Calix

Vinte e Dois

|America Singer|

          Desde quando eu havia ficado tão cansada? Certo, eu tenho uma resposta para essa minha pergunta. Grávida. Simples assim, barriga, comer pra caramba, engordar, dormir, acordar, passar mal, desejos e, tomar banho. Minha vida se resumia a isso. Eu mal tinha carga para ir trabalhar. No início, eu suspeitava que viria gêmeos ou trigêmeos de tanto que eu ando cansada. No entanto, já foram feitos vários ultrassons para constatar que é apenas uma menininha, cujo o nome eu ainda não escolhi. Quero algo diferente e que se destaque no meio de todos e de tudo.

          Todos me perguntam se eu me arrependo por querer fazer sexo com um fulano e não ter me protegido. Sim, em uns aspectos sim. Eu gostaria que minha filha tivesse um pai com quem eu seria casada para o resto da minha vida e que eu o amasse condicionalmente. Mas, não foi isso que aconteceu. Eu mal lembro da feição do homem! Meus colegas disseram que eu estava podre de bêbada e que eu havia insistido para transar com o rapaz. Lógico que eu sinto vergonha de mim mesma por essa minha atitude, mas o que eu poderia fazer? Eu estava inconsciente! Não culpo esses meus colegas, aliás, eles não são meus amigos ou família para cuidarem de mim.

           Penso, que agora, tudo tem um limite. Só que, essa minha regra parecia não se aplicar em uma única pessoa, bom, em duas pessoas não se aplica isso. Primeiramente, logo cedo, minha filha já não tem limites! Vivo comendo. E em segundo, é um homem que eu vivo chamando de Loirinho. Tenho dois motivos por chama-lo assim, e o primeiro; é porque ele é loiro mesmo. Segundo; é porque o nome dele é um tanto diferente e parece não combinar tanto. Sei que eu disse que quero algo diferente para minha filha, mas sabe quando tem nome que não combina com a pessoa? Essa é a questão sobre ele, Calix. É complicado de explicar.

           Mas tem algo que não é complicado de explicar para mim. Desde pequena, eu sempre fui convicta de tudo que eu quis e quero para minha vida. E certamente, o Loirinho está no meio disso. Eu o quero na minha vida, quero que faça parte dela. Mas toda vez que eu falo de meus sentimentos a ele ou quando eu vou dizer que eu o amo, ele sempre vem com aquele papo de que ficará por um curto tempo, ou me interrompe com um gesto bonitinho. Tudo bem, eu entendo que ter relacionamentos à distância é complicado, mas poxa, não dizem que o amor vence barreiras? Então, eu estou disposta a isso. Mas, pelo visto, parece que ele anda meio indeciso com seus sentimentos.

           — Não acha que você está muito em cima dele? — essa, é a Celeste dando uma de sabe tudo pra cima de mim.

           — Prima, eu apenas estou cercando o que eu quero para mim.

           — Nossa, Ames. Está até parecendo que você é o namorado possessivo. — ouço a cabeçuda da minha amiga, Marlee, comentar. Reviro os olhos para o seu comentário.

           — Ah é? E quem está cercando o amigo dele, hein? — imediatamente, a vejo corar e murmurar alguma reclamação.

           — Vocês duas são tão infantis!

           Não me sinto no direito de responder Celeste. Nuca em minha vida eu respondi ela ou briguei com ela. Celeste perdeu os pais muito nova, assim, sua guarda ficou para os meus. Ela se fechou para todos nós. Não sabíamos direito como ajuda-la e a mesma, não aceitava que a consolasse. Então, ela se fez de forte e começou a se virar na vida. Assim que ela se tornou de maior, saiu de casa e começou sua vida própria com a fortuna dos pais falecidos. Mas isso, não é uma coisa que destrói sempre ela.

          Há cinco anos atrás, ela se apaixonou por um rapaz gentil que sempre a fazia sorrir. Torci muito por eles, os mesmos chegaram até ficar noivos. No entanto, o que era para ser uma surpresa, acabou se tornando em uma tragédia. Seu noivo tinha ido viajar para cidade vizinha de Carolina a respeito de emprego. Ele e Celeste haviam discutido feio nesse dia porque ela havia dito que dava para ambos sobreviver do salário dela de modelo, e ainda, dava para construir uma família. Mas ele não estava pensando nele, ele pensava nela e no futuro de seus filhos que eles planejavam ter. Só que foi em vão, na mesma noite, quando ele planejava um jantar romântico para pedir desculpas e contar que conseguiu o emprego, houve um acidente que acabou levando a vida do mesmo. Minha prima ficou arrasada, destruída e foi até parar no hospital. Celeste tinha perdido muito peso e a agência em que ela trabalhava, acabou despedindo ela. Foi o pior ano para ela, e me dói vê-la sozinha e com medo de se apaixonar por achar que essa pessoa também possa ir embora como aconteceu com seus pais e noivo.