30: Ardendo Em Brasa

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O LUGAR ERA ATÉ BONITO, para o lar de uma bruxa. Ou seria, caso não houvesse nada além de uma enorme marca de cinzas onde deveria estar o chalé tão secreto de Valerie. Ótimo. Então ela não tinha mais onde morar, pois pelo que parecia, sua casa anterior havia se desfeito em cinzas. Jason estava bem atrás de mim, olhando ao redor. O anel em meu dedo se tornou morno, e tropecei ao sentir aquele mesmo calor de quando quase entrei em combustão mais cedo, os olhos ardendo tanto que não enxerguei nada por um minuto inteiro. Jason imediatamente veio em meu auxílio, uma mão em minha cintura e outra em meu ombro.

Você trouxe nosso Mestre. Você o trouxe. Podemos sentir; queimando, ardendo, as brasas. Nos leve de volta até ele. Nos leve de volta ao nosso Lorde do Fogo, ao nosso Príncipe de Chamas Mortais para que o nosso Circulo da Chama Incandescente se complete mais uma vez.

O calor cessou. Minha visão se ajustou, o anel voltou a temperatura normal em meu dedo e eu puxei o oxigênio para dentro com tanta força que pude sentir cada parte do meu corpo ser tocada pelo ar gelado.

— O que foi? — Jason perguntou, preocupado.

— Ela está aqui e está perto. — ele abriu a boca para dizer algo, mas eu o interrompi: — Não iremos prendê-la, não iremos hesitar: assim que eu a vir, ela estará morta. Recuperamos sua Magia e vamos embora daqui o mais rápido que pudermos.

Ele assentiu, mas assim que dei um passo a frente, sua mão agarrou o meu pulso, me fazendo parar para encará-lo.

— Não queria que as coisas tivessem que ser desse jeito. — disse, o tom de voz sério e rouco.

Ergui o rosto para que meus olhos estivessem totalmente voltados para os de Jason, a imensidão castanha dos seus encarando o azul dos meus. Era provavelmente loucura, mas eu poderia jurar que vi um pequeno ponto de luz dourada brilhar em sua íris.

— Mas têm. — suspirei, cansada. — É tão difícil. Tudo isso é tão difícil. E não podemos parar, não se quisermos ter alguma chance. Às vezes eu me pergunto se não seria melhor que fôssemos todos ignorantes, como o povo de Kilewood West, alheios à Magia e ao poder que ela exerce sobre nós. Porquê... Porque tudo isso é sobre Magia e o modo como ela é usada.

Jason me olhou fixamente, como se pensasse sobre o que eu havia dito. Sua expressão se tornou terna, mas ao mesmo tempo determinada quando disse:

— Somos o Bem, Ágata. A Magia é nossa, para fazermos do mundo um lugar melhor com ela. — ele me puxou pela mão para mais perto. — E mesmo que eu tenha errado inúmeras vezes, com você, conosco... Eu aprendi. O valor do que temos, seja ele muito ou pouco, pequeno ou grande; é inestimável e deve ser cultivado com amor por cada um de nós.

Meus olhos arderam com as lágrimas repentinas e em um impulso, eu me joguei nos braços de Jason, envolvendo sua cintura com força, como se assim eu pudesse tornar impossível de nos separarmos novamente. Eu ardia por dentro, o calor enchendo meu peito de tal maneira... Eu queria que ele sentisse também. Tudo. O quanto ele significava, o quanto valia, o quanto era querido e amado. E quando desejei isso, mais calor do que eu poderia imaginar nos envolveu. E era como uma chama que brilhava, queimava e clamava por amor. Tanto, tanto amor.

Crônicas de Água e Fogo: O ElementalOnde histórias criam vida. Descubra agora