34: Foi-se ou Não?

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- PEÇO QUE SEJA breve. - eu disse, indicando a cadeira à minha frente para que Lauren se sentasse. - Tenho um compromisso e preciso chegar o mais cedo possível.

Ela lançou um olhar malicioso em minha direção, pousando as mãos magras e pálidas no encosto da cadeira costurado com cetim.

E também não sentou.

- Não se preocupe. Você sabe que sou rápida para conseguir o que quero. - pontuou.

Assenti com a cabeça, tentando manter a postura relaxada. Jason tinha homens trabalhando nas sombras ao meu redor, e ao descobrir isso, aprendi que eles podiam ser agentes duplos se recebessem a quantia necessária para ocuparem dois cargos: um leal a Jason, outro à mim. E eu estava sendo muito bem sucedida até agora.

E depois do episódio assustador com uma das servas da minha mãe querendo roubar o meu anel de casamento, pedi para que eles investigassem qualquer coisa que achassem sobre aquela mulher tão peculiar. Bizarra, para ser mais exata.

E qual o meu espanto ao descobrir que era na verdade Lauren, ninguém menos ninguém mais que a esposa desaparecida de Telórius, escondida esse tempo todo como uma simples e inofensiva criada do Clã da Água.

Uma voz fria me arrancou de meus devaneios:

- Eu quero que você me dê uma garantia. - disse ela.

Ergui as sobrancelhas, sem encará-la.

- O fato de eu não ter contado nem mesmo para o meu marido sobre onde você tem estado esse tempo todo não te diz nada? - ironizei. - Se eu fosse contar alguma coisa sobre o seu falso desaparecimento, eu já teria contado, Lauren.

Seu rosto não esboçava nenhum tipo de sentimento. Nem sequer uma pequena pontada de sensibilidade atravessava aquela expressão de pedra.

- Ele nunca pode me encontrar. - disse ela, olhando para o nada. - Eu fugi de Telórius para salvar a mim mesma e ao nosso filho da fome dele por poder, da inveja doentia que ele sentia por Victor, pai de Jason, que mais cedo ou mais tarde levaria toda a nossa família à desgraça. - continuou, os nós de seus dedos se tornando brancos com a pressão que ela fazia contra o encosto da cadeira. - Mas nosso filho era jovem e rebelde e fora criado com riqueza, e me deixou sozinha no momento em que cansou de brincar de esconde-esconde com o pai.

Franzi a testa, confusa.

- Mas o filho de Telórius está desaparecido até hoje. Ele nunca o encontrou. - falei.

Lauren me encarou.

- E nunca vai. - disse, em tom implacável. - Porque nosso filho está morto. Morto desde a primeira vez que a viu. Desde a maldita primeira vez em que pôs os olhos nela.

- De quem você está falando?

- De Valerie, é claro. - semicerrou os olhos em minha direção, me fazendo lutar com toda a determinação que eu possuía para não desviar o olhar do seu. - Não fique surpresa. O ódio dela atravessou séculos e séculos. Ela queria destruir qualquer um que tivesse uma gota do poder que era dela correndo nas veias.

- E lá estava o seu filho. - completei. - Um possível líder do Clã do Fogo, talvez o próprio Elemental. Jason não era nascido ainda, então devia ele devia ser o mais próximo na linha de sucessão.

Um movimento imperceptível de cabeça.

- A culpa da morte de Brayden é de Telórius. - declarou, sua voz como pedra de gelo queimando contra pele nua. - Estávamos seguros até ele resolver pedir ajuda àquela bruxa infernal. Até ele pedir para que ela nos achasse, a qualquer preço. - Lauren deu um passo na minha direção, me observando atentamente. - Fico imaginando o que ele prometeu à ela para conseguir que o ajudasse. Logo ele, o irmão mais fraco, o marido abandonado e o pai fracassado, cuja única função era instruir jovens de todos os clãs à glória.

Crônicas de Água e Fogo: O ElementalOnde histórias criam vida. Descubra agora