas, de qualquer forma, era realmente bom saber que Bruno não havia comprado aquela casa só pra “garantir o meu conforto”, coisa que exigia muito menos que aquele palácio. Me preparei para responder alguma coisa, mas meus estômago trovejou.
– Estou com fome. - Falei, um pouco envergonhada pelo barulho. Ele se desvencilhou do meu abraço e se levantou, ficando de pé ao lado da cama e me oferecendo uma mão.
– Vamos tomar um banho. Preparo alguma coisa pra você depois.
Eu estava realmente faminta. Mas por algum motivo, Bruno me estendendo a mão, maravilhosamente nu e pronto para me dar banho parecia mais convidativo.
– Ok. - Comecei, aceitando seu apoio e me levantando - Vamos fazer uma caminhada até o banheiro. Acho que vou comprar patins pra chegar mais rápido lá. - Inexplicavelmente, ele ficou sem graça, e imediatamente me arrependi de ter feito a brincadeira.
– Podemos colocar a cama mais no canto…
– Ei… - Falei me aproximando dele de pé em cima da cama e segurando seu rosto entre as mãos - Estava brincando. É perfeito.
Ele me encarou, ainda duvidoso, e sua cara de cachorrinho abandonado me fez querer enchê-lo de beijos.
– Eu não tinha certeza quanto à decoração, quanto à pintura… Não sabia se estaria bom pra você…
– Bruno, tudo está bom pra mim, contanto que você venha incluído no pacote.
Ele sorriu como uma criança contente e beijou a ponta do meu nariz.
– Agora, vamos logo. Ainda estou com fome. - E apenas para tornar o clima mais descontraído, pulei em seu colo e, envolvendo minhas pernas na sua cintura, adicionei - Mas você me leva. É realmente muito longe.
E ele me carregou como quem carrega um bebê no colo, rumo ao tão, tão distante banheiro.
…
Havia apenas duas malas no quarto: Uma minha e outra de Bruno. As restantes permaneceram exatamente onde estiveram a noite anterior toda: Ao pé da escada. Arrumaríamos os armários depois.
– Bom dia! - Ele me recebeu com uma voz entusiasmada na cozinha, preparando algumas torradas enquanto passeava de lá para cá com um pano de prato estrategicamente dobrado sobre o ombro, dando aquele ar de cozinheiro caseiro.
– Bom dia. - Respondi ainda sonolenta, mas ao sair do corredor forrado por um carpete creme (assim como o restante da casa) e entrar na cozinha, com piso de tábua corrida, o atrito entre minha meia e o chão não foi o suficiente para me manter equilibrada. Escorreguei um pouco, patinando de forma idiota enquanto tentava restabelecer o equilíbrio e não cair. Quando consegui, me segurando na porta, olhei-o outra vez. Ele estava branco feito papel, uma das mãos estendidas com um pote de mel no ar e os olhos tão arregalados que quase saltavam das órbitas. Bruno me encarava estático, falando lentamente, em choque.
– Não… Caia…
Achei engraçado o fato de ele conseguir pronunciar aquelas palavras sem aparentemente mover nenhum músculo.
– Não caí.
– Quase caiu…
– Então… “Quase”.
Fiz menção de caminhar ao seu encontro, mas ele deu um grito estranho e agudo, então sequer cheguei a me mover.
– Porra, não me assusta assim! - Falei, querendo dar um tapa nele.
– Não… Se… Mova! - Ele falou, como se eu estivesse prestes a entrar em um campo de guerra cheio de minas terrestres. Esperei até que ele viesse até mim, me levando para fora da cozinha de volta ao carpete fofo do corredor. Ele suspirou.
– Espera aqui. Pelo amor de Deus, não entre nessa cozinha.
Bruno subiu de dois em dois degraus e eu esperei, já rindo sozinha de todo aquele drama. Quando ele voltou, trazia nas mãos duas pantufas rosa-chiclete.
– Calce isso. É emborrachado embaixo.
Eu calcei sem objeções, mas só porque estava com fome. Em situações normais, debater com Bruno sobre seus cuidados exagerados era divertido.
– No final dessa gravidez você vai estar mais grisalho, ansioso e estressado.
