O Filho da Babá

O pique esconde

A selfie não pareceu à última coisa inusitada na família Odebrecht, mesmo com os olhares presentes estreitados para Lucas e David, que pareciam ter saído do meio de um tornado, ainda assim, o restante do almoço rendeu boas lembranças em família, e risadas. Camila não aproveitou muito o almoço, ficava desconfortada com o jeito de seu namorado querendo se aparecer demais e com Lucas que volta e meia olhava demais para David, e disfarçava. A segunda coisa que a senhora Maria Lurdes propôs à mesa, depois da sobremesa causou ainda mais surpresa a todos.

— Pique esconde dentro da casa? — seu marido arregalou os olhos, estranhando, mas para a sua surpresa David bateu palma, esfregando as mãos.

— Parece que a família Odebrecht quer voltar aos tempos de crianças, e acho que seria legal todos nós participar, vai ser divertido.

Camila o olhou abismada, certamente não compactuava com o mesmo desejo que a senhora Odebrecht, mas para não ficar obvio demais a sua decepção, fingiu um sorriso de aprovação.

— Eu também acho querido — ela segurou carinhosamente a mão de David, toda sorrisos para ele, que a pegou e levou aos lábios, beijando-a.

— Bem... — suspirou Olavo e afastou a cadeira. — Vamos então descansar uns 15 minutos e depois nos reuniremos na sala de estar para a maratona do pique esconde da família Odebrecht e convidados.

Os empregados adentraram e começaram a recolher as louças da mesa. A mãe de Lucas levou Ana Clara para o quarto, David e Camila saíram de mãos dadas para algum canto, enquanto Lucas acompanhou o senhor e a senhora Odebrecht para a varanda.

— Está sendo um excelente dia não concordam? — comentou a sra. Maria Lurdes sentada numa cadeira de descanso, ao lado do sr. Olavo.

— Parece uma fantasia, não acredito que depois de velho vou me dar o luxo de se esconder e esperar ser achado — disse admirado.

— Você não está velho — entrou na conversa Lucas. — Se permite em dizer, com todo o respeito, está muito em forma.

A sra. e o sr. Odebrecht acharam engraçado e riram.

— Muito obrigado pelo muito em forma, Lucas.

— Mas é verdade, o senhor me deu um banho na corrida de hoje de manha e no Biribol então?

— Aquilo foi sorte de principiante, você só não está acostumado ainda, vai ter tempo para ser um atleta profissional se quiser.

Lucas ficou sem jeito. Era a segunda vez que ele percebera que a intenção do sr. Olavo era fazê-lo ficar mais tempo na mansão.

— Lucas você pretende ser o quê quando estiver já formado? — indagou a sra. Maria Lurdes curiosa.

Aquela pergunta o pegou de surpresa. Já pensara em muitas coisas, mas só por passa tempo mesmo, sem levar a sério, já que as profissões mais atraentes não só dependia de esforço e vontade de querer, se não tivesse um bom investimento seria difícil de realizar.

— Bem... é um pouco complicado de dizer... isso é, tem muitas coisas que me atrai tipo... — ele começara a explicar sem jeito. — Já pensei em um dia ser apresentador de tele jornal, tipo o Willian Bonner.

A sra. e sr. Odebrecht sorriram para ele.

— Jornalismo então? — disse Olavo pensativo. — É uma profissão bastante atraente... tenho um parente que trabalha na central de comunicações da Rede Globo, ele é supervisor-chefe do departamento de notícias de um site da emissora.

Lucas ergueu as sobrancelhas.

— Nossa que massa — disse Lucas tentando esconder o entusiasmo.

— Quando terminar os estudos do ensino médio, e tiver com esse desejo de seguir o jornalismo, posso conseguir a você um encontro com esse meu parente, para te dar algumas dicas, beleza?

Lucas era todo sorriso.

— Meu Deus, isso seria tão foda! — depois percebendo que se expressara de forma radical demais, corrigiu-se imediatamente. — Perdão, quis dizer que é muito bom.

O casal Odebrecht se entre olharam e depois caíram na gargalhada, daquelas que nem parecia um dos casais mais ricos do país.

— Lucas... — dizia o Olavo depois de ficar quase sem ar de tanto que riu. — Não esqueça que David é o nosso filho, e o quanto já escutamos essas gírias dele e de seus amigos, a gente passaria despercebido em uma favela.

Aquele comentário arrancou uma risada de Lucas, que chegou doer a barriga.

— Nossa que risada foi essa, chegou até imitar um porco — observou David se achegando de braço entrelaçado na cintura de sua namorada que fazia cara de esnobe para Lucas, e sorrisinhos pra o casal presente.

Lucas ficou sem graça, mas disparou em seguida.

— Hoje de madrugada quem estava se comportando como um não era eu.

David ficou calado. O seu pai sorriu e piscou para sua esposa, evitando por mais lenha na fogueira.

— Vim avisar que deram os 15 minutos... — comunicou David sério, olhando sem piscar para Lucas que mantinha o contato visual, agora sorrindo provocativo.

Camila estava desconfortada com o que presenciava.

— Vamos nos esconder bem juntinho né amor? — ela o abraçou mais forte.

O sr. Olavo se levantou.

— Não vale esconder dois no mesmo lugar, a casa é enorme, tem cantos de sobra para se esconder — informou. — Só não vale se esconder nos quartos dos empregados, tudo bem?

A alegria de Camila desapareceu na mesma hora.

— Vamos para a sala reunirmos o pessoal — disse a sra. Maria Lurdes conduzindo todos para dentro.