9: A Carta da Discórdia

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"Altezas Reais de Goddess Falls,

Convido-vos para o estimado Baile de Boas Vindas de Kilewood West, em homenagem a Princesa Jessica Maria Kilewood, que volta de sua viagem pelas Ilhas do Norte.

Atenciosamente,

Rei Garhis e Rainha Lucinda."

Segurando o convite nas mãos, reli novamente. Fazia séculos que Kilewood West deixava claríssimo o quanto era contra Goddess Falls, e o que achava do fato de apenas os quatro Clãs Elementais terem poderes – injusto, chegando a ser considerado um ato de bruxaria para eles.

— Não sei o que eles estão querendo, mas com certeza não deve ser coisa boa. – Aurora disse, quando nos reunimos numa sala para decidir se compareceríamos ou não ao Baile de Boas Vindas.

— Apesar de sabermos da divergência entre Goddess Falls e Kilewood West, também estamos conscientes da discreta aproximação que eles vêm tentando desde o ano passado. – disse Telórius, que agora sempre estava presente quando qualquer decisão ia ser tomada por nós.

O Jogo Elemental estava suspenso por enquanto, e mesmo sabendo que o público estava colaborando conosco por conta do sumiço de Thomas, sabíamos que eles estavam ficando impacientes com a espera. Alguma hora, mais cedo ou mais tarde, teremos que começar a disputa pelo Trono Elemental, - com ou sem ele.

Aurora estalou a língua, desprezando a opinião de Telórius sem a menor cerimônia.

Ou nós poderíamos mandar uma resposta dizendo que não estamos nem aí para o baile da princesa Fulana Kilewood Cabeça de Bagre West. – seus olhos cinzentos brilharam. – Ou dizer que estamos muito ocupados usando nossos poderes. O que acha Jason?

Jason, do outro lado da sala, estava sentado em uma poltrona de couro cor de conhaque. O terno negro sob medida se ajustava ao seu corpo de forma perfeita, enquanto ele começava a abrir uma correspondência com afinco, puxando os cabelos para trás, provavelmente para não caírem em seu rosto enquanto lesse.

— Jason, estou falando com você. – Aurora disse, revirando os olhos.

Ele pareceu não ouvir. A pele de seu pescoço começava a ficar vermelha, a coloração subindo com velocidade para o seu rosto. Pela sua expressão, parecia estar com raiva.

— Está tudo bem? — perguntei, mas ele não respondeu.

— Jason. — chamou Telórius, a voz firme indicando que ele deveria se mostrar presente imediatamente.

Quando eu resolvi ir até ele, uma coisa me impediu. O papel começou a pegar fogo, e antes que eu pudesse pensar direito estiquei o braço e tomei-o de suas mãos, segurando a parte ainda intacta.

Tentei soprar para apagar o fogo, mas ele parecia subir cada vez mais. Aurora esticou o braço na minha direção e em uma brisa forte, o fogo cessou.

Um silêncio se instalou na sala até eu me virar e encarar Jason, exasperada.

— O que foi isso?!

Ele me encarou por tempo suficiente para meus olhos arderem e a mudança de cor acontecer. Alguém que não o conhecesse entenderia o olhar que ele me lançou como um cheio de ira, no mínimo raivoso. Mas eu o conhecia tempo demais e sabia que a única coisa que tinha em seus olhos era mágoa.

— Jason... – mas ele estava indo embora da sala, e quando a porta bateu bem na minha cara, um mau pressentimento me tomou.

Olhei para o chão, para onde o papel tinha pousado durante a ventania. Aurora o apanhava com delicadeza, provavelmente temendo que ele se desfizesse em cinzas em suas mãos.

Crônicas de Água e Fogo: O ElementalOnde histórias criam vida. Descubra agora