Insta Direct || Abraham Mateo

Capítulo 36.

REVISADO

O encarei. Por um momento pensei em sair dali e ignorar seu pedido, mas um beijo era também tudo o que eu mais queria. Gostaria de poder sentir seus lábios uma última vez, sentir seu toque, sentir seu cheiro, poder apenas senti-lo e guardar cada detalhe dele em minha memória. Nunca me incomodei com despedidas, eu tinha o pensamento de que algumas coisas se fossem para serem suas, elas simplesmente eram para sempre, então não havia razão para se preocupar com o óbvio, pois não era o fim, contudo, agora olhando em seus olhos eu podia perceber todo esse paradigma ir por água abaixo. Era uma angústia, um desespero que consumia o meu ser por completo. Uma dor tão absurda e triste que sufocava meu coração e me deixava totalmente desorientada. Por mais que parecesse exagero, não era. Eu sentia como se o mundo à minha volta tivesse perdido a cor, perdido o sentido. O mundo havia silenciado e a única pessoa capaz de reverter essa situação, era justamente a mesma que me causara esse sofrimento. Bem lá no fundo eu sabia que não ia conseguir mais sentir alegria nas coisas que antes me deixavam feliz, e eu tinha sido feliz ao seu lado, muito. Era um sentimento que eu desejava que não acabasse e que com certeza não iria ser ofuscado, muito menos apagado. Com ele eu tinha paz, aconchego, cumplicidade e, principalmente, com ele eu me sentia amada. Apesar de ter sido eu a tomar a decisão de deixá-lo, mesmo assim eu me sentia perdida e triste. E era uma tristeza profunda, uma mescla de saudade e perda.

É, deixá-lo poderia ser doloroso, mas muito pior ainda estava por vir... ter que aprender a viver sem ele. Esse seria meu maior desafio, e também meu pior castigo.

Não falei nada. Com lágrimas nos olhos, tanto nos meus quanto nos dele, me aproximei calmamente. Estávamos perto o suficiente para o feito, mas ele não avançou em minha direção, e nem eu. Fechei meus olhos me entregando ao momento ao sentir a ponta dos seus dedos acarinhar minha bochecha. Meu último momento com ele. Ele enxugou minhas lágrimas cautelosamente e beijou minha testa de forma carinhosa. Quando nossos olhares se encontraram, não tive outra escolha, num impulso acabei com o pouco de distância que havia entre nós e selei nossos lábios. Selei nosso amor num beijo calmo e que ao mesmo tempo era desesperado. Tínhamos urgência por nosso contato. Uma onda de eletricidade percorreu dentro de mim quando nossos corpos se chocaram, me deixando completamente extasiada. Senti meu coração bater com mais velocidade e o sangue aquecer em minhas veias, juntamente com um friozinho na barriga. Foi como nosso primeiro beijo. Uma tremenda e belíssima ironia, pode-se assim dizer. Pura nostalgia. Meu corpo não obedecia mais. Minhas mãos estavam entre seus cabelos, os puxando com voracidade. As suas pousavam em minha cintura, me apertando, me trazendo mais para si.

Cessamos o beijo por falta de ar. E ainda com nossas testas coladas, respirávamos ofegantes, esperando a temperatura dos nossos corpos estabilizarem.

Abraham: fica, por favor. –saiu como um sussurro.– Só por essa noite...

Maria: eu fico, Abraham, eu fico. –disse por fim. Eu sabia que me arrependeria de ter afrouxado um pouco as coisas, mas sabia também, que me arrependeria ainda mais se não ficasse ao seu lado por mais algumas horas.–

Ele deu um sorrisinho meio de lado e puxou minha mão com cuidado, me conduzindo até a cama. Se sentou, se inclinando para deitar – nossas mãos ainda estavam entrelaçadas – e eu parei, literalmente travei, lançando um olhar hesitante. Imediatamente sua expressão mudou, sua feição se tornou mais tensa. Ele me encarou franzindo a testa, parecia uma criança assustada quando perde sua mãe de vista. Era extremamente visível a aflição em seu olhar, o medo de que eu pudesse dar para trás e deixá-lo o quanto antes. Não estava sendo fácil para ele saber que no dia seguinte eu sumiria da sua vida, creio eu. Todavia, pior mesmo estava sendo para mim, sem sombra de dúvidas. Deixar alguém que se ama é uma das decisões mais difíceis a serem tomadas. Na verdade, decidir é até fácil, complicado é proceder, é realmente ir em frente com a escolha. Eu precisava ser forte.