Capítulo 48

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John.

O dia tem sido produtivo, mas também muito chato. Burocracias precisam ser resolvidas. Papéis precisam ser assinados, reuniões precisam ser feitas. Eu apenas estou contando os minutos até que eu finalmente possa ir embora. Samuel está a minha frente me mostrando os últimos ajustes das construções.

Isso parece nunca ter fim...

— Talvez se tudo der certo daqui a uns cinco meses os imóveis já estarão prontos para venda. – Diz Samuel orgulhoso.

Ele é um funcionário valioso. Sabe se impor, e nunca me decepciona. E também não reclama – com frequência – das horas trabalhadas.

Desde que assumi o lugar do meu pai na presidência eu percebi que dirigir uma empresa desse porte poderia ser tudo, menos fácil. Isso apenas me faz ter mais orgulho do meu pai, orgulho de tudo o que ele conquistou.

— Então por hoje é só? – Pergunto torcendo para que a resposta seja sim.

Já são seis horas da tarde, e eu estou aqui desde as oito da manhã. Eu nunca tenho hora para entrar e nem para sair. Eu até que gosto de preencher todo o meu dia com trabalho, mas especialmente hoje tudo o que eu quero é chegar logo em casa.

— Claro! Por hoje é só! Não vou mais te aborrecer com isso, mas antes de ir, eu preciso que você dê uma olhada na papelada do próximo projeto. Acho que você não vai gostar muito. – Diz fazendo uma careta.

Suspiro cansado.

— Deixe aqui comigo e eu dou uma olhada nesses papéis em casa. – Resmungo mal humorado. Sei bem do que ele está falando. Mas não quero pensar muito no assunto.

Tudo o que eu quero agora é ir para casa, tomar um bom banho e dormir. Sozinho.

— Tudo bem.

Depois que Samuel sai da minha sala eu me preparo para encerrar o expediente. Meu apartamento fica há uns vinte minutos daqui, então às vezes eu gosto de ir andando, me ajuda a pensar, e a tirar um pouco do peso do cansaço das minhas costas. Porém hoje não será possível. Está chovendo. O clima está tão frio quanto o meu coração, tão nublado quanto o meu humor. E eu venho sendo assim por muito tempo. Nada parece me agradar, por mais que as coisas venham sendo muito boas no mundo dos negócios, eu não consigo me sentir inteiramente feliz. É como se isso não fosse possível. Acho que nunca será novamente.

Eu deixei a minha felicidade escorrer por entre meus dedos, e não consegui agarrá-la.

Não gosto de pensar no passado, por isso coloco toda a minha energia em meu trabalho, isso evita que meus pensamentos voem livres até um lugar no meio do nada. Evitam que meus pensamentos voem até a garota para quem eu entreguei meu coração e que ainda não me devolveu.

Eu estava conseguindo. Com bastante esforço eu estava conseguindo. Mas isso foi até a reunião passada. Foi como se o tapete fosse tirado de baixo dos meus pés...

O elevador desce rápido, sem muitas interrupções.

— Boa noite, senhor Ackes. – Me cumprimenta Natanael o segurança do turno da noite.

— Boa noite. – Respondo com um sorriso amarelo no rosto.

A chuva fria cai lenta e melancólica do lado de fora. Aperto meu casaco para evitar que o frio me penetre. O manobrista está a minha espera com a porta do carro aberta. Corro até ele tentando evitar que a chuva me molhe muito.

O trânsito parece estar pior do que o costume, graças à chuva. Pessoas correm para todos os lados na calçada, outras procuram desesperadas por um táxi, outros procuram desesperadamente por um lugar coberto.

Sob Minha PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora