Capítulo 56

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Mel.

Quando eu era criança eu costumava vir até o lago com a minha mãe. Antes de ela decidir que o melhor para nós duas seria morarmos sozinhas. Meus avós achavam que por ela ser muito nova ela não saberia como tomar conta de mim, me lembro de que foi ai que ela decidiu que as coisas mudariam.

Ela queria ser a minha mãe, sem restrições.

No dia do acidente nós havíamos passado a tarde inteira aqui, antes de ela receber o chamado e ter que sair às pressas à noite. Ela me trazia aqui, e nós passávamos a tarde juntas muitas e muitas vezes. Ela lia histórias para mim, acariciava meu cabelo, beijava meu rosto, e me dizia que esse era o seu lugar preferido no mundo, e foi naquele momento que também se tornou o meu. Uma parte minha achava que minhas boas lembranças deste lugar haviam morrido junto com ela. Até John aparecer. Eu nunca disse para ele, e nem para ninguém antes dele, mas no dia em que ele me trouxe aqui outra vez eu vi que eu poderia fazer novas lembranças aqui, lembranças tão bonitas quanto às antigas, mesmo que depois elas tenham doído também, talvez na mesma intensidade. Porém outra vez ele está me mostrando que mesmo que elas doam depois, vale a pena vivê-las.

E agora eu estou assistindo a mais bonita de todas.

Max corre sem conter as gargalhadas. Não me lembro de nunca tê-lo visto tão alegre antes. Ele nunca foi uma criança muito tímida, mas ele também não é de se apegar de primeira. Seu cabelo cor de ouro fica de uma cor linda quando banhado pela luz do sol.

Ele o chamou de papai!

Eu gostaria de saber como isso aconteceu. Eu gostaria de tê-lo visto conversar com ele, de dizer tudo a ele.

Antes de tudo acontecer eu costumava imaginar como seria ter uma família com John. Ele tem os pais, tem uma irmã, me lembro de pensar o quanto isso seria maravilhoso. Ter uma família só minha. Acho que é isso o que temos agora.

Mesmo que estejamos um pouco quebrados...

Não posso pensar assim. Não agora, quando tudo parece tão perfeito. Parece um sonho. John ergue Max para cima e o gira no ar. Os gritinhos de felicidade do meu filho puxam as cordas do meu coração.

Sorrio.

É maravilhoso vê-los assim.

Fiquei tanto tempo com meus pensamentos que quase não me dei conta de Max correndo até mim como um mini foguete. Dou um passo para trás para tentar amortecer o impacto mais é tarde de mais. Perco o equilíbrio quando ele se joga em meus braços e caio de bunda no chão. Max gargalha como se tudo fosse muito divertido.

Acho que não doeu em nada nele.

Deixo-me cair na grama e o abraço forte em meus braços. Max deita a cabeça em meu peito. Fecho meus olhos e me permito desfrutar do momento. Não quero que isso acabe. Queria poder ficar aqui para sempre.

Nós três.

Não sei por que estou pensando nisso. Eu sei que não vai se realizar. Ele vai embora. Isso é questão de dias. Eu não deveria sonhar tanto.

Eu já deveria ter me acostumado...

Todo mundo sempre se vai.

Por que eu nunca aprendo?

Ouço um click. Abro meus olhos e a luz não me permite ver nada. Coloco um braço sobre o rosto. John está com uma câmera fotográfica em mãos. Sorrio. Típico dele.

— Você não para com essa mania, não é? – Pergunto sem conseguir disfarçar o quanto isso me deixa encantada.

— Você não pode me julgar. É o momento perfeito para se criar memórias, e porque não preservá-las? Assim. – Diz apontando para a câmera de um jeito descontraído. – Você é linda. Sempre foi. Eu passaria a eternidade te fotografando sem reclamar nem uma vez sequer. – Eu vejo algo em seus olhos que eu não gostaria de poder enxergar. Talvez se eu não visse, eu não permitiria que ele me invadisse outra vez. – Você e nosso filho desse jeito, é demais para mim. – Termina afetado.

Sob Minha PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora