7: Por Um Momento De Lucidez

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EU SEI QUE FOI O THOMAS! — Jason gritava. Todos na sala prestavam atenção exclusiva e silenciosa para o príncipe do Fogo, que estava além da fúria. — Eu quero ele morto, morto!

— Alteza, não temos autorização para matar o primogênito de nenhum Clã Elemental, isso é traição! — Desmus dizia, e o Conselheiro Real do pai de Jason assentia com a cabeça. Telórius estava calado. Não havia palavras para descrever o horror que ele sentira ao ver Ágata sangrando, caída no chão.

Jason desfrutava de uma ira que só os Elementais do Fogo podiam ter. Era grande a vontade de arremessar alguma coisa, qualquer coisa, na cabeça de alguém. Era maior ainda a vontade de esmagar a cabeça de Thomas com uma marreta.

— Ele tentou matar a minha noiva! — a palavra ardia na boca dele. Calma, Ágata está viva, a culpa não foi sua, ele tentava lembrar. — Isso com certeza é traição suficiente para merecer pena de morte!

As pessoas no salão se encolheram. Era comum verem Jason quebrar coisas em seu quarto, durante alguns acessos de raiva particulares. Nunca haviam presenciado nada como aquilo. Desde que seu pai, rei Victor, era jovem, eles nunca mais tinham visto alguém berrar daquela forma. Ele parecia... Fora de si. E era bem provável que estivesse mesmo. Marine, uma criada, chegara até a achar que ele e a princesa da Água não se gostassem. Porém, depois daquela demonstração do quanto ela significava para ele, ela já não duvidava mais.

Não tão longe da gritaria quanto acharia agradável, Claire, dama de companhia de Ágata, limpava o sangue seco da testa da princesa com um pano úmido. Ninguém sabia o que havia acontecido de verdade, apenas que, horas depois do encontro dos Herdeiros Elementais com Telórius ter acabado, o rígido professor encontrara Ágata desmaiada no chão de uma das sacadas do castelo do Fogo. Jason tinha certeza absoluta de que fora Thomas, mas não tinha provas. Ele sabia de algo. Não suspeitaria à toa.

Com um pulo, a menina de cabelos brancos se sentara ereta na cama, fazendo Claire saltar para longe dela, assustada. Estava pálida, os lábios secos, o cabelo longo caindo desajeitadamente por suas costas, embaraçado. A cabeça doía, mas ela não ligava.

— Onde está Jason? — perguntara.

Antes que Claire pudesse dizer qualquer coisa, um grito em forma de ordem foi ouvido pelas duas: "Não! Não quero saber! Vou sozinho se precisar!"

Os olhos de Ágata brilharam, violetas.

— Ágata, não acho bom você se levantar — Claire dizia. — Tomou uma pancada muito forte na cabeça e levou pontos também. Tem que repousar.

A princesa tocou a testa e fez uma careta.

— Levei pontos mesmo? — não pôde evitar perguntar. — Que horrível.

— Precisa me dizer o que ouve. Estão todos preocupados com a senhorita.

A porta do quarto foi escancarada e a silhueta do príncipe do Fogo foi vista em meio a penumbra da noite e da baixa luminosidade do quarto. O que denunciava de fato sua identidade eram os olhos, brilhando em chamas.

— Ágata. — ele disse, apenas. Respirou fundo várias vezes, engolindo em seco. — Pensei que você estivesse morta.

— Não estou. — ela disse. — Mas alguém que deveria estar morta, não está.

Jason entrou com uma rapidez surpreendente no quarto e se sentou na cama onde ela estava, tomando suas mãos, se segurando para não tomá-la para si em um abraço. Eles não tinham intimidade. Não podiam nem mesmo ser considerados amigos e, mesmo assim, ele se preocupava muito com ela. Tanto que seu peito doía.

— Quem?

Ágata estava confusa em relação a muitas coisas, poucas delas compreensíveis a alguém que não fizesse parte de sua vida. Mas havia algo de que ela tinha muita certeza.

— Ela, Jason. Ela. A Deusa que doou os poderes para nós.

Jason estreitou os olhos, descrente. Mesmo duvidando de tal afirmação, perguntou:

— E por quê ela faria algo assim com você?

— Por que ela quer... Ela quer...

— Diga!

Ela ergueu os olhos e o encarou.

— A nossa aniquilação. Ela quer a nossa aniquilação.

Crônicas de Água e Fogo: O ElementalOnde histórias criam vida. Descubra agora