22: Mostre Tudo Que é Preciso, Nunca Tudo o Que Sabe

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– VOCÊ SABE QUE MAIS CEDO ou mais tarde o rei Otto vai me fazer pagar pela minha ousadia. – eu disse, erguendo os punhos para mais um soco nas mãos de Jason, cobertas por luvas de couro.

Ele não piscou, nem sequer se moveu diante do meu próximo golpe.

– Ele pode tentar.

Revirei os olhos, socando com mais força desta vez.

– Sim. Ele vai tentar e vai conseguir. – falei. – Não importa quantos homens você coloque ao meu redor. Otto vai achar uma brecha. Você sabe como ele é ardiloso, não é o tipo de homem com quem se possa brincar. Além do mais, eu o humilhei na frente de todas as pessoas importantes de cada Clã.

Um sorriso brincou em seus lábios, quando ele tentou me dar uma rasteira, a qual eu desviei com um passo rápido para trás. Ele andou com velocidade na minha direção, e eu não tive opção a não ser recuar. Quando minhas costas se chocaram contra a parede, Jason apoiou seus braços um de cada lado da minha cabeça, sua respiração se misturando com a minha.

– Um: nunca deixe seu adversário se aproximar tanto. – ele disse, segurando uma mecha de meus cabelos entre os dedos. – Qualquer um poderia acabar com você a essa distância.

Ergui os olhos para encará-lo, sentindo a mudança começar em minhas íris. O reflexo de brasas ardendo em seus olhos castanhos atiçou o meu, e eu levei minhas mãos para sua cintura, passeando com elas por seu abdômen musculoso, em uma carícia sensual. Minhas mãos estavam em seus cabelos, alisando os fios negros e sedosos. Jason fechou os olhos, seus longos cílios tocando a pele dourada delicadamente, quando eu peguei impulso na parede para dar um chute em seu peito, caindo por cima dele, minhas coxas prendendo com força o seu corpo sob o meu.

Atordoado, Jason me encarou, parecendo totalmente fora de órbita. Me abaixei lentamente sobre seu corpo, meus cabelos brancos caindo ao redor de sua cabeça, até que meus lábios tocassem a sua orelha. Quase em um ronronar, eu falei:

– Um: nunca deixe seu adversário se aproximar tanto. – me levantei de cima dele, com uma desenvoltura que surpreendeu até a mim mesma. – Principalmente se seu adversário for a sua esposa.
Ele deu uma gargalhada alta, ainda no chão.

Sorri comigo mesma, satisfeita. O Jogo Elemental se aproximava como uma sombra de todos nós: O Clã da Terra era um emaranhado de segredos, faziam tudo às pressas, como se tivessem medo de terem suas estratégias de vitória descobertas. O Clã do Ar era envolto em névoa e intrigas; nada que já não fosse nos dias comuns. O Clã do Fogo tentava passar a impressão de segurança, mas seus soldados de chamas, - como eram chamados os que faziam parte do esquadrão de elite do Fogo, no qual Jason fora treinado desde pequeno, (que aliás não devem ter pegado pesado o bastante com ele, já que eu o derrubei com um joguinho fácil de sedução) - faziam guarda em volta de todo o castelo. E o meu Clã, da Água, estava tenso como um punho fechado. Meus pais esperavam para pagar o preço pela minha petulância em tentar afogar o rei do Ar, e eu me sentia culpada por adicionar mais uma preocupação em seus ombros.

Pelo menos eu poderia dizer que se alguém tentasse me atacar, já não seria pega de surpresa. Jason me ensinara a usar adagas, e onde melhor escondê-las, e retomou o meu treinamento nas espadas (eu não era tão boa, por isso sofria nessas horas), mas nós dois concordávamos que minha maior aptidão era no combate corpo a corpo. Passávamos o dia inteiro lutando um com o outro, prevendo situações como eu ser pega por trás, tendo caído no chão, presa, a beira da morte (esse era o meu preferido, porque eu estava quase morrendo mesmo e de repente eu salvava a mim mesma e voltava pra casa como um ícone de glória e superação), mas Jason ficava tagarelando que nunca chegaria à essa altura e todo aquele papo de proteção e blá-blá-blá.

Crônicas de Água e Fogo: O ElementalOnde histórias criam vida. Descubra agora