- SERÃO ETAPAS DIFÍCEIS DE SEREM ultrapassadas, pois terão como propósito derrubar cada um de vocês. Força e determinação precisam estar unidos em uma combinação de poder. Espero que dêem o seu melhor, porque não vou aceitar algo que seja menos que isso. - disse Telórius, mentor da primeira geração do Jogo Elemental.
Meus pais já haviam falado de como ele era rígido e objetivo, mas eu achei que ele tinha seus momentos de descontração. Ao passar duas horas presa em uma sala com ele, fazendo anotações mentais sobre preparação e revisamento de aprendizados anteriores, não tive tanta certeza assim. Era como se ele tivesse sido programado exatamente para nos treinar, sem ter nada mais como meta na vida. Ouvira dizer que havia um tempo em que Telórius fora casado, mas sua mulher tinha desaparecido com o filho único do casal, e desde então ele tinha resolvido se isolar, aparecendo somente quando uma nova geração teria que passar pela Profecia do Elemental.
Dentro destas duas horas em sua presença, ele já tinha me repreendido por conta da postura, reclamado com Thomas por ele estar distraído e chamado Aurora de petulante por ela tentar corrigi-lo durante um aviso sobre ter cautela antes de escolher um caminho durante uma das provas, qual ele não especificou. De repente, a porta foi aberta e nossas cabeças foram viradas na direção do intruso, porém Telórius nem se dignou a olhar para trás.
- A que devemos a honra de sua presença Anthony Christian Jason Blakely Fire, Príncipe Herdeiro do Clã do Fogo, O Aponta Pra Mim Que Eu Te Mato? - ele disse, virando com agilidade as páginas de um livro grosso encapado com couro.
Meu olhar cruzou com o de Jason, mas virei a cabeça para frente antes que aquela droga de mudança de cores acontecesse.
- Desculpe pelo atraso, Tio. - ele disse, tomando o assento ao meu lado e o afastando para perto de mim de modo que ficássemos quase colados um no outro. - Tive um imprevisto.
- Ah, é? - ele perguntou, finalmente erguendo os olhos. - Primeiramente, aqui não sou seu tio, mas sim seu professor. Segundo, da próxima vez que se atrasar para uma audiência comigo, não precisa aparecer. Terceiro, eu ouvi a sua exibição do lado de fora da sala e achei terrivelmente desnecessário. - ele olhou para mim naquele momento. - E acho que você deve algumas boas desculpas à senhorita Bloom Wave, pela indelicadeza que cometeu ao chamá-la de "criancinha".
Levantei a cabeça, encarando Telórius pela primeira vez na conversa, surpresa.
- Sr. Blakely, não há necessidade... - comecei, somente para ser prontamente interrompida por Jason:
- Não. Ele tem razão. - disse ele, olhando fundo nos meus olhos, suas íris castanhas ficando douradas com a premissa das chamas. - Me perdoe por ter gritado e por ter agido feito um babaca. Você... - pigarreou. -Tinha toda razão. Eu sou um idiota controlador. Sinto muito por isso.
Eu queria dizer que tudo bem, eu não me importava. Mas minha voz ficara presa na garganta por conta da sinceridade dele. Nenhum sorrisinho de deboche, nenhuma piscadela, nenhuma demonstração de irritação que desse a entender que pedir desculpas estava fazendo-o se sentir humilhado. Ali estava Jason e apenas um arrependimento genuíno.
E, diferentemente das outras vezes, não desviei o olhar do dele. O que aconteceria se simplesmente não tirássemos os olhos um do outro?, me perguntei, sentindo uma inflamação surgir dentro de mim, ficando mais e mais forte. O olhar de Jason parecia me queimar, como se a temperatura de repente estivesse subido centenas de graus. E então tudo ao redor girou.
Como se...Não podia ser. Eu estava louca. Por um momento...
- Fascinante. - disse Telórius, chocado, fazendo com que a conexão se rompesse e eu arfasse, estupefata. - Esta é a coisa mais fascinante que já vi em toda a minha vida! Desde quando a mudança de cor em seus olhos ocorrem?
- Desde sempre. - Jason respondeu, um pouco desconcertado. - Quando aconceteu da primeira vez, éramos crianças, e eu senti muita falta de ar.
- Sentiu? - sussurrei, incapaz de olhá-lo nos olhos novamente.
Ele balançou a cabeça, assentindo.
- Mas isso não é importante.
Telórius estreitou os olhos, provavelmente duvidando, assim como eu, da falta de importância daquela declaração.
- Tudo bem, isso tudo é realmente muito interessante. - Aurora falou, sobressaltada. - Mas estamos aqui há duas horas e eu não estou pronta para mudar a minha linha de raciocínio nesta palestra. Estávamos falando de força e poder; não de troca de olhares bizarras.
Thomas finalmente disse algo:
- Concordo plenamente com Aurora. - ele olhou para mim e para Jason com uma expressão indecifrável. - Desculpe por ser rude, Telórius, mas não quero perder meu tempo falando de algo que é inútil para mim.
Fiquei boquiaberta. Nunca vira Thomas ser tão direto com alguém na vida, principalmente quando esse alguém era Telórius Blakely.
- Muito bem, o senhor e a senhorita estão corretos. - ele olhou para parede, onde um grande relógio de prata cintilava, com leves batidas de ponteiro. - Mas temo que não serei mais de grande ajuda para os dois hoje, visto que a audiência está encerrada. Dispensados. - Aurora bufou, revirando os olhos, e se levantou da cadeira abruptamente, saindo tão rápido da sala que a saia de seu vestido cinza ondulou, mostrando as botas e as meias que usava. Thomas, em contrapartida, se levantou lentamente, observando-nos como um gato.
- Vão. - disse Telórius, juntando seus livros de capa preta.
Assenti com a cabeça. Não estava me sentindo bem, por isso deixei a sala tão velozmente quanto Aurora e sem motivo aparente, me vi correndo como louca pelo corredor, buscando alguma saída daquele monte de corredores, alguma porta que me levasse para um lugar aberto. Ouvindo passos atrás de mim, acelerei a corrida.
Alguém estava me perseguindo.
Eu tinha consciência disso, mas estava com medo demais para olhar para trás. Continuei correndo me deparar com uma varanda, o vento do lado de fora soprando uma brisa em meu rosto. Me apoiei na grade de pedra e respirei fundo, achando que havia despistado quem quer que estivesse me seguindo.
Por um momento, quando olhei nos olhos dele...
- Está tudo bem com você? - Jason perguntou, surgindo de repente.
Me virei. Não, aquele não era Jason. Era Thomas. Tentei não parecer decepcionada.
- Está, está sim. - respondi. - Só precisava de ar. Aquela sala era meio abafada.
- Tem certeza de que é só isso mesmo? - ele indagou, dando um passo em minha direção.
As imagens se confundiram na minha cabeça. Semicerrei os olhos. Aquele era mesmo Thomas? Seu rosto parecia tão diferente... Arregalei os olhos. Eu conhecia aquela pessoa? Meu peito começou a doer. Minha mente estava embaralhada.
- Não. Eu acho... - o estranho saltou repentinamente em minha direção, e tudo ficou de ponta cabeça quando atingi o chão.
Eu tinha sido derrubada. A beira da inconsciência, vi uma mulher se afastar em meio às sombras, mas não podia ter certeza. Minha cabeça latejava, e ao tocar em meu cabelo, vi minha mão se sujar de sangue.
Tudo isso, por apenas um momento.
E então só havia escuridão.
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Crônicas de Água e Fogo: O Elemental
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