*100K e desabafos*

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O FILHO DA BABÁ chegou ao 100 mil leituras! Obrigado por você ser um leitor e leitora fiel desse romance simples e singelo, escrito para te entretê-lo, mesmo as vezes fazendo você passar momentos de angustia e raiva com capítulos curtos e a demora de ser postado. 

Ainda assim você se supera e não abandona a história, ama os personagens, torcem por eles, irritam com eles, pois quem gosta de algo não esquece e nem deixa de lado. 

Confesso que não esperava muita coisa desse livro. Sim, eu não achava que esse livro alcançaria esse sucesso todo que vem conquistando, mas sempre quando pego pra escrever tento dar o meu melhor a cada capítulo e tento não repetir alguma cena escrita de outro romance meu, mas sabe como é difícil não cair na mesmice? É um jogo de cintura que gasta muita energia. 

Você que escreve sabe do que eu estou falando. 

Eu não poderia deixar de fazer essa homenagem, pois esse livro mereceu, chegou até aqui, com vocês todos, e é para mim um momento incrível. 

Esse mês de Fevereiro é um mês doloroso para mim. Para quem acompanha minhas obras desde Domínio devem saber ou se não sabe vão saber agora, mas esse mês lembra a perda da minha querida mãe, falecida no dia 21/02/2014 e parece uma maldição, desculpe a expressão da palavra, mas fico num estado deprimente por todo mês. 

Chegou até um dado momento de eu procurar assistência médica para curar disso. Sempre fui ansioso, e a recente perda da minha mãe me faz sofrer muito ainda. Sonhos com ela, morrendo, porque ela morreu nos meus braços enquanto a levava no hospital. Cena horrível de esquecer. 

É a vida... como ela costumava dizer: "a única certeza que temos nessa vida é que um dia ela vai terminar" - obvio demais né? Mas as vezes esquecemos disso, e vivemos como se o dia do amanhã pertencesse a nós. Acreditamos que teremos todo o tempo disponível a nossa disposição, achamos que dará tempo de sobra fazer isso e aquilo, e adiamos muitas coisas com a certeza de que "dará tempo", mas e se não der? 

Então refaça seus conceitos de pensamentos, olhe para sua mãe e seu pai, seus irmãos, tios, avôs, amigos, olhem para eles por alguns segundos, mentalize como eles são especiais por estar com você agora, e vai alem, diz isso a eles, se sentirem vergonha, não se preocupe, demonstrar o afeto por alguém especial não deve ser tachado como ridículo, e sim como um dom de amor, reconhecimento, pureza de coração. 

Você já disse "Eu te amo" para alguém que você ama? Se não, vai lá, fale, abrace, beije no rosto, na boca, faça queimar a chama desse sentimento dentro de ti, não deixe apagá-lo. 

Eu jamais terei essa chance novamente, e vejo o quanto desperdicei do meu tempo em não dizer a minha mãe que a amava e que estava agradecido por ela estar comigo. Mas eu amava, era seu companheiro de ir ao culto, esperava ela no ponto do ônibus todos os dias para carregar sua bolsa pesada de frutas que ela trazia do seu trabalho. Era aposentada mas continuava trabalhando na prefeitura da cidade. Sentávamos na varanda falando de tudo, ouvia suas histórias de infância na Bahia, sobre suas tias e minha avó curandeira, que nunca a conheci. Nós tempos de nossos pais, essas coisas aconteciam com mais vigor. Aqui mesmo onde moro, fui curado de muitas doenças sendo benzido por curandeiras, depois de ser levado ao médico e nunca diagnosticado. Meu pai também fora curado por uma benzedeira, e eu acredito nesse dom espiritual ou seja o nome que for. 

Minha mãe era uma evangélica adorável, sempre trazia roupas que ganhava no serviço para doar na obra da piedade de nossa igreja. Suas patroas eram lésbicas, e ela por ser daquela formação antiga, ria das histórias que elas contavam e acredite, se abria com minha mãe suas vidas intimas. Ela tadinha ficava espantada, mas depois de assistir a novela Amor à Vida ela se simpatizara com o personagem Felix, ria dele e ao mesmo tempo xingava-o, mas ela compreendeu através do personagem que todos tinham o direito de amar e encontrar a felicidade, independente de sua sexualidade. A novela abriria sua mente em relação a homossexualidade. 

Um dia discutíamos boca a boca no quintal, e dei a ela a entender sobre minha sexualidade, e ela não ficou puta da vida, simplesmente disse: "Porque você não se assume?" eu olhei para ela, cansado de carregar meu segredo só para mim, e respondi: "Ainda não é o momento certo". 

Veja como é a vida, sua mãe percebe quem é você, vê o quanto está sofrendo por isso, e da um passo para te entender e te ajudar, e nós, em vez de nos apoiar a ela, se preocupamos com o que os outros vão pensar e falar. Não nos falamos desse assunto outra vez, mas ela sempre soube quem era seu filho e sempre me amou, e me fez de seu filho caçula o seu companheiro de caminhada. 

Não escondo mais meus sentimentos, minha família sabe, contei a eles e foi natural, não sofri preconceito, o único que não sabe disso é meu pai, ele não vive com a gente, tem outra esposa, mas é um homem bom, na dele, certamente não vai criar uma tempestade no copo d'água quando souber. 

Sou muito discreto, na minha, não saio gritando que sou Gay, mas não escondo minhas ideias e meu apoio a comunidade LGBT e atuo abertamente como ativista dos direitos LGBT na cidade, e já fui criticado por muitos amigos pela minha posição.

Nossa falei demais da minha vida e da minha saudade. É bom desabafar um pouco, dividir algo real a vocês que leem as minhas ficções. Só espero que não tenham se entediado com minhas reflexões e pensamentos. 

Adoro cada um de vocês, é sério. Vocês realizaram meu sonho de ser lido e ter minhas histórias sendo lidas por milhares de pessoas. Para quem já disse um dia que eu nunca teria sucesso como escritor e que era um escritor de fundo de quintal, hoje quando olho para trás e vejo onde estou, agradeço a Deus e a todos por fazer me sentir realizado, não sou famoso e nem apareço nas revistas, mas sei que isso é superficial e que o que importa mesmo é o retorno de cada um de vocês. 

Me orgulho hoje ser um autor de livros LGBT e dar a nossa comunidade mais visibilidade literária, e mostrar como podemos ser felizes e dar um pouco de nós aos outros de forma voluntária. Dou minhas histórias para você se entreter, e de recompensa acabo fazendo novas amizades que vão para toda minha vida. Quando eu estiver no fim da vida, quero ir em paz, levando cada um na minha memória, deixando meus personagens para as novas gerações que virão. 

Tchau pessoal, obrigadão por ler e votar. Gosto demais de vocês. 

Podem sugerir nomes de alguns artistas para o elenco dessa história? 


O Filho da BabáOnde histórias criam vida. Descubra agora