Preconceito

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O carro de David era bastante confortável, de modo que Lucas sentiu-se todo relaxado no banco, e observava o movimento do lado de fora.

— O que quer ouvir? — David conseguiu obter a atenção de Lucas que estava distraído. Lucas olhou para ele, dando de ombro.

— Não sei, o que você gosta de ouvir?

— Funk — respondeu David sorrindo enquanto observava o terror que formava na face de Lucas. — Estou te zoando.

— Menos mal — suspirou mais aliviado. — Se tivesse que ficar aqui a ouvir funk preferia me jogar do carro.

David gargalhou, e levou a mão no botão do play do rádio e selecionou algumas músicas eletrônicas.

— Espero que não te chateei — apertou o play e uma delas começou a tocar.

Lucas pareceu gostar do ritmo envolvente, e começou a mexer a cabeça como se tivesse vibrando com a música.

— É boa, embora eu não sei o que ele canta.

David riu.

— Não sabe inglês?

— Algumas palavras sim — respondeu ele.

— Por exemplo?

Lucas pensou e disse.

— I Love You.

David riu mais ainda.

— Isso foi uma declaração na lata hem.

— Não foi não, apenas disse uma frase muito conhecida só isso! — se defendeu.

— Sei, entendi, acredito — disse rindo.

— É sério David! — Lucas argumentou, sem obter sucesso.

— Tudo bem, relaxa, não vou contar para ninguém esse seu segredinho — David piscou mantendo um sorrisinho safado.

— Vai demorar para chegar no shopping?

— Uns dez minutos, relaxa, estou brincando com você bestinha — deu um murro de leve no seu ombro.

— Ai — Lucas massageou.

— Para de frescura, eu bati de leve! — Lucas abaixou a cabeça entre os joelhos, e começou a chorar em voz alta. David não entendeu o que estava acontecendo com ele, julgou que o soco foi fraco, e que não ia machucar nem uma borboleta. — Lucas, olha, eu sinto muito, estava só brincando com você!

O som do choro se transformou numa repentina gargalhada e ele revelou sua trolagem.

— Meu Deus você acreditou mesmo que eu estivesse chorando? — perguntou a David que estava com cara abobada, olhando para ele, e para a pista em seguida.

— Você é um idiota sabia? — disse David e depois não rendeu a pegadinha e riu com Lucas. — Até que tem talento para fingir choro.

Lucas controlou a risada e respondeu se vangloriando.

— Tenho muitas outras habilidades que ainda não conhece. —David ficou olhando para ele de um jeito que Lucas logo se corrigiu. — Não é disso que está pensando seu besta! E por favor, olhe para frente, não quero que bata!

O carro entrou no centro da cidade. O movimento era constante. O shopping central logo foi vista por Lucas.

— Já estamos chegando — anunciou David e deu o contorno para adentrar na pista que levava para o estacionamento dos clientes. Passaram pela guarita do local, e encontraram uma vaga.

Saíram do carro e Lucas foi seguindo David. Muitas pessoas saiam e entravam pela mesma entrada, e os dois foram pelo saguão rodeado por vitrines de roupas e outras variedades lojas.

Lucas olhava ao seu redor. Havia escadas rolantes em diversos pontos do grande pátio, que levava ao segundo e ao terceiro andar do prédio.

— O cinema fica no andar de cima?

— Sim — David respondeu caminhando para a escada rolante. Lucas e ele subiram. — Mas antes vamos tomar um milk-shake?

Lucas aceitou.

— Claro.

Caminharam para uma lanchonete e sentaram numa mesinha a espera de serem atendidos. David pegou o frasco de katchup quando Lucas desviou seu olhar e espremeu uma gota na ponta de seu dedo. Lucas desvirou seu olhar, e notou que David estava estranho, como se escondesse algo.

— O que foi?

David disfarçou e olhou para ele.

— Nada, só estava olhando para aquele cartaz ali — indicou com a cabeça, e Lucas girou o corpo de lado para ver que cartaz, e não viu nada, quando desvirou, seu nariz atingiu a ponta do dedo de David melecando de Katchup. — Mas o que é isso?!

David riu, pegando um guardanapo de papel e limpou a ponta do indicador de sua mão.

— Descontei em você pela pegadinha do choro.

Lucas pegou o guardanapo de papel e limpou a ponta do seu nariz.

— Que coisa mais besta de fazer! — reclamou. — Parece uma criança de 7 anos sabia?

David fez uma careta e mostrou a língua para ele, e Lucas amassou o guardanapo de papel e jogou na sua cara, mas David esquivou.

— Errou seu bobo — e Lucas riu junto com ele. Um funcionário passou por eles, ignorando-os.

— Hei, senhor aqui! — gritou David para o homem que havia passado por sua mesa sem olhá-los. O homem uniformizado se virou para ele com muita má vontade. Ficou medindo David e Lucas da distância onde estavam, e caminhou até a eles.

— O que vocês querem? — perguntou arrogantemente, e David afastou a cadeira se levantando. Lucas estranhou, e percebendo que o clima estava ficando hostil se levantou também, segurando pelo braço dele.

— David vamos para outra lanchonete.

O homem olhou o gesto de Lucas e amarrou mais ainda a cara. Alguns clientes sentados ao lado olharam para eles.

— O senhor deveria ser mais educado e servir eu e meu amigo com mais qualidade no seu serviço — disse David friamente, encarando o senhor sem piscar.

— Olhem vão para outro lugar, não quero tipos que nem vocês fazendo escândalos aqui, por favor, podem se retirarem? — pediu o homem tentando não criar uma confusão maior. Lucas olhou assustado para David que ficou inconformado com a resposta do homem, e deu um passo, esbarrando o seu corpo na mesa, mas Lucas o puxou com toda sua força, o fazendo ir para trás com ele.

— David, vamos deixar esse imbecil pra lá, vamos pra fila do cinema, por favor? — implorou e David decidiu escutá-lo, e olhou por cima do ombro com um olhar vingativo para o homem que parecia estar satisfeito por eles terem aceitado a se retirarem.


O Filho da BabáOnde histórias criam vida. Descubra agora