Oportunidade

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— Bom dia filho — a mãe de Lucas o viu descer as escadas com uma roupa esportiva. — Aonde vai assim tão cedo?

Lucas a beijou no rosto. Ele não costumava fazer isso, depois que ela e seu pai se separaram, mas agora ele via que necessitava de todo o amor dela, e que sabia que ela se preocupava com o seu bem estar.

— Bom dia mãe, eu vou acompanhar o senhor Olavo numa de suas corridas e depois ele vai me levar para sua casa.

Nossa casa — corrigiu ela, sorrindo. — Saiba que poderá ficar o tempo que quiser lá, ela é sua sabe disso.

— Certo mãe, agora vou indo, ele está me esperando.

O senhor Olavo o viu chegar.

— Muito bem garoto, quero muita empolgação hem, nada de moleza! — Lucas suspirou, e começou a se alongar quando saiu com ele para o quintal.

— Eu não sei se vou conseguir acompanhar o seu ritmo senhor Olavo — ele já começava explicar. — Mas farei o meu melhor.

— Vamos começar então, é simples e não precisa correr rápido, deixe seus pés irem se acostumarem com o chão, naturalmente, e respire e solte o ar sem pressa — orientou.

Os dois ficaram de lado, e o senhor Olavo começou a correr, com Lucas ao seu lado. O portão se abriu com a aproximação dos dois e eles atravessaram a rua, correndo pela calçada.

Lucas corria emparelhando com o sr. Odebrecht, no mesmo ritmo de velocidade.

Cinco minutos depois, Lucas já estava querendo descansar, já que o ritmo de sua corrida não era mais a mesma que a do senhor Olavo, que estava a dois metros a frente dele.

— Tudo bem, Lucas, cinco minutos e 23 segundos, vamos descansar um pouco — ele anunciou e parou.

— Desculpe... — Lucas estava arquejando, necessitando de água. — Eu disse que não estava acostumado à fazer exercício senhor...

O senhor Olavo riu.

— Você foi muito bem para sua primeira vez, então vamos caminhar um pouco, sem correr dessa vez.

Lucas assentiu com a cabeça, e o suor já encharcava sua camisa regata.

— Aquilo é uma praça?

O senhor Olavo confirmou.

— É uma área de lazer para todos do condomínio, tem sanitários e área para festa.

— Será que lá tem água gelada?

— Claro que sim, e não só isso, tem uma vitrina de sucos, refrigerantes e alimentos, vamos lá beber algo.

E eles foram. O senhor Olavo tirou do bolso de seu short sua carteira e passou seu cartão no leitor eletrônico do aparelho, liberando duas garrafas de Gatorade. E procuraram sentar num banco à sombra de um pé de ipê.

— Está muito gostoso aqui — Lucas disse sentindo a brisa do ar fresco da manhã.

O sr. Olavo confirmou.

— E como está, sinta o cheiro gostoso das flores e do ar — pediu. Lucas obedeceu e suspirou.

— Muito bom mesmo, diferente do ar do centro da cidade, sobrecarregado de fumaça e tóxico.

— A onde você mora com seu pai é assim?

Lucas balançou a cabeça.

— Sim, a gente mora no centro da cidade, é muito agitado e todo dia acontece um acidente na avenida onde moramos.

— E você não tem vontade de morar num lugar mais sossegado longe desse agito urbano?

Lucas o olhou e respondeu.

— Eu gosto é de estar com aqueles que me amam, sabe, e onde eu estiver bem eu me adapto.

O sr. Olavo bebeu mais um gole de seu gatorade.

— Verdade, você está completo de razão Lucas, a gente fica bem onde tem amor e respeito cercando a gente — concordou ele. — É uma pena que meus esforços para dar essa sensação de paz e amor a você não se concretizou.

Lucas ouviu e desviou seu olhar para um parquinho de madeira onde duas crianças acompanhadas por seus pais se divertiam, e depois olhou para ele.

— Você e a senhora Maria Lurdes fizeram eu bastante feliz, acreditem, e nem precisaram se esforçar para isso, pois eu sei que vocês são pessoas maravilhosamente do bem e sempre tratam qualquer um da mesma maneira que me trataram.

O sr. Olavo ficou até meio sem graça diante do elogio de Lucas.

— Obrigado Lucas, fico feliz por tudo que disse.

— Eu sou muito agradecido — disse Lucas.

— Só não acho justo os outros aparecerem e estragar tudo — desabafou o sr. Olavo. — A gente estava nos dando super bem, e aí aqueles bandos de imbecis conseguirem desfazer tudo assim, de repente.

Lucas ouvia e ficou triste.

— É eu... eu não acho justo também...

— E sabe o que não é justo também? — o sr. Olavo pressionou Lucas, fazendo-o olhar bem para ele, e perguntar.

— O que é?

— Fazer com aqueles que gostam de você pagar pelos erros daqueles que ainda não tiveram uma oportunidade de te conhecer melhor — completou, e fez Lucas sentir um tremor na barriga.

— Mas senhor Olavo, eu sei que não é justo... mas...

— Se sabe que não é justo, esse "mas" não deve impedir de nos dar mais uma chance, ou melhor, dar a meu filho uma nova oportunidade de te conhecer e ver o quanto é maravilhoso.

Lucas sentiu as pernas tremerem e as bochechas arderem quando ouviu isso.

— Eu não sei... eu... nossa você falando assim me deixa sem graça, mas obrigado.

O sr. Olavo sorriu, pegando na mão de Lucas, e se levantou, puxando ele.

— Vamos continuar?

— Sim, já estou me sentindo melhor.

— Então não é mais preciso fazer as malas, estou certo? — indagou confiante.

Lucas deu de ombros.

— Todos merecem uma segunda chance. 

O Filho da BabáOnde histórias criam vida. Descubra agora