Capítulo 12

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Pela segunda vez naquele dia eu me encontrava deitada, na minha cama, e sem saber o que fazer, mas dessa vez eu estava sorrindo. Minha plateia era o teto, porém eu não me importava, nada importava.

Aquele momento me lembrou de quando eu entrei na faculdade, depois de um momento difícil, entrar no campus foi como êxtase. Todos os problemas sumiram e eu só queria entrar de cabeça naquilo pelo resto dos meus dias.

O que aconteceu antes não tinha mais nenhum significado.

Meus pais sempre haviam deixado claro que eu só fazia ballet por hobby e que quando começasse as inscrições para os vestibulares das faculdades da capital eu teria que prestar para Direito, que era o sonho do meu pai, ou Medicina e Psicologia, como minha mãe. Mas aquilo não era nada que eu queria. Quando fui fazer as inscrições como eles queriam, também me inscrevi para o curso de dança, que infelizmente coincidiu com uma das provas de Direito, fiz de tudo para que meu pai não me levasse no dia, eu não poderia perder a chance de fazer o que eu sempre quis.

Alguns meses, depois descobri que eu havia passado em uma das três em Direito - sendo que em uma das outras provas eu havia faltado -, uma em Medicina, as duas de psicologia e, para minha completa felicidade, a de dança que era meu maior desejo. Não contei aos meus pais sobre essa última, porém, chegaria um dia que eu teria que contar a verdade. Eu precisava fazer minha matrícula para um dos cursos, e logo o que eles não deixariam de jeito nenhum era o que eu almejava. Me xinguei por ter ido bem nas outras provas, se eu tivesse feito de qualquer jeito teria tirado uma nota ruim e eles não teriam argumentos para tentar mudar minha ideia. Mas dito e feito, quando eu disse que passei em Dança e queria cursar aquilo eles não aprovaram, fiquei uma semana inteira sem conversar com eles, formulando algo, uma solução para aquilo. E a única que encontrei foi fugir.

Peguei a maior quantidade de roupas que conseguia, minha mesada que havia sido cortada um mês antes, depois de uma discussão, era pouco, mas o suficiente para conseguir sobreviver por um mês ou dois meses.

No dia 23 de dezembro, eu fui embora da minha antiga cidade, e jurei que nunca mais iria voltar, nunca mais iria precisar dos meus pais. Seria eu contra o mundo.
Mas um dia eu voltei, pelo último motivo plausível.

Sem que eu percebesse, acabei dormindo durante todo o fim de tarde daquele sábado, acordei à noite, com meu celular tocando. Atendi sonolenta e sem olhar quem ligava.

- Alô? - Minha voz saiu com um bocejo.

- Desculpa ter te acordado, minha linda. Estava preocupado.

- Alex! - Exclamei acordando por completo. Duplamente merda! Eu havia esquecido as chamadas perdidas dele que eu deveria ter retornado assim que cheguei. Porém, minhas lembranças tomaram todo meu tempo, assim como meus sonhos - para não dizer pesadelos. - Me desculpa! Eu devia ter te ligado, mas após o almoço acabei dormindo a tarde toda.

- Não fez por mal, acredito. - Disse, tão logo notei pelo ruído que ele sorria. Comprimir meus lábios impedida de dizer que estava ocupada com outras pessoas e pior, me divertindo muito. - Queria saber se você quer vim aqui em casa... não quero esperar até nosso treino da terça para nos vermos de novo.

Tão grudento! Minha mente gritou e eu fiquei com medo de ter dito isso sem perceber. Felizmente não passara dos meus pensamentos. Balancei a cabeça, sentindo um leve latejo, mas eu precisava excluir aqueles pensamentos e aquele incômodo.

- Não está muito tarde? - Olhei para o pequeno relógio digital sobre a minha TV e vi que indicava 15 pras sete.

Tarde, Ellie? Onde? Bufei para mim mesma.

A Um Solo do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora