Lucas pressentia que o clima para o cinema não ia ser mais tão empolgante como queria que tivesse sido, mas teria que fingir estar muito ansioso para David não ficar mais ainda com raiva do que aconteceu com eles na lanchonete, e para ele perder a cabeça e voltar lá e encher o homem de porrada era bem pequena. David estava irritado, e não conseguia se acalmar.
— Porra eu estou à nervos, você não faz ideia — reclamou ele enquanto subiam para o terceiro andar, pelas escadas rolantes.
— Eu sei David, mas você tem que aceitar que ainda nem todas as pessoas são decentes, e entendem que o preconceito é um terrível absurdo — respondeu Lucas. — O melhor é evitar aquele ambiente, e deixar essas pessoas de lado.
David ouvira, mas ainda assim não se convencera da resposta dele, mas parou de rebater quando viu o balcão do cinema e os cartazes aos lados das máquinas que estouravam pipocas.
Lucas correu para uma delas, metendo a cara na vidraça do pipoqueiro.
— Eu quero a de cobertura de Nutella! — pediu de água na boca, para o vendedor à frente.
David foi para a máquina de refrigerantes, e injetando algumas moedas tirou de lá duas garrafas de 600ml de Coca bem gelada e pegou dois canudinhos. Lucas era servido por um saco médio com a pipoca transbordando.
— Tome aqui — David pagou para o vendedor, e não precisou pegar fila, já que não havia nenhuma.
— Será que somos os primeiros a chegar? — Lucas perguntou quando a balconista permitiu seu acesso pelo corredor de entrada. David deu de ombro, entrando na sua vez, e quando adentraram no recinto escuro, puderam ver que havia algumas pessoas espalhadas pelas inúmeras fileiras.
— Vamos para a última fileira? — David sugeriu, e Lucas aceitou, subindo uma rampa, e entrou na fileira indicada, e procurou sentar num dos meios das poltronas. David o seguiu, e sentando ao seu lado, deu uma garrafa de Coca a ele. — Aqui, tome.
— Obrigado — Lucas pegou. — Não quis pegar um saco de pipoca pra você?
— Não obrigado, estou sem fome no momento, mas se eu tiver com vontade vou roubar umas das suas, beleza?
Lucas riu, oferecendo.
— Então já comece.
— Depois Lucas.
— Vai David, uma só pegue essa aqui que está com bastante recheio — Lucas pegara uma com as mãos e estendia para ele comer. David ficou fitando-o com incomodo.
—Para com isso! — deu um tapa na mão de Lucas, derrubando a pipoca. — Não vai querer que o lanterninha nos vê com essa viadice também e nos expulse do cinema né?
Lucas o encarou sem acreditar no que acabara de ouvir, e se virou sentindo envergonhado. David suspirou e percebeu que havia magoado os sentimentos de Lucas.
— Me desculpe. — Lucas ficou mudo, não respondeu e focou a sua visão para a tela que começava a mostrar alguns trailers. — Eu sei que está zangado, mas eu só não quero que passe por outra vez, Lucas.
— Essa é a minha vida David — olhou bruscamente para ele, com os olhos marejados. — Será que não entende o que eu tenho que passar e suportar? Não posso perder a cabeça toda vez que um idiota não aceite minha condição sexual e partir para cima dele!
O filme começou, mas o clima já não parecia ter mais recuperação. Lucas comia a pipoca com gosto de chocolate salgado, por causa das lágrimas que desciam pelo canto da boca.
David sentiu-se péssimo, queria levantar e sair para fora, mas conteve-se, e arriscou.
— Será que ainda mereço uma pipoca achocolatada?
Lucas estendeu o saco para ele, sem fazer cerimônia e David sem graça pegou uma pipoquinha.
O filme transcorria, e as lágrimas ainda continuavam a descer pelo rosto de Lucas, e David incomodava-se o tempo todo, na poltrona do lado, bebendo toda garrafa de Coca para ver se melhorava seu temperamento. Decidiu levantar e murmurou para Lucas que ia buscar mais refrigerante, mas não obteve resposta, e saiu com vontade de quebrar alguma coisa, para sua raiva passar.
David ganhou uma pulseira no punho para poder sair para comprar mais coisas e voltar a ver o filme novamente, e enquanto aguardava um casal depositar suas moedas na máquina e escolher seus sabores, Lucas estava se levantando para ir ao banheiro lavar o seu rosto e respirar sem pressão.
Ao se levantar e descer pelo corredor em direção a saída para o banheiro, dois rapazes se levantaram juntos e desceram atrás de Lucas, um cochichando para o outro e rindo.
David retornara para dentro do cinema, com mais duas garrafas de Coca e não viu mais o Lucas, apenas seu saco de pipoca e sua garrafa de Coca ainda intacta no assento ao lado. Imaginou que ele tivesse ido ao banheiro, e decidiu que também iria.
Lucas estava em pé diante da pia e do espelho na parede, lavando o rosto quando viu os dois rapazes adentrando e indo para sua direção rápido demais para ele se quer imaginar o que estava acontecendo.
— Oi sua bichinha — um dos rapazes, um moreno alto de jaqueta aberta passou a mão por trás de sua nuca e forçou a cabeça de Lucas para baixo, enquanto Lucas gritou, mas sua boca foi tampada violentamente pelo seu agressor. Já o segundo rapaz deu um chute forte na perna de Lucas, afastando-as para os lados, e ele se apoiou na pia.
— Vamos tirar a sua calça e te comer, entendeu?
Lucas conseguiu morder a mão do seu agressor, e levou um soco no canto da boca, caindo de lado no chão.
— Essa bicha gosta de morder — o outro falou, e começou a tirar a cinta da calça.
— Parem com isso, por favor, se não eu... eu irei gritar — ameaçou Lucas se afastando para trás enquanto eles se aproximavam um de cada lado.
— Se gritar vai se arrepender — avisou o moreno, levantando a camisa e revelando um cabo de alguma faca por dentro da calça jeans.
O segundo rapaz, um ruivo, agarrou o cabelo de Lucas, forçando-o a levantar, enquanto o outro abria uma porta de um dos boxes, exclusivo para deficientes físicos, o que era bem maior do que os outros boxes comuns.
— Vamos e bem quietinho, se gritar ou correr, já sabe não é?
Lucas foi empurrado para dentro, e o moreno fechou a porta, travando-a, e três segundos depois David adentrou, olhou pelo corredor e caminhou olhando todas as portas dos boxes abertas, menos a porta do boxe para deficiente físico, e estranhou. Imaginara que Lucas tivesse ido para lá e deu meia volta, saindo para procura-lo em outro lugar.
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O Filho da Babá
RomanceLucas é um jovem de 18 anos que mora com o pai, mas tem que passar as suas férias letivas na mansão dos patrões de sua mãe, que é a babá da filha caçula de 3 anos da família Odebrecht (sim a mesma família polêmica da corrupção) nisso Lucas sem alter...