Bônus 2 - Part. 3

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Fazia uns dez minutos que Celeste não parava de olhar para a casa onde viveu com seus pais. O taxista havia a deixado em frente ao seu apartamento, mas ela não estava pronta para voltar para o aconchego de sua cama. Então, decidiu vagar pelas ruas de Carolina enquanto pensava sobre quando sua vida amorosa começou a dar errado.

Em meio ao choro, ela sorria ao se lembrar dos momentos felizes e dos momentos que ela ficava brava com sua mãe por não deixar comer algum doce perto do horário ou quando seu pai não comprava uma boneca que era febre na época. Quando era pequena, Celeste não tinha noção de que as broncas que levava a faria ficar com falta. Pois quando se mudou para a casa dos tios, ela era quieta demais para receber alguma bronca. Os Singer nunca tiveram trabalho com ela, eles a levavam em todos os parques com os filhos e passavam boa parte com eles. Mas Celeste sempre ficava quieta no canto enquanto sentia inveja de seus primos por ainda terem pais.

Ela atravessou a rua, caminhando em direção do portão da casa. A mesma sempre agradecia seu tio Shalom por nunca botar a casa de seus pais à venda. Quando se tornou de maior, ela foi morar ali mas na semana que ficou, apenas chorou. Então ela fechou o imóvel e pagou por um apartamento, pagando apenas uma faxineira para limpar a casa uma vez por semana.

Destrancou a porta da frente e logo sentiu o cheiro familiar dos Newsome. Celeste não chorava, mas sentia seu coração se apertar a cada passo que dava dentro daquele lugar. Caminhou pelo andar com calma, absorvendo cada lembrança de cada cômodo.

Subiu as escadas e passou os dedos pelas fotografias que estavam nas paredes, parando em frente de uma em que seus pais estava um de cada lado da criança, beijando as bochechas rosadas dela. Era seu aniversário de três aninhos. A pequena Celeste abraçava seus pais e com as mãos melecadas de chantilly, passava nas bochechas deles. Os três estavam sorrindo e ela lembrou que que aquele dia foi o melhor de todos.

Depositando um beijo na fotografia, ela seguiu o corredor, visitando o quarto de seus pais. Celeste se aproximou da cama, observando que a faxineira colocou o jogo de cama que seu pai mais adorava, que era um edredom com a fotografia dela estampada. Ela riu baixinho lembrando de quantas vezes sua mãe ficava brava com seu pai por querer trocar de edredom quando chegava visita.

Olhou em volta, e viu a porta do closet fechado. Ela adentrou, vendo as roupas deles organizadas por tamanho. Os tecidos foram lavados recentemente mas continuam com o mesmo cheiro deles. Os sapatos de sua mãe estavam perfeitamente enfileirados e os de seu pai estavam guardados de acordo com sua ordem, alinhados perfeitamente e com os cadarços em um perfeito laço.

Deixando o quarto das falecidas pessoas, foi para o seu.

A primeira coisa que fez ao entrar em seu quarto, assim que fechou a porta do mesmo, foi desabar no chão sentindo todas as suas energias sendo sugadas por uma força de outro mundo. Celeste se encolheu no chão enquanto flashes do passado passavam pela sua cabeça. Não só de quando ela era pequena, mas sim, de tudo que viveu até aquele momento.

Celeste sentiu-se pequena perante as batalhas da vida. Pessoas importantes morrendo, o mundo a julgando por seus defeitos e problemas para ainda serem enfrentados. Ela sabia que havia muitas outras pessoas com problemas bem maiores que os dela, mas para a mesma, tudo aquilo parecia demais para alguém sozinha nesse mundo.

Aos poucos, começou a sentir seu corpo ficando pesado e suas pálpebras não conseguia ficar mais abertas. Então, ali mesmo, no chão, retirou os saltos dos pés, se aninhou de forma confortável sobre o tapete cinzento de pelinhos e começou a murmurar partes de uma música que sua mãe cantava para ela poder dormir.

Minha grande luz, você é tudo para mim.

Não deixe que o mundo apague sua felicidade.

CalixOnde histórias criam vida. Descubra agora