Capítulo 53.

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Voltamos para a sala de espera novamente e estavam todos lá reunidos, dessa vez até o Martin. A Ana (nome fictício), sentada mais ao canto, tinha seu rosto coberto pelas mãos e chorava desesperadamente, inconsolável. Caminhei rápido, me aproximando dela e sentei ao seu lado, tentando consolá-la. Perguntei o porquê dela ter perdido o controle tão de repente e não obtive resposta, ali só ecoava o lamento da mulher que um dia já chamara de sogra. Olhei em volta à procura de um olhar que sanasse minha dúvida e logo um homem loiro e alto, vestido com uma bata branca tomou conta do meu campo de visão, me fazendo finalmente entender o que se passava.

Doutor: você é...?

Maria: sou amiga do Andrés, doutor. –o cumprimentei com um cordial aperto de mãos.–

Doutor: bom... como eu já falei anteriormente... –ele parecia escolher as palavras.– O Andrés... primeiramente, a cirurgia ocorreu bem, mas... infelizmente, ele sofreu uma pancada muito forte na cabeça causando um traumatismo craniano e... –pus a mão na boca surpresa e assustada, já imaginando o que viria pela frente.– Ele não reage a nenhum estímulo nosso... eu... eu sinto muito.

Maria: ele tá em coma? É isso o que você quer dizer?

Doutor: é, é isso mesmo.

Sentei na cadeira ainda digerindo toda a informação. Olhei para o Abraham quase não acreditando no que meus ouvidos tinham acabado de escutar e juntei minhas mãos as entrelaçando uma na outra, encostando minha testa e apoiando minha cabeça, querendo sumir por dentro. Eu estava arrasada e sem forças, com uma notícia tão avassaladora e inesperada, sentia como se meu corpo fosse desfalecer se eu me atrevesse a levantar de novo. Não me veio lágrimas aos olhos, mas o sentimento de vulnerabilidade e impotência me consumiu inteira, desgastando a minha mente, muito pior do que se minha angústia tomasse forma de pranto. Abraham se sentou ao meu lado e me abraçou, beijando meu ombro em seguida, e um gesto que sempre fora capaz de me acalmar, naquele momento – para a minha infelicidade – não atingira seu objetivo.

Abraham: vai ficar tudo bem meu amor. –alisou meu braço carinhosamente.– Vaso ruim não quebra. –disse bem baixinho em meu ouvido para que apenas eu pudesse escutar. Ainda bem!–

O encarei, o censurando com um olhar que demonstrava desaprovação ao o que ele tinha dito, porém logo dei de ombros. O efeito dos seus dizeres em mim agora me provocava de outra maneira, fazia eu sentir uma mescla de divertimento e culpa. Divertimento pela verdade que seria cômica se não fosse trágica, e culpa por achar graça de uma brincadeira relacionada a algo tão sério e triste. Só Abraham para me relaxar numa situação dessas, mesmo dizendo uma coisa um tanto inapropriada. Como eu amo esse rapaz!

Doutor: ele será submetido a mais alguns exames e amanhã mesmo, no caso hoje, será transferido pra um hospital mais equipado em Madrid, como foi solicitado.

Gonzalez: obrigado, doutor. –respondeu com pesar.–

Doutor: por nada. Eu sei que é um momento delicado pra tocar nesse assunto, mas... algum responsável tem que ir resolver algumas burocracias o quanto antes.

Abraham: eu passo lá pra resolver toda a papelada. –quebrou o silêncio.–

Gonzalez: muito obrigado, mas não precisa, Abraham. –interviu.–

Abraham: não, eu faço questão.

Gonzalez: você já fez muito por hoje. Daqui pra frente a gente assume, a gente dá um jeito.

Insta Direct || Abraham MateoOnde histórias criam vida. Descubra agora