Mel.
Acho que Ana bebeu demais. Ela não fala coisa com coisa. Já são uma hora da manhã e a maioria do pessoal já foi embora. Meu avô está se despedindo dos que ainda estão aqui. E eu estou tentando convencer Ana a ir dormir. Na verdade eu e Julia estamos.
E isso não me parece muito bom. Da última vez ela ficou dois dias com uma enxaqueca infernal. Mas quem consegue segurar Ana quando ela quer fazer algo? Ela simplesmente vai lá e faz!
– Eu tenho que arrumar essa bagunça. – Diz Ana meio embaralhada, quase tropeçando em seus próprios pés.
Eu estava ocupada demais eu meu estado de torpor momentâneo, pelos meus segundos nos braços de John, que nem ao menos percebi ela virando todas as garrafas de vinho que ela via pela frente.
– Ana, você não está bem. Eu dou conta. – Eu digo tentando a convencer. - Acho melhor você ir se deitar.
– Tia, você vai acabar dormindo aqui no meio do chão. Vamos para o quarto eu cuido de você. – Diz Julia enquanto a segura pelo braço.
– Mas... – Ela gagueja. - Mas é o meu trabalho! Eu tenho que fazer o meu trabalho! - Ela diz agitada.
Julia tem razão. Ela vai acabar dormindo no chão. Posso ver o quanto suas pálpebras estão pesadas. Ela mal consegue manter os olhos abertos.
Sabe o que é mais engraçado? É que no outro dia ela nem sequer se lembra de nada. E ainda age como se fosse invenção nossa.
De repente meu avô decide se apresentar a nossa pequena confusão. E eu tenho certeza de que ele vai dar um jeito em tudo. Ele sempre dá a última palavra.
– Mas nada. – Interrompe meu avô com sua voz grave. Eu disse. - Vá dormir. A bagunça não vai fugir. Ela vai continuar aqui pela manhã. – Diz ele num tom de que a conversa está encerrada.
Ana bufa frustrada.
Julia e eu damos risinhos.
Quem não conhece meu avô muito bem pode achar que ele é um homem rabugento, e mal humorado. Porém, quem o conhece bem, - como eu, - sabe que isso não passa de uma casca. Por dentro ele tem o mais mole dos corações.
– Tudo bem. – Diz derrotada. - Mas nem pense em arrumar tudo isso sozinha dona Mel! Amanhã nós fazemos isso. Como disse o seu avô 'a bagunça não vai fugir'.
Talvez eu devesse dizer a ela que eu realmente não estava pretendendo cuidar disso tudo sozinha. Festas são ótimas. Entretanto a bagunça que fica para trás depois, é um desastre.
Julia sai segurando Ana pelos ombros, porém de repente ela para em seu caminho e me encara com um sorrisinho de canto de boca.
– Boa sorte. – Ela cochicha para mim, como um segredo.
Ela sabe que ele virá.
Ela sabe que ele quer falar comigo.
E neste momento eu estou tentando não pensar no quanto eu estou nervosa. E tentando não pensar também no quanto eu vou ficar mais nervosa ainda quando ele estiver em minha frente. Nós dois, sozinhos. Ai meu deus...
Meu avô está me encarando de uma forma estranha.
– Você vai dormir agora? – Ele pergunta contendo um bocejo.
Nem se eu quisesse eu conseguiria dormir agora!
Posso ver que ele está cansado. Festas sempre o deixam exausto.
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Sob Minha Pele
RomanceMel, é uma garota tímida e estudiosa que vive no interior da Espanha. Ela leva uma vida tranquila com seu avô e com todos os que a cercam, e a conhecem desde criança, porém isso pode mudar assim que John Ackes chega à cidade. O que pareceu ser ódio...