Nove

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          — Calix, leva esses relatórios para o diretor. ― Kenna, minha chefe manda um pouco carrancuda.

          ― Agora, mesmo. ― pego as edições de cima de minha mesa e deixo o escritório, indo em direção do elevador.

          Fico um tempo aguardando pelo elevador e assim que as portas do mesmo são abertas, entro e logo aperto o botão do décimo quinto andar.

          Já se fazia uma semana e meia que eu trabalhava na Your Point of Information. As coisas aqui são bem agitadas, são pessoas correndo com blocos de papeis, com seus aparelhos eletrônicos, com pastas, pessoal da limpeza e de tudo um pouco. Aqui, eu era apenas um separador de notas e um correio, que vivia andando de um lado para o outro, subindo e descendo com papeis para entregar para minha chefe ou para o diretor. Infelizmente, Aspen não conseguiu o cargo. Mas ele havia arranjado um emprego na barraca de jornais aqui da esquina.

          Deixo o elevador e direciono-me até a secretária, me liberando de entrar na sala do diretor. Antes de entrar, peço licença e fico um tanto constrangido a deparar-me com tal cena. Não era a primeira vez que eu o pega aos beijos intensos com uma mulher. Mas presenciar a cena praticamente quase todo dia, é constrangedor.

           ― Calix. ― senhor Orders diz, ajeitando sua camisa para dentro da calça.

           A mulher que o beijava, ajeitava sua roupa enquanto calçava seu sapato. Ao passar por mim, deu um meio sorriso e deixou a sala como se não tivesse acontecido nada.

          Aproximo da mesa de James e entrego os relatórios a ele. No entanto, acabo que derrubando um porta-retrato no chão. Por sorte não havia quebrado. E ao virar o objeto, vejo uma fotografia de um menino dos olhos castanhos escuros e um cabelo liso, também castanho, com um sorriso sapeca nos lábios. A criança deveria ser pouca coisa mais velha que a minha pequena Brice.

           ― Meu filho. ― ergo meu olhar para o diretor que segurava um copo com algum líquido alcoólico.

           James é pouca coisa mais velho que eu, mas as olheiras de noites mal dormidas, fazia com que o mesmo parecesse que tivesse o dobro da idade. Certo, eu devo ter exagerado agora. Mas que ele parecia cansado de mais, parecia.

          ― Como ele se chama? ― minha curiosidade falou mais alto agora.

           ― Leo. Leo Orders. ― assenti, voltando a fotografia de volta ao seu devido lugar.

          ― Ele é lindo. ― comento, pronto para deixar a sala ― Tenho certeza de que deve ser uma criança extraordinária.

          ― Leo é um dos motivos que me mantem vivo. ― percebo que seu tom de voz, mudou para triste. ― Calix, você é um bom ouvinte?

           ― Bom, meu pai sempre diz que eu sou bom em ouvir as pessoas. ― respondo meio indeciso ― Por quê?

           ― Estou precisando desabafar. ― ele sorri torto ― E você parece ser um bom amigo. Sente-se.

          Faço o que ele manda e ele senta na cadeira ao lado. Logo, James começa a desabafar sobre sua vida. Ele revela que a mãe de Leo faleceu há poucos meses em um assalto ao banco e que, ele se vê perdido e desorientado sobre ser um pai e ao mesmo tempo uma mãe para o seu filho. Leo tem uma deficiência auditiva e James fala que esse problema não interfere em nada, pois o mesmo o ama de mais. Mas, a pedido de seu filho, ele comentou que conseguiu marcar uma cirurgia para daqui, dois meses. Não é cem por cento garantido de que ele poderá ouvir, mas o menor está tão animado, que tem certeza de que dará tudo certo.

CalixOnde histórias criam vida. Descubra agora