Capítulo 34.

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Estava me sentindo um lixo, a pior pessoa do mundo. Como se eu tivesse feito a coisa mais errada da face da terra. Por que ele havia feito aquilo comigo? Quem era ele afinal? Desde o começo ele tinha se mostrado um cara tão paciente e carinhoso, não conseguia acreditar que justamente essa pessoa era na verdade esse monstro. Não consegui perceber nenhum resquício de violência em suas atitudes durante esses meses. Quer dizer, assim que eu fui para a Espanha e descobrimos juntos a armação do telefone – onde tinha alguém se passando por mim na tentativa de nos afastar –, ele se mostrou bem raivoso e chutou uma escrivaninha, pelo o que me lembro, mas foi com um objeto, nada comigo. Ele nunca foi violento comigo, nem mesmo quando eu dei um chilique no celular por causa da Belinda. Ainda assim, ele manteve a calma.

Ali mesmo no corredor, desmanchei-me em choro, claramente decepcionada. Um choro que estava contido dentro de mim só para não parecer tão fraca. Mas a verdade é que eu era fraca quando se tratava dele. Palavra alguma era capaz de explicar o quanto eu o amava. Minha vida era ele. Todas as suas ações tinham um efeito surreal sobre mim porque não era mais uma das quatro forças fundamentais da natureza que me prendia ao chão, e sim ele.

Susana: Maria, que gritaria foi aquela?  –a ouvi perguntar afobada.–  Meu Deus! O que aconteceu minha querida?  –agachou-se ao meu lado.–

Maria: o Abraham...

Não consegui terminar de falar.

Susana: vamos pra dentro. Se acalma. –abraçou-me, conduzindo-me até o seu quarto.–

*

Susana: tá mais calma?  –perguntou enquanto eu dava um gole no copo de água com açúcar que ela havia preparado. Assenti.–  Agora me conta o que houve...

Maria: eu acabei com o Abraham.

Susana: mas por quê?  –olhou-me surpresa.–

Contei tudo o que tinha acontecido, bem detalhadamente tentando usar meu melhor português, sem contrações, sem nada, para que ela pudesse me entender.

Susana: eu não acredito!  –exclamou indignada.–  Não foi assim que eu o criei... Eu que vou bater naquele cretino.

Maria: não, tudo bem Susana. Melhor não prolongar essa história... Ele já mostrou que não está nem um pouco arrependido e tem convicção de que eu estou errada... Eu vou voltar pra o Brasil e ele vai estar livre pra encontrar alguém que não seja louca e descontrolada.

Susana: você não está errada Maria. Eu te entendo! E você agiu bem. No seu lugar eu teria feito o mesmo. A Belinda desde pequena tem o dom de semear a discórdia. Ela faz as presepadas dela e sai fora bancando a santinha. O Abraham não deveria ter entrado na onda dela...

Maria: mas ele caiu na dela.  –disse séria.–  E depois do que ele fez, eu... Só quero sumir daqui e esquecer que tudo isso aconteceu.

Susana: Maria, vocês se amam... Não acha melhor sentar e conversar com ele?

Maria: pra ele me bater de novo?! Não, obrigada.

Susana: eu sinto muito... Poxa, eu me apeguei tanto a você. És como uma filha pra mim. Meu coração tá apertado em saber que você vai partir...

Maria: eu também me apeguei muito a você Su. Não vamos perder o contato...  –a abracei.–

Susana: temos uma coisa pra você... Íamos contar só quando voltássemos pra Espanha, mas... Acho que você deve saber.  –olhei-a sem entender.–  O Jacobo te contratou na empresa dele. Preparamos um curriculum pra você e te colocamos lá...

Insta Direct || Abraham MateoOnde histórias criam vida. Descubra agora