Mel.
Como se um filme se passasse em minha cabeça. É sempre assim. Sempre quando perdemos alguém importante é como se um filme de todos os momentos felizes que você viveu com essa pessoa se passassem em sua mente. Foi assim com a minha mãe. Eu me lembro de não entender o que estava acontecendo, na época eu era muito criança, não entendia direito, não conhecia a morte de perto. Foi difícil para eu entender, e aceitar que eu não a veria de novo, que ela tinha ido para nunca mais voltar. Meus avós me confortaram do melhor jeito possível. Mesmo sofrendo eu ainda tinha os dois comigo. Quando minha avó se foi eu entendia melhor, eu sofri junto com ela, junto com meu avô, vi o quanto ele ficou abalado por perder o amor da sua vida, sua companheira de anos. Nós confortamos um ao outro. Eu não quero perder meu avô. Eu não vou ter ninguém para me confortar. Eu vou estar sozinha.
Eu estou sendo egoísta?
Talvez sim. Mas eu não posso evitar, é mais forte que eu. Não é pecado nenhum querer alguém para dividir a carga.
Eu estou tão envolvida em meus pensamentos que eu quase me esqueci de que Julia está aqui ao meu lado. Julia está calada. Eu também estou. Meus pensamentos estão a mil. Eu sei que ninguém vive para sempre, mas mesmo sabendo disso, nós nunca estamos preparados para perder ninguém. É sempre muito doloroso.
Estaciono o carro em frente ao restaurante.
– Você está mais calma? - A voz de Julia invade meus pensamentos.
Me viro para ela.
– Eu estou ótima, de verdade. – Forço um sorriso para ela. – Não se preocupe comigo. A Ruth serviu para eu descarregar as energias! - Digo piscando tentando desfazer a atmosfera pesada que está em meu encalço desde que sai do consultório do doutor Carlos.
Ela sorri para mim.
Não é que eu não considere Julia ou Ana como da minha família. Elas são, e sempre vão ser, mas elas têm sua própria família. Ana tem duas irmãs, ela tem sobrinhos, Julia tem primos. Eu tenho o meu avô e mais ninguém. Eu não conheço meu pai, meus avós só tiveram uma filha – minha mãe. E minha mãe teve apenas eu.
– Que bom que chegaram – Diz Ana vindo até nós assim que entramos no restaurante. Ela seca as mãos no avental. – Seu avô já chegou. Ele está lá atrás com o Fernando. – Diz Ana num fôlego só. Ela avalia meu rosto. – Pela sua cara já vejo que sua conversa com o Carlos não foi nada boa.
Julia solta um risinho.
– Se você soubesse. – Ela diz colocando a mão na boca. Como se não devesse dizer nada.
– Aconteceu alguma coisa? – Ana pergunta com as mãos na cintura.
Tenho que revirar os olhos para isso. Eu conheço bem o lugar onde eu nasci. O povo daqui parece não ter mais nada de interessante para fazer na vida além de falar da vida alheia. Meu nome já deve estar na boca de todo mundo a essa altura.
– A Mel pegou a Ruth de jeito, e deu uns belos de uns tapas nela. – Diz Julia rindo como se isso a tivesse deixado muito feliz. - Foi tão legal tia! A Mel realmente fez ela calar a boca!
Não posso reprimir o orgulho que sinto do que fiz.
Aquela vadia mereceu!
Ana arregala os olhos em minha direção.
– Por que você fez isso? – Ela pergunta de cara feia.
– Ela me provocou. E eu não estou num dia bom. – Digo me defendendo.
– Isso não é motivo Mel, vocês duas já não são mais crianças para continuar com essa briga. – Ela me repreende. - Eu não posso deixar mais vocês sairem sozinhas? É isso? Que vocês fazem bagunça?
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Sob Minha Pele
RomanceMel, é uma garota tímida e estudiosa que vive no interior da Espanha. Ela leva uma vida tranquila com seu avô e com todos os que a cercam, e a conhecem desde criança, porém isso pode mudar assim que John Ackes chega à cidade. O que pareceu ser ódio...