Antes de partir

9.7K 1.1K 235
                                    

Lucas estava no sofá da sala, jogado em meia a frustração e a raiva que estava sentindo por David, mas por um lado sabia que ele só estava querendo ajudar, do seu jeito, mas queria. Não gostava da forma que David queria resolver as coisas, ainda mais quando se tratava de um assunto que o envolvia.

David estava no chuveiro, tomando seu banho e alguns minutos depois saiu já vestido. Foi até Lucas estirado no sofá, abraçado com as almofadas e ao lado abaixou para pegar o controle remoto em cima da mesa de centro, apontou na direção da Smart TV led, ligando-a.

Lucas ignorou a TV e David jogou o controle perto dos pés de Lucas.

— Vai ficar assim com essa cara emburrada comigo? — David indagou, sentando no braço do sofá olhando para ele.

Lucas suspirou virando o rosto e encolhendo os joelhos numa posição fetal.

David levantou e caminhou para a cozinha. Abriu as gavetas, certificou que tivesse algo de comer, mas não tinha. A empregada não abastecera os armários ultimamente, também nem poderia culpa-la, não avisara a ela que estaria ali.

Pegou o celular e ligou para o piloto do seu pai informando que logo chegaria.

Lucas esgueirou à cabeça por cima do ombro, para ver se conseguia ver David, mas não o viu. Sentou no sofá e levantou. Caminhou para a cozinha onde o viu encurvado com a porta da geladeira aberta.

—Tem água gelada aí? — Lucas perguntou. David tirou uma garrafa plástica de água e estendeu para Lucas. — Obrigado.

— Eu vou ter que ir algum mercado aqui próximo comprar algumas coisas para você, os armários não têm nada e a geladeira também — avisou David, preocupado e fechou a porta da geladeira.

Lucas estava se servindo de um copo de água.

— Não precisa comprar agora, pode comprar na volta quando voltar — respondeu ele.

— Não sei se é uma boa ideia Lucas — disse David. — Eu não sei quanto tempo vai levar o interrogatório, e posso voltar tarde da noite.

Lucas se virou e apoiou os cotovelos na extremidade do balcão da pia, olhando para David.

— Eu posso comprar algumas coisas, eu não vou me perder, já decorei na mente o local do apartamento.

David ficou olhando para ele como se a ideia que ele propôs fosse absurda.

— Não claro que não Lucas, eu não quero que saia daqui, me entendeu?

Lucas abriu a boca sem acreditar no que ouvia.

— Mas que mal tem isso David? A Camila não vai vir aqui, ou viria?

— Não porque ela nunca soube desse apartamento, e se soube, pelo menos nunca veio, mas eu não quero que saia, apenas isso — rebateu ele.

Lucas cruzou os braços indignado.

— Mente para mim, me tira as pressas da mansão, me coloca num avião cruzando a metade do estado para um apartamento secreto da família Odebrecht, e agora vai voltar para a nossa cidade e me deixar preso aqui é isso?

David passou a mão pelo cabelo, irritado.

— Não quero discutir Lucas, então vê se não enche agora!

— Que legal, agora tudo que eu discordar vai pedir para eu não enchê-lo? — Lucas levantou as mãos surpreso. — Se vamos ter um relacionamento David, espero que seja sério e que o diálogo seja livre e não reprimido!

David ia gritar, mas se conteve a tempo, e virou de costas para se controlar, e depois respirando fundo, virou mais calmo.

— Tudo bem eu entendo que isso é necessário numa relação, mas será que pode deixar isso quando eu regressar da viagem? — perguntou ironicamente.

Lucas franziu a testa, e mordeu o lábio inferior balançando a cabeça como se assentisse, embora forçadamente.

— Como você preferir.

David suspirou e levantou as mãos para o alto, olhando para o teto.

— Obrigado Jesus.

Lucas deu as costas para ele, saindo da cozinha. Foi para o quarto, se jogando na cama de bruços, não tinha mais o que fazer ou falar com David.

David foi até o quarto silenciosamente e viu que Lucas estava em silêncio, e achou que tivesse dormindo. Saiu e encostou a porta devagar.

Do lado de fora do prédio, David estava caminhando na calçada, procurando por um mercado. Encontrou um a dois quarteirões a frente. Pegou uma cestinha de compras, e foi na fileira de guloseimas comprando bolachas recheadas, e barras de chocolates. Depois na ala dos frios, comprou 300 gramas de mussarela, presunto e queijo. Pegou também pão de forma, e dois litros de coca-cola gelada. Daria uma boa refeição até a sua chegada. Na fila do caixa ainda pegou um pacote de doritos.

Pagou pela compra e as pressas voltou ao apartamento. Colocou as coisas em cima da mesa e foi novamente ao quarto, e abriu a porta.

Lucas não estava na cama. David ficou imóvel no mesmo lugar.

— Não se preocupe — uma voz soou atrás dele, e David se aliviou, ao se virar e deparar com Lucas em pé. — Eu não fugi — sorriu.

— Por favor, Lucas não saia do apartamento quando eu estiver fora, você me promete? — disse se aproximando dele e apoiando suas mãos nos seus ombros, puxando para um abraço. Lucas o abraçou.

— Fazer o quê né? — respondeu Lucas sem alternativa, sentindo o abraço de David apertado.

— Prometo que amanhã vou te levar para qualquer lugar que queira conhecer, passaremos o dia todo fazendo só o que você quiser, serei seu escravo, farei o que me pedir — disse e afastou um pouco para ver o rosto de Lucas que estava avaliando a negociação de David.

— Huumm parece uma troca justa, então vê se não demora, não quero dormir sozinho — e lhe deu um selinho, antes de David partir.


.


O Filho da BabáOnde histórias criam vida. Descubra agora