Capítulo 11: Inquieto

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~Ben On~

Quando decidi retornar à minha cidade natal para realizar meu estágio, achei que seria um tempo de paz. Era algo que realmente almejava. Tem horas que cansa sair tanto. As festas loucas da universidade já me entediavam, noites de bebedeira me cansavam mais rápido, não tinha mais pique, estava amadurecendo.

Pouco tempo antes de viajar, acabei terminando um namoro. Era outro aspecto que gostaria de mudar, começar do zero. Sem amarras, queria me reconstruir, ser mais estável, guardar um dinheiro, comprar um apartamento para que eu morasse e quem sabe alguns anos mais tarde, casar-me com alguém que eu realmente amasse. Com a minha ex era mais sobre ter alguém para me dar amor sempre que eu quisesse. Acho que não era bem amor. Era mais sobre sexo mesmo.

Por muito tempo fui alguém que não queria saber de compromissos, então percebi que é bom não ter que sair todas as noites em busca de alguém, é bom ter alguém sempre lá.

O meu estágio era tranquilo, estou acostumado a trabalhar, na verdade, eu até gosto muito. Talvez eu seja viciado em trabalho. Meus pais moram próximos às montanhas, no interior da cidade. Nem precisei dizer nada, meus irmãos se ofereceram para que eu ficasse na casa deles. Eu os amava. Divido o quarto com Charlie. Mal nos víamos porque nossas rotinas eram quase opostas, ele nunca parava em casa. Mas ele era um ótimo sobrinho e um bom colega de quarto.

Sentia-me confortável, até que em determinado momento, as coisas começaram a ficar estranhas.

Lembro-me como se fosse ontem, eu era apenas um garoto quando recebi a notícia de que seria tio outra vez. Era muito louco eu ser tio assim tão novo. Acha divertido.

Quando olhei minha sobrinha, tão pequena, tão frágil, soube naquele momento que cuidaria dela, protegeria de todos os males que pudesse. Cresci, ela cresceu, e continuei fazendo de tudo para agradá-la. Desde muito tempo, ela foi apegada a mim.

Então enfim fui para a universidade e só via a família poucas vezes no ano e ás vezes nem isso. O tempo passou. Tudo mudou. Quando retornei para Holmes Chapel, aquela sobrinha que eu chamava de princesinha, já era praticamente uma mulher. Estava linda. Sempre soube que seria uma linda mulher. Porém para mim ela sempre seria aquela garotinha pequena com vestido rodado que chorava para eu levá-la no parquinho.

Acontece que para ela não funcionava assim. Notei seus olhos longos, a forma como ela respirava mais rapidamente, mas antes a ficha não tinha caído. Era bobagem, nunca iria achar que era aquilo mesmo. Mas era.

Quando vi ela me olhando enquanto trocava de roupa, foi como uma explosão nas minhas memórias puras e ingênuas de Leah. Ela não era mais minha garotinha. Ela havia crescido, até demais. Senti um mix de coisas, vergonha, culpa, tristeza, medo. Não podia culpá-la, eu estava entrando em sua casa, eu deixei a porta entreaberta, ela era só uma adolescente. Não podia ter culpa.

Depois de uns bons minutos pensando sobre o ocorrido, apenas normalizei aquilo. Acontecia. Ela tinha olhares curiosos, só isso. Qual adolescente nunca imaginou ou quis olhar o corpo de alguém? Não me achava um modelo, mas talvez ela me achasse bonito e tivesse curiosidade, só isso. Pensei.

Mas então minha conclusão de nada serviu. Eu estava me enganando.

Estava dormindo quando ela chegou. Pelo modo como falou, notei que ela havia bebido. Fiquei nervoso na mesma hora porque a forma como ela falava. Já temia o que iria fazer.

''Preciso falar sim, eu quis te olhar, eu quis sim. E eu quero. Eu quero você. ''

Assim que ouvi aquilo saindo da boca dela, não sei. Acho que o tempo parou. Nunca em mil anos achei que aquilo aconteceria comigo. Algo em minha quebrou-se. Fiquei paralisado.

Entre VírgulasOnde histórias criam vida. Descubra agora