Trinta e Oito

673 50 12
                                    

Eu não sabia exatamente o que eu estava sentindo nesse momento. Não era ódio, isso eu sabia. E também sabia que o meu cérebro não parava de ficar processando tudo novamente, tentando entender o que levou o meu tio a comandar esses ataques contra a própria família, e ainda com uma criança, sua sobrinha, no meio.

Para o meu desespero, minha mãe já estava sabendo sobre o tio Gavril e eu não fazia a menor ideia de quem poderia ter contado a mesma... Não, eu sabia sim. A chance de ser Carter quem lhe contou eram altas. Como ele é um guarda que foi recrutado um pouco a mais de quatro anos, ele ainda sentia um pouco de medo da minha mãe. E desde que eu o conheço, nunca o vi a desobedecer uma regra da rainha. E fora por isso que Carter virou o guarda pessoal da minha irmã. Pois ele só obedecia às ordens de minha mãe e raramente atendia uns desejos absurdos da princesa, como querer sair de madrugada para pegar doces na cozinha. Mas desde que voltamos, ele trabalhava mais para mim do que para Brice ou minha mãe.

Antes mesmo de eu virar para o corredor que dava para a sala de interrogatório, fui barrado pelos meus amigos que me olhavam com o horror estampado em suas faces. Algo aconteceu e eu tinha certeza disso, já que ambos não paravam de se olhar e depois me enviavam um olhar preocupado.

Afastei-me do corredor e das pessoas da assembleia, aproximando da enorme janela que dava para avistar a um dos jardins laterais do palácio.

— O que descobriram? — Questiono, sem rodeios.

— Quando encontramos o seu tio, o pegamos chicoteando um homem. A pessoa está no hospital com cortes sérios nas costas. — Respondeu Carter, de forma profissional mantendo sua postura, assim como Aspen.

— E não era apenas um homem que estava mantido em cativeiro. Haviam vários deles. Aproximadamente umas 50 pessoas. — Aspen me entrega um envelope.

Rapidamente o pego e vejo o que tem dentro, encontrando várias fotos de homens presos num lugar deplorável. Tio Gavril os estavam tratando como se fossem ratos morando no esgoto. Meu sangue ferve e eu devolvo o envelope com as imagens ao meu amigo.

— E onde estão essas pessoas?

— Estão dentro de um ônibus a caminho do palácio. — Um guarda disse ao se aproximar de nós. O mesmo faz uma reverência.

— Ótimo, comandante. Quando chegarem, deem água a eles e algo para os mesmos comerem. Afinal de contas, eles estão com fome. — Os três assente e eu peço licença, indo de encontro com os outros guardas, que me escoltam até a sala onde o meu tio se encontra.

Ao invés de ir para a parte onde meu tio se encontra, sou direcionado para a outra sala, onde, através de um vidro, eu posso ver o que acontece com Gavril Schreave, mas ele não pode ver quem está do lado onde estou ou o que ocorre aqui.

Há várias pessoas neste lado da sala, principalmente a minha mãe que o olha triste e tentando entender o que levou o meu tio a nós prejudicar. Viro na direção do espelho e o vejo com um sorriso sínico nos lábios. Ele responde as perguntas do oficial com outras perguntas e não dá as respostas que queremos.

— Por que não fala para o meu sobrinho vir aqui? Tenho certeza que ele mesmo quer tirar essas próprias respostas de mim. — Gavril cruza os braços e relaxa na cadeira sem se importar de estar sendo observado.

O oficial que estava lá com ele, agora se encontra entrando na sala e acenando para que eu entrasse.

Antes de eu ficar cara a cara com meu tio, inspiro e expiro o ar. Faço isso até eu encontrar um equilíbrio na minha mente, mas ele se vai assim que eu o vejo com aquele olhar cruel e frio.

CalixOnde histórias criam vida. Descubra agora