O receio de Felipe

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Lucas olhou para o relógio, já estava ficando tarde, e ele precisava decidir se ficaria ou se iria voltar para a mansão da família Odebrecht. Felipe estava nervoso, inquieto como se tivesse sofrendo antecipadamente pelo que teria que fazer. Lucas o viu andar pela sala perturbado, e lhe aproximou dizendo.

— Fê, não fique assim, tudo vai acabar bem.

Felipe riu descrente dele, e balançou a cabeça tristemente.

— Não Lucas eu conheço o David ele vai acabar comigo.

Lucas o abraçou preocupado.

— Você se refere ele te agredir, é disso?

Felipe deu de ombro.

— Se fosse só umas porradas eu até suportaria, pois mereço, mas o buraco é mais embaixo, muito mais.

— Você e ele deve ter vivido muitas coisas juntos, eu posso compreender sua preocupação Fê.

Felipe o olhou bem nos olhos, e sorriu por ele estar ali.

— Fico feliz que esteja aqui Lucas, de verdade mesmo.

— Quer que eu passe a noite aqui com você?

Felipe nem esperou para responder.

— Sim, adoraria — e o abraçou forte.

— Vai na festa amanhã não é? — perguntou Lucas.

Felipe ficou surpreso.

— David te contou?

— Não, eu acabei escutando ele conversando com o seu pai sobre isso — respondeu. — Mas eu não estava espionando ele, estava junto com o senhor Olavo, entendeu? — esclareceu por causa do olhar malicioso de Felipe.

— Bem eu o convidei e reuni a galera para irmos, então... — admitiu suspirando. — Boa oportunidade para acabar com a festa da Sofia e mais de uma década de amizade.

Lucas abaixou a cabeça e apoiou a testa sobre o tórax de Felipe.

— Estou sentindo culpado por estar fazendo isso, mas eu quero que não existam mais segredos entre nenhum de nós.

Felipe ergueu a cabeça de Lucas.

— Vai contar a ele o que houve entre nós aqui?

Lucas mordeu o lábio, com um olhar de desânimo.

— Eu não saberia esconder dele isso, por mais que não temos nada, eu precisaria me abrir e confessar a ele sobre isso.

Felipe sugeriu, parecendo ansioso demais.

— Não precisa contar a ele por enquanto...

Lucas percebeu que ele estava escondendo alguma coisa a mais.

— Felipe porque você não quer?

— Não é que não quero Lucas, só acho que depois que eu contar a ele sobre a Camila, nossa, ele vai estar transtornado demais com isso, que vai só piorar quando souber que você perdeu a virgindade comigo.

Lucas ouviu e tentou reconsiderar, mas ainda preferia seguir com sua ideia central.

— Eu sei que vai ser doloroso, mas prolongar isso vai piorar quando ele descobrir de alguma forma que não seja por nós.

— Lucas não tem como ele descobrir, só a gente não dizer.

— Não quero mais esconder nada Felipe, eu e você não precisamos disso, ou você tem vergonha de contar que nós?...

Felipe apressou em tirar aquilo de sua cabeça, o mais rápido possível.

— Não claro que não, nunca pense isso Lucas! — o beijou nos lábios querendo provar que o amava. — Estou disposto assumir nosso relacionamento, e se quiser podemos viver aqui nesse apartamento, só nós dois.

Lucas olhou para ele, procurando sinceridade no seu olhar, e sabia que ele estava falando sério, mas não entendia porque esconder de David o que aconteceu entre eles.

— Tudo bem Felipe, eu vou dar um tempo e não direi nada, mas não me obrigue jurar guardar isso em segredo, eu não poderei conviver com isso, preciso ser honesto em relação aos meus sentimentos não escondendo de ninguém.

Felipe beijou sua testa, e apoiou o queixo no topo de sua cabeça, sentindo um pouco mais aliviado, mas sabia que o relógio estava a correr contra o tempo que lhe restava a enfrentar.

19h05 Lucas resolveu ligar para a mansão. O mordomo atendeu.

— Residência da família Odebrecht, boa noite.

— Oi senhor Alfredo, sou eu o Lucas.

— Boa noite Lucas, deseja falar com alguém?

— Poderia somente avisar a minha mãe que vou dormir na casa de um amigo, ela já sabe quem eu me refiro.

— Tudo bem Lucas, darei o recado, mais alguma coisa?

— Não senhor, apenas isso, obrigado.

Alfredo ficou segurando o gancho do telefone, apoiado no ouvido mesmo após Lucas ter desligado.

— O que houve Alfredo? — David perguntou ao passar próximo a ele.

— Nada senhor, apenas uma ligação do jovem Lucas — e repôs o gancho no aparelho. — Vou transmitir o recado para a senhora Melinda, com sua licença.

— Espere, por favor, eu já estava indo conversar com ela, posso lhe passar o recado se quiser — prontificou-o, ansioso em saber sobre a ligação.

O mordomo sorriu, David estranhou. Nunca o vira sorrir antes.

— Senhor David eu conheço desde que usava as primeiras fraldas, não me faça de idiota — ele mantinha o sorriso de escarnio da reação assustada de David.

— Eu... não... — David tentava dizer, mas estava incrédulo com a resposta do mordomo.

— Caro David se quer saber o que o Lucas disse a mim no telefone, basta pedir, e não esqueça de pedir "por favor" — disse Alfredo com firmeza.

David engoliu seco, ainda impressionado com a postura ousada e pouco conhecida do mordomo a sua frente.

— Eu poderia saber qual foi o recado, por favor?

— Claro que pode jovem David — respondeu educadamente, se direcionando a ele cordialmente. — O Lucas vai dormir na casa de um amigo, ou seja, você está perdendo meu caro — e saiu deixando David perplexo.

O Filho da BabáOnde histórias criam vida. Descubra agora