LAUREN ERA FILHA DELA. Eu não podia acreditar. Valerie a fizera se passar por ela esse tempo todo, desviando nossa atenção de quem era mais perigosa, de quem estivera tão perto todo esse tempo sem ser notada. Ela tivera Télorius na palma da mão, usando o amor cego que ele sentia por Lauren como moeda de troca pelos seus serviços. Ela usara sua esperteza de um modo tão maligno que me fazia estremecer. Toda a trama que ela inventara, o modo como manipulou a todos nós...
Ela não tinha limites para conseguir o que queria.
Um suspiro cansado escapou de meus lábios.
Aurora tinha voltado para o Palácio em Aire por hora, mas agora que estava a par de todo o risco que corríamos, era uma aliada e tanto para nós. Prometeu manter segredo enquanto fosse preciso e eu estava tão grata por tudo que ela estava fazendo. Era reconfortante não ter mais que gastar energia brigando com ela.
Estávamos de volta ao Palácio Elementar. Eu ia na frente, levantando a saia do vestido enquanto subia os degraus da escadaria de entrada. Jason seguia em silêncio atrás de mim, mas eu sabia, somente pelo seu modo inquieto de caminhar, parando quando eu parava, mudando de posição quando eu mudava, que ele queria me dizer alguma coisa.
Me virei para encará-lo:
- O que é que você tem? - perguntei, chateada. - Há mais alguma coisa que esteja me escondendo que queira me dizer?
Jason me olhou de volta, com uma cara de cachorro arrependido.
- Eu não quis esconder de você, Ágata. Eu só... - ele balançou a cabeça. - Que droga, me desculpe.
- Só isso? Tudo bem, então. - falei, me virando.
- Não! - ele subiu os degraus que nos separavam, parando de frente pra mim, um degrau acima do meu. - Olha, não fica brigada comigo, faz mal pro bebê.
Ergui a sobrancelha, achando graça de sua desculpa esfarrapada.
- Qual deles? Você ou o Cameron? - indaguei, tentando manter a carranca.
- Os dois. - ele deu um sorriso pequeno, envolvendo minha cintura com o braço, assumindo então uma expressão séria: - Me desculpe, mesmo. Você sabe o quanto eu sou superprotetor com você, Peixinha. E agora que você está grávida, eu simplesmente... Não posso nem pensar em te perder. Em perder os dois. - tocou minha barriga.
- Você não vai perder, está bem? - eu disse com ternura, tocando seu rosto. Porém, quando o violeta de meus olhos se encontram com a chama dourada dos seus, não havia mais ternura: - Mas eu juro, Jason, que se eu ficar sabendo de mais alguma coisa importante que você esteja fazendo por outra pessoa, você vai ver. Eu odiei ter feito papel de boba quando Aurora me contou o que estava acontecendo pelas minhas costas. Eu fiquei com vontade de tacar fogo em você e depois... - seus lábios esmagaram os meus, me silenciando antes que eu completasse a frase.
- E eu juro que foi a última vez. - ele disse, me encarando. - E para me redimir, eu deixo você tacar fogo em mim caso eu saia da linha.
- Bom menino. - sorri, enterrando o rosto em seu peito quando ele me puxou para um abraço apertado, seu queixo sobre a minha cabeça.
E ficamos lá; pelo que pareceram serem horas, até eu avistar Clairely correndo em minha direção com uma carta na mão, o petrificado em uma expressão de pesar.
Me afastei um pouco de Jason, a fim de perguntar à ela o que estava havendo:
- O que houve, Claire? - indaguei, preocupada.
Ela desceu alguns degraus para ficar mais próxima de mim e pude notar a vermelhidão de seu rosto, típica característica de quando ela havia chorado.
- Meu Deus, Claire, o que aconteceu? - repeti, saindo dos braços de Jason, para segurar as mãos dela.
- Seus pais, Massie. - o queixo dela tremeu. - Eles... Eles f-foram encontrados mortos em seus aposentos no Palácio da Água.
A dor veio como um soco no estômago tão forte que meu corpo se impulsionou para frente, ao mesmo tempo que eu dei um passo para trás, quase pisando em falso se Jason não tivesse me segurado. Imediatamente senti minha visão borrar pelas lágrimas e algo entalado na garganta.
- Não. - sussurrei, olhando descrente para Clairely.
- Ágata... - ela começou, vindo na minha direção.
- Não! - tentei empurrá-la, mas Jason me segurou com mais força, seus braços me prendendo pela cintura, me afastando dela. - Não! Você está mentindo! Está sim!
Todo o Ar pareceu tomar forma, girando ao nosso redor como um tornado, balançando as árvores com tamanha brutalidade que eu pude jurar ouvir algo se partindo. Trovões soaram no céu acima de mim, que pareceu se fechar no momento em que um raio caiu bem à nossa frente, dando início a corrente de água que começou a despencar sobre nós com tamanha força que fazia minha pele arder.
- Ágata! - Jason gritou, quando eu ia me soltando de seus braços e quase derrapei na água que escorria pelos degraus de pedra. - ÁGATA, VOCÊ TEM QUE SE ACALMAR. AGORA!
Sua Magia se chocou com a minha, que parecia girar em Água, Fogo, Ar e Terra, um desequilíbrio elementar. O Fogo de Jason bateu de frente com o meu com tamanha força, que senti meus joelhos fraquejarem.
Então eu vi a água subir como fumaça, evaporando bem a frente dos meus olhos. A ventania parou e eu parei de lutar contra Jason, observando Claire encharcada e tremendo ao meu lado.
E ao encontrar a dor em seus olhos; a mesma dor que eu tentava impedir que chegasse até mim, eu me deixei desmoronar.
Papai e mamãe se foram. Isso dói, não é? Mas vai passar logo. Infelizmente, o seu filho vai ter que conviver com essa dor para sempre, quando chegar a sua vez.
Um grito gultural. Foi esse o som que saiu de mim. A dor era grande demais, tanto que parecia me consumir. As mãos cálidas de Jason me tocaram, e eu senti a dormência atingir meu subconsciente.
E se Valerie queria me ver tão fraca quanto eu pudesse estar, ela tinha conseguido exatamente o que queria.
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Crônicas de Água e Fogo: O Elemental
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