– Só, pelo amor de todos os santos, não se machuque.
– Ok. Posso descer pelo corrimão da escada?
Ele me encarou chocado, como se eu tivesse acabado de admitir que usava drogas.
– Estou brincando. - Falei, já com medo que ele tivesse ataques convulsivos de pânico. Não tinha como negar que eu me divertia com os exageros dele, embora isso fosse cruel. Ele realmente sofria com medo de que algo acontecesse comigo e, consequentemente, à sua filha, mas suas ideias de proteção eram tão absurdas que chegavam a ser engraçadas.
Tomamos o café da manhã preparado por Bruno bem devagar. Eu queria ver tudo outra vez, cada pequeno detalhe daquela casa agora na luz do dia, mas sabia que teria tempo de sobra para isso depois. Por isso, aproveitei os pães integrais, as geleias, os sucos e tudo mais que estava à minha disposição.
– Vamos almoçar na casa dos meus pais. Tudo bem? - Ele falou, sentando-se no banco ao meu lado e espalmando a mão na minha barriga, como sempre.
– Não vamos estrear a nossa cozinha? - Perguntei, já um pouco desanimada, mas nem tanto. Passar tempo com os Coolin sempre era divertido.
– Eu já estreei. - Ele sorriu debochado para mim.
– Mas eu não. - Fiz cara de traída.
– Podemos estrear depois. - Ele balbuciou ao pé do meu ouvido, envolvendo seu outro braço na minha cintura - Você pode me ensinar a fazer aquela sua sobremesa. Podemos comer juntos hoje à noite.
Eu sempre achei incrível a capacidade que Bruno tinha de conseguir tornar imoral com tanta rapidez uma conversa comum, fosse com palavras ou com toques, sem nem ao menos falar com todas as letras o que ele queria dizer. E o único motivo pelo qual eu não reclamava daquilo era porque eu adorava.
– Depende. - Respondi, entrando no jogo, encarando-o de forma doce mas tentando provocá-lo - Você vai comer tudo?
Ele soltou um gemido baixo, me encarando nos olhos. Bruno ainda não sabia parecer tão sedutor e “fodão” quando eu respondia às suas provocações no mesmo nível, e ao contrário, acabava se entregando.
– Vou. - Ele respondeu baixo, puxando o banco em que eu estava sentada mais para perto de si. - Como tudo se você deixar…
Com a maior naturalidade, peguei outra torrada com geléia e mordi um pedaço, fazendo cara de paisagem. Era claro que eu sempre tentava parecer casual nesses momentos, mas a verdade era que eu mesma queria sair por cima na situação. Mesmo que sua proximidade sempre me deixasse louca de vontade de dar a ele o que ele queria. E conforme a gravidez avançava mais difícil era controlar esses impulsos de jogá-lo em cima de uma mesa, arrancar suas calças e montar nele como se aquela fossa a última trepada da minha vida.
– Tudo bem. Eu te ensino a fazer hoje à noite. - Parei, encarando-o com um olhar de dona da situação, e apoiei um braço no banco onde ele estava sentado, entre suas pernas, fazendo com que meu braço tocasse propositalmente e sem a menor cerimônia seu membro já bastante animado - Mas se você deixar uma única gota…
Ele soltou outro gemido, tentando se controlar ao falar ainda mais perto da minha boca e agarrando meu braço sem se dar conta, prensando-o com ainda mais força contra seu membro:
– Não vou deixar… Você sabe disso…
Continuei encarando-o, como se o desafiasse a perder o controle.
Quando Bruno parecia prestes a implorar para me comer, fiquei de pé e me afastei.
– Ok. Vamos logo. Seus pais e seus irmãos já devem estar nos esperando.
Recolhi meu prato e meu copo, levando-os até a pia que ficava naquele mesmo balcão e comecei a lavá-los, parecendo distraída. Não o encarei outra vez, e ele não voltou a falar. Terminei de limpar as coisas, calcei minhas pantufas rosa chiclete e subi para o quarto, apressando-o a fazer o mesmo e trazer as malas quando subisse.
Não demorou muito tempo, e Bruno apareceu sem mala alguma no quarto.
