Capítulo 45.

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Abraham: sou eu doutor.

O médico franziu a testa estranhando, afinal, o Abraham tinha falado em espanhol e ele, definitivamente, não esperava por isso.

Maria: ele não é daqui.  –dei um sorrisinho sem graça e ele apenas assentiu.–

Xxxx: em outra situação, te conhecer seria muito bom pra eu treinar meu espanhol enferrujado, mas...  –falou em espanhol se direcionando ao Abraham, sorrindo de lado.–  Me acompanhem!  –prosseguiu calmo.–

Seguimos o homem de cabelo grisalho por um longo corredor – que me deu calafrios por sinal. Sempre detestei hospitais – e então adentramos numa sala onde continha a sigla UTI cravada na porta de entrada. Tinham cerca de seis pessoas naquele local, contando com o Lucas e o espaço de cada uma era delimitado por uma cortina azul de tecido encorpado, mais espesso, adequado ao ambiente por causa da fragilidade dos pacientes que ali se encontravam. Eu nunca tinha entrado num lugar como aquele na minha vida e me assustei com o que vi, a fisionomia das pessoas era diferente, a grande maioria estava inchada, com tubos fixados em seu rosto e corpo, com aparelhos ligados a fios auxiliando em coisas e ações que o corpo estava sensibilizado demais para exercer, ou até impossibilitado mesmo. Vivenciar aquilo me fez parar para pensar que a gente reclama demais, e por tão pouco, enquanto tem pessoas que só querem o mínimo para sobreviver. Às vezes maldizemos a vida quando não conseguimos o que queremos, quando um plano que fizemos não dá certo, pela falta de dinheiro em alguns momentos, a faculdade que está puxada, o colégio que não acaba logo, ou um namoro que não vai bem, e no fundo esquecemos do principal, nos esquecemos do que realmente importa, que temos saúde, temos ar em nossos pulmões e uma mente cheia de sonhos suscetíveis a se tornarem realidade. Nós temos a capacidade de buscar força de vontade, ou uma força interior que muitas vezes a gente até nem acredita ter, para correr atrás das coisas e atingir nossos objetivos mesmo quando nada está a ir bem. Sabe, a vida é algo espetacular e não podemos nos privar de apreciar isso, não podemos fechar os olhos para as inúmeras coisas maravilhosas que existem a nossa volta, precisamos dar mais valor as coisas simples e não deixar que a negatividade alheia nos impeça de seguir em frente. Não devemos baixar a cabeça nunca, n-u-n-c-a. Não importa o que de ruim aconteça, temos que erguer a cabeça e fazer valer um novo dia, porque nenhuma tempestade – por mais agressiva e impiedosa que seja – dura para sempre.

Calmamente nos aproximamos do nosso amigo. Ele estava com uma cânula no nariz para que pudesse respirar, acho eu, e com uma facha enrolada em volta de sua barriga, manchada um pouco de sangue na região próxima ao tórax devido ao ferimento sofrido. Sinceramente, vê-lo naquele estado fora de partir o coração e eu obviamente não consegui poupar as lágrimas.

Xxxx: qualquer coisa é só chamar.  –o doutor saiu nos deixando a sós.–

Lucas: não chora Maria. Se não, eu vou chorar também e não vou conseguir dizer o que preciso.  –falou, em inglês para que o Abraham entendesse, com bastante dificuldade.–

Abraham: tem certeza que não pode deixar pra dizer depois? Fazer esforço pode não te fazer bem...

Lucas: relaxem! Eu to bem.

Maria: estar aqui não é estar bem.

Lucas: eu já estive pior.  –disse descontraindo, nos fazendo sorrir.–  Eu...  –tossiu seco, mas logo se recompôs e continuou.–  ... Eu pedi que viessem aqui porque, na verdade eu não queria que ninguém viesse aqui e me visse assim, mas como sei que não tenho muito tempo mais...  –o interrompi.–

Insta Direct || Abraham MateoOnde histórias criam vida. Descubra agora