41: Veio à Tona

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- O QUÊ? - TELÓRIUS indagou, parecendo chocado com a minha acusação. - Ágata, eu não faço a menor ideia do que...

- Olha nos meus olhos e me diz se você vai ficar mesmo nesse seu joguinho covarde e desleal de ficar dos dois lados pra sempre. - exigi. - Você não tem vergonha? Traiu a sua família. Traiu.

Ele finalmente olhou em meus olhos, a raiva brilhando nos seus, um esboço de reação que eu nunca tinha visto antes vindo dele.

- Tudo o que eu fiz foi por causa da família. - cuspiu. - Da minha família. Da que eu conquistei. Eu não sou covarde; sou um lutador. Eu nunca desisti. - então andou para mais perto de mim, sua expressão tornando-se sombria: - Você deveria me agradecer. Ela iria matá-la; matá-la mesmo depois que tivesse o poder de Jason novamente. Eu voltei lá por ele, porque estava me sentindo culpado por tudo. Poderia muito bem ter deixado você lá, mas eu a salvei. Eu a salvei.

Porque estava me sentindo culpado por tudo.

A partir do momento em que ele articulou essa frase, perdi o ar, sentindo minha visão turva por conta das lágrimas.

- Então foi você. - arfei, erguendo o olhar para seu rosto. - Você que guiou as criaturas das sombras até Jason. Foi você que roubou a Magia dele e deu pra ela. E depois de tudo... Depois de tudo o que causou ao Jason, ainda teve a coragem de fazer aquele discursinho ridículo nos Jogos Elementais, como se sentisse muito por ele. Como se isso importasse pra você.

Ele deu uma risadinha, dando de ombros.

- Jason é um homem forte. E é Príncipe. Teria o seu apoio e o da família. - desdenhou. - Ele ficaria bem.

- Ele ficaria bem?! - a Água veio como um tsunami em uma das minhas mãos, tomando a forma de uma espada.

Mas não foi isso que fez com que Telórius arregalasse os olhos e desse alguns passos para trás. Ele sabia sobre eu ser dominadora da Água, só não contava com o Fogo ardendo em minha outra mão.

- O que é? - indaguei, virando as palmas da mão na sua direção. - Nunca brincou com Água e Fogo ao mesmo tempo?

- Você não quer fazer isso, Ágata. - ele disse, se afastando. - Poderia causar um acidente. - avisou.

Dei uma risada. O som foi oco, repleto de ódio.

- O único acidente que pode acontecer é se por acaso eu não acabar com a sua vida.

- Essa não é você. - ele disse, dando alguns passos para trás.

Senti minha visão se tornar violeta de um lado, mas o outro parecia brilhar em faíscas alaranjadas. Virei o olhar apenas um segundo para o espelho na sala e me deparei com um olho brilhando lilás e outro em chamas. Era... incrível. Mas ao mesmo tempo não me assustava. Parecia simplesmente... certo.

Voltei o olhar novamente para Telórius, mas não o avistei a minha frente.

- Aqui. - disse uma voz atrás de mim, ergueu o punho para me nocautear por trás no exato segundo em que chutei com força o seu estômago, fazendo com que perdesse o equilíbrio por um momento antes de eu empurrá-lo para longe com uma onda de Água, deixando-o caído contra a parede, tentando recuperar o fôlego antes que eu o atingisse com mais uma onda de minha magia elementar.

Eu sou a Elemental.

O pensamento veio como uma certeza, o que sempre vinha como medo ou insegurança. Mas era uma certeza. Uma garantia. Eu poderia ter o mundo. Valerie não era páreo para mim, muito menos o homem ridículo sufocando a minha frente.

Crônicas de Água e Fogo: O ElementalOnde histórias criam vida. Descubra agora