Capítulo 2: Inocente

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~Leah On~

Foi quando vi malas em frente ao quarto do meu irmão que percebi... Meu tio havia chegado para ficar. Isso não podia estar acontecendo. Achei que só sofreria nos feriados em que juntava toda a família. A última vez que passei por isso foi no dia de ação de graças. Ele ainda trouxe uma namorada. Como ele se atrevia...Esfaquiei a mulher com o olhar durante todo o fim de semana. Claro que para ele e para todos da família, meus sentimentos nunca existiram. Mas para mim sempre estiveram ali.

Não sei ao certo quando comecei a pensar assim mas não me lembro de ter olhos para ninguém além dele. Era só preestabelecido na minha mente que um dia casaríamos. Lembro dele me girando no casamento de uma das amigas da minha mãe. Ele dizia que eu era a princesinha dele... Tinha um garoto que parecia com um membro de alguma boyband ou ator de série teen dançando comigo e dizendo que eu era a garotinha mais linda, aquilo embaralhou minha mente. Eu só tinha uns oito anos e já achava que aquele era o amor da minha vida.

Tio Ben era o primeiro filho dos meus avós juntos. Vovó Anne tinha Tia Gemma e meu pai e vovô somente minha mãe. Os dois casaram e algum tempo depois, surpreendentemente tiveram Ben. Só podia ser feitiço do destino, minha vó nem deveria estar ovulando mais, era um plano do demônio para me ferrar. Sempre soube. E aí juntaram todos os genes de beleza da família e colocaram em uma só pessoa. Como eles achavam que eu nunca perceberia? Era meu tio da droga dos dois lados e meus pensamentos simplesmente ignoravam isso.

Pelo que consegui escutar ele dizer depois do mini infarto dele estar ali na minha cozinha, ele conseguiu um estágio numa empresa no centro de Holmes. Seu curso de administração estava quase no fim e só faltava cumprir as horas de prática. Para demonstrar como meu cérebro é uma piada ás vezes, só consegui imaginar ele usando terno todos os dias. Ia ser demais.

Como eu lidava com isso? Antes achava que era passageiro, ia passar. Só precisava de outro crush, tentei todos os ídolos teens, mergulhei em várias séries com atores magias, olhei com atenção para os garotos da minha escola. Não dava. Ninguém conseguia tirar minha atenção do proíbido.

Então fui no youtube e em segredo participei de várias religiões diferentes. Tentei de tudo. Fiz sessão de descarrego online, fiz terapia emocional de desapego, meditei por incontáveis horas, coloquei meu bonequinho Olaf de cabeça para baixo no copo com água. Tudo. Nada funcionou.

- Le, por que não me ajuda a desfazer minhas malas? - Ouvi quando a voz dele me atingiu. Desde que disse oi, só o que consegui foi ficar mais alguns minutos na cozinha com meus pais e ele. Depois fiquei na sala olhando para o nada por algum tempo. Meu irmão chegou do treino e claro, amou mais que tudo que teria companhia por alguns meses.

Nem olhei para a cara do Charlie, ele ainda ia pagar por ter feito aquilo na hora do almoço com o Sam. Quem ele achava que era?

Por falar nisso, Sam ainda não tinha chegando quando balancei com a cabeça e subi com Ben para o quarto que ele ficaria. Nossa casa só tinha três quartos, então ele dividiria com meu irmão. Comigo que não ia ser, afinal.

- Seu irmão até que é organizado. - Comentou quando abriu o guarda roupa de Charlie.

- Mamãe obrigou ele a arrumar. Se visse como estava ontem... Parecia o cenário da segunda guerra mundial. - Coloquei a mala em cima da cama e ele me ajudou a abri-la.

Ficamos em silêncio por um tempo. Eu estava tocando em suas roupas, minha vontade era de vesti-las, cheirá-las, guardá-las para mim.

- Eu deixei muita coisa no meu dormitório. Quando tiver tempo volto para buscar. - Sua mala era típica de um jovem adulto de vinte e quatro anos. Ele adorava vestir camisas de botão, caprichar no perfume, cuidar do cabelo.

Entre VírgulasOnde histórias criam vida. Descubra agora