Dezoito

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          Hoje eu iria entrar um pouco mais tarde. Para ser mais exato, depois do almoço, já que Kenna disse que eu me adiantei com o meu trabalho. Coisa que fiquei bem satisfeito. Sou aquele que gosta de adiantar tudo do que fazer as coisas de última hora. O que me ajuda muito em Íllea, já que eu vivo atarefado com reuniões e escolhendo o que é bom para o meu povo.

          Do outro lado da sala, senhorita Ambers ensinava minha irmã com a linguagem de libras. E para uma ajuda extra, Leo também ensinava sua coleguinha. Mas claro, também tinha aquele momento de distração. Em três semanas, Brice havia aprendido muitas palavras em sinais. E só na primeira semana, eu havia ficado louco por não saber o que a minha irmã dizia ou se estava brincando comigo. No fim, acabei que aprendendo algumas coisas e descobri que minha irmã dizia que me ama.

          Levanto do poltrona e sento no chão, ficando ao lado da professora e de frente para as crianças.

          — Então, senhorita Ambers, — chamo sua atenção, enquanto minha irmã e seu amigo se comunicavam com sinais. A jovem dá um pequeno pulo de onde está e me encara — O que te incentivou a seguir essa carreira? Digo, como professora de Libras ou que a fez querer aprender?

          — Meu irmão. — responde sincera para depois olhar para o pequeno Leo — Ele é o mais velho e para nos comunicar com ele, todos em casa tiveram que aprender essa linguagem de sinais.

          — Entendo. E ele não quis recorrer a nenhuma cirurgia? — lembro do diretor comentar que seu filho está animado com a possibilidade de uma melhora em suas vidas.

          — Ele não liga para isso. E sabe por que? — nego, a observando enxugar uma pequena lágrima que sem querer, ela deixou cair — Porque a cada dia, ele vive como se fosse o último.

          — Seu irmão é uma joia rara. — sou sincero.

          — Sim, ele é. Eu o amo tanto, que meu noivo fica até enciumado. — comenta feliz, dando uma leve e baixar risada — Ele diz que vai romper nosso noivado, mas eu sei que é apenas uma brincadeira para eu dar atenção. Meu noivo é tão dramático! — De repente, ela me encara assustada e pões as mãos em frente a boca — Desculpe, as vezes eu me empolgo e falo demais.

          — Tudo bem. - sorrio, demonstrando a ela que eu não me importo com isso — Tenho certeza que seu noivo é um homem de sorte por tê-la para compartilhar o resto de sua vida.

          A vejo corar e sorrir. —  Obrigada. E a pessoa que você escolher para passar o resto de sua vida, terá muita sorte.

          — Assim eu espero. — murmuro para mim mesmo, mas tenho certeza que ela escutou, já que assentiu e voltou a dar aula para minha irmã.

—•—•—

          Acho que agora eu entendo o motivo de eu ter entrado tarde no começo da semana, Kenna entupiu minha mesa com afazeres. Sem contar que eu praticamente virei um secretário, porque eu seguia ela para cima e para baixo com uma caderneta em mãos. Mas, agradeço por amanhã ser minha folga.

          Após um banho para relaxar, sento-me no sofá da sala, mas, sinto algo contra a minha pele e vou mais para o lado, vendo que se tratava do bracelete da America. O que isso faz aqui? Bom, ela deve ter esquecido quando veio aqui na semana passada. Pego o objeto e deixo no centro da mesinha de vidro da sala.

          — Silvia, alguma novidade de casa? —  pergunto preocupado. Hoje faz um mês que não recebo nenhuma ligação ou e-mail. Estou preocupado.

          — Desculpe, Maxon. — assenti e dirigi minha atenção para a televisão para ver se eu conseguia me distrair.

          Tudo bem que meu tio disse que desta vez, poderia demorar para ele escrever um e-mail para mim. Mas uma ligação? Era só a minha mão me ligar e dizer que eles estavam bem ou que pelo menos estavam vivos. Certo, isso foi muito cruel vindo de mim. Mas, eu estou preocupado! E quando eu estou assim — como meus amigos sempre dizem —, fico insuportável. E é até por isso, que eu não vejo Carter e Aspen algumas semanas.

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