A Um Solo do Amor

Capítulo 45

"Ninguém, ninguém, ninguém
Pode mudar o que eu sinto por você..."
— No One, Alicia Keys.

A ansiedade me consumia enquanto eu terminava de me arrumar no quarto de hóspedes na casa de Thomas.

Já era noite, por volta das 19 e meia, eu já havia ido na casa de Patrícia falar que Jenny não dormiria lá e buscar algo apresentável para vestir, porque Thomas pediu que eu me arrumasse na casa dele e de dali seguiríamos para a casa dos seus pais.

Subi com certa dificuldade o zíper do vestido verde royal, prendi rapidamente meu cabelo em um coque alto e subi o restante. Coloquei-me diante do espelho que havia num canto do quarto. Eu estava elegante, mas talvez meu cabelo demonstrasse a aparência de uma menina bobinha, com essas mechas verdes, o que Giovana e Theodoro pensarão?

— Oh pai! — Ouvi Susan gritar cortando minha pergunta pessoal e inevitável.

Mike já tinha indo embora e eu sabia que Thomas estava no banho, então sai do quarto e fui até o da minha menina.

— O que foi, pequena? — Questionei vendo-a deitada na sua cama.

— Eu não quero mais ir de vestido — respondeu olhando para baixo, aproximei-me de sua cama e sentei sobre a colcha que a cobria.

— Por quê?

Ela não respondeu, apenas descobriu suas pernas, mostrando o vestidinho azul que ela vestia e também alguma manchas roxas que tinha ali, na sua pele.

— São dos treinos da semana e do acidente, eu achei que tinham melhorado, nem apareceu hoje de manhã, mas agora voltou a escurecer. — Susan cobriu novamente as pernas e passou as mãos pelo rosto.

— Suh, você não precisa esconder o que te faz uma guerreira, essas marcas são para mostrar que você está viva! Elas estão ai mostrando que mesmo com toda dificuldade você não desistiu, pelo contrário, está todos os dias tentando voltar a andar — Abri um meio sorriso ao ver ela olhar com mais admiração do que tristeza para o próprio corpo. — Outras pessoas no seu lugar já chegaram a desistir, você não, se orgulhe disso...

Ela assentiu e secou algumas lágrimas que acabaram surgindo. Passei as mãos pelo seu cabelo úmido; Thomas devia ter dado banho nela enquanto eu tomava o meu.

— Se você quiser a gente pode escolher outra roupa, uma calça para cobrir, mas você está tão lindinha assim e está fazendo o maior calor nessa primavera — Lhe disse pegando sua pequena mão, Susan levantou a cabeça e olhou-me com os olhos vermelhos pelo choro.

— Eu não quero trocar — Confessou abrindo um sorriso. — Você pode me ajudar a arrumar meu cabelo? Não sei onde o papai está, ele que faz isso, mas está muito ocupado estes dias.

Comprimi os lábios, quando eu era pequena isso acontecia diariamente, porém eu sabia que a situação era outra. Thomas não tinha, antes, alguém com ele para ajudar com Susan, além dos pais e de Tobias. De contrapartida, meus pais tinham, eram os dois e meus irmãos ainda estavam em casa, mesmo assim eles não nos davam carinhos conosco. Eram tão raras as demonstrações de afeto, como pentear meus cabelos quando saíamos ou nos levar para a praça perto da nossa casa para brincarmos juntos.