Jason
FAZIA ANOS QUE EU NÃO IA AO Reino da Água. Talvez fosse porque todas as vezes que eu ia lá acabava tendo problemas de falta de ar e passava dois dias seguidos com crises respiratórias e dores musculares. Já fazia pelo menos uma hora que eu estava aqui e isso ainda não tinha acontecido, o que provava a minha teoria de que quando criança eu tinha algum tipo de baixa imunidade ao elemento da água. Nesta única hora também tinha ficado claro que apesar de não ser tão popular, Ágata era tão querida quanto uma princesa podia ser. Até mais. Todos fizeram uma reverência cheia de adoração quando descemos da carruagem na praça principal de Water Valle, a capital do Reino da Água.
Ela sorria e acenava, e até abraçava algumas pessoas, com uma alegria transbordante que eu nunca tivera o prazer de testemunhar nela. Clairely tinha preferido seguir em direção ao palácio, enquanto eu fiz questão de ficar para cuidar da segurança de Ágata, que parecia estar nas nuvens ao apertar as mãozinhas das pequenas crianças de olhos brilhantes que apontavam para ela com admiração. Quando fazia quase quarenta minutos que ela estava perambulando pela rua, resolvi intervir. Grande erro. Se antes eu achava que tinha sido totalmente ignorado pelo povo de Water Valle, a verdade veio como um soco quando uma voz gritou acima da multidão: "É o príncipe do Fogo!" e logo em seguida "MEU DEUS, É MESMO ELE! AHHH!"
Então várias meninas fizeram uma rodinha ao meu redor, as frases se misturando como ovos mexidos. "Oi, Jason...", "Olá, Jason", "Ele é mesmo o rapaz mais lindo que já...", "Simpático também, tem seguidores em toda a Goddess Falls".
— Senhoritas, senhoritas! — falei, e elas imediatamente pararam, como se hipnotizadas. Eu hein. — Peço sinceras desculpas por interrompê-las, mas tenho que levar a minha noiva para os pais. Tenho certeza de que o rei e a rainha querem vê-la depois de tanto tempo longe de casa.
Olhei para os lados, procurando pela cabeleira branca que eu conhecia bem. Nada. Onde diabos ela se meteu?, pensei. Eu estava a beira do desespero. Ela estava bem aqui, como é possível que tenha se perdido da minha vista tão rápido? Fui andando entre a multidão, para onde eu tinha visto pela última vez. Quando eu estava prestes a gritar seu nome, alguém colocou a mão sobre o meu ombro.
— Calma, Jason. — ela disse. — Eu estou aqui.
— Quer me matar de susto? Eu disse para não ir muito longe.
Ela revirou os olhos.
— Deixe de ser paranoico. Estou inteira e ninguém tentou me matar. Não sei por que insiste tanto nesta maluquice de que posso sumir pra sempre a qualquer momento.
— Maluquice? —indaguei, entredentes. Eu tentava mostrar que estava calmo para as pessoas ao meu redor, mas sentia que não estava dando muito certo. — Quer ser atacada de novo?
Ela levou a mão ao couro cabeludo instantaneamente, como se vivesse a cena mais uma vez. A cicatriz aparecia apenas um pouco na pele clara da testa dela, estando em sua maior parte na região coberta por seus cabelos.
Eu suspirei, culpado, quando ela baixou o olhar para o chão.
— Desculpe, — falei. — Nada daquilo foi culpa sua.
— Também não é sua. Você está tentando me proteger e eu estou agindo como se não soubesse do perigo que estamos correndo. Me desculpe por isso também.
Nos encaramos. Os últimos meses haviam sido terrivelmente duros. Mas coisas boas tinham se extraído durante esse tempo e poder estar ao lado de Ágata era uma delas. Nós dois brigávamos, nos acertávamos e brigávamos de novo, porém algo inegável acontecia quando ficávamos juntos e era apenas isso que importava. Eu gostava dela, mesmo que não quisesse admitir. Eu gostava dela de verdade, mesmo sendo um grosseirão de cabeça quente. E eu faria qualquer coisa para mantê-la segura e feliz.
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Crônicas de Água e Fogo: O Elemental
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