Capítulo 34

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Mel.


Passei a noite toda rolando na cama sem conseguir dormir. Eu não queria fechar meus olhos e vê-lo. Eu não quero fechar meus olhos e pensar que tudo poderia ser diferente. Que eu estaria com ele, provavelmente decidindo as coisas da cerimônia de casamento. Iríamos ficar juntos para sempre. Eu não tenho como descrever a tristeza que me invade ao lembrar que ele foi embora. Sem mim. Me odiando. E o pior? O pior é que eu não o culpo. Mas também não culpo à mim. Nós apenas nos desencontramos. Estávamos em momentos diferentes. E ele não quis esperar por mim.

- Você ainda não me parece muito bem. - Diz Ana me encarando com os olhos estreitos. - Você sempre foi branca demais, e eu sempre disse isso, mas por deus Mel! Você está parecendo uma assombração.

- Eu estou bem. - Murmuro já cansada de ter que ouvir a mesma coisa a todo instante.

Estamos na cozinha passando o tempo. Já passa das 15:00 então o horário de almoço já passou. De repente me bateu uma preguiça inimaginável. Estou sentada em uma cadeira enquanto me abano com um prato de plástico tentando - em vão - me livrar desse calor infernal.

- Você deveria ir ao médico. - Ana me adverte. - Você anda muito estranha desde que John foi embora. E isso já faz duas semanas. Você pode fingir para todo mundo, mas para mim não.

Ana se senta na cadeira em frente a minha.

- Eu não estou mentindo para ninguém. - Me defendo. Desvio os olhos dos seus. Não consigo fingir nada os encarando.

Ana sempre me acolheu e meu todo o amor do mundo.

- Está sim. Você acha que eu não te ouço chorar pelos cantos quando está sozinha? - Ana arqueia uma sobrancelha. - Você acha que eu não percebo a tristeza no seu rosto. Eu via vocês juntos. Sei que se gostavam de verdade.

Eu não tinha ideia de que estava tão na cara. Eu apenas não consigo evitar estar triste a todo instante. Sentir falta dele a todo instante. É difícil esquecer. Eu nunca havia vivido nada parecido antes.

- Eu só não entendo porque ele foi embora tão de repente.- Ana está pensativa.

Às vezes eu me esqueço que os nossos planos eram feitos quando estávamos sozinhos. Enrolados nos lençóis. Enrolados um no outro. Sem ninguém para testemunhar.

- Ele me pediu em casamento. - Murmuro fitando a toalha vermelha de mesa à minha frente.

Mesmo sem olhar eu sei que isso a surpreendeu. Ela parou de falar por alguns minutos. Isso é raro. Eu a choquei.

- E você disse que não? - Ana rompe o silêncio.

- Eu disse que sim. - Confesso mirando meus dedos.

Lembranças daquele momento me invadem e me trazem um pouco de consolo. Pois eu sei que como eu não posso apagá-las, ele também não poderá. As lembranças irão o assombrar para sempre, assim como irão assombrar a mim.

- Quando foi isso? - Ela pergunta boquiaberta.


Levanto meus olhos e seu rosto está perplexo. Parece até que eu acabei de dizer que o céu é rosa.

- Um pouco antes dele viajar para Madri. - Confesso. - Nós já estávamos fazendo planos. Mas eu queria conversar pessoalmente com o meu avô porque...

- Por que você iria embora. - Diz Ana num fio de voz completando meus pensamentos. Seus olhos estão brilhando como se que por alguns segundos a minha dor a tivesse atingido também.

- Eu não podia ir embora agora Ana. - Digo com a voz entrecortada. - Eu não poderia deixar o meu avô. Mesmo por ele. Mesmo o amando muito, mesmo me matando deixá-lo ir. Mesmo correndo o risco de nunca mais vê-lo. Eu não poderia dar as costas ao homem que sempre cuidou de mim. Principalmente num momento desses.

Sob Minha PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora