Capítulo 46

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Mel.

Não sei direito há quanto tempo eu estou sentada nesta cadeira, em um corredor frio e vazio. Eu não sei o que eu devo fazer a seguir. Eu estou tão perdida agora. Eu achei que tudo o que havia acontecido em minha vida já tinha destruído o meu coração. Eu achei que já tinha sentido a pior dor de todas. Eu fui inocente. Nem em um milhão de anos eu estaria preparada para sentir o que eu estou sentindo agora. Eu sinto um nó em minha garganta, e por mais que eu me esforce eu não consigo desatá-lo.

Eu estou encarando a janela a minha frente, encarando as estrelas que brilham no céu. Levanto-me devagar sem nunca tirar meus olhos delas. Apoiando minhas mãos eu encaro o céu escuro e estrelado com lágrimas nos olhos.

Será que estão todos lá em cima?

Minha mãe? Minha avó? Meu avô?

Se toda a minha família está lá, porque eu ainda estou aqui?

Sozinha?

Eu não suporto essa palavra.

Por que todas as pessoas que eu amo sempre me deixam? Sempre me abandonam? Eu estou tão cansada de sempre ser deixada para trás. Por que elas não podem simplesmente ficar comigo? Por que essa necessidade de sempre quebrar o meu coração?

Passo minhas mãos pelo meu rosto tentando secar as lágrimas. Eu ainda não liguei para ninguém. Eu não sei o que dizer. Eu não posso consolar ninguém, e ninguém poderá me consolar. A única pessoa que podia não está mais aqui comigo.

Apenas ao me lembrar do que aconteceu eu já sinto meu estômago embrulhar. Eu já sinto minhas pernas cederem. Meu mundo desabando. Restando apenas a minha ilha de sofrimento, de onde eu acho que nunca poderei escapar.

Não restou ninguém.

Se não fosse Max eu acho que eu não sobreviveria. Meu filho é a única coisa que me restou. É a única coisa a qual eu posso me agarrar e nunca mais soltar. A única coisa a qual eu tenho certeza que não vou perder.

Volto a me sentar na cadeira desconfortável. Enterro meu rosto em minhas mãos. Deixando que toda a minha angustia seja colocada para fora. Talvez se eu apenas chorar eu me sinta melhor. Talvez se eu apenas chorar...

Os soluços estão cada vez mais fortes, e mais altos. Eu acabei de perder minha única família. E isso está doendo demais. Está machucando demais. Fecho os meus olhos e consigo ver meu avô à minha frente. Consigo ouvir seu último suspiro. Eu vi em seus olhos que ele não estava assustado. Acho que ele já estava preparado. Mas eu não estava. Tenho certeza de que ele pôde ver isso nos meus, e mesmo assim me deixou.

A raiva se mistura a dor, e eu sinto outra parte minha morrer. Elas estão morrendo aos poucos. Eu posso sentir eu mesma escorrer.

Sumir.

— Mel! – Alguém me chama.

Ergo os olhos e me deparo com Rafael vindo em minha direção. O rosto aflito. Levanto-me e jogo meus braços ao redor de seu pescoço. Eu choro. Um choro sofrido e incontrolável. Ele acaricia minhas costas. Seus braços me apertam com força. Eu só preciso me sentir segura. Isolada.

— Vai ficar tudo bem. – Ele murmura com os lábios colados ao meu cabelo.

— Não, não vai. – Choramingo sem reconhecer minha própria voz. Quebrada. – Meu avô se foi Rafael. Eu estou sozinha.

Rafael engole em seco. Seus braços me apertam mais.

— Você não está sozinha. Lembre-se que Max precisa de você, ele é sua família. Ana também, Julia, Gabriel. – Ele acaricia meu rosto com delicadeza e ergue meu rosto até que meus olhos se encontrem com os seus. – E você também me tem. Enquanto você me quiser eu vou estar ao seu lado. – Eu posso sentir o carinho irradiar de suas palavras e atingirem direto o meu coração.

Sob Minha PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora