Capítulo 4

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Eu não queria, mas acabei seguindo para a cama pensando em Thomas e Susan. Qual era meu problema? Por que eu sempre pensava tantos nos outros a ponto de quase me esquecer? Afinal, eu nem os conhecia direito!

Inconsequente, peguei meu celular sobre um travesseiro ao lado da minha cama. Rolei os dedos pela minha lista de contatos até chegar à letra P. "Pai da Susan".

Havia tentado falar com minha antiga professora, mas ela não atendia. Minhas amigas da faculdade, ou tinham voltado para suas cidades natais ou eu havia perdido o contato. Larguei meu celular forçando-me a não preocupar-me com aquilo.

Parei de tentar compelir meu cérebro a parar de pensar e apenas enfiei meu rosto no travesseiro. E dormi em seguida.

Resmunguei quando o despertador tocou

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Resmunguei quando o despertador tocou. Meu corpo doía por causa dos aéreos que eu tinha treinado. Ergui-me, tomei um banho rápido fugindo do frio com um casaco vermelho e a calça de risca da clínica.

Quando cheguei, a clínica já estava aberta, sinal de que Jenny já havia chegado. Entrei colocando minha bolsa sobre minha cadeira na recepção, segui até o RH, no segundo andar, onde Jenny costumava ficar no início do dia e a encontrei com os olhos caídos de sono.

- Bom dia, senhorita Jenny! Aposto que dormiu muito bem. - Ironizei me sentando do lado dela, que estava quase com a cara na tela do computador.

- Ellie do céu! Que susto - Levou as mãos ao peito, me limitei a ri da sua cara assustada. - Minha filha, nem me fale! León não me deixou dormir essa noite...

Mesmo aparentando estar com sono, Jenny não perdia seu sorriso malicioso. Desde que cheguei na cidade notei que esse era seu comum. Jenny não era de ficar amarrada com uma pessoa, ela era exclusivamente dela. Saía com vários homens num único mês e sabe o que eu achava disso? Que era da conta dela! Ela era livre, independente e desimpedida. Podia viver do jeito que quisesse, ninguém tinha nada a ver com isso.

- Mas me conta, gatinha dos panos circenses - Ela desligou o computador depois de encontrar os arquivos que procurava e mandar para seu e-mail. - Thomas, hum?

- Eu sabia que não devia ter te falado nada! - Sorri a seguindo de volta para recepção. - Foi só um acaso. Ele veio ver um espetáculo com a filha, espetáculo esse que você faltou, gostaria de frisar! E no dia seguinte me perguntou sobre as aulas. Eu não podia e pronto. Ele me deu o número para que eu ligasse se soubesse de alguma professora boa para a filha dele. - Contei ligando meu próprio computador para ver a agenda dos doutores do dia. Jenny jogou seu corpo sobre minha bancada de modo desaminado. No entanto, segundos depois seu rosto foi tomado por uma expressão animada.

- Me passa o número dele! Vamos a foto do WhatsApp, quero ver se é gato mesmo! - Antes que eu me desse conta ela pegou meu celular sobre a mesa, não tinha senha, então ela teve total liberdade para mexer em tudo ali. - Como que está o nome dele? "Thomas"? Com aquele emoji malicioso que é a minha cara?

- Não, sua pervertida! - Eu ri alto da cara ofendida que ela fez. - Está "Pai da Susan".

- Que broxante! - Exclamou voltando seus olhos para meu pequeno aparelho telefônico. - Então quer dizer que a pequena Susan leva o pai no circo toda semana?

Seus olhos verdes corriam pelos meus poucos contatos, eu não era muito de fazer amigos. Sua sobrancelha estava arqueada esperando uma resposta.

- Foi o que o senhor Dalton falou, Jenny! Eu não sei de nada sobre o Thomas, dá para sossegar o facho? - Inquiri batendo as pontas dos dedos na madeira da minha mesa acoplada à bancada de atendimento.

Quando ela achou o que queria seus olhos brilharam, ela copiou o contato para seu celular e esperou um pouco.

- Inês Brasil me abana! Que homem é esse?! - Ela disse se derretendo na bancada. Pronto, ela não pararia mais. - Ellie minha linda, já pode ligar para ele e dizer que achou a tal professora de dança que ele quer! Eu danço até ula ula se ele pedir.

- Para de graça, Jenny! - Balancei a cabeça enquanto digitalizada alguns protocolos de atendimento. - Ele só é bonitinho...

- Engole seu "bonitinho" com isso, querida! - Ela estendeu o celular, quase esfregando na minha cara. Afastei-o um pouco e vi a foto que ela estava admirando outrora. Engoli em seco, aliás, o meu "bonitinho" foi junto. Bonitinho era muito eufemismo, tanto que me fez corar quando vi a foto de Thomas em um clube sem camisa e com a pequena Susan sorrindo para a câmera. - Dá para lavar roupa nesse tanquinho, não é?

- Certamente - Falei aérea, me perdendo naquele sorriso. Até que Jenny puxou o celular.

- Bom dia, doutor Flávio. - Cumprimentou com polidez o Dr. Pneumologista que havia chegado, ele sorriu para nós e eu também lhe desejei um bom dia.

- Bom dia, meninas! - Acenou. - Ellie, poderia me enviar minha agenda do dia?

- Claro! - Ele agradeceu com mais um sorriso e seguiu pelo corredor até sua sala.

Acessei a pasta do doutor Flávio e lhe enviei a lista com os pacientes do dia.

- Voltando para o Thomas Tanquinho... - Ela curvou-se e sentou na cadeira ao meu lado. - Você vai ligar para ele, não vai?

- Para o quê, Jenny? Eu não cheguei a conseguir com nenhum dançarino! - Falei concentrada no meu trabalho, vi pelos cantos dos olhos alguns médicos entrarem com suas pastas e jalecos. Até aquele momento nenhum paciente, pelas fichas notei que o primeiro viria às nove.

- Lis, agora é sério! Desde que você chegou à cidade com o sonho de fazer dança, queria abrir sua escolinha de dança, nem que fosse a menor delas. Onde está esse sonho agora?

Eu que me perguntava: onde estava aquele sonho daquela garota que veio para a cidade grande fazer dança? Havia se perdido no meio de tantos? Ou em meio às dificuldades?

Somente uma coisa era certa: Ele estava guardado, nem que seja no fundinho do meu coração. Mas, mesmo sabendo disso, eu tinha que ser realista.

- Está trancando, Jenny. Impossibilitado de ser realizado no momento. - Jenny me olhou séria, tão logo notei que um sermão viria.

- Na hora do almoço vamos até Espetinho do Cláudio! - E saiu. Percebi que esse seu adiamento seria ainda pior para mim. Se ela escolheu a hora do almoço teria muito o que falar. Eu só não sabia se eu conseguiria ouvir tanta sinceridade e quem sabe de lembrar-se do passado que eu jurei esquecer.

 Eu só não sabia se eu conseguiria ouvir tanta sinceridade e quem sabe de lembrar-se do passado que eu jurei esquecer

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(09/07/2016)

A Um Solo do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora