46: Amanhecer de Amantes

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ACORDEI DEPRESSA, OS batimentos do coração acelerados contra o meu peito. Demorei um minuto inteiro para entender onde eu estava e o pânico que venho inicialmente foi tão intenso que quase me deixou sem ar.

Eu estava em casa. Na minha casa; no Palácio Elemental. Eu tinha estado nesse quarto antes, hoje durante a tarde enquanto me arrumava para a Reunião dos Clãs. A lareira ardia no canto do quarto, as chamas aquecendo e iluminando o cômodo de um modo aconchegante e acolhedor. A cama em que eu estava era enorme, os cobertores de caxemira cor de vinho antes tão impecáveis, agora um tanto amassados pela minha presença. As janelas imensas que levavam à varanda estavam fechadas, as cortinas pesadas impedindo que meus olhos pudessem ter um vislumbre da vista lá fora. Eu podia escutar o vento uivando, as folhas das árvores sacudindo lá embaixo, assim como as faíscas do fogo queimando ali perto e a água do rio correndo alguns quilômetros de distância dali.

Era uma sensibilidade incrível, que se fazia presente sem realmente ser notada: apenas existia e estava ali junto com você em corpo e alma.

Fui arrancada de meus devaneios com um sobressalto quando a porta do quarto foi aberta, - mesmo que com delicadeza, - por Jason. Ele trazia consigo uma bandeja de prata lotada de comida, um aroma tão indescritívelmente bom que me deu água na boca. Jason empurrou a porta para fechá-la com o quadril, seus olhos encontrando os meus e uma expressão de culpa tomando seu rosto logo em seguida:

- Queria estar aqui quando você acordasse. - disse, em tom de desculpas. - Mas achei que também seria bom para você ter algo para comer. - explicou, deixando a bandeja em cima da escrivaninha ao lado da cama.

- Achou certo. - eu disse, com um sorriso, inclinando o queixo na direção da comida. - O que foi que você trouxe? - perguntei, animada.

Jason abriu um sorrisinho de lado, como se estivesse bastante satisfeito consigo mesmo.

- Sopa. - declarou, retirando a tampa que cobria o prato.

Senti meu entusiasmo desaparecer quase instantaneamente.

- Ah, sopa... - eu disse, desanimada.

Jason, parecendo não perceber o quanto eu não queria comer aquilo, pegou o prato fundo de sopa com cuidado nas mãos, mergulhando uma colher dentro dele antes de se sentar do meu lado na cama.

- É, sopa. - ele repetiu, ironicamente. - Agora abre a boca. - pediu, erguendo a colher cheia de sopa na minha direção.

- Muito obrigada, mas estou sem fome. - recusei.

Jason pareceu decepcionado.

- Como assim, sem fome? Você pareceu estar doida para comer quando eu cheguei e de repente está sem fome?

- Isso foi antes de saber que você estava trazendo sopa. - esclareci.

- E o que você tem contra sopa? - ele perguntou, franzindo a testa.

- Nenhuma sopa é boa, Jason. - eu disse, em tom de obviedade. - Elas são cheias de... ingredientes desconhecidos.

- Garanto que nesta aqui só tem muito amor e uma dose extra de preocupação. - garantiu, assumindo um ar ofendido e um tanto magoado.

Arregalei os olhos, surpresa.

- Ah! - tratei de mudar minha cara de desânimo imediatamente. - Puxa, foi você quem fez?

- Mas é claro que foi. - disse, chateado. - São 01:00 da madrugada, os cozinheiros estão dormindo e eu achei que seria melhor eu mesmo fazer. Aliás, já estava mais que na hora de você comer algo feito por mim, não é mesmo? - continuou, erguendo a colher novamente. - Agora abre a boca.

Crônicas de Água e Fogo: O ElementalOnde histórias criam vida. Descubra agora