– Vai mesmo me deixar assim? - Ele perguntou como se exigisse uma resposta. Me fiz de desentendida.
– “Assim” como?
– Você sabe como. Essa gravidez está te deixando cruel.
Senti vontade de rir, mas me contive.
– Não sei do que você está falando.
Ele se aproximou de mim um pouco rápido, e por um segundo imaginei que ele fosse me atacar. Mas, ao contrário, parou na minha frente e, tomando minha mão sem cuidado, forçou-a contra seu membro outra vez. Ele estava duro como uma pedra.
– Estou falando disso. - Ele disse, me olhando como se sentisse dor.
– Simples palavras conseguem fazer isso com você? - Perguntei, fingindo surpresa. Eu sabia que ele estava daquela forma sem nem mesmo precisar tocá-lo.
– Você sabe que sim.
Bruno falava como um menino triste, e aquilo era adorável.
– Bom, já estamos atrasados… - Comecei, mas fui interrompida no mesmo segundo por palavras e por mãos bastante animadas.
– Podemos nos atrasar mais um pouquinho.
– Não… - Comecei, tentando me desvencilhar dos braços e da boca dele - Controle seu tesão!
– A culpa é sua! Não me julgue!
Eu estava lutando, mas sabia que não adiantaria, simplesmente porque não estava me empenhando o suficiente. Se eu realmente deixasse claro que não queria, Bruno pararia com aquilo, mesmo contrariado. Mas seus hormônios em fúria de um menino de 17 anos estavam enfurecendo os meus próprios hormônios, até certo ponto controlados.
– Se seus pais ou seus irmãos mencionarem o nosso atraso, vou deixar claro que a culpa foi sua.
Segurei sua blusa pela gola e o virei, empurrando-o para a cama atrás de nós e pulando em cima dele como um tigre pula em cima da presa.
Conseguimos ficar prontos 1 hora depois.
Saí antes, ficando à sua espera no jardim. Àquela hora do dia, aquele lugar parecia mais brilhante e vivo do que à noite. Não era, entretanto, necessariamente mais bonito. Mas agora podia-se ver a verdadeira extensão do lugar, com seus vários arbustos fofos, flores coloridas e cheias àquela época do ano, árvores de vários tamanhos e bancos brancos espalhados aqui e ali. Tanto de dia quanto de noite, era lindo. Cada um desses momentos tinha seu charme particular.
Quando Bruno finalmente me encontrou do lado de fora da casa, deixou claro que iríamos de táxi. Ignorei-o solenemente, pegando minha bolsa e simplesmente caminhando para o portão. Ignorando também seus protestos, lembrei-o dos conselhos do Dr. Carlos relacionados à saúde, que incluíam, além de outras coisas, caminhadas curtas e exposição moderada ao sol. Ele finalmente cedeu.
A primeira coisa que ouvi de Jhulie assim que pisamos na casa dos pais de Bruno foi um “estão atrasados!”. Encarei-o com um olhar assassino, mas não estava realmente irritada.
– Tenho certeza que é justificado. - Diego começou, sempre tentando explicar as coisas - Mudanças sempre tomam muito tempo.
– Claro, amor. - Jhulie continuou, segurando carinhosamente sua mão, enquanto virava outra vez para Bruno - Da próxima vez, transe mais rápido.
Corei imediatamente, não pela provocação, mas porque era Jhulie. E Jhulie era esquisita. E sabia sempre de tudo.
– Ei, pára com isso. - Ele falou, me abraçando de forma carinhosa por trás - Está deixando a minha namorada sem graça.
Jhulie e Diego olharam para ele de uma maneira esquisita por algum tempo. Minha vergonha passou imediatamente ao lembrar de que ainda havia alguma coisa sendo escondida de mim, e aqueles olhares eram relacionados a esse mistério.
– O que foi? - Perguntei, olhando do casal para Bruno.
– Nada. - Ele respondeu, me dando um sorriso sem graça e um beijo na testa. Ignorei-o.
– Jhulie, o que foi?
– Seu namorado é um lerdo. - Ela respondeu, dando ênfase à palavra “namorado”.
– Por quê? - Insisti.
– Podemos conversar? - Ela perguntou, já puxando Bruno pela mão e se afastando com ele. Por que diabos ninguém me dizia o que estava acontecendo?
– Diego…
– Não sei de nada. Sou só o marido da bruxinha. - Ele respondeu, pedindo licença e se retirando.
E eu estava começando a ficar puta. Fiquei ali por algum tempo, talvez esperando Bruno voltar e preparando minhas perguntas.
– Anninha!
Mal ouvi a voz de Arthur e me virei para ele, segurando-o pela gola e o jogando contra a primeira parede do hall de entrada.
– O que estão escondendo de mim? - Perguntei ameaçadoramente nas pontas dos pés, conseguindo passar da altura dos ombros de Arthur. Era uma cena patética. Ele parecia um pouco surpreso, mas ainda assim, divertido.
– Escondendo? Não sei de nada!
– Sabe sim! Você está rindo!
– Não sei não. Quem está escondendo alguma coisa de você?
– Bruno! Eu sei que ele está!
– Eu juro que não faço ideia!
Soltei sua gola e ele se ajeitou outra vez, tentando esconder um sorriso debochado que insistia em aparecer nos lábios dele. Levei um susto quando Arthur falou de repente, empregando uma entonação de desespero na voz.
– Meu Deus! Ninha, será que ele vai assumir que é bicha?
Dei um soco nele.
– Ai! Por que você gosta tanto de me bater? - Ele perguntou, coçando o local socado.
– Porque você gosta de me irritar! - Respondi, já meio arrependida da agressão - Desculpa.
– Grávidas… - Ele revirou os olhos teatralmente.
– O que tem as grávidas? - Jhulie apareceu ao seu lado, quase como quem aparece em uma nuvenzinha mágica. Ela era menor que eu, principalmente ao lado de Arthur, mas de alguma forma conseguia parecer ameaçadora.
– Nada. - Ele respondeu, já andando para longe da irmã - São uns amores.
– Jhulie… - Comecei, já um pouco sem paciência - O que est…
– Ninha, quer ir ao shopping? - Ela me interrompeu, parecendo animada.
– Como é?
Bruno havia, assim como a irmã, aparecido em uma fumacinha mágica.
– Depois do almoço, claro. - Ela adicionou, sem sequer olhar para o irmão.
– Ela não pode ir ao shopping! - Ele advertiu, ignorando o fato de que Jhulie o ignorava.
– E por que não? - Arthur perguntou, curioso.
– Porque ela está grávida!
Formou-se aquele silêncio desagradável. Jhulie olhava para Bruno como quem olha para uma bactéria insignificante mas nojenta. Bruno provavelmente achava que tinha dado um argumento convincente, e Arthur simplesmente não tinha o que responder.
Escondi o rosto nas mãos, com vergonha.
– O…k…
– Então, Ninha… Quer ir? - Jhulie repetiu, fingindo que Bruno não estava ali.
– Estou falando sério, porra! Aquele shopping é cheio de gente estabanada! Imagina se alguém esbarra nela?
– É verdade, Jhulie. Alguém pode encostar na Ninha… - Arthur começou, e se eu não conhecesse seu jeito irônico de ser, pensaria que ele estava falando realmente sério. Ironicamente, Bruno não pareceu notar isso.
– Exato! E se alguma coisa acontecer a ela ou…
– Bruno, pelo amor de Deus! Vamos ver vitrines, passear, tomar sorvete e dar uma voltinha na montanha russa. Não é nada demais!
Bruno continuou olhando para ela sem expressão nenhuma.
– Jhulie… Ele está ficando verde. - Arthur concluiu - Retire o que disse.
Olhei para ele, já com vontade de rir, mas notei que seu rosto realmente tinha um tom esverdeado.
– Jhulie, podemos ir ao shopping amanhã? Tenho que convencê-lo primeiro. - Falei, já um pouco preocupada com sua aparência. Ela suspirou.
– Tudo bem. - E olhando para ele, falou, antes de sair: - Bocó.
Arthur a seguiu, fazendo cara de enterro.
– Eu sempre te disse que essa sua preocupação era exagerada…
– Não me importo com o que eles pensam. Por favor, não vá ao shopping com ela. - Ele implorou, fazendo cara de cãozinho abandonado ao pedir aquilo.
– Bruno, ela estava brincando! É claro que não vamos na montanha russa.
– Amor, Jhulie é louca. Eu não duvido de absolutamente nada que ela fala…
– Bom, se ela é louca, eu não sou. Você tem que parar com essa neurose, e estou falando sério. Eu sei dizer o que é perigoso ou não, e da mesma forma que você não colocaria nossa filha em risco, eu também não faria isso. Não sou incapaz de tomar conta de mim mesma, e seu exagero soa como desconfiança.
– Eu confio em você! - Ele disse, um pouco desesperado.
– Não é o que parece. Eu não sou uma criança, então, por favor, pare de querer decidir as coisas por mim.
Ele procurou, ainda por alguns segundos, algo para responder. Quando finalmente se deu conta de que seu acervo de argumentos havia se esgotado, suspirou e fez cara de triste.
– Sabem… - Hérica surgiu na escada, descendo degrau por degrau de forma graciosa - Quando minha neta chega na minha casa, eu espero ser avisada.
Ela desceu o último degrau e olhou de cara feia para Bruno, como se ele fosse o culpado. Depois voltou a sorrir, me abraçando de forma carinhosa e colocando a mão gentilmente na minha barriga.
– Gostou da casa? - Ela perguntou.
– Não tinha como não gostar. É maravilhosa.
– Tenho que ir lá um dia. Robert escondeu de mim que estava mobiliando a casa a mando de Bruno.
– Pode aparecer lá quando quiser… Certo? - E, de repente, olhei para ele, sem querer pedindo permissão para dizer aquilo. Ainda era difícil aceitar aquela casa como minha, e convidar alguém a entrar nela parecia errado sem o consentimento do verdadeiro dono.
– É claro. - Bruno disse com algum desagrado por entender minha hesitação. Hérica foi abraçar o filho, desistindo da ideia de parecer ofendida com ele.
Fomos para a cozinha junto com ela, com o único intuito de conversar. Encontramos ali a cozinheira que eu lembrava ser um pouco mal humorada. Fiquei em um canto, com medo dela. Hérica falou dos preparativos para a festa de aniversário de Robert, que seria na noite do dia seguinte àquele. Seria, como sempre havia sido, uma festa ao ar livre para a família, amigos do trabalho e alguns vizinhos. O enorme jardim seria decorado com mesas, cadeiras, bancos e luzes para a ocasião, e garçons iriam e viriam distribuindo champagne e bebidas não alcoólicas, comidas salgadas de diversos tipos e sobremesas por entre as mesas gigantes, cheias de convidados. Seria aquele tipo de festa que pessoas ricas costumam fazer, e às quais eu nunca tinha estado presente.
Jhulie entrou na cozinha e perguntou à cozinheira se ela queria ajuda. A mulher olhou de cara feia para ela, como quem dissesse “sou capaz de fazer meu trabalho muito bem, obrigada”, mas Jhulie não deu a mínima importância, retribuindo com uma careta. A mulher riu, e eu fiquei surpresa.
Ficamos conversando, os quatro, esperando o almoço sair. Diego e Arthur pareciam estar jogando videogame em algum lugar da casa, e mesmo que eu insistisse para que Bruno se juntasse a eles (já que os assuntos naquela cozinha eram todos relacionados a gravidez, o que obviamente era pouquíssimo interessante para homens), ele insistia em ficar ali. Mesmo sem ter nada a dizer. Era como se ele tivesse medo de me deixar sozinha com as pessoas. Bruno estava começando a parecer mais esquisito que Jhulie.
– Fome! Tenho fome! Parem de tricotar e façam nossa comida, mulheres! - Arthur irrompeu a cozinha, gritando e assustando todo mundo, imitando um vicking enquanto falava. A cozinheira, que havia inclusive entrado na conversa da gravidez e parecia, agora, um pouco mais humana e menos ameaçadora, lançou um olhar assassino para Arthur. Ele imitou um vicking outra vez, fingindo não ter medo dela.
– Você já começou a arrumar lá fora? - Hérica perguntou, muito calma.
– Diego e eu estávamos jogando…
– Então não vai almoçar.
– Porra, mãe!
Ver Hérica tratando Arthur como um menino de sete anos que não tinha feito o dever de casa e, por isso, ficaria de castigo, era não só engraçado, como também surpreendentemente adorável. Fiz força para não rir e deixá-lo ainda mais contrariado.
– Seu jeito brutamontes tem que servir de alguma coisa. - Jhulie disse, mexendo em uma cesta de pães sem muito interesse.
– A festa é só amanhã à noite. Vou ter tempo de sobra para distribuir aquelas mesas pelo jardim.
– Você sabe quantas mesas e quantas cadeiras são? - Hérica provocou.
– Mais ou menos o mesmo número de todos os anos, certo?
– E você sabe quanto é isso?
– Sei o suficiente pra dizer que dou conta do trabalho. - Arthur falou com cara de dono da situação.
– Então você me dá a sua palavra de que tudo vai estar arrumado pra hora da arrumação dos talheres, pratos, arranjos de flores e tudo mais?
– Claro que sim.
– Ok. - Hérica finalizou com uma certeza de vitória disfarçada, e então tive uma estranha sensação de que Arthur não conseguiria fazer o que disse que faria.
Jhulie tomava um suco rico em proteínas, vitaminas e mais sabe-se lá Deus o quê, e me perguntei se ela se entupia daquilo porque estava ficando neurótica com a saúde do filho ou porque gostava mesmo de maçã. De qualquer forma, era assustador observar a quantidade de líquido que seu pequeno corpo comportava, mesmo na gravidez, tanto durante todo o almoço como agora, descansando na sala de estar.
Diego estava sentado ao seu lado, servindo quase como um grande travesseiro para o conforto dela. Bruno estava sentado em uma das poltronas gigantes que havia na sala, capaz de comportar facilmente duas de mim, mesmo grávida. Ele me puxou com cuidado e me fez sentar entre suas pernas, enquanto tomava um licor de alguma coisa e escutava Arthur, com uma garrafa de cerveja na mão, dizer que aquilo era coisa de gente fresca.
– E você, querida? Não quer beber nada? - Hérica perguntou, tocando meu braço suavemente, e todo mundo se assustou com o berro de Arthur.
– VOCÊ É MALUCA, MULHER? ELA ESTÁ GRÁVIDA!
Demorou um pouco até entendermos que aquilo era mais uma forma de tirar sarro da cara de Bruno.
Tirei o pequeno copo vazio de sua mão antes que ele arremessasse no irmão e coloquei na mesinha baixa ao nosso lado. Hérica ignorou Arthur e continuou contando como seus almoços eram solitários, já que Robert só voltava do trabalho à noite (às vezes de madrugada), e como ficava feliz em ter a casa cheia de gente. Principalmente porque essa “gente” era a família que ela raramente via e da qual tanto sentia falta. Imaginei que talvez meus almoços começariam a parecer muito com os dela, e que talvez pudéssemos fazer companhia uma à outra.
O clima estava agradável e a conversa parecia uma canção de ninar nos meus ouvidos, me embalando enquanto Bruno passeava de um lado para o outro sua mão espalmada e seus dedos pela minha barriga de forma despreocupada. Somado àquilo, o peso da comida me fazia parecer estar à beira da inconsciência, embora fosse possível que alguma coisa servida naquele almoço não tivesse me feito lá muito bem.
Foi quando estava prestes a adormecer recostada nele que senti uma coisa que me fez acordar imediatamente. Fiquei parada, esperando por algo, embora não soubesse o quê. Talvez sentir aquilo de novo. Talvez Bruno se manifestar. Olhei em volta e vi Hérica nos encarando de forma estranha. Não falei nada. Continuei imóvel, tendo a sensação de que aquilo aconteceria outra vez. As mãos dele já não passeavam mais pela minha barriga: Agora estavam imóveis, esperando pelo que eu esperava também.
– O que foi? - Diego perguntou, também curioso.
VOCÊ ESTÁ LENDO
De repente, Amor.
Romance"Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como havia de ser, os do...