Capítulo 14

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Mel.

Estamos a caminho da cidade. Julia está vendo alguma coisa no celular. Eu estou dirigindo. Minha cabeça está a mil. Eu venho percebendo a alguns dias que meu avô não está bem. Antes ele não saia do restaurante. Agora sempre que eu o procuro ele está no escritório, ou em qualquer outro lugar isolado.

Alguma coisa me diz que tem algo errado.

– Você quer que eu vá com você até o consultório? – Pergunta Julia. Sua voz está hesitante e ansiosa. Ela também se preocupa com ele.

– Eu preferiria que você fosse ao mercado. Eu vou lá rápido, e depois nós vamos à farmácia. Pode ser? – Pergunto sem tirar os olhos da estrada.

Talvez meu avô já tenha ido para casa. Quanto menos tempo eu demorar por aqui, mais rápido eu chego em casa. Estou preocupada com ele.

E ainda tem esse mau pressentimento.

– Tudo bem. Mas, você vai ter que me contar tudinho depois. - Diz Julia me fitanco a espera de uma confirmação.

Faço que sim com a cabeça.

A cidade não é muito diferente de onde eu vivo. A diferença é que aqui tem um cinema, fast-foods, Lojas, supermercados, farmácias. Muita coisa por aqui, mas tudo com o mesmo ar pitoresco, as mesmas pessoas simples.

Deixo Julia em frente ao supermercado.

– Eu venho te buscar o mais rápido possível. – Digo para ela por sobre a janela. - Vou tentar não demorar muito.

– Tudo bem. – Ela acena se despedindo.

O consultório do doutor Carlos Alvarez fica a uns cinco minutos do supermercado. Ele foi o mesmo médico que tratou minha avó até o seu ultimo minuto. Nós confiamos muito nele. Estaciono o carro, e vou em direção à entrada. O consultório fica no segundo andar do prédio. Tem um aviso no elevador dizendo que está quebrado. Pego as escadas. 

Assim que passo pela entrada já avisto Clara. Clara é a secretário do doutor. Uma mulher de um pouco mais de quarenta anos. Cabelos curtos e loiros encaracolados na altura do ombro. Seus olhos são muito amigáveis. Assim como tudo nela.

– Olá Mel. - Ela diz sorrindo. - Quanto tempo que eu não te vejo! Também faz tempo que não vou por aquelas bandas! - Diz com seu sotaque arrastado do interior.

Forço um sorriso para ela.

Uma pena eu encontra-lá em um dia em que eu não estou para muitos amigos.

– Como vai Clara? – Pergunto tentando ser gentil.

– Trabalhando muito. Como sempre. – Ela revira os olhos. - Você deveria aparecer mais vezes.

Clara estudou junto com a minha mãe. Elas eram muito amigas.

– O doutor está ai? – Pergunto mudando de assunto.

– Ele está com um paciente agora, mas já faz um tempo. Acho que logo, logo ele vai estar livre. Se você quiser esperar. – Ela diz muito gentil.

– Eu vou esperar. – Digo decidida.

Sento-me em um dos bancos. Meus pensamentos me levam a mil lugares. Logo quando as coisas parecem se acertar, alguma coisa aparece para dar uma rasteira.

– Clara, você sabe se meu avô veio até aqui hoje? – Pergunto curiosa.

Se ele esteve, ela com toda a certeza o viu!

Sob Minha PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora