Capítulo 3

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Apropriado. Exatamente assim que o homem — utópico ou não — pai da garotinha se encontrava naquele momento. Quem diria que o cara de terno amassado e cabelos desgrenhados da noite anterior poderia ficar ainda mais lindo, usando uma calça jeans escura e uma blusa polo azul-petróleo que marcava bem seu peito rijo. Mesmo vestido casualmente, eu ainda sentia uma queimação com o olhar daqueles olhos castanhos e oponentes. Eu só esperava não estar corada.

Saí do meu transe quando a garotinha largou a peruca, correu até mim desviando do pai e estendeu sua mão para me cumprimentar:

— Oi! Meu nome é Susan, tenho 7 anos e 4 meses, estou no segundo ano do ensino fundamental e tenho asma crônica por ter nascido prematura. E você? — Ela disse tudo tão rapidamente que me lembrou a "Agnes", filha do "Gru", de "Meu malvado favorito" e ela ainda balançava para frente e para trás com as mãozinhas juntas, depois de apertar minha mão.

— Eu sou a Ellie, sou só um tiquinho mais velha que você, terminei minha faculdade de dança tem 2 anos... hum... eu já quebrei o braço uma vez. — Sorri para ela depois de encontrar algo para completar minha ficha, como ela havia feito com si mesma.

Os olhos dela se arregalaram e eu olhei para o homem em busca de alguma resposta. Mas ele simplesmente olhava para a garotinha com um sorriso nos lábios e balançava a cabeça levemente.

— Você quebrou seu braço? — Susan parecia se segurar para não tocar meus braços, estava hesitante e surpresa. — Mas ele está no lugar agora? Cadê o osso quebrado?

— Bom... o médico fez um... — pensei um pouco. Como eu explicaria para uma criança de 7 anos o tratamento de uma quebra de braço? O homem bem que podia me ajudar! — Curativo com cola, aí eu só tive que esperar um pouquinho com um gesso no braço, onde meus amiguinhos desenhavam, e meus ossos colaram.

— Que legal! — Exclamou saltando no lugar. Depois se aquietou e fez um olhar de cachorrinho que caiu da mudança antes de se virar para o homem. — Papai... eu posso quebrar o braço?

Ahh, eu estava certa! Ele é pai dela. Mas...

— Não! — Intervi antes que ele abrisse a boca. Ela me olhou com aqueles grandes olhos castanhos, curiosos. — Dói muito! Quebrar o braço não é legal!

Ela pareceu desanimada com minha resposta, mas não perdeu o brilho no olhar.

— Papai, fala com ela! — Falou cruzando os braços e erguendo as sobrancelhas. Que garotinha de personalidade!

— Oi, sou Thomas. Eu vi...

— Ellie, estamos indo para o intervalo vai ir com a gente? — Ouvi Miranda gritando e logo depois saindo de trás da lona. Assim que nos viu seu cenho franziu, mas ela não fez nenhuma pergunta. — Desculpinha, já estou indo...

E novamente saiu, indo até a rua que dava para uma lanchonete ótima. Voltei meus olhos para Thomas, esperando que ele me falasse o quê quer que ele quisesse me falar.

— Espero não ter vindo em um momento inoportuno. — Disse cauteloso e abrindo um sorriso de lado, coçando a nuca.

— De forma alguma. — respondi dando de ombros.

— Fala logo, pai! — Eu tive que rir um pouco. Gostei dessa menina!

— Susan! — Ele repreendeu fazendo-a se enrolar na sua perna e abrir um sorriso amarelo. Ele maneou a cabeça mais uma vez e se voltou para mim: — A Susan e eu viemos ver o espetáculo de aniversário do circo ontem, e te vimos como atração principal. Minha filha gostou muito e ficou a noite toda pedindo que eu viesse aqui hoje para perguntar se você poderia dar aulas de ballet ou circo para ela. — Ele abaixou a cabeça e afagou os cabelos de Susan, abrindo um pequeno sorriso. — O que eu não faço por essa baixinha?! Então, você dá aulas? Ou sei lá, não falei muito com o senhor Dalton, mas o circo oferece aulas para pessoas de fora?
Aquela menina havia gostado tanto da minha apresentação que tinha trazido o pai até aqui para perguntar se havia aulas? Isso nunca havia acontecido. Pena que eu não tinha uma resposta muito boa para dar a ela.

A Um Solo do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora