NO ENTRADA DO PALÁCIO para Arena, minhas mãos suavam tanto que eu tinha que limpá-las na calça de couro de cinco em cinco minutos. Eu havia sido a primeira a chegar, e estava tentando transparecer calma para todas as pessoas que passavam pelo portal bem a minha frente, - que pareciam tão ansiosas quanto eu, - quando Thomas se colocou bem ao meu lado. Ele parecia menos abatido, com seu conjunto de couro negro cheio de faixas verde-musgo, cabelo cortado e barba feita. Mas não deixei de notar que apesar de transparecer boa aparência, seus olhos não se fixavam em um ponto único, como se estivessem esperando algo acontecer.
— Ela não pode pegar você aqui. — eu disse, baixinho.
Ele se virou, ficando de frente para mim, o rosto inexpressivo.
— Eu não tenho ideia do que você sofreu, Thomas. — continuei. — Mas eu queria que soubesse que nossa amizade não acabou para mim. Mesmo que nós dois tenhamos nos distanciado desde... Desde...
— Desde que você resolveu se tornar noiva do Jason? — ele me olhou, com raiva. — Desde que você resolveu realmente se casar com ele? Eu pensei que você iria perceber que ele estava te usando, mas não. Me diga, Ágata, você ao menos gosta dele?
Olhei em seus olhos.
— Não. — respirei fundo. — Eu não só gosto dele como também o respeito e admiro, além de muitas outras coisas que podem ser resumidas em síntese pelo fato de que eu o amo. E eu sinto muito, Thomas, se isso magoa você, mas é a verdade. Não há nada que possa mudar isso.
— Mas você... Você ao menos pensou em mim? Pensou em como eu reagiria? Em como eu me sentiria? — sua expressão foi tomada pela dor.
— Thomas, por que eu deveria pensar em você? Você sempre foi meu amigo, só meu amigo. Nunca deu nenhum indício de que gostava de mim, nunca disse absolutamente nada!
Ele deu um passo em minha direção.
— Porque eu não tinha coragem! — sua voz subiu umas oitavas. — Você tem razão, eu nunca disse, mas como poderia? Você nunca mostrou sentir o mesmo. Eu não conseguia nem pensar em ser rejeitado. E eu não consigo aceitar que agora eu perdi você pra sempre. Pra sempre.
Tremendo, eu disse:
— Você não me perdeu, Thomas. Eu ainda sou sua amiga.
— Não basta! Não basta pra mim. Eu amo você, Ágata. — ele esticou a mão, como se fosse me tocar, mas recolheu o braço quase imediatamente. — E agora você é dele. Só que você era para ser minha.
— Não. Não era. — e sinto o alívio invadir meu corpo ao me dar conta de que é verdade. Eu e Thomas nunca poderíamos dar certo. Porque a minha alma, meu corpo e meu coração sempre quiseram outra pessoa.
Então Jason surge no corredor, a cabeça baixa, as costas eretas. Sua roupa de couro se modela como uma segunda pele ao seu corpo, mostrando cada músculo detalhadamente, as labaredas de fogo laranjas com contornos vermelhos, a cor do Clã do Fogo, estampada em seu peito e braços. Aurora vem logo atrás, sua trança cinza batendo contra sua cintura a cada passo que ela dá, sua roupa negra coberta de tachinhas prateadas nos ombros e nas laterais de sua calça.
A aliança esquenta em meu dedo e eu deixo Thomas para trás, indo na direção de Jason, o coração saltando a cada passo que dou para mais perto dele. De repente, uma sensação ruim me invade, com um puxão forte. Dor. Dor, muita, muita dor. Eu paro de andar e Jason também, exatos cinco centímetros de distância, a cabeça ainda baixa, o olhar fixo no chão. Toco o seu rosto levemente, e sinto sua pele morna sob o meu toque.
— Jason. — seu nome sai como uma súplica.
— Eu falhei com você, Ágata. — ele sussurra, ainda sem olhar para mim. — Falhei com você e com a minha família.
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Crônicas de Água e Fogo: O Elemental
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