Capítulo 21

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Mel.

O silêncio toma conta do quarto. Eu consigo ouvir o som do vento, que se assemelha muito a uma música, lenta e muito prazerosa. Consigo ouvir também a respiração baixa de John. Estou deitada de barriga para cima, John está dormindo sobre mim, sua cabeça apoiada em meu peito. Ele dorme. Tranquilamente. Passo minha mãos por entre suas madeixas sedosas. Seu cabelo é tão macio. Lembro-me de sua foto, a que ele me mostrou, de quando ele era criança, seu cabelo é mais escuro agora, mesmo sendo muito mais claro que o meu. Nós fazemos um contraste. Somos perfeitos um para o outro.

Ele se mexe um pouco, enfia seu rosto entre meus seios. Eu poderia morrer de vergonha agora, eu poderia afastá-lo, mas ele dormindo desse jeito tão tranquilo mexe com uma parte minha. Com meu coração.

Já está tarde eu tenho que ir embora. Não quero me mexer. Não quero acordá-lo. Todas as vezes que eu tenho que deixa-lo aqui sozinho é sempre doloroso, mesmo sendo por pouco tempo, ele sempre me olha de um modo desamparado. Como se eu estivesse indo para nunca mais voltar.

E tudo o que eu mais quero no mundo é sempre estar assim, bem pertinho dele.

Tento sentar-me, fazendo de tudo para não me mexer demais e acordá-lo, mas John está deitado em uma posição que não está me ajudando muito. E ele é pesado.

– Caramba. – Digo baixinho.

Isso vai ser mais difícil do que eu pensava.

John está num sono pesado. Depois de fazer um esforço imensurável eu finalmente consigo me sentar. Sua cabeça cai em meu colo, eu o empurro delicadamente para o lado, até que ele caia em um travesseiro. Ele arrasta sua mão pela cama como se estivesse à procura de alguma coisa. Meu coração se enche. Ele procura por mim mesmo em sonho.

O rosto amassado contra o travesseiro. Os cabelos compridos caindo por sobre o olho.

Eu poderia admirá-lo por horas.

Levanto-me depressa. Meu vestido está jogado do lado da porta, minha calcinha não está por aqui. Lembro-me de John a tirando no banheiro.

Coro com essa lembrança.

Vou até o banheiro, tateando em tudo para não esbarrar em nada por conta do escuro. A encontro em cima de um banco. Não imagino como ela foi parar ali. Me visto depressa. Dou uma conferida no espelho do banheiro. Meu rosto está vermelho, meus olhos brilham, vejo uma garota com um sorriso enorme no rosto, ela tem olhos grandes e castanhos, os cabelos longos e escuros, muito escuros, totalmente desgrenhados, a pele pálida, mas levemente corada. Sou eu. E eu consigo me ver feliz. Eu olho meu reflexo e eu consigo ver a felicidade irradiando de mim. De cada pedaço meu.

John faz isso comigo.

Volto para o quarto na ponta dos pés para não acordá-lo. Ele ressona baixinho. Ele está espalhado na cama pequena, um lençol está jogado de qualquer jeito por cima dos seus quadris. Eu me esqueço de como se respira por alguns segundos, ele toma tudo dentro de mim, qualquer espaço, eu me esqueço do que eu estava fazendo. Vejo minhas botas encostadas em um canto da parede.

Ah sim, claro! Eu tenho que ir embora.

Calço minhas botas. Caminho até a cama e deposito um beijo em sua bochecha. Sua barba rala faz cosquinhas em minha pele. E eu amo isso.

Mal posso esperar pelos dias em que nós vamos dormir e acordar juntos todos os dias. Talvez eu sinta falta das noites de aventuras em que eu tenho que fugir de casa para ficar com ele.

Sob Minha PